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O ambiente de mercados permanece amplamente condicionado pelo ciclo monetário, com destaque absoluto para a trajetória das taxas de juros nos EUA. A recente queda nos rendimentos das Treasuries tem funcionado como verdadeiro alicerce para os ativos globais — efeito que se estende ao Brasil, mesmo diante do barulho político. A agenda corporativa também adiciona camadas de atenção: a Apple realiza hoje o lançamento do aguardado iPhone 17, cujo design mais fino e possível reposicionamento de preços podem redefinir margens em um contexto desafiador de tarifas, estimadas em até US$ 1 bilhão em custos adicionais.
No Brasil, os investidores seguem atentos ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no STF, enquanto, na Ásia, os mercados tiveram desempenho desigual, pressionados por quedas na China e no Japão, este último sob maior incerteza após a renúncia do primeiro-ministro.
Na Europa, a instabilidade política francesa dominou o noticiário: o premiê François Bayrou perdeu um voto de confiança no Parlamento, forçando sua saída e deixando o país a caminho do quinto chefe de governo em menos de dois anos. O episódio acentuou preocupações fiscais, elevando os rendimentos dos títulos franceses acima dos italianos pela primeira vez desde a criação do euro. As bolsas europeias oscilaram em compasso de espera, de olho nos dados de inflação dos EUA.
Já na América Latina, o destaque negativo foi a Argentina: após a derrota de Javier Milei nas eleições da província de Buenos Aires, os ativos locais sofreram forte deterioração — a bolsa caiu 13,25%, o peso se desvalorizou 4,26% frente ao dólar e os bonds em moeda forte amargaram as maiores perdas entre emergentes, com os rendimentos saltando para perto de 13%, evidenciando o aumento do risco político e econômico no país.
· 00:52 — Enquanto o mercado precifica cortes de juros, o STF precifica o futuro de Bolsonaro
No Brasil, o Ibovespa iniciou a semana em terreno de correção, depois de ter alcançado novo recorde no pregão de sexta-feira (5). A agenda local traz como destaque a divulgação da inflação amanhã, mas, até lá, os investidores concentram suas atenções no julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no STF, retomado nesta terça-feira com previsão de conclusão até sexta. O processo, que envolve Bolsonaro e outros réus acusados pela PGR, deve resultar em condenação do núcleo central, restando ao debate apenas a dosimetria das penas. A sessão desta terça começa com os votos do relator Alexandre de Moraes e do ministro Flávio Dino. A ausência de indicadores relevantes no dia amplia o foco sobre o julgamento, e a cautela predomina diante da possibilidade de eventuais novas reações de Donald Trump, em formato de sanções.
Essa combinação de fatores domésticos se soma à instabilidade regional. Parte da piora dos ativos brasileiros ontem pode estar relacionada a um contágio pontual da Argentina, onde a derrota de Javier Milei na província de Buenos Aires desencadeou forte deterioração dos ativos, em linha com o que comentei ontem. O revés levantou dúvidas sobre a capacidade do presidente argentino de avançar com sua agenda de reformas, cuja ousadia destoava do histórico latino-americano e era vista como inspiração para movimentos semelhantes no Brasil em 2026. O mercado, portanto, reage por associação: quanto mais Milei enfrenta obstáculos, mais se questiona a viabilidade de agendas parecidas na região. Ainda assim, o ciclo político brasileiro está em estágio distinto, o que nos dá relativa vantagem. Além disso, muitos dos problemas que hoje asfixiam a Argentina — como inflação descontrolada e endividamento externo elevado — o Brasil já enfrentou entre a década de 1990 e início dos anos 2000. Nosso principal desafio, hoje, é de outra natureza: o desequilíbrio fiscal. Nesse aspecto, o ajuste que Milei implementou deve servir de referência para o que, inevitavelmente, precisará ocorrer por aqui em 2027, como reconhecem os membros minimamente mais fiscalistas do atual governo. Não há saída sem revisão estrutural do orçamento público. Não se trata apenas de cortes de gastos, mas de redesenhar a forma como o Estado organiza e prioriza seus dispêndios ao longo do tempo. O orçamento é, por excelência, uma das peças mais importantes de uma república, onde a sociedade, por meio de seus representantes eleitos, expressa suas escolhas coletivas (alocação de recursos escassos). Civilizar o orçamento brasileiro será passo fundamental para pacificar o país e restaurar previsibilidade — um debate que ficará para 2027, após as eleições.
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· 01:48 — Nova máxima
Nos EUA, as bolsas começaram a semana em terreno positivo. O Dow Jones avançou 0,3%, o S&P 500 subiu 0,2% e o Nasdaq renovou máximas com alta de 0,5%. O movimento ocorre após a queda registrada na sexta-feira, quando o relatório de empregos de agosto reforçou preocupações sobre a desaceleração da economia. Apesar da recuperação, a dinâmica interna dos índices mostrou fragilidade: mais ações caíram do que subiram no S&P 500, evidenciando que os ganhos foram sustentados por poucos setores. Entre eles, destaque para áreas vistas como porto seguro, como inteligência artificial e ouro. Agora, a atenção dos investidores se volta para novos indicadores, sobretudo a revisão do mercado de trabalho a ser divulgada pelo Bureau of Labor Statistics e os dados de inflação desta semana, que deverão orientar o ritmo e a intensidade dos cortes de juros na reunião do Federal Reserve de setembro.
A agenda também reserva eventos corporativos e políticos relevantes. Do lado empresarial, investidores aguardam os resultados de companhias como Oracle, GameStop e Synopsys, além do esperado lançamento do iPhone 17 e do ultrafino iPhone 17 Air pela Apple, sempre vistos como catalisadores de movimento para o setor de tecnologia. Já no campo macro, o Índice de Otimismo das Pequenas Empresas será divulgado, enquanto a revisão preliminar dos dados de emprego pode apontar para a eliminação líquida de até 790 mil postos de trabalho nos 12 meses até março de 2025 — número que aumentaria a pressão sobre o Fed para acelerar o ciclo de afrouxamento monetário. No cenário político, segue em foco a batalha judicial em torno das tarifas impostas por Donald Trump: caso a Suprema Corte decida contra o presidente, importadores podem ser reembolsados entre US$ 750 bilhões e US$ 1 trilhão, montante que inclui os mais de US$ 70 bilhões já arrecadados e as receitas projetadas até junho de 2026, a depender de quando a decisão for tomada.
· 02:35 — Novo iPhone 17: quando o ciclo de atualização vale mais que qualquer novidade
A Apple realiza nesta terça-feira (9) seu tradicional e aguardado evento anual de produtos, com todas as atenções voltadas para o lançamento do novo iPhone, responsável por aproximadamente metade da receita da companhia. As projeções, no entanto, são modestas: espera-se a venda de cerca de 232 milhões de unidades no ano fiscal de 2026, um avanço tímido de 2% em relação ao ano anterior, com faturamento estimado em US$ 220 bilhões, crescimento de 5%. O ponto mais sensível para o mercado será a estratégia de preços. Circula a possibilidade de a empresa adotar um ajuste indireto, eliminando modelos de menor capacidade — como a versão de 128 GB do iPhone Pro — e transformando o modelo de 256 GB na nova opção de entrada, com preço de US$ 1.099. Caso confirmada, essa mudança representaria um incremento relevante de margens e receitas sem alterar diretamente a faixa oficial de preços.
Ainda que o público também aguarde novidades em inteligência artificial, as expectativas permanecem contidas. A Apple vem sendo criticada por sua lentidão em responder ao avanço de rivais nessa área e já sinalizou que versões mais robustas e personalizadas de assistentes como a Siri só devem chegar a partir de 2026. Essa postura cautelosa, combinada a perspectivas de vendas menos empolgantes, ajuda a explicar a queda de 4,3% das ações da Apple em 2025, em contraste com a valorização de 12% do Nasdaq no mesmo período. Assim, o evento desta semana não se limita a um simples anúncio de produtos: será, de fato, um teste de confiança para medir a receptividade do novo iPhone, avaliar se a Apple ainda consegue mobilizar seus clientes em um ciclo de atualização mais amplo e, sobretudo, verificar sua capacidade de recuperar tração competitiva e credibilidade junto aos investidores.
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· 03:21 — Bayrou cai: a França afunda em dívidas e sobe no ranking de instabilidade política
A França mergulhou em mais uma crise política depois que o primeiro-ministro François Bayrou sofreu uma derrota contundente no Parlamento: foram 364 votos contra 194 em uma moção de confiança que acabou precipitando sua renúncia. O revés teve como estopim a rejeição às medidas de ajuste propostas por Bayrou — cortes de gastos e aumentos de impostos — destinadas a conter uma dívida pública que já atinge 114% do PIB. O episódio escancara a fragilidade do cenário fiscal francês, marcado por déficits persistentes, endividamento crescente e uma Assembleia Nacional profundamente fragmentada. Esse ambiente, que já derrubou sucessivos governos, agora obriga o presidente Emmanuel Macron a nomear um novo primeiro-ministro — o quinto em menos de dois anos. Embora os mercados tenham reagido de forma relativamente contida no curto prazo, com euro e títulos franceses pouco alterados, permanece no horizonte o risco de novos rebaixamentos de rating e de maior pressão sobre os spreads de dívida soberana.
A instabilidade fortaleceu o discurso tanto da direita de Marine Le Pen quanto da esquerda, que passaram a exigir eleições antecipadas. Seu desafio imediato será encontrar um sucessor capaz de costurar alianças e negociar um orçamento viável, possivelmente com concessões a partidos de oposição para evitar um ajuste excessivamente drástico. A situação já desperta comparações com a Itália do final do século passado, igualmente marcada por instabilidade política e elevado endividamento, mas que conseguiu administrar sua dívida sem rupturas. No entanto, a pressão sobre Paris é intensa: a dívida francesa cresce € 5.000 por segundo, enquanto índices de confiança empresarial e do consumidor permanecem deprimidos. O impasse orçamentário se consolida, portanto, como o grande teste não apenas para o próximo premiê, mas também para a própria capacidade de Macron de sustentar sua autoridade política em meio à turbulência fiscal no que lhe resta de mandato.
· 04:19 — Quem vai substituir Shigeru Ishiba?
Como comentei ontem, o primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, anunciou sua renúncia após menos de um ano no cargo, pressionado por um resultado eleitoral histórico que abalou profundamente a base de sustentação política de seu governo. O Partido Liberal Democrata (LDP), no poder praticamente ininterrupto desde o pós-guerra, sofreu uma derrota sem precedentes nas eleições de meio de mandato, perdendo a maioria em ambas as casas do Parlamento pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial. A combinação de inflação persistentemente elevada, uma economia fragilizada e divisões internas no próprio partido acabou precipitando a queda de Ishiba. A sucessão já se desenha como um processo decisivo, com dois nomes de peso disputando espaço: Shinjiro Koizumi, herdeiro de uma linhagem reformista e de perfil mais moderado, e Sanae Takaichi, expoente da ala conservadora, defensora de estímulos fiscais e de uma política externa mais assertiva.
Essa transição de liderança adiciona incertezas políticas relevantes ao cenário japonês, mas não deve provocar mudanças bruscas na condução da política monetária. Embora exista algum receio de que o novo governo pressione o Banco do Japão (BoJ) a manter juros baixos, a instituição goza de independência e conta com um histórico robusto de resistência a interferências políticas diretas. A eleição interna do LDP para definir o novo líder — e, consequentemente, o próximo premiê — está marcada para 4 de outubro, mas pode ser antecipada em função das circunstâncias. Nesse período de interinidade, o Japão enfrenta o desafio de reverter a queda de popularidade do partido governista e restaurar a confiança dos investidores, ao mesmo tempo em que lida com um ambiente macroeconômico delicado, marcado por inflação elevada, câmbio pressionado e dúvidas sobre a capacidade de retomada do crescimento.
· 05:07 — Qual o limite para o rali do ouro?
O debate em torno da independência do Federal Reserve voltou com força ao centro das atenções, reacendendo preocupações sobre o equilíbrio entre política e política monetária. Donald Trump tem intensificado sua pressão sobre a instituição, insistindo em cortes mais agressivos de juros, o que elevou as incertezas institucionais. Dois episódios recentes reforçaram esse quadro: a audiência de confirmação de Stephen Miran para o cargo de governador do Fed e a possível saída de Lisa Cook, após a tentativa polêmica de Trump de destituí-la via redes sociais.
Esse ambiente trouxe reflexos imediatos nos mercados…