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Investimentos

Ibovespa deve manter toada positiva após dados de inflação favoráveis? Veja os destaques desta quarta-feira (13)

Os dados de IPCA e CPI (EUA) animam o mercado brasileiro com a perspectiva de um corte de juros antecipado. Leia mais.

Por Matheus Spiess

13 ago 2025, 09:21

Atualizado em 13 ago 2025, 09:21

mercado ibovespa ações bolsa b3

Imagem: iStock.com/imaginima

Os mercados globais estão sob um clima de maior otimismo, sustentado pela expectativa crescente de que o Federal Reserve dê início ao ciclo de cortes de juros já em setembro. Indicadores recentes nos Estados Unidos — tanto de inflação quanto de mercado de trabalho — vieram mais fracos, reforçando a percepção de que a política monetária americana pode migrar para uma postura mais acomodatícia muito em breve. As apostas para uma redução de 25 pontos-base no mês que vem já se aproximam de 94%, com projeções de mais cortes na sequência (em 2025 e 2026). 

No conjunto, a combinação de inflação sob controle, perspectiva de flexibilização monetária e redução nas tensões comerciais vem sustentando bolsas e moedas de mercados emergentes, ao mesmo tempo em que o dólar se enfraquece globalmente, estimulando o apetite global por risco.

Na Ásia, as bolsas acompanharam o tom positivo de Wall Street. Na Europa, vemos os principais índices registrarem ganhos nesta manhã após a confirmação de que o CPI americano não assustou. No Brasil, o IPCA de julho recuou para 5,23% no acumulado de 12 meses, ampliando as apostas de corte da Selic no fim do ano — depois do corte do Fed, claro (o que tende a criar um ambiente mais construtivo para os ativos domésticos ao longo do segundo semestre).

· 00:57 — Cuidado para não estragar tudo

O pregão de terça-feira (12) foi marcado por um clima amplamente otimista nos mercados domésticos, impulsionado pela divulgação de indicadores de inflação no Brasil e nos Estados Unidos que reforçaram as expectativas de cortes de juros nas duas economias. O Ibovespa avançou 1,69%, encerrando a sessão aos 137.914 pontos, em um movimento também sustentado por uma outra combinação de fatores: resultados corporativos expressivos, valuations ainda atrativos e um posicionamento técnico saudável, sem sinais de sobrecompra que pudessem limitar a alta. Para esta quarta-feira (13), o otimismo permanece, em grande parte ainda estimulado pelo IPCA de julho, que veio abaixo do esperado e mostrou desaceleração na variação anual, aumentando a confiança de que a inflação possa encerrar 2025 abaixo de 5% — cenário que, como já venho defendendo há meses, abre espaço para cortes da Selic.

O foco imediato, porém, se desloca para Brasília, com a apresentação do plano de contingência do governo destinado a amparar as empresas mais afetadas pelo tarifaço imposto por Donald Trump. Conforme detalhou o Ministério da Fazenda, as medidas se dividem em três frentes distintas: linhas de financiamento, incentivos tributários e compras governamentais, todas condicionadas à manutenção de empregos como contrapartida. A primeira fase prevê a liberação de R$ 30 bilhões em crédito para companhias que perderam competitividade no mercado externo após o tarifaço.

Há dois pontos que exigem atenção redobrada. O primeiro é o impacto fiscal dessa iniciativa, especialmente em um momento em que o orçamento para 2026 está em fase de apresentação e há pouquíssimo espaço para novos gastos — o que aumenta o risco de recorrer a instrumentos parafiscais, geralmente percebidos pelo mercado como um mau sinal. O segundo é a possibilidade de escalada nas tensões comerciais, com o presidente Lula voltando a sugerir medidas de reciprocidade contra os EUA, retomando um discurso de viés antiamericano ao defender a criação de uma moeda alternativa ao dólar e prometendo, para muito em breve, um projeto de regulação das redes sociais (vale lembrar que esse tom já esteve no pano de fundo político que contribuiu para o tarifaço original, ao provocar a Casa Branca, e pode dificultar negociações futuras).

Tanto o fator fiscal quanto o comercial podem funcionar como gatilhos de volatilidade no curto prazo, ameaçando interromper a retomada do rali — atualmente sustentada pelo enfraquecimento global do dólar, pelas expectativas de flexibilização monetária (nos EUA e, depois, no Brasil) e pela precificação, ainda incipiente, de uma eventual mudança de rumo na política econômica após as eleições do próximo ano.

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· 01:41 — Sem surpresas negativas

O dado de inflação de julho nos EUA trouxe um sopro de alívio para os mercados, ainda que moderado. O CPI avançou 2,7% no acumulado de 12 meses, levemente abaixo da previsão de 2,8%, e reforçou a percepção de que o Federal Reserve poderá dar início a um ciclo de cortes de juros já na reunião de setembro. As apostas para uma redução de 25 pontos-base saltaram para mais de 90% — contra 57% há apenas um mês —, e o mercado já embute nos preços a possibilidade de até três cortes até o fim de 2025. O núcleo do CPI, que exclui energia e alimentos, subiu 3,1% na base anual, acima da meta de 2%, mas sinalizando perda de fôlego. Ao mesmo tempo, os efeitos das tarifas na inflação seguem surgindo de forma localizada e gradual, o que ajudou a impulsionar o apetite por risco: S&P 500 e Nasdaq renovaram recordes, enquanto o Dow Jones avançou 1,1%. Esse otimismo também foi alimentado por uma temporada de resultados corporativos consistente e pela interpretação de que o Fed pode preferir agir preventivamente, evitando esperar por evidências mais claras de uma recessão.

No entanto, o cenário ainda carrega potenciais armadilhas. As tarifas começaram a pesar em alguns setores de bens importados, enquanto serviços como assistência médica, odontológica e passagens aéreas registraram altas expressivas no mês. Há uma avaliação geral de que o impacto integral das tarifas implementadas pelo governo Trump deve se materializar apenas no próximo ano, mantendo vivo o risco de reaceleração inflacionária. A isso soma-se uma nova frente de incerteza: a credibilidade dos indicadores econômicos. A recente demissão do comissário do Bureau of Labor Statistics e a nomeação de E.J. Antoni — que já sinalizou intenção de suspender o relatório mensal de emprego — adicionam um componente político que pode influenciar tanto a comunicação quanto às decisões do Fed. Caso o mercado de trabalho se mantenha robusto, a autoridade monetária poderia postergar cortes; porém, uma desaceleração mais rápida do emprego, aliada ao impacto ainda contido das tarifas, abriria espaço para antecipar o início da flexibilização já em setembro.

· 02:32 — Uma compra gigantesca

A startup de inteligência artificial Perplexity apresentou uma proposta de US$ 34,5 bilhões para adquirir o navegador Chrome, do Google — valor que representa quase o dobro de sua própria avaliação de mercado, estimada em US$ 18 bilhões. O plano contaria com o aporte de investidores externos e surge no contexto do processo antitruste em andamento nos Estados Unidos, que pode obrigar o Google a se desfazer do navegador. A iniciativa acontece logo após a OpenAI também sinalizar interesse na aquisição. O Departamento de Justiça norte-americano sustenta que o Chrome é peça central no monopólio supostamente ilegal de buscas da empresa, e o judiciário americano avalia se a venda seria uma medida eficaz para restabelecer a concorrência no setor. O Google, por sua vez, resiste à ideia e considera o navegador — avaliado entre US$ 20 bilhões e US$ 50 bilhões — um ativo estratégico para sua operação publicitária e para a coleta de dados, elementos essenciais ao seu modelo de negócios.

Ainda que as chances de a transação se concretizar sejam baixas, muitos interpretam a proposta como um movimento tático para demonstrar ao judiciário a existência de compradores interessados, fortalecendo o argumento pró-venda compulsória. Além disso, o lance ocorre em meio à corrida pela liderança na inteligência artificial generativa, em que a Perplexity amplia seu portfólio com produtos como o navegador Comet e busca se posicionar frente a gigantes como Google, Meta e OpenAI. Paralelamente, o Google lida com pressões regulatórias e críticas à sua postura monopolista, enquanto a Perplexity procura consolidar sua imagem como alternativa inovadora e ousada — perfil reforçado por propostas anteriores de alto impacto, como a tentativa, não concretizada, de fusão com o TikTok no início do ano.

· 03:24 — Investimentos maciços em IA

O avanço recente da economia norte-americana tem sido impulsionado de forma significativa pelos investimentos maciços das grandes empresas de tecnologia em infraestrutura dedicada à inteligência artificial. No último trimestre, apenas os aportes relacionados à IA responderam por 1,3 ponto percentual dos 3% de crescimento do PIB, superando inclusive a contribuição do consumo das famílias — historicamente o principal motor econômico do país. Meta, Alphabet, Microsoft e Amazon destinaram, em conjunto, US$ 69 bilhões no período para a construção e modernização de data centers e para o desenvolvimento de tecnologias voltadas à IA. A projeção é que esses investimentos alcancem US$ 320 bilhões em 2025, um salto expressivo em relação aos US$ 230 bilhões registrados no ano anterior. Essa dinâmica tem gerado efeitos positivos em diferentes setores, beneficiando fabricantes de semicondutores como Nvidia e AMD, que viram suas ações dispararem, e concessionárias de energia elétrica em polos estratégicos, onde a demanda energética cresce em ritmo acelerado para sustentar a expansão de centros de dados (o consumo de energia tem sido brutal).

Apesar do otimismo visível entre os investidores, alimentado pelo avanço das receitas com serviços de IA e computação em nuvem, vozes mais cautelosas alertam para o risco de uma bolha. Caso a inteligência artificial não produza ganhos de produtividade proporcionais ao capital investido, o cenário pode repetir ciclos de euforia e correção já vistos na história, como a bolha das pontocom ou o boom ferroviário do início do século XX. Soma-se a isso o fato de que parcela considerável da produção de semicondutores que alimentam a revolução da IA ocorre fora dos Estados Unidos, o que tende a limitar o impacto direto sobre a economia doméstica. Ainda assim, no momento, a chamada “corrida do ouro” da inteligência artificial se mantém como um dos vetores mais poderosos de crescimento americano, atraindo volumes recordes de capital e consolidando expectativas elevadas em torno de seu potencial transformador.

· 04:16 — A nova corrida espacial está ganhando tração

Os EUA intensificam seus esforços para assumir a dianteira na nova corrida espacial, com o objetivo de estabelecer a primeira base humana na Lua antes de Rússia e China. O diferencial estratégico está na aposta por uma fonte de energia confiável e contínua: um microrreator de fissão nuclear de 100 kW, cuja instalação está prevista até 2030 — cinco anos antes das projeções de seus rivais. A escolha pela energia nuclear não é casual: a energia solar, embora abundante, enfrenta severas limitações no ambiente lunar, onde períodos de duas semanas de completa escuridão, acompanhados por temperaturas extremas, inviabilizam a geração ininterrupta de eletricidade. O projeto integra o programa Artemis, que busca não apenas manter presença sustentável no satélite, mas também criar as condições para a exploração tripulada de Marte. Nesse cronograma, a missão Artemis II, prevista para o primeiro semestre de 2026, realizará um sobrevoo tripulado da Lua, enquanto a Artemis III, marcada para 2027, tem como meta efetuar o primeiro pouso humano desde 1972.

Se essas etapas forem bem-sucedidas, missões não tripuladas iniciarão o envio de módulos e equipamentos para o Polo Sul lunar, onde astronautas darão início à montagem da base. O projeto — batizado Fission Surface Power — não se limita ao contexto espacial, irradiando efeitos significativos no mercado terrestre de energia nuclear. Vale destacar que parte da tecnologia desenvolvida para sustentar a vida e as operações na Lua poderá ter aplicações comerciais diretas na Terra, atendendo a uma demanda energética global em expansão e oferecendo soluções escaláveis para regiões remotas ou com infraestrutura limitada. Assim, a iniciativa combina de forma rara três vetores estratégicos: avanço científico e tecnológico, projeção de poder geopolítico e potencial de retorno econômico robusto para o setor nuclear.

· 05:08 — Se expondo ao risco

O avanço acelerado da inteligência artificial vem alimentando investimentos recordes e expectativas de transformação profunda, mas também expõe fragilidades estruturais que não podem ser negligenciadas. A construção da infraestrutura necessária para sustentar a IA é um empreendimento de custo extraordinário: estima-se que as principais Big Techs destinem mais de US$ 300 bilhões a esse fim somente neste ano — cifra superior até a de alguns grandes orçamentos regionais de defesa. Esse volume colossal de capital pressiona…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.