Os mercados globais operam em modo digestão nesta quinta-feira (24), assimilando os balanços corporativos divulgados ontem à noite nos Estados Unidos — com destaque para Alphabet e Tesla. A primeira surpreendeu positivamente e impulsiona o pré-market nesta manhã, enquanto a segunda, mais uma vez, frustrou expectativas e já sofre quedas expressivas desde o after hours. Ao lado da safra de resultados, os investidores também acompanham a decisão de política monetária do Banco Central Europeu, para a Zona do Euro, que deve manter os juros inalterados em 2%. Mais relevante que a decisão em si será o tom adotado por Christine Lagarde, presidente da instituição, cujas sinalizações podem redesenhar as projeções de juros na região para os próximos meses. Vale lembrar que o BCE já cortou a taxa básica em oito ocasiões desde junho de 2024, somando dois pontos percentuais de alívio monetário.
Enquanto isso, o acordo comercial entre Estados Unidos e Japão e os bons resultados de grandes empresas embalam os pregões asiáticos, com destaque para o setor de tecnologia. Na Europa, as bolsas avançam embaladas pela perspectiva de um possível entendimento comercial entre Washington e Bruxelas, e também pelos balanços locais que antecedem a fala do BCE. Os futuros de S&P 500 e Nasdaq seguem em alta, sustentados não apenas pelos lucros corporativos, mas também por novas medidas de Donald Trump voltadas à ampliação das capacidades dos EUA em inteligência artificial — gesto que reforça o clima de otimismo quanto a um ambiente regulatório mais favorável. O contraste com o Brasil, porém, salta aos olhos: enquanto outros países celebram tratados, Brasília coleciona recados velados (indiretas). Ontem mesmo, Trump soltou: “alguns países com os quais não estamos nos dando bem pagarão tarifa de 50%”; um comentário que surge justamente após o governo brasileiro reconhecer publicamente as dificuldades de interlocução com Washington. Os sinais não são bons.
· 00:51 — Qual caminho adotaremos
Por aqui, o Ibovespa até conseguiu emplacar uma alta ontem, embalado pelo apetite global por risco, na esteira de avanços comerciais envolvendo os Estados Unidos após o novo pacote tarifário anunciado por Donald Trump. Mas, sejamos francos: a euforia externa não mascara a deterioração do cenário local. A perspectiva de que as tarifas de 50% sejam, de fato, aplicadas ao Brasil cresce a cada dia, e o governo Lula ainda não conseguiu sequer abrir um canal efetivo de negociação com Washington. O sinal mais claro dessa paralisia é a própria resposta — ou a ausência dela. Fontes do Planalto indicam que a questão foi encaminhada à Casa Branca, mas segue sem qualquer previsão de retorno. Enquanto isso, os americanos já deixaram claro que qualquer avanço só acontecerá mediante autorização direta de Trump.
Para complicar, os EUA continuam sem um embaixador oficial em Brasília, o que deixa o Brasil sem um interlocutor legítimo no governo Trump capaz de administrar uma crise comercial dessa magnitude. Em meio ao impasse, Lula optou por acionar a presidente do México, Claudia Sheinbaum, numa tentativa de “aprofundar relações comerciais” — uma leitura generosa diria que o gesto visa criar uma ponte indireta para chegar até Trump, já que, até agora, nenhuma tentativa de contato direto com o presidente americano vingou. Por aqui, as autoridades também parecem dispostas a amenizar o clima interno, especialmente após os últimos choques com Jair Bolsonaro.
Mas enquanto a questão comercial continuar contaminada por disputas políticas e judiciais domésticas, qualquer chance de avanço técnico — por mínima que seja — segue inviável. O próprio Trump afirmou recentemente que reduziria tarifas apenas se os países concordassem em abrir seus mercados. Para o Brasil, esse seria um excelente ponto de partida: liberalizar o comércio e, em troca, derrubar as tarifas. Mas estamos longe disso. O ambiente azedou: investidores estrangeiros, que sustentaram o rali do primeiro semestre, passaram a sair da Bolsa nos últimos dias. Não é um movimento definitivo, claro — mas já serve para agravar o humor local e justificar a realização de lucros em um mercado que, no momento, carece de catalisadores.
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· 01:48 — O risco institucional e mais resultados corporativos
Nos Estados Unidos, o Secretário de Comércio, Howard Lutnick, surpreendeu — negativamente — ao sugerir publicamente que o Federal Reserve deveria cortar imediatamente as taxas de juros e que seu presidente, Jerome Powell, deveria renunciar ou ser demitido. A declaração, além de imprópria, é um sinal preocupante. Mais uma vez, vemos a institucionalidade sendo tensionada em um dos pilares da economia global. Investidores não querem operar em um ambiente onde a independência do Fed é colocada em xeque — mesmo que apenas no plano retórico.
O mais irônico é que, não fosse a política comercial errática imposta por Donald Trump, com o próprio Lutnick como aliado entusiasmado, os juros provavelmente já teriam começado a cair. Dois efeitos colaterais surgem quando se tenta transformar o Fed em bode expiatório para os problemas econômicos à frente: primeiro, qualquer decisão futura de corte nos juros, ainda que justificada por fundamentos econômicos, corre o risco de ser percebida como uma concessão política; segundo, mesmo que o Fed preserve sua independência formal, sua credibilidade enquanto instituição autônoma sofre erosão. Por ora, as tarifas ainda não apareceram nos dados de inflação — que seguem sob controle. Mas esse quadro pode mudar caso as tarifas amplas prometidas pela Casa Branca sejam implementadas em agosto, salvo alguma judicialização.
Enquanto isso, os índices S&P 500 e Nasdaq encerraram o pregão em novas máximas, impulsionados pelo alívio momentâneo trazido pelo acordo comercial com o Japão. No pano de fundo, a temporada de balanços continua em foco. Tesla, Alphabet e IBM divulgaram seus resultados: a Alphabet agradou, com números robustos em todas as frentes, enquanto a Tesla decepcionou parcialmente, mesmo vindo acima das expectativas mínimas — e Elon Musk já alertou que o caminho à frente pode ser difícil, dada a queda nas vendas. Hoje, o mercado acompanhará novos balanços importantes, com destaque para Blackstone, Deutsche Bank, Dow, Intel, Nasdaq e Total Energies.
· 02:32 — Mais um acordo no radar
Ao que tudo indica, União Europeia e Estados Unidos estão próximos de firmar um acordo que estabeleceria uma tarifa de 15% sobre a maioria dos produtos. A perspectiva desse desfecho, somada ao acerto já formalizado entre EUA e Japão, impulsionou os mercados nesta quarta-feira e voltou a animar os investidores nesta manhã. Ambos os lados vêm acelerando o ritmo das tratativas nas últimas semanas, numa tentativa clara de evitar uma guerra comercial em larga escala, deflagrada pela ofensiva tarifária de Donald Trump contra uma série de parceiros ao redor do mundo.
As conversas chegaram a avançar nas últimas semanas, mas perderam fôlego quando Trump subiu o tom e ameaçou impor uma alíquota de 30% sobre o bloco europeu, caso não haja acordo até 1º de agosto. Diante disso, alguns membros da UE estariam dispostos a aceitar a tarifa de 15%, enquanto as autoridades do bloco pressionam para incluir setores sensíveis, como o automotivo, dentro dos termos do pacto. Apesar do otimismo contido, o fator de instabilidade continua sendo o próprio presidente americano: qualquer consenso depende, no fim do dia, da sua aprovação.
Caso as tratativas fracassem e a ameaça se concretize, a UE promete retaliar na mesma moeda, com tarifas de 30% sobre cerca de 100 bilhões de euros (aproximadamente US$ 117 bilhões) em produtos dos Estados Unidos. Seria um perigoso início de escalada de uma problemática guerra comercial.
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· 03:26 — Haverá recuo?
Permanece no ar a dúvida sobre se Donald Trump de fato recuará em relação às tarifas que ameaçou impor até o dia 1º de agosto. A leitura predominante no mercado parece ser a de que ele cumprirá parte dos aumentos prometidos, mas não todos. Alguns acordos já estão sendo firmados — os mais relevantes da semana envolveram Japão e Filipinas —, enquanto países que permanecem fora das mesas de negociação, especialmente os de menor relevância geopolítica ou com pouca influência econômica, além de alvos políticos como Brasil e África do Sul, tendem a ser penalizados com elevações tarifárias. Por outro lado, os principais parceiros comerciais dos Estados Unidos — todos engajados em negociações em curso —, devem escapar, ao menos por ora, de mudanças substanciais. Nestes casos, há a possibilidade de postergação.
Ainda assim, esse equilíbrio é frágil. Se as negociações com esses grandes parceiros falharem, o castelo de cartas desmorona. Quanto maior for o aumento tarifário, sobretudo em relação a países com peso relevante como UE e Canadá, mais intensa tende a ser a retaliação e a reação dos mercados — e, por consequência, maior a chance de a própria Casa Branca ser forçada a recuar, repetindo o que ocorreu em abril. De todo modo, o consenso é que tarifas significativamente mais altas sobre os maiores parceiros comerciais dos EUA não devem durar muito — e é exatamente essa percepção que embasa a atual complacência dos mercados. Como exemplo, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, já declarou que os EUA avaliam conceder um prazo adicional de 90 dias nas negociações com a China — o cronograma atual vence em 12 de agosto. Esse gesto indica que ainda há margem para postergações, e que a retórica, apesar de agressiva, pode estar mais voltada à barganha do que à prática.
· 04:12 — Fornecimento fundamental
O fornecimento de terras raras por parte da China voltou a ganhar tração em junho, inclusive com embarques destinados aos Estados Unidos, após um período de forte restrição que ameaçou paralisar fábricas ao redor do mundo e acirrar ainda mais as tensões comerciais. Segundo dados oficiais do governo chinês, os embarques atingiram 3.188 toneladas no mês passado — mais que o dobro do volume registrado em maio, quando as restrições às exportações estavam em seu ápice.
O destravamento parcial veio na esteira de um acordo firmado em junho. Na ocasião, o presidente Donald Trump declarou publicamente que a China teria concordado em retomar o fornecimento integral de ímãs e terras raras. No entanto, os dados alfandegários contam uma história um pouco diferente: embora tenha havido avanço, os volumes seguem significativamente abaixo dos patamares históricos. Para se ter uma ideia, o número de junho ainda representa apenas cerca de dois terços da média mensal registrada no ano passado. Em outras palavras, o fluxo foi retomado, mas está longe de indicar normalização. Resta observar se novos avanços nas negociações com Pequim serão capazes de restaurar o fornecimento a níveis consistentes.
· 05:04 — Impulsionada com IA
A Alphabet entregou um trimestre robusto, com as receitas impulsionadas pelo avanço da inteligência artificial — mas, como sempre, crescimento exige investimento. A controladora do Google registrou uma receita de US$ 96,4 bilhões no segundo trimestre, superando as expectativas do mercado, puxada por um expressivo aumento de 32% na receita anual de seu segmento de computação em nuvem.
O recado, no entanto, veio com uma ressalva clara…