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Os mercados globais iniciam a sexta-feira com o olhar voltado para os Estados Unidos, à espera da divulgação do relatório de emprego de agosto (payroll), que sairá nesta manhã e pode ser decisivo para calibrar o ritmo da política monetária do Federal Reserve nos próximos meses. A redução de 25 pontos-base na reunião de setembro já é considerada praticamente certa, mas o dado de hoje será fundamental para indicar se haverá espaço para cortes adicionais em outubro e dezembro. Apesar de a qualidade das pesquisas de emprego estar sob escrutínio — afetada por menor taxa de resposta das empresas e maior dificuldade na coleta de informações —, os últimos indicadores reforçam o diagnóstico de enfraquecimento do mercado de trabalho. O JOLTS mostrou que o número de vagas abertas caiu para abaixo do total de pessoas em busca de emprego, algo não observado desde antes da pandemia, minando a narrativa do “excepcionalismo americano” sustentada pela resiliência do mercado de trabalho. O relatório da ADP também confirmou essa percepção ao apontar a criação de apenas 54 mil vagas no setor privado em agosto, muito aquém das expectativas, o que reforça a leitura de desaceleração e fortalece a aposta em cortes de juros, cenário que tende a ser positivo para ativos de risco em ciclos sem recessão mais profunda.
Ontem, os principais índices de Wall Street fecharam em alta. O movimento foi sustentado também pela queda dos rendimentos dos Treasuries de 10 anos para abaixo de 4,20%, após os temores recentes com a perda de receita tarifária americana. Na Ásia, as bolsas reagiram de forma positiva ao clima de alívio em Nova York e a Europa abriu hoje em leve alta apoiada por comentários mais dovish do Fed e pelo recuo parcial dos yields globais, ainda que o ambiente fiscal siga muito pressionando. Já no front das commodities, o petróleo cai nesta manhã após um aumento inesperado nos estoques americanos e à espera da reunião da Opep+, enquanto o ouro recuou após recentes recordes. Em resumo, a divulgação do payroll de agosto é o divisor de águas: números mais fracos reforçariam não apenas o corte quase certo em setembro, como também a possibilidade de flexibilizações adicionais em outubro e dezembro — fator que tende a sustentar o apetite por risco, embora dados muito fortes ou fracos possam reacender os temores de atraso nos cortes ou de recessão, respectivamente.
· 00:54 — Surfando o humor internacional
No mercado doméstico, o Ibovespa interrompeu a sequência de três quedas consecutivas e encerrou o pregão de ontem em alta, aos 140.993 pontos, acompanhando o movimento positivo das bolsas em Nova York. O alívio veio na esteira dos dados de emprego nos Estados Unidos, que apontaram para um mercado de trabalho menos aquecido, reforçando a expectativa de que o Federal Reserve possa adotar em breve uma postura mais acomodatícia na política monetária.
Para hoje, a agenda local traz poucos catalisadores, o que deve manter os investidores mais atentos ao ambiente externo, em especial à divulgação do payroll nesta manhã. Caso os números confirmem a desaceleração do mercado de trabalho americano, cresce a chance de cortes de juros nos EUA, ampliando o diferencial de taxas em relação ao Brasil. Esse movimento tende a sustentar o real frente ao dólar, favorecendo a dinâmica inflacionária e abrindo espaço para cortes na Selic já em dezembro.
No front político, segue no radar o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e a articulação em torno de um projeto de anistia. Lideranças da oposição, com destaque para o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas — apontado como principal herdeiro político de Bolsonaro para 2026 —, têm se movimentado junto ao Centrão em busca de apoio. Ainda que uma proposta ampla de anistia pareça improvável de prosperar no Congresso e no STF, cresce a percepção de que uma versão mais moderada poderia ganhar maior aceitação entre diferentes atores políticos brasileiros.
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· 01:45 — O mercado em transe: todo mundo esperando pelo payroll de agosto
Nos últimos dias, os mercados globais voltaram a operar dentro daquela lógica peculiar em que más notícias acabam sendo interpretadas como boas para os ativos de risco. O relatório JOLTS, divulgado na quarta-feira (adiado em um dia em razão do feriado nos EUA na segunda), mostrou que o número de vagas de emprego em aberto caiu para abaixo da quantidade de pessoas em busca de trabalho — algo que não ocorria desde antes da pandemia. O dado reforçou a percepção de enfraquecimento do mercado de trabalho americano e colocou em xeque a narrativa de um mercado laboral resiliente, quase imune a choques, que sustentava o chamado “excepcionalismo americano”. A divulgação aumentou ainda mais a importância do payroll desta sexta-feira, sobretudo após as revisões negativas para maio e junho. A pesquisa da ADP, publicada ontem, veio na mesma direção, apontando a criação de apenas 54 mil postos no setor privado em agosto, bem abaixo das expectativas, consolidando a leitura de desaquecimento e fortalecendo as apostas em cortes de juros já neste mês por parte do Federal Reserve.
Essa interpretação de que a fraqueza do mercado de trabalho abre espaço para flexibilização monetária acabou sustentando o apetite por risco. Em Wall Street, os principais índices reagiram de forma positiva: o S&P 500 avançou 0,8%, renovando máximas históricas, enquanto os rendimentos dos Treasuries de longo prazo recuaram após a pressão observada na terça-feira, quando os investidores avaliaram os riscos da possível queda das tarifas recíprocas — fonte importante de receitas que, se eliminada, poderia ampliar a dificuldade do Tesouro em lidar com o déficit fiscal. Para o pregão de hoje, a atenção seguirá concentrada na divulgação do payroll de agosto: o consenso aponta para a criação de 76 mil vagas, após 73 mil em julho, e a taxa de desemprego deve subir de 4,2% para 4,3%. A depender da intensidade da desaceleração, a aposta em cortes mais agressivos de juros pelo Fed pode ganhar tração, aumentando a volatilidade dos ativos de risco nos EUA e no resto do mundo. Um dado em linha ou levemente abaixo das estimativas tende a sustentar o otimismo dos investidores — o que seria positivo para ações e, por consequência, para ativos globais, inclusive brasileiros, já que dólar perderia força. Já um resultado muito acima poderia adiar a percepção de cortes, enquanto um dado excessivamente fraco reacenderia temores de recessão, ambos cenários negativos para o mercado.
· 02:39 — Devidamente sabatinado
A audiência de confirmação de Stephen Miran, indicado por Donald Trump para ocupar a vaga deixada por Adriana Kugler no Conselho de Governadores do Federal Reserve (Fed), foi marcada por um clima de forte tensão política e desconfiança quanto à preservação da autonomia da instituição. Diante do Comitê Bancário do Senado, Miran declarou estar comprometido com a independência da política monetária, afirmando que não seria uma “marionete” do presidente e que suas decisões se pautariam por análises técnicas e pelo interesse maior da economia americana. Ainda assim, seus argumentos não dissiparam as críticas da oposição democrata, que o enxergam como alguém alinhado demais à Casa Branca. A percepção ganhou força porque, em sua fala, Miran endossou pontos centrais da agenda trumpista, classificando o protecionismo comercial como “não inflacionário” e as restrições à imigração como “deflacionárias”. Esse tom, mais político do que técnico, chegou a interromper a queda dos rendimentos dos Treasuries no pregão de ontem, refletindo receios de que a credibilidade e a independência do Fed pudessem estar sendo tensionadas.
A polêmica se intensificou quando Miran revelou a intenção de manter seu assento no Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca, ainda que em licença não remunerada, mesmo após ingressar no Fed. A declaração provocou reação imediata de senadores democratas, como Jack Reed, que questionou a viabilidade de se autoproclamar independente enquanto permanece formalmente vinculado ao Executivo. A senadora Elizabeth Warren reforçou as críticas, lembrando que Miran já havia defendido em artigos anteriores propostas que poderiam fragilizar a autonomia da autoridade monetária e destacando sua relutância em reconhecer a derrota de Trump nas eleições de 2020. Apesar das tensões políticas e do debate sobre ingerência presidencial sobre a autoridade monetária, os republicanos demonstraram coesão em apoiá-lo, o que aumenta a probabilidade de uma confirmação rápida. Caso isso se concretize, Miran poderá já participar da reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) nos dias 16 e 17 de setembro, encontro em que o mercado praticamente dá como certo um corte de 25 pontos-base na taxa básica de juros.
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· 03:21 — Perspectivas para a IA
O mercado de inteligência artificial iniciou setembro em um ambiente de maior instabilidade, refletindo principalmente a pressão sobre os semicondutores e data centers, que foram os motores originais da primeira onda de entusiasmo. ETFs tradicionais de semicondutores já ensaiam um padrão técnico de baixa, enquanto a Nvidia — peça central do ecossistema de IA e principal referência para investidores — rompeu para baixo sua média móvel de 50 dias pela primeira vez desde maio. Esse movimento é interpretado como sinal de perda de fôlego, após meses de otimismo e valorização expressiva, e alimenta receios de que o boom da IA possa estar entrando em uma fase de correção no curto prazo, colocando pressão sobre ações que, até então, eram tratadas quase como “portos seguros” dentro do segmento de tecnologia.
Paralelamente, contudo, começa a ganhar corpo um novo vetor de crescimento: o setor de software. Empresas que durante o auge da euforia em torno dos hiperescaladores pareciam relegadas a um segundo plano, vêm surpreendendo com resultados robustos e com a aceleração da adoção de soluções baseadas em IA. O antigo temor de que o modelo de software como serviço (SaaS) seria “engolido” pela inteligência artificial está cedendo lugar à percepção de que essas companhias estão, na verdade, incorporando a tecnologia em formatos híbridos, ampliando suas ofertas e criando novas oportunidades de monetização. Com os resultados recentes trazendo reações positivas no mercado, cresce a leitura de que o software pode assumir algum protagonismo dentro da revolução da IA, diversificando o leque de empresas beneficiadas pela tendência tecnológica e abrindo espaço para novas assimetrias de retorno.
· 04:16 — Uma eleição nórdica
As eleições na Noruega, normalmente marcadas por consenso e pouco alarde, ganharam contornos atípicos neste ano. O fator decisivo foi o retorno inesperado de Jens Stoltenberg, ex-chefe da OTAN, ao governo como ministro das Finanças, movimento que fortaleceu o Partido Trabalhista e deu novo fôlego ao premiê Jonas Gahr Støre. O ponto aqui, porém, é que o debate eleitoral foi incendiado por protestos em torno do fundo soberano norueguês de US$ 2 trilhões — o maior do mundo — após o governo ordenar revisões em seus investimentos ligados a empresas israelenses, em meio à guerra em Gaza. Esse movimento gerou críticas da oposição, por politização de uma tomada de decisão de que deveria ser técnica, e até reação internacional — desinvestimentos dessa magnitude chamam a atenção do mercado como um todo.
O episódio expôs uma mudança relevante: a geopolítica, antes distante da agenda norueguesa, passou a ocupar lugar central. O fundo, criado nos anos 1990 para gerir receitas do petróleo do Mar do Norte de forma apolítica, virou agora um para-raios de tensões políticas e diplomáticas. Pesquisas mostram que os noruegueses estão mais atentos a questões internacionais e se tornaram céticos em relação aos EUA sob Donald Trump, especialmente após episódios envolvendo a Dinamarca e disputas pela Groenlândia. Nesse contexto, o próximo governo norueguês terá de lidar não apenas com a política doméstica, mas também com ventos contrários externos. Estamos em uma era em que até o que costumava ser previsível se tornou incerto.
· 05:07 — Progressos mais visíveis
A Cosan vem sendo impulsionada por uma série de desenvolvimentos recentes, tanto no âmbito setorial quanto corporativo, que reforçam sua trajetória de fortalecimento estrutural. No campo regulatório, a deflagração da Operação Carbono Oculto pelo governo representou um marco relevante para o setor de combustíveis. A investigação busca desarticular redes de lavagem de dinheiro e adulteração de combustíveis que, por anos, criaram distorções competitivas, prejudicando distribuidoras que atuam dentro da legalidade. A ação, portanto, abre caminho para um ambiente de negócios mais equilibrado e saudável, atendendo a um pleito antigo das companhias regulares.
No mesmo compasso, a Raízen — subsidiária da Cosan — anunciou a venda das usinas Rio Brilhante e Passa Tempo, em Mato Grosso do Sul, em uma transação de R$ 1,5 bilhão. O negócio incluiu não apenas os ativos industriais, mas também contratos de fornecimento de cana e custos de manutenção assumidos pela compradora. A operação foi recebida de forma positiva pelo mercado, por sinalizar avanço concreto na execução do plano de desinvestimentos da companhia, que já alcança R$ 4,4 bilhões de um total projetado entre R$ 10 bilhões e R$ 15 bilhões. Trata-se de um passo importante na direção da desalavancagem e da racionalização do portfólio, reforçando o compromisso da empresa em concentrar esforços nos ativos mais estratégicos.
Ainda assim, novos movimentos são esperados. Entre eles…