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Investimentos

PCE dá pistas sobre juros nos Estados Unidos e rali eleitoral avança sob as sombras fiscais e diplomáticas no Brasil; veja os destaques do mercado nesta sexta (29)

Ambiente político brasileiro domina narrativa das ações, EUA colocam fim à regra de isenção tarifária e crise na França; leia mais.

Por Matheus Spiess

29 ago 2025, 09:30

Atualizado em 29 ago 2025, 09:32

urso touro mercado ibovespa ações 2t25 trimestre resultado

Imagem: iStock/ @Eoneren

No exterior, a sexta-feira (29) é dominada pela expectativa em torno da divulgação do PCE de julho — o indicador de inflação preferido pelo Federal Reserve e peça-chave para orientar os próximos passos da política monetária americana. Mesmo após a leitura do PIB do 2º trimestre, que mostrou uma expansão anualizada de 3,3% e reforçou a resiliência da economia dos EUA, os mercados seguem precificando com mais de 80% de chance a possibilidade de um corte de juros em setembro. O dado do PCE, que será publicado hoje, ganha ainda mais relevância porque a inflação medida pelo índice do 2º trimestre já havia desacelerado no acumulado anual. Em paralelo, os números de renda e gastos pessoais de julho devem revelar que as famílias de renda média continuam sustentando o consumo, mantendo a atividade aquecida.

Nesse cenário ambíguo, comentários recentes de dirigentes do Fed — como os de Christopher Waller, que chamou atenção para sinais de arrefecimento no mercado de trabalho — reforçam a visão de que o banco central pode dar início a um ciclo de flexibilização monetária em breve, ainda que persistam dúvidas a resiliência da inflação.

Ao mesmo tempo, fatores geopolíticos adicionam uma camada extra de incerteza. Na Europa, os mercados operam sob influência dos dados de inflação: a França registrou alta de 0,8% em agosto, ligeiramente abaixo das projeções, enquanto a Espanha apontou para 2,7% no acumulado anual e a Alemanha ainda aguarda a divulgação de seus números. Esse conjunto de leituras fortalece a percepção de que o BCE deve manter os juros inalterados em setembro, embora as atas mais recentes revelem divisões internas sobre a condução da política monetária.

No campo político, a França enfrenta turbulências diante da tentativa do primeiro-ministro François Bayrou de resistir a um iminente voto de confiança, enquanto, na Alemanha, o chanceler Friedrich Merz tratou de esfriar as expectativas sobre uma reunião entre Volodymyr Zelenskiy e Vladimir Putin, apesar da menção do presidente Donald Trump. Já na Ásia, as bolsas fecharam de forma mista, refletindo a postura cautelosa antes da leitura do PCE nos EUA, ao passo que o petróleo voltou a recuar diante de sinais de desaquecimento da demanda global. No Brasil, o rali eleitoral segue ganhando força, ainda que de forma prematura — afinal, a corrida foi antecipada. O movimento ocorre em meio a um ambiente de incertezas persistentes no campo fiscal e à crescente tensão diplomática com os Estados Unidos, fatores que adicionam volatilidade ao cenário doméstico.

· 00:52 — O muito antecipado rali eleitoral avança entre pesquisas animadoras e sombras fiscais cada vez mais pesadas

Por aqui, o ambiente político voltou a dominar a narrativa dos ativos brasileiros, contribuindo para um descolamento dos ativos locais em relação ao humor internacional. O gatilho imediato foi a nova pesquisa AtlasIntel/Bloomberg, mencionada neste espaço ontem, que apontou uma novidade relevante na corrida presidencial de 2026: em um eventual segundo turno, Tarcísio de Freitas aparece com 48,4% das intenções de voto, superando Lula (46,6%) — uma inversão em relação a julho, quando o presidente liderava. O desempenho do governador paulista, acima do obtido por Jair Bolsonaro no Estado em 2022, sugere uma possível replicação dessa tendência em outras regiões de perfil político semelhante. O dado reforça o argumento de que a recente recuperação da popularidade do governo teria fôlego limitado, como já antecipei. Além disso, chama atenção a mudança de prioridades do eleitorado, cada vez mais focado em temas ligados à segurança pública e ao combate à violência — pautas associadas historicamente à direita, hoje na oposição —, o que fortalece a percepção de que o país pode caminhar para uma alternância de poder em 2026. A reação do mercado foi imediata: o Ibovespa registrou sua segunda alta consecutiva, subindo 1,32% e fechando em 141.049 pontos, o maior nível desde 4 de julho, após renovar a máxima intradiária em 142.138 pontos. A leitura predominante entre os investidores é clara: a possibilidade de uma guinada política em direção a um programa mais reformista, fiscalmente responsável e alinhado ao mercado, somada a valuations ainda atrativos e a um bom posicionamento técnico, dá sustentação adicional ao rali.

Como venho ressaltando, os ativos brasileiros até podem reagir positivamente a fatores externos favoráveis — como a fraqueza do dólar no cenário global e a expectativa de cortes de juros tanto nos Estados Unidos quanto aqui (a divulgação da taxa de desemprego hoje ajudará a calibrar a leitura dos investidores sobre a resiliência do mercado de trabalho) — além do próprio rali eleitoral que ganhou força recentemente. No entanto, os riscos seguem firmes no radar. Destaco dois principais pontos de atenção, além da possibilidade de desorganização da oposição nas eleições do próximo ano: a escalada das tensões diplomático-comerciais com os EUA e a fragilidade estrutural das contas públicas brasileiras, que seguem sob forte estresse. 

No primeiro caso, a decisão do presidente Lula de acionar a Câmara de Comércio Exterior (Camex) para iniciar consultas e investigações com vistas à aplicação da Lei da Reciprocidade contra Washington — em resposta ao tarifaço de 50% imposto por Donald Trump às exportações brasileiras — representa um movimento arriscado. O Itamaraty deve oficializar a medida nos próximos dias, possivelmente antes do julgamento de Jair Bolsonaro no STF, e o processo abre espaço tanto para retaliações em tarifas, serviços e propriedade intelectual quanto para uma negociação diplomática. 

Em relação ao segundo ponto, a agenda econômica de hoje inclui a divulgação do resultado do governo consolidado de julho, para o qual se projeta um déficit de R$ 66,6 bilhões. Ontem, no campo fiscal, os números seguem preocupando: em julho, o governo central registrou déficit primário de R$ 59,1 bilhões, o segundo maior da série para o mês, levando o saldo acumulado em 12 meses a R$ 34,1 bilhões (0,3% do PIB). No acumulado de 2025, o rombo já chega a R$ 70,2 bilhões, em um contexto de despesas crescendo acima da inflação e sem uma âncora fiscal clara (a consequência é mais inflação e mais juros). A proposta orçamentária de 2026, que deve ser enviada hoje ao Congresso, projeta superávit primário de 0,25% do PIB, mas a viabilidade desse objetivo é bastante questionável. Medidas em discussão, como a compensação das perdas do IOF, a redução de benefícios fiscais e a revisão de isenções de títulos, ainda enfrentam forte resistência no Legislativo. Na prática, sem um ajuste estrutural de maior fôlego — postergado, ao que tudo indica, para 2027 —, o Brasil deve seguir convivendo com juros elevados, crescimento limitado e vulnerabilidade fiscal, fatores que podem frear parte do entusiasmo atual do mercado. Vale ficar atento ao tema hoje (29).

· 01:45 — PCE no radar: o dado que pode selar o rumo dos juros (e testar a paciência do Fed)

Os mercados americanos reagiram com surpreendente moderação ao tão esperado resultado da Nvidia, que já comentei ontem. A reação dos índices foi relativamente contida: o S&P 500 avançou 0,3%, alcançando seu 20º recorde de fechamento em 2025; o Dow Jones ganhou 0,2%; e o Nasdaq subiu 0,5%, ficando próximo da máxima registrada em agosto. Curiosamente, o desempenho positivo foi puxado pelo setor de tecnologia, com cinco das “Sete Magníficas” — entre elas Meta, Microsoft, Apple, Amazon e Alphabet — em alta superior a 0,5%. Ainda assim, a própria Nvidia encerrou o dia em queda de 0,8%, após oscilações no pregão, sinalizando a decepção de parte dos investidores com a projeção de crescimento apenas em linha com as expectativas. 

No campo macroeconômico, a segunda leitura do PIB dos Estados Unidos trouxe uma expansão anualizada de 3,3% no segundo trimestre, ligeiramente acima da estimativa anterior de 3%. O dado reforça a resiliência da economia, mas, ao mesmo tempo, torna mais complexa a decisão do Federal Reserve sobre o início do ciclo de cortes de juros. As atenções agora se voltam para o PCE de julho, indicador de inflação preferido pelo Fed, que pode apontar desaceleração no índice cheio, influenciado pela queda da gasolina, mas também sinalizar maior pressão nos preços de serviços. 

Esse cenário alimenta apostas de que o banco central pode iniciar a redução dos juros já em setembro, possivelmente em 25 pontos-base, como indicou o diretor Christopher Waller ao mencionar sinais de arrefecimento no mercado de trabalho. Ainda que a disputa judicial entre Donald Trump e a diretora do Fed, Lisa Cook, adicione incerteza institucional, os mercados mantêm a trajetória positiva e se preparam para encerrar agosto próximos de máximas históricas, apoiados por dados econômicos fortes e pela expectativa de afrouxamento monetário no horizonte.

· 02:36 — Novas isenções e compensações

Os Estados Unidos colocaram fim à regra de isenção tarifária conhecida como de minimis, que permitia a entrada de encomendas de até US$ 800 sem a cobrança de impostos de importação. A partir de agora, todos os pacotes enviados ao país — independentemente do valor, origem ou meio de transporte — passam a estar sujeitos às tarifas regulares, em mais um episódio da sanha protecionista de Donald Trump. Além disso, foi criada uma taxa fixa temporária para remessas realizadas por agências postais estrangeiras durante os próximos seis meses. A mudança atinge em cheio o modelo de negócios de plataformas de marketplace e varejo chinesas, que construíram seu crescimento explorando essa brecha para enviar produtos de baixo valor diretamente ao consumidor americano sem custo tributário. A consequência imediata deve ser a elevação de preços para os clientes e maior compressão de margens para o varejo digital, com impacto relevante sobre o comércio eletrônico internacional.

Agora, do ponto de vista fiscal, a S&P Global Ratings avaliou que a arrecadação extra com tarifas pode até ajudar a compensar parte da deterioração das contas públicas resultante do plano de impostos e gastos do governo Donald Trump, o que permitiu à agência manter a nota de crédito dos EUA em AA+. Ainda assim, o tema continua sensível: a Moody’s, mais cautelosa, já rebaixou a classificação da dívida americana para Aa1 e projeta déficits ainda maiores na próxima década. O Comitê para um Orçamento Federal Responsável calcula que as tarifas poderiam gerar um ganho líquido de US$ 2,8 trilhões até 2034, mas o Escritório de Orçamento do Congresso (CBO) prevê aumento de US$ 5 trilhões no endividamento no mesmo período. O embate, contudo, deve ganhar novo capítulo jurídico nas próximas semanas, quando a Justiça americana julgará um processo que questiona a legalidade do uso de poderes de emergência para impor tarifas — um caso com potencial de chegar à Suprema Corte e reabrir o debate sobre os limites da política comercial da Casa Branca.

· 03:21 — Iniciativas não compatíveis com a tradição americana

O governo dos Estados Unidos estuda uma medida inédita: a aquisição direta de participações em grandes empresas de defesa, ampliando o movimento iniciado com a compra de 10% da Intel. A ideia foi levantada pelo secretário de Comércio, Howard Lutnick, e discutida com o secretário de Defesa, Pete Hegseth, no contexto de um esforço estratégico para reforçar a base industrial de defesa do país. O tema chama atenção porque, ao contrário de episódios anteriores — como a intervenção na General Motors durante a crise financeira de 2008, quando havia necessidade urgente de capitalização —, o setor de defesa atualmente não enfrenta dificuldades financeiras nem carece de acesso a crédito. Empresas como a Lockheed Martin, que já obtém aproximadamente 70% de sua receita a partir de contratos federais, ou a Boeing, que recentemente levantou US$ 24 bilhões em mercado, evidenciam que a indústria permanece sólida e com ampla capacidade de financiamento privado.

Francamente, a proposta abre uma série de questionamentos sobre governança e potenciais conflitos de interesse. A eventual aquisição sem contrapartida financeira iria contra a política de incentivar novos entrantes no setor, como a SpaceX e a Palantir, que vêm desafiando a hegemonia dos players tradicionais. Além disso, uma presença acionária direta do governo poderia comprometer a percepção de imparcialidade na concessão de futuros contratos militares, contaminando um processo que exige neutralidade absoluta. Ainda que, na prática, as empresas de defesa não precisem desse tipo de suporte, o simples fato de a discussão estar posta já provoca reflexões relevantes sobre os rumos da política industrial americana e sobre os limites da participação estatal em setores cuja dependência de contratos federais é estrutural. É possível, de fato, identificar o interesse do governo americano em fortalecer setores considerados estratégicos, se aproximando deles. No entanto, iniciativas tão diretamente vinculadas a empresas específicas destoam da tradição norte-americana de valorização da liberdade de mercado e de baixo intervencionismo estatal.

· 04:13 — A dor de cabeça francesa

A França atravessa um período de instabilidade política crônica, caracterizado pela sucessiva troca de primeiros-ministros e pela constante ameaça de colapso governamental. O caso mais recente envolve François Bayrou, sexto premiê sob a presidência de Emmanuel Macron, que convocou um voto de confiança para o dia 8 de setembro como forma de pressionar a oposição a aprovar o orçamento, como já explorei aqui. O pano de fundo dessa disputa é a escalada da dívida pública francesa e as dificuldades de um governo em conter seu avanço — um retrato de um quadro europeu mais amplo, em que países como Espanha, Polônia, Alemanha e Reino Unido enfrentam turbulências políticas e fragilidades de governabilidade. Nesse cenário, chama atenção a Itália de Giorgia Meloni, que, ao menos por ora, desponta quase como uma exceção, demonstrando relativa estabilidade em contraste com seus pares.

Apesar do ambiente conturbado, o ministro das Finanças, Eric Lombard, mantém um tom de confiança, afirmando que a França seguirá comprometida com a trajetória de redução da dívida e deve alcançar a meta de déficit de 5,4% do PIB em 2025, apoiada em receitas consistentes e em um controle mais rígido dos gastos. Ainda assim, a possibilidade de renúncia de Bayrou em um eventual revés no voto de confiança adiciona incerteza e reforça a percepção de vulnerabilidade. Os mercados, já sensíveis ao elevado déficit francês — o maior da zona do euro —, acompanham de perto as negociações do premiê com partidos de oposição, mas prevalece a leitura de que os desafios fiscais e políticos continuarão a exercer pressão sobre os ativos franceses.

· 05:04 — Consolidação de um grande nome

A Direcional (DIRR3) consolidou-se, nos últimos anos, como um dos principais destaques do setor imobiliário brasileiro, sustentada pela combinação de excelência na execução de seus projetos e pelo impulso adicional trazido pelas sucessivas renovações do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV). O desempenho do 2T25, já comentado aqui, ilustra essa trajetória: os lançamentos cresceram 40% em relação ao mesmo período de 2024, alcançando R$ 1,9 bilhão em Valor Geral de Vendas (VGV), sendo R$ 1,4 bilhão na participação da companhia. As vendas líquidas chegaram a R$ 1,7 bilhão, refletindo uma velocidade de vendas (VSO) de 26% no trimestre, avanço de 3 pontos percentuais frente ao 1T25. A marca Riva, dedicada ao segmento econômico, manteve protagonismo, com VSO de 27%, reforçando a resiliência da demanda por imóveis de baixa e média renda. Esse desempenho se apoia em um modelo operacional altamente eficiente, baseado em verticalização e padronização construtiva, fatores que reduzem custos, aceleram o ciclo de obras e ampliam a competitividade em praças estratégicas, como Belo Horizonte (onde a companhia é líder), São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Manaus e, mais recentemente, Recife e Salvador.

Essa estratégia cria um ciclo virtuoso: a Direcional

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.