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A paralisação recorde de mais de 40 dias do governo americano pode estar chegando ao fim. O Senado aprovou um projeto de financiamento provisório que mantém a maior parte das atividades federais até 30 de janeiro. Agora, o texto segue para a Câmara, onde o presidente Mike Johnson já sinalizou apoio e expectativa de votação rápida. A possibilidade de reabertura reduziu parte das incertezas fiscais e ajudou o mercado a retomar o foco nos resultados corporativos, impulsionando o S&P 500. As bolsas europeias acompanharam o movimento, enquanto a Ásia teve desempenho misto, ainda ajustando a notícia da venda de ações da Nvidia pelo SoftBank.
A perspectiva de normalização também reforçou o apetite global por risco, beneficiando especialmente commodities como o petróleo — apesar de persistirem dúvidas sobre o excesso de oferta da Opep+ e o impacto das tensões entre Rússia e Ucrânia. No Japão, o governo prepara um amplo pacote de estímulos voltado a 17 setores estratégicos, entre eles semicondutores, inteligência artificial e defesa, buscando acelerar o crescimento. Nos EUA, os mercados de títulos permanecem fechados hoje por conta do feriado do Dia dos Veteranos, mas as bolsas seguem operando.
· 00:55 — O corte de juros em janeiro ainda é possível
Seguindo o bom humor global com o fim do shutdown nos EUA, o Ibovespa voltou a renovar máximas. O índice superou os 155 mil pontos pela primeira vez, emplacou a 14ª alta consecutiva e registrou seu 11º recorde de fechamento. Nesse ambiente, todas as atenções estavam voltadas para a ata do Copom e para o IPCA de outubro.
A ata, já divulgada, trouxe uma leitura mais construtiva para quem espera cortes de juros no início de 2026. O Banco Central confirmou que suas projeções de inflação já incorporam estimativas preliminares do impacto da ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda — o que suaviza o efeito inflacionário da medida e abre espaço para flexibilização monetária. Paralelamente, o IPCA de outubro, estimado em 0,14% (abaixo dos 0,48% de setembro), deve levar a inflação em 12 meses de 5,32% para 4,74%, reforçando a tese de início do ciclo de corte já em janeiro, caso essa trajetória se mantenha em novembro e dezembro, o que seria bom para ativos brasileiros.
O desafio, porém, é o descompasso entre política fiscal e monetária. O aperto nos juros precisou ser mantido por mais tempo exatamente porque falta uma âncora fiscal crível — quando o governo atua de forma anticíclica, gasta mais e estimula a demanda, a política monetária perde eficácia, tornando o combate à inflação mais lento e custoso. Ainda assim, com inflação convergindo e a comunicação do BC mais suave, o ciclo de cortes deve começar em breve. Historicamente, o mercado tende a subestimar a duração das quedas da Selic, e há chance de que o ciclo vá além do consenso atual.
A tendência é de duas etapas: a primeira com juros caindo para algo entre 12% e 11% ao longo do ano que vem; a segunda, mais profunda, dependerá do resultado eleitoral e das sinalizações fiscais para 2027, quando um ajuste será inevitável. Caso haja uma agenda fiscal mais firme após as eleições, o Brasil pode voltar a conviver com juros de um dígito entre 2027 e 2028 — algo hoje impensável, mas não impossível.
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· 01:43 — Sinais positivos
Nos EUA, os mercados de títulos estão fechados hoje em função do feriado do Dia dos Veteranos, mas as bolsas seguem abertas e refletem um humor mais construtivo graças ao avanço político em torno do fim do shutdown mais longo da história. No Senado, um acordo provisório para financiar o governo até janeiro foi aprovado. A expectativa agora é que a Câmara vote o texto entre quarta e quinta-feira. O movimento foi suficiente para impulsionar os ativos: o Dow Jones encerrou o pregão em alta de 0,8%, o S&P 500 subiu 1,5% e o Nasdaq avançou 2,3%.
A resolução da paralisação tende a remover parte das incertezas fiscais, permitir a retomada dos indicadores oficiais e oferecer mais visibilidade para o Federal Reserve — aumentando a probabilidade de aceleração no ciclo de cortes de juros. Com a temporada de resultados praticamente concluída, o foco dos investidores pode migrar para o conjunto de estímulos previstos para os próximos trimestres, incluindo aproximadamente US$ 250 bilhões em cortes de impostos e condições financeiras mais frouxas.
· 02:39 — Perto do fim
O Senado dos Estados Unidos aprovou um projeto de lei para encerrar o shutdown, após oito senadores democratas romperem com a orientação do partido e aderirem à proposta republicana. A Casa Branca sinalizou apoio ao acordo, que retira, por enquanto, a exigência democrata de estender o prazo que garante acesso a planos de saúde subsidiados para milhões de americanos. A movimentação gerou forte reação interna: enquanto os republicanos celebraram o resultado como vitória política, lideranças democratas classificaram o gesto como “traição”, com críticas até de familiares de congressistas que votaram a favor.
Do ponto de vista prático, o acordo reabre o governo federal, assegura o pagamento retroativo dos salários atrasados e restaura os cargos de servidores afetados pela paralisação. Em troca, os republicanos se comprometeram a colocar em votação, no futuro, a extensão dos subsídios do Obamacare — promessa ainda sem garantia de aprovação, seja na Câmara ou por sanção presidencial. Em outras palavras: o shutdown mais longo da história americana está perto do fim, mas as divergências políticas que o originaram continuam abertas, mantendo o risco de novos impasses à frente.
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· 03:27 — Apoio governamental?
Na semana passada, a OpenAI virou alvo de críticas depois que sua diretora financeira, Sarah Friar, afirmar que a empresa gostaria de contar com algum tipo de apoio governamental para custear até US$ 1,4 trilhão em data centers e infraestrutura nos próximos oito anos. A declaração levantou dúvidas imediatas: como uma empresa que ainda não é lucrativa — e que recentemente lançou produtos controversos, como conteúdo erótico — poderia ter relevância estratégica a ponto de justificar respaldo estatal? Sam Altman tentou suavizar o impacto, afirmando que a OpenAI não pretende se tornar “grande demais para falir”, enquanto autoridades dos EUA garantiram que os contribuintes não bancariam resgates. Ainda assim, o sinal de alerta já estava dado.
O debate não se limita ao tamanho da empresa: o ponto sensível é a interdependência entre OpenAI e gigantes como Nvidia, Microsoft, AMD, Oracle e CoreWeave — relações financeiras e operacionais profundas que lembram a fragilidade sistêmica vista em setores como o bancário em 2008. Em um momento em que o Vale do Silício vem sustentando boa parte do crescimento em uma economia global enfraquecida, a preocupação é que uma eventual ruptura no ciclo de investimentos em IA possa ter reflexo amplo.
· 04:11 — Avanço na distensão
China e União Europeia deram um sinal de distensão em meio às tensões comerciais envolvendo semicondutores. Depois de semanas de impasse, Pequim concordou em restabelecer o fluxo de chips produzidos pela Nexperia — empresa holandesa controlada por grupo chinês — enquanto o governo dos Países Baixos avalia suspender a intervenção temporária que havia imposto para garantir o abastecimento das montadoras europeias. O conflito começou quando os holandeses assumiram o controle da companhia, e a resposta chinesa veio na forma de um bloqueio ao acesso da Nexperia a uma fábrica essencial, o que paralisou sua produção.
A perspectiva de acordo trouxe alívio imediato aos mercados: as ações da controladora Wingtech Technology saltaram quase 10% na Bolsa de Xangai, e montadoras europeias também reagiram em alta. Ainda assim, o episódio é apenas uma peça dentro de um tabuleiro bem mais amplo. A União Europeia segue preocupada com medidas restritivas da China, especialmente no mercado de terras raras, insumo crítico para setores como energia limpa, defesa e eletrônicos. Autoridades europeias defendem que o bloco precisa proteger suas indústrias estratégicas e manter vigilância sobre os movimentos de Pequim — lembrando que, apesar do alívio de curto prazo, a disputa tecnológica continua aberta.
· 05:06 — Um ritmo mais lento
A TSMC, maior fabricante de semicondutores avançados do mundo e peça-chave na cadeia de produção da Nvidia, reportou crescimento de 17% nas vendas de outubro em relação ao ano anterior. Embora o valor mensal tenha sido recorde, o ritmo é o mais lento em 18 meses, o que gerou questionamentos sobre uma possível desaceleração do ciclo de inteligência artificial. Ainda assim, a leitura de um único mês pode distorcer a percepção, já que variações de pedidos e cronogramas costumam produzir oscilações pontuais sem mudar a tendência de fundo.
A própria dinâmica comercial sugere que a demanda…