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Os mercados globais estão sob um clima de maior otimismo, sustentado pela expectativa crescente de que o Federal Reserve dê início ao ciclo de cortes de juros já em setembro. Indicadores recentes nos Estados Unidos — tanto de inflação quanto de mercado de trabalho — vieram mais fracos, reforçando a percepção de que a política monetária americana pode migrar para uma postura mais acomodatícia muito em breve. As apostas para uma redução de 25 pontos-base no mês que vem já se aproximam de 94%, com projeções de mais cortes na sequência (em 2025 e 2026).
No conjunto, a combinação de inflação sob controle, perspectiva de flexibilização monetária e redução nas tensões comerciais vem sustentando bolsas e moedas de mercados emergentes, ao mesmo tempo em que o dólar se enfraquece globalmente, estimulando o apetite global por risco.
Na Ásia, as bolsas acompanharam o tom positivo de Wall Street. Na Europa, vemos os principais índices registrarem ganhos nesta manhã após a confirmação de que o CPI americano não assustou. No Brasil, o IPCA de julho recuou para 5,23% no acumulado de 12 meses, ampliando as apostas de corte da Selic no fim do ano — depois do corte do Fed, claro (o que tende a criar um ambiente mais construtivo para os ativos domésticos ao longo do segundo semestre).
· 00:57 — Cuidado para não estragar tudo
O pregão de terça-feira (12) foi marcado por um clima amplamente otimista nos mercados domésticos, impulsionado pela divulgação de indicadores de inflação no Brasil e nos Estados Unidos que reforçaram as expectativas de cortes de juros nas duas economias. O Ibovespa avançou 1,69%, encerrando a sessão aos 137.914 pontos, em um movimento também sustentado por uma outra combinação de fatores: resultados corporativos expressivos, valuations ainda atrativos e um posicionamento técnico saudável, sem sinais de sobrecompra que pudessem limitar a alta. Para esta quarta-feira (13), o otimismo permanece, em grande parte ainda estimulado pelo IPCA de julho, que veio abaixo do esperado e mostrou desaceleração na variação anual, aumentando a confiança de que a inflação possa encerrar 2025 abaixo de 5% — cenário que, como já venho defendendo há meses, abre espaço para cortes da Selic.
O foco imediato, porém, se desloca para Brasília, com a apresentação do plano de contingência do governo destinado a amparar as empresas mais afetadas pelo tarifaço imposto por Donald Trump. Conforme detalhou o Ministério da Fazenda, as medidas se dividem em três frentes distintas: linhas de financiamento, incentivos tributários e compras governamentais, todas condicionadas à manutenção de empregos como contrapartida. A primeira fase prevê a liberação de R$ 30 bilhões em crédito para companhias que perderam competitividade no mercado externo após o tarifaço.
Há dois pontos que exigem atenção redobrada. O primeiro é o impacto fiscal dessa iniciativa, especialmente em um momento em que o orçamento para 2026 está em fase de apresentação e há pouquíssimo espaço para novos gastos — o que aumenta o risco de recorrer a instrumentos parafiscais, geralmente percebidos pelo mercado como um mau sinal. O segundo é a possibilidade de escalada nas tensões comerciais, com o presidente Lula voltando a sugerir medidas de reciprocidade contra os EUA, retomando um discurso de viés antiamericano ao defender a criação de uma moeda alternativa ao dólar e prometendo, para muito em breve, um projeto de regulação das redes sociais (vale lembrar que esse tom já esteve no pano de fundo político que contribuiu para o tarifaço original, ao provocar a Casa Branca, e pode dificultar negociações futuras).
Tanto o fator fiscal quanto o comercial podem funcionar como gatilhos de volatilidade no curto prazo, ameaçando interromper a retomada do rali — atualmente sustentada pelo enfraquecimento global do dólar, pelas expectativas de flexibilização monetária (nos EUA e, depois, no Brasil) e pela precificação, ainda incipiente, de uma eventual mudança de rumo na política econômica após as eleições do próximo ano.
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· 01:41 — Sem surpresas negativas
O dado de inflação de julho nos EUA trouxe um sopro de alívio para os mercados, ainda que moderado. O CPI avançou 2,7% no acumulado de 12 meses, levemente abaixo da previsão de 2,8%, e reforçou a percepção de que o Federal Reserve poderá dar início a um ciclo de cortes de juros já na reunião de setembro. As apostas para uma redução de 25 pontos-base saltaram para mais de 90% — contra 57% há apenas um mês —, e o mercado já embute nos preços a possibilidade de até três cortes até o fim de 2025. O núcleo do CPI, que exclui energia e alimentos, subiu 3,1% na base anual, acima da meta de 2%, mas sinalizando perda de fôlego. Ao mesmo tempo, os efeitos das tarifas na inflação seguem surgindo de forma localizada e gradual, o que ajudou a impulsionar o apetite por risco: S&P 500 e Nasdaq renovaram recordes, enquanto o Dow Jones avançou 1,1%. Esse otimismo também foi alimentado por uma temporada de resultados corporativos consistente e pela interpretação de que o Fed pode preferir agir preventivamente, evitando esperar por evidências mais claras de uma recessão.
No entanto, o cenário ainda carrega potenciais armadilhas. As tarifas começaram a pesar em alguns setores de bens importados, enquanto serviços como assistência médica, odontológica e passagens aéreas registraram altas expressivas no mês. Há uma avaliação geral de que o impacto integral das tarifas implementadas pelo governo Trump deve se materializar apenas no próximo ano, mantendo vivo o risco de reaceleração inflacionária. A isso soma-se uma nova frente de incerteza: a credibilidade dos indicadores econômicos. A recente demissão do comissário do Bureau of Labor Statistics e a nomeação de E.J. Antoni — que já sinalizou intenção de suspender o relatório mensal de emprego — adicionam um componente político que pode influenciar tanto a comunicação quanto às decisões do Fed. Caso o mercado de trabalho se mantenha robusto, a autoridade monetária poderia postergar cortes; porém, uma desaceleração mais rápida do emprego, aliada ao impacto ainda contido das tarifas, abriria espaço para antecipar o início da flexibilização já em setembro.
· 02:32 — Uma compra gigantesca
A startup de inteligência artificial Perplexity apresentou uma proposta de US$ 34,5 bilhões para adquirir o navegador Chrome, do Google — valor que representa quase o dobro de sua própria avaliação de mercado, estimada em US$ 18 bilhões. O plano contaria com o aporte de investidores externos e surge no contexto do processo antitruste em andamento nos Estados Unidos, que pode obrigar o Google a se desfazer do navegador. A iniciativa acontece logo após a OpenAI também sinalizar interesse na aquisição. O Departamento de Justiça norte-americano sustenta que o Chrome é peça central no monopólio supostamente ilegal de buscas da empresa, e o judiciário americano avalia se a venda seria uma medida eficaz para restabelecer a concorrência no setor. O Google, por sua vez, resiste à ideia e considera o navegador — avaliado entre US$ 20 bilhões e US$ 50 bilhões — um ativo estratégico para sua operação publicitária e para a coleta de dados, elementos essenciais ao seu modelo de negócios.
Ainda que as chances de a transação se concretizar sejam baixas, muitos interpretam a proposta como um movimento tático para demonstrar ao judiciário a existência de compradores interessados, fortalecendo o argumento pró-venda compulsória. Além disso, o lance ocorre em meio à corrida pela liderança na inteligência artificial generativa, em que a Perplexity amplia seu portfólio com produtos como o navegador Comet e busca se posicionar frente a gigantes como Google, Meta e OpenAI. Paralelamente, o Google lida com pressões regulatórias e críticas à sua postura monopolista, enquanto a Perplexity procura consolidar sua imagem como alternativa inovadora e ousada — perfil reforçado por propostas anteriores de alto impacto, como a tentativa, não concretizada, de fusão com o TikTok no início do ano.
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· 03:24 — Investimentos maciços em IA
O avanço recente da economia norte-americana tem sido impulsionado de forma significativa pelos investimentos maciços das grandes empresas de tecnologia em infraestrutura dedicada à inteligência artificial. No último trimestre, apenas os aportes relacionados à IA responderam por 1,3 ponto percentual dos 3% de crescimento do PIB, superando inclusive a contribuição do consumo das famílias — historicamente o principal motor econômico do país. Meta, Alphabet, Microsoft e Amazon destinaram, em conjunto, US$ 69 bilhões no período para a construção e modernização de data centers e para o desenvolvimento de tecnologias voltadas à IA. A projeção é que esses investimentos alcancem US$ 320 bilhões em 2025, um salto expressivo em relação aos US$ 230 bilhões registrados no ano anterior. Essa dinâmica tem gerado efeitos positivos em diferentes setores, beneficiando fabricantes de semicondutores como Nvidia e AMD, que viram suas ações dispararem, e concessionárias de energia elétrica em polos estratégicos, onde a demanda energética cresce em ritmo acelerado para sustentar a expansão de centros de dados (o consumo de energia tem sido brutal).
Apesar do otimismo visível entre os investidores, alimentado pelo avanço das receitas com serviços de IA e computação em nuvem, vozes mais cautelosas alertam para o risco de uma bolha. Caso a inteligência artificial não produza ganhos de produtividade proporcionais ao capital investido, o cenário pode repetir ciclos de euforia e correção já vistos na história, como a bolha das pontocom ou o boom ferroviário do início do século XX. Soma-se a isso o fato de que parcela considerável da produção de semicondutores que alimentam a revolução da IA ocorre fora dos Estados Unidos, o que tende a limitar o impacto direto sobre a economia doméstica. Ainda assim, no momento, a chamada “corrida do ouro” da inteligência artificial se mantém como um dos vetores mais poderosos de crescimento americano, atraindo volumes recordes de capital e consolidando expectativas elevadas em torno de seu potencial transformador.
· 04:16 — A nova corrida espacial está ganhando tração
Os EUA intensificam seus esforços para assumir a dianteira na nova corrida espacial, com o objetivo de estabelecer a primeira base humana na Lua antes de Rússia e China. O diferencial estratégico está na aposta por uma fonte de energia confiável e contínua: um microrreator de fissão nuclear de 100 kW, cuja instalação está prevista até 2030 — cinco anos antes das projeções de seus rivais. A escolha pela energia nuclear não é casual: a energia solar, embora abundante, enfrenta severas limitações no ambiente lunar, onde períodos de duas semanas de completa escuridão, acompanhados por temperaturas extremas, inviabilizam a geração ininterrupta de eletricidade. O projeto integra o programa Artemis, que busca não apenas manter presença sustentável no satélite, mas também criar as condições para a exploração tripulada de Marte. Nesse cronograma, a missão Artemis II, prevista para o primeiro semestre de 2026, realizará um sobrevoo tripulado da Lua, enquanto a Artemis III, marcada para 2027, tem como meta efetuar o primeiro pouso humano desde 1972.
Se essas etapas forem bem-sucedidas, missões não tripuladas iniciarão o envio de módulos e equipamentos para o Polo Sul lunar, onde astronautas darão início à montagem da base. O projeto — batizado Fission Surface Power — não se limita ao contexto espacial, irradiando efeitos significativos no mercado terrestre de energia nuclear. Vale destacar que parte da tecnologia desenvolvida para sustentar a vida e as operações na Lua poderá ter aplicações comerciais diretas na Terra, atendendo a uma demanda energética global em expansão e oferecendo soluções escaláveis para regiões remotas ou com infraestrutura limitada. Assim, a iniciativa combina de forma rara três vetores estratégicos: avanço científico e tecnológico, projeção de poder geopolítico e potencial de retorno econômico robusto para o setor nuclear.
· 05:08 — Se expondo ao risco
O avanço acelerado da inteligência artificial vem alimentando investimentos recordes e expectativas de transformação profunda, mas também expõe fragilidades estruturais que não podem ser negligenciadas. A construção da infraestrutura necessária para sustentar a IA é um empreendimento de custo extraordinário: estima-se que as principais Big Techs destinem mais de US$ 300 bilhões a esse fim somente neste ano — cifra superior até a de alguns grandes orçamentos regionais de defesa. Esse volume colossal de capital pressiona…