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Investimentos

Semana começa com S&P 500, ouro e Bitcoin nas máximas e petróleo em alta; veja os destaques desta segunda

Alta da commodity é decorrente da confirmação de aumento da produção pela Opep+

Por Matheus Spiess

06 out 2025, 09:59

Atualizado em 06 out 2025, 10:01

mercado ibovespa ações bolsa b3

Imagem: iStock.com/kontekbrothers

Mesmo com a paralisação prolongada do governo americano, os mercados acionários seguem em alta, demonstrando resiliência diante do impasse político em Washington. O S&P 500 acumula seis sessões consecutivas de valorização — todas ocorridas durante o shutdown — e se aproxima de sua sequência mais longa de ganhos desde maio. O movimento é acompanhado por novos recordes do ouro e do Bitcoin, refletindo uma combinação de otimismo com ativos de risco e busca por proteção em meio à incerteza. A ausência de dados econômicos oficiais reforçou as apostas de que o Federal Reserve promoverá um corte de 25 pontos-base na reunião deste mês, com a probabilidade dessa decisão alcançando 95% segundo a ferramenta FedWatch da CME. No entanto, essa percepção será colocada à prova ao longo da semana: a ata do FOMC, a pesquisa de confiança do consumidor da Universidade de Michigan e, sobretudo, o aguardado discurso de Jerome Powell poderão redefinir expectativas. 

O petróleo opera em alta após a Opep+ confirmar o aumento de 137 mil barris diários a partir de novembro, em linha com o previsto pelo mercado. Na Ásia, enquanto os mercados chineses permanecem fechados pela Golden Week, o destaque foi o Japão: o índice Nikkei 225 saltou quase 5% após a vitória de Sanae Takaichi na liderança do partido governista, consolidando seu caminho para se tornar a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra do país. Sua postura pró-estímulo impulsionou os ativos de risco e pressionou o iene e os títulos de longo prazo. Já na Europa, o clima é mais contido: os índices caem após a renúncia inesperada do primeiro-ministro Sébastien Lecornu, da França, ampliando a crise política e elevando as dúvidas sobre a estabilidade do governo Macron. O quadro global, portanto, combina otimismo nos mercados acionários — sustentado por expectativas de cortes de juros e estímulos adicionais no Japão — com pontos de tensão relevantes nos EUA e na Europa, que podem introduzir novos elementos de volatilidade nos próximos dias.

· 00:57 — O mundo depois da isenção

No Brasil, a semana passada foi marcada por uma vitória relevante do governo Lula com a aprovação, na Câmara dos Deputados, do projeto que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda. Contudo, o que realmente gerou desconforto no mercado foi a enxurrada de rumores sobre novas propostas com forte apelo eleitoral e potenciais impactos fiscais significativos — entre elas, a ideia de conceder gratuidade nas passagens de ônibus urbanos, que já estaria sendo cogitada como bandeira de campanha para 2026. Embora um novo programa desse tipo não possa ser implementado durante o ano eleitoral, ele pode ser amplamente utilizado como retórica política, alimentando incertezas fiscais para 2027, a depender de quem ganhar o pleito. Com a abertura da janela de 12 meses para as eleições, o ambiente tende a ficar mais volátil, com os mercados reagindo de forma mais sensível a manchetes, pesquisas e movimentos políticos. Ainda assim, como tenho reiterado, há muitos eventos relevantes no radar até lá, e o cenário fiscal permanece no centro das atenções.

Entre os temas fiscais imediatos, o principal foco da equipe econômica nesta semana é a votação da MP que oferece alternativas ao aumento do IOF e é fundamental para garantir cerca de R$ 20 bilhões em receitas orçamentárias em 2025. A MP expira nesta quarta-feira e ainda precisa passar pelos plenários da Câmara e do Senado, o que eleva substancialmente o risco de caducar. Além disso, há expectativa de que o relatório da LDO de 2026 seja votado na Comissão Mista de Orçamento, em um movimento que pode neutralizar os efeitos da decisão do TCU sobre o descumprimento da meta fiscal neste ano — a ideia de flexibilizar regras com exceções e ainda assim perseguir apenas o piso da meta passe uma mensagem bastante negativa de credibilidade fiscal. No campo dos indicadores, o destaque fica por conta do IPCA de setembro, que deve acelerar após a retirada do bônus de Itaipu nas tarifas de energia, movimento já antecipado pela prévia. Mesmo com essa alta pontual, a inflação deve encerrar 2025 abaixo de 5%, em trajetória de convergência, embora ainda elevada o suficiente para restringir o espaço para cortes de juros adicionais neste ano.

· 01:41 — Implicações americanas

Nos Estados Unidos, o impasse entre Donald Trump e os democratas levou o governo americano a seguir em shutdown, sem indícios de solução no curto prazo. Mesmo diante da paralisação e da suspensão da divulgação do payroll — um dos principais indicadores para balizar as decisões de política monetária do Federal Reserve —, os mercados mantiveram um comportamento surpreendentemente tranquilo. Na sexta-feira, o S&P 500 emendou a sexta alta consecutiva, acumulando ganho semanal de 1,1% e renovando máximas históricas, acompanhado pelo Dow Jones e pelo Nasdaq, embora tenha registrado leve realização de lucros no último pregão. O índice de volatilidade VIX, conhecido como o “termômetro do medo” de Wall Street, permaneceu próximo de 15%, sinalizando ausência de estresse relevante. A combinação entre a expectativa de um novo corte de juros ainda neste mês e a perspectiva positiva para a temporada de resultados do terceiro trimestre tem compensado o ruído político em Washington e sustentado o apetite por risco.

No setor de tecnologia, Jeff Bezos provocou debate ao comparar a euforia atual com a inteligência artificial a uma “bolha industrial” — um momento em que tanto boas quanto más ideias são financiadas indiscriminadamente. Segundo ele, o entusiasmo é justificável, dada a capacidade transformadora da IA, mas impõe desafios para investidores na distinção entre projetos sólidos e frágeis. Nesse ambiente, a Palantir figurou como a maior queda do S&P 500 no dia, com recuo de 7,5%. A semana que se inicia promete ser mais tranquila em termos de indicadores e resultados, funcionando como uma “calmaria antes da tempestade”: a temporada de balanços começa em 14 de outubro, com os grandes bancos divulgando seus números. Na agenda macroeconômica, os destaques ficam para a ata do FOMC na quarta-feira e para a pesquisa de Sentimento do Consumidor da Universidade de Michigan na sexta, que devem oferecer novos sinais sobre os rumos da política monetária americana.

· 02:36 — O shutdown continua e o resgate dos agricultores

A paralisação do governo americano tende a se estender por mais um tempo, já que democratas e republicanos seguem firmemente entrincheirados em suas posições, cada lado convencido de deter vantagem no impasse. O Senado deve retomar os trabalhos nos próximos dias para votar as duas resoluções concorrentes que deram origem ao shutdown, o que, na prática, inviabiliza qualquer reabertura do governo antes dessas deliberações. Enquanto isso, a Câmara dos Representantes permanecerá inativa, após o presidente Mike Johnson declarar o período de 7 a 13 de outubro como “semana distrital”. Nesse contexto de estagnação política, Kevin Hassett, diretor do Conselho Econômico Nacional, alertou que demissões em massa no funcionalismo federal poderão ocorrer caso o presidente conclua que as negociações estão em um beco sem saída — um desdobramento que adicionaria pressão sobre a economia.

Em paralelo, o presidente Trump considera lançar um pacote de resgate de US$ 10 bilhões voltado ao setor agrícola, com foco especial nos produtores de soja, que atravessam uma conjuntura desfavorável. A colheita já está em andamento, mas a China — maior compradora mundial — não adquiriu nenhum volume desde maio, derrubando preços e ampliando as perdas. Com base em dados federais, agricultores americanos podem registrar prejuízos de até US$ 100 por acre em 2025, reflexo da combinação entre preços deprimidos e custos crescentes de insumos como fertilizantes e equipamentos. Diante desse quadro, Trump estuda alternativas para aliviar a pressão financeira sobre o setor e mencionou, em publicação no Truth Social, a possibilidade de repassar parte dos lucros obtidos com tarifas comerciais aos produtores afetados — uma medida que, além do caráter econômico, carrega um peso político relevante, por atingir diretamente um segmento estratégico de sua base eleitoral.

· 03:29 — Acordo bilionário

A OpenAI anunciou um acordo estratégico bilionário com a AMD que pode transformar significativamente a dinâmica da indústria de semicondutores voltada à inteligência artificial. Pelo acerto, a empresa de Sam Altman poderá adquirir até 10% de participação na fabricante de chips, caso exerça integralmente um warrant de até 160 milhões de ações ordinárias emitido pela AMD. O direito de aquisição está atrelado a marcos técnicos e operacionais: a OpenAI planeja implementar 6 gigawatts de GPUs Instinct ao longo de vários anos e diferentes gerações de hardware, iniciando com 1 gigawatt no segundo semestre de 2026. À medida que atingir metas de capacidade e desempenho, novas parcelas do warrant serão desbloqueadas, potencialmente transformando a OpenAI em uma das maiores acionistas da AMD. Este movimento se soma ao acordo de US$ 100 bilhões firmado recentemente com a Nvidia — que combina investimento de capital e fornecimento de 10 gigawatts em infraestrutura — e consolida a OpenAI como uma das principais âncoras globais de demanda por chips.

Para a AMD, o acordo representa um divisor de águas: após anos correndo atrás da Nvidia no mercado de aceleradores de IA, a empresa conquista um cliente emblemático na vanguarda do setor e valida seu roteiro tecnológico da linha Instinct. Para a OpenAI, a parceria é igualmente estratégica, pois amplia e diversifica sua base de fornecedores em um momento de expansão acelerada, reduzindo a dependência de um único player e fortalecendo projetos ambiciosos como o Stargate — plano de infraestrutura de 23 gigawatts com custo estimado em US$ 1 trilhão. Além disso, a empresa negocia com a Broadcom para desenvolver chips personalizados e conta com a Oracle na construção de data centers, criando uma verdadeira “economia circular” da IA, na qual capital, participação acionária e capacidade computacional fluem entre um pequeno grupo de gigantes. Embora esse ecossistema concentrado potencialize sinergias, analistas alertam que ele também amplia a vulnerabilidade sistêmica: qualquer falha em um elo da cadeia pode gerar efeitos em cascata. Ainda assim, o acordo reforça a posição da OpenAI como protagonista global na corrida por infraestrutura de IA e projeta a AMD a um novo patamar de relevância no setor.

· 04:15 — A nova liderança japonesa

A eleição de Sanae Takaichi para a liderança do partido governista japonês — passo que pavimenta seu caminho para se tornar a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra — gerou uma reação imediata e intensa nos mercados financeiros. Com uma trajetória marcada por posições conservadoras e políticas pró-estímulo, Takaichi não esconde sua referência: Margaret Thatcher. Sua ascensão sinaliza uma guinada à direita combinada com uma agenda econômica expansionista, em um momento de elevada sensibilidade para a economia japonesa. O impacto foi imediato: o índice Nikkei disparou mais de 4%, liderado por exportadoras e empresas de defesa, setores que tendem a se beneficiar de uma postura mais nacionalista e de estímulos fiscais robustos. Ao mesmo tempo, o iene sofreu uma forte desvalorização de 1,8% frente ao dólar, rompendo a marca simbólica de ¥150 e atingindo mínima histórica em relação ao euro — movimento que reflete expectativas de aumento do gasto público e manutenção de uma política monetária acomodatícia. No mercado de renda fixa, os títulos de 40 anos registraram alta de 17 pontos-base nos rendimentos, para 3,55%, diante do temor de uma emissão adicional de dívida para financiar os estímulos.

Essa guinada também repercutiu no campo da política monetária. A perspectiva de uma expansão fiscal relevante reduziu significativamente as apostas de que o Banco do Japão elevará os juros ainda este mês, ao mesmo tempo em que intensificou preocupações sobre a trajetória fiscal do país — tema que já estava no radar dos investidores, em meio a discussões sobre possíveis cortes de impostos. Politicamente, Takaichi enfrenta desafios complexos: precisará reunificar um partido governista dividido e conduzir com habilidade uma relação bilateral com os Estados Unidos que tem se tornado mais delicada. Embora seu perfil conservador e nacionalista gere apreensão em alguns segmentos do mercado, há sinais de pragmatismo: a futura premiê deve nomear ex-ministros das Finanças experientes para cargos estratégicos, movimento que pode funcionar como um contrapeso técnico à sua agenda expansionista e contribuir para reduzir incertezas no médio prazo.

· 05:04 — Um mundo em mudança

As projeções de longo prazo traçam um panorama de transformação profunda na ordem econômica global. De acordo com estimativas da Bloomberg Economics, até 2055 o mundo deverá ser significativamente menos orientado para o mercado e menos democrático. Nesse horizonte, a Índia emerge como o principal motor de expansão entre os mercados emergentes, enquanto a fatia das economias de mercado no PIB global tende a se reduzir de maneira contínua ao longo das próximas décadas.

O mesmo movimento é esperado para as democracias consolidadas, cuja participação deve atingir um piso em torno de 65% do PIB mundial já em 2030, podendo recuar ainda mais se o avanço de regimes autoritários e o enfraquecimento institucional persistirem. Essas tendências não são meras projeções econômicas: elas carregam implicações…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.