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‘Trump não estava preparado para a China que encontrou’, diz analista da Empiricus sobre impacto geopolítico em carteiras internacionais; confira

Matheus Spiess foi um dos convidados do Onde Investir no 2º semestre e teve insights valiosos para o investidor posicionar a carteira no cenário internacional. Leia mais.

Camila Paim Figueiredo Jornalista

Por Camila Paim

04 jul 2025, 13:00

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Para quem esperava um ano de tranquilidade e marés altas para o portfólio internacional, a chegada de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos pode ter frustrado mais do que agradado o bolso. 

Foi um balde de água fria para quem estava mais otimista. Todos olhavam com expectativa para a desburocratização, redução de Estado, a iniciativa do DOGE, um avanço para as criptomoedas. Essa era a narrativa que se vendia, que gerou uma grande euforia”, relembra Matheus Spiess, analista de macroeconomia da Empiricus Research. 

Segundo o analista, ao passo que o presidente começou a mostrar sua “abordagem até mais agressiva do que no primeiro mandato”, os riscos do Governo Trump 2.0, que foram esquecidos em um primeiro momento, começaram a ser descontados sobre os preços ativos de maneira mais enfática. 

“O que muda para o segundo semestre do ano é que aquela frustração inicial já passou. Entretanto, isso não significa que as coisas vão ser diferentes”, afirma Spiess em participação ao painel de investimentos internacionais do evento Onde Investir no 2º semestre, promovido pelo Seu Dinheiro. 

Junto com Spiess, os especialistas Andressa Durão, economista da ASA, e Bruno Yamashita, analista de alocação e inteligência da Avenue, debatem o cenário macroeconômico atual e como posicionar a carteira no mercado internacional. Confira. 

Volatilidade persiste com conflitos internacionais com Irã, China e outras nações

Na visão do analista, embora a volatilidade persista, o mercado agora consegue se planejar melhor diante da incerteza. “Trump fala uma coisa e no dia seguinte faz outra, indo até contra com o que prometeu em campanha. A ofensiva contra o Irã, por exemplo, era um tópico que ele era contra”, recapitula. 

Contudo, os analistas destacam que o confronto tarifário iniciado em janeiro com maior intensidade com a China não saiu de acordo com o planejado pelo republicano. “Trump não estava preparado para a China que ele encontrou. Ele esperava que fosse a mesma China de quando ele assumiu em 2017,” diz Spiess. 

Em contraponto, o analista afirma que a China estava preparada para um Trump mais agressivo e surpreendeu na postura: “ninguém imaginava que fossem ter uma resposta tão dura [às tarifas], tanto que foi a única que retaliou e forçou um recuo vexatório da Casa Branca. Ele não esperava que ela [China] fosse escalar as tarifas, praticamente até um embargo que inviabilizava o comércio, poderia estourar a economia global se continuasse.”

Fora dos EUA: Para onde vão os investimentos?

Na análise de Spiess, houve uma rotação de recursos em nível regional e internacional com a “ruptura de credibilidade” nos EUA, puxando o fluxo dos Estados Unidos para outros países desenvolvidos e parte indo para mercados menos explorados. 

Para investidores americanos, essa mudança corroborou a tese do “BIG” (Bonds, International, Gold), que sugere alocação fora dos EUA. Spies aponta que não se posiciona como a tese “Anything but US“, que defende investimentos completamente fora dos EUA.

“Ainda acredito que os Estados Unidos a longo prazo continuam sendo o coração do mundo, mesmo que rupturas na ordem geopolítica apareçam”, comentou.

Ouro: Proteção e reserva de valor

A Empiricus mantém uma tese construtiva em ouro há tempos, conforme conta o analista: “Além de ser a principal reserva de valor da humanidade, o ouro funciona como um safe haven [“porto seguro”], especialmente em um cenário onde não há um substituto claro para o dólar e há demanda das autoridades monetárias ao redor do mundo”.

Eventos geopolíticos como a guerra entre Rússia e Ucrânia, com rompimento de laços financeiros, motivam bancos centrais a capricharem mais em suas reservas.

Ter ouro nas carteiras, segundo o analista, é “estruturalmente benéfico” do ponto de vista de risco-retorno, além da oportunidade de aproveitar “spikes inflacionários”, de queda nos juros americanos e da contínua demanda de autoridades monetárias, que impulsionam a busca pelo ativo como hedge.

Alocação internacional e no Brasil

Do ponto de vista de alocação, o analista tem uma recomendação acima da média do brasileiro, sugerindo direcionar de 15 a 30% da carteira para o exterior. Segundo Spiess, isso pode ser feito de forma responsável, inclusive com renda fixa internacional. Dentro dessa alocação no exterior, o Spiess recomenda que parte relevante ainda esteja nos Estados Unidos, podendo ser em dólar puro (money market funds), bonds ou até equities (ações).

Na entrevista ao Onde Investir do Seu Dinheiro, o analista fala também sobre ideias de investimentos temáticos, como o setor de defesa na Europa e opções de energias de transição, como o Urânio, sem descartar investimentos domésticos. Para saber mais, é só conferir o papo na íntegra no player a seguir: 

Camila Paim Figueiredo Jornalista

Sobre o autor

Camila Paim

Jornalista formada na Universidade de São Paulo (USP), com mobilidade acadêmica na Université Lumière Lyon 2 (França). Trabalhou com redação de jornalismo econômico e mercado financeiro, webdesign e redes sociais, além de escrever sobre gastronomia e literatura.