
Imagem: Wikimedia Commons
Donald Trump inaugurou uma nova rodada de tarifas comerciais. Desta vez, a alíquota de 25% recaiu, por exemplo, sobre produtos vindos da Coreia do Sul e do Japão — dois dos principais fornecedores dos Estados Unidos, juntos responsáveis por 8,5% das importações americanas no último ano. A ofensiva, porém, não parou por aí: outros países também foram atingidos, num gesto que reforça a lógica de confronto que pauta a atual política externa americana. A retórica é agressiva e volátil: os anúncios são feitos como ultimatos, mas voltam atrás com a mesma rapidez com que foram proferidos. O pano de fundo: quem não começou a negociar depois das tarifas de abril virou alvo de nova ameaça — e se houver retaliação, a tarifa será dobrada. A consequência: o risco inflacionário volta a rondar os EUA, justamente no momento em que o Federal Reserve busca espaço para cortar juros no segundo semestre do ano.
As novas tarifas passam a valer em 1º de agosto, data reconfigurada por Trump como novo prazo-limite para acordos, com o objetivo de negociar com os países ainda relutantes. O mercado, já habituado aos sobressaltos da política comercial americana, assiste com a combinação de cautela e desconfiança. No fundo, é mais um capítulo da já conhecida coreografia trumpista: eleva o tom, ameaça com sanções, posterga decisões e mantém os mercados sob tensão contínua. Enquanto isso, o relógio corre, os prazos se renovam, e a única certeza que se tem é a de que incertezas continuarão sendo precificadas. As bolsas europeias abriram estáveis, refletindo mais um certo esgotamento emocional do que qualquer tipo de convicção. Já no mercado de commodities, o petróleo opera em queda, pressionado pela combinação de estoques elevados, redução das tensões geopolíticas e temores de uma nova escalada comercial — o último ponto ampliaria o risco de desaceleração da atividade global.
· 00:54 — O pêndulo político brasileiro balança por conta própria — e não precisa de plateia internacional
No Brasil, o Ibovespa iniciou a semana em queda, após ter tocado pela primeira vez os 141 mil pontos no último pregão. O movimento de realização por aqui acompanha o aumento da incerteza comercial no exterior, agravado por novas declarações do presidente americano, Donald Trump, a respeito do Brasil e do BRICS. Como mencionei ontem, Trump sinalizou que aplicaria uma tarifa adicional de 10% sobre qualquer país que demonstrasse alinhamento ao bloco — o que, para ele, se tornou sinônimo de antagonismo ao Ocidente. Em seguida, numa escalada deliberada de tensão política, o presidente ainda publicou mensagens de apoio a Jair Bolsonaro, alegando que este estaria sendo alvo de perseguição. A intenção era clara: provocar o atual presidente Lula em plena Cúpula dos BRICS — parece ter irritado Trump. Mas ao atacar o judiciário, Trump acabou, na prática, oferecendo um presente político a Lula.
Isso porque um dos riscos para a tese de inflexão política em 2026 — com a derrota do lulopetismo e a eleição de um governo mais reformista e pró-mercado — é justamente uma eventual interferência desastrosa e mal calibrada de Trump. A postagem de ontem, embora pequena em termos práticos, materializa esse risco. Se os Estados Unidos resolverem intervir no debate político brasileiro, mesmo que simbolicamente, podemos entregar de mão beijada a eleição que poderia representar uma verdadeira guinada estrutural no país. O histórico está aí para quem quiser ver: em quase toda eleição onde Trump tentou interferir, o resultado foi a vitória da esquerda. Casos como os do Canadá e da Austrália são particularmente curiosos — ainda que marcados por contextos específicos, como a língua, a proximidade geográfica e o protagonismo que os nomes dessas nações têm para o eleitorado americano, o paralelo é válido.
Lula, até então em trajetória de desgaste e com dificuldade de articulação, pode saber aproveitar a deixa. Transformou a crítica externa em discurso interno de defesa da soberania nacional, afirmando que Trump deveria “cuidar da própria vida” e lembrando que “este país tem lei, tem regra e tem um dono: o povo brasileiro”. O tom nacionalista casa perfeitamente com a estratégia lulista de reativar o antagonismo “nós contra eles”, que radicaliza a militância, amplia o engajamento digital e fortalece o discurso de enfrentamento — mesmo que pouco eficaz para vencer eleições, é útil para uma oposição em formação (depois de 2026). Como se não bastasse, essa retórica casou com o uso coordenado de inteligência artificial e robôs em redes sociais para resgatar a velha narrativa de “ricos contra pobres”, que vem agitando a bolha digital da esquerda.
Nesse contexto, o STF declarou que não responderá oficialmente à publicação de Trump. E nem precisa, sejamos sinceros. A postagem poderia ser considerada irrelevante, mas tem efeito simbólico poderoso — o suficiente para reorganizar ânimos na base bolsonarista fanática, ainda que sem qualquer consequência jurídica real. Foi, tecnicamente, a primeira manifestação direta de Trump em defesa de Bolsonaro, e só veio à tona como reação à insatisfação americana com a Cúpula dos BRICS. O conteúdo, inclusive, é mais autopromocional do que substantivo, encerrando com a frase plastificada: “deixem Bolsonaro em paz”. Trump não vai impedir condenação, muito menos prisão, nem romper relações diplomáticas se a eleição brasileira não for vencida por um de seus aliados — especialmente se houver um nome da direita com algum nível de viabilidade eleitoral. Foi um agrado simbólico, nada mais do que isso.
Apesar disso, a publicação causou euforia nos setores mais radicais da oposição, ofuscando momentaneamente nomes que vinham ganhando força dentro da direita. O cenário-base segue de pé: a vitória da oposição em 2026 ainda parece mais provável do que a reeleição de Lula. Mas o desafio continua sendo construir uma candidatura capaz de unir três pilares: a popularidade da base bolsonarista, a credibilidade técnica da centro-direita liberal e a governabilidade articulada com o Centrão. Um nome da família Bolsonaro ou excessivamente radicalizado tenderia a gerar altos índices de rejeição, jogando contra a própria oposição. A insistência em candidaturas de desgaste elevado — ou a recusa em convergir para uma figura com menor rejeição e maior viabilidade — pode acabar servindo à manutenção do lulopetismo no poder.
Enquanto a direita se divide e se sabota, Lula recupera fôlego. Mesmo com popularidade em baixa e enfrentando um Congresso pouco receptivo, o presidente reencontra uma narrativa agregadora, ao assumir o papel de “defensor da soberania nacional” contra ingerências externas. Ao mesmo tempo, vídeos e memes de guerra de classes multiplicam o engajamento de sua base nas redes — o que, no médio prazo, pode dificultar a articulação legislativa, mas fortalece o discurso de militância. Nada disso muda, por ora, o cenário principal: ainda estamos diante de uma disputa em aberto. Mas a postagem de Trump trouxe ruído desnecessário, elevou a temperatura e jogou água no moinho do discurso petista. O timing não poderia ser pior: justo quando o governo ensaiava nova queda de braço com o Congresso ao ameaçar vetar o projeto que aumenta o número de deputados (de 513 para 531) — mesmo com a audiência de reconciliação entre Planalto e Legislativo marcada por Alexandre de Moraes para 15 de julho —, Trump resolve improvisar política externa em 280 caracteres. Em suma, Lula estava fraco e desgastado — mas agora, com base radicalizada, engajada e com discurso nacionalista renovado, ganha inesperado reforço. E tudo isso por causa de um post mal calculado. A lição: o pêndulo político brasileiro se movimenta por dinâmicas internas. E não precisa — nem se beneficia — de torcida organizada estrangeira.
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· 01:49 — Tentando pegar fôlego
Nos EUA, os mercados iniciaram a semana no vermelho, com o tema das tarifas voltando a dominar o noticiário e os humores dos investidores. Depois de algum estresse inicial, o mercado havia assimilado — talvez de forma excessivamente complacente — a ideia de um novo piso tarifário em torno de 10%. Mas o otimismo foi prematuro. O presidente Donald Trump enviou uma nova leva de cartas a diversos países, sinalizando que as alíquotas podem subir além do que se imaginava. O movimento, embora ruidoso, não chega a ser surpreendente — e talvez por isso as quedas tenham sido contidas, após os índices renovarem máximas na semana anterior. Já se tornou padrão: a Casa Branca sobe o tom, gera tensão e, depois, recua parcialmente — o mercado já começa a precificar como um novo “modus operandi”.
Trump parece confortável em assustar os mercados com exigências abruptas, apenas para revê-las mais adiante — uma estratégia de barganha onde o caos é parte do método. Os investidores, calejados, agora operam com a expectativa de que esse ciclo se repita. E, de fato, há um alívio momentâneo: embora esta quarta-feira fosse a data-limite para o fim da pausa tarifária recíproca de 90 dias, o governo americano anunciou uma prorrogação até 1º de agosto. Uma boa notícia? Em parte. A extensão do prazo oferece alguma margem para negociação, mas também perpetua o limbo no qual empresas e consumidores se encontram — à espera de definições que nunca chegam. O custo da incerteza segue pesando. E, para o Federal Reserve, que ainda ensaia cortes de juros no segundo semestre, a deterioração do ambiente comercial global não ajuda em nada. A tese de afrouxamento monetário continua viva — mas cada nova cartada comercial de Trump adiciona um obstáculo a mais no caminho.
· 02:31 — Novas tarifas
A Casa Branca confirmou ontem o que já se tornara previsível: Donald Trump decidiu adiar, mais uma vez, a imposição das novas tarifas comerciais — empurrando o deadline para 1º de agosto, pouco antes do vencimento oficial da pausa de 90 dias, que se encerraria nesta quarta-feira. A prorrogação, no entanto, veio acompanhada de novas cartas enviadas a diversos países, agora recheadas de ameaças específicas: tarifas de 25% para Japão, Coreia do Sul, Malásia e Cazaquistão; 30% sobre produtos sul-africanos; e, no caso de Laos e Mianmar, um escalonamento ainda mais agressivo, com alíquota de 40%. Em outras palavras, a diplomacia tarifária de Trump continua a operar no modo “morde e assopra”, com mais “morder” do que qualquer outra coisa.
Com o novo prazo em vigor, governos asiáticos se mobilizam às pressas para tentar reverter o cenário. A Coreia do Sul anunciou que ajustará suas regulações para atender às demandas americanas — um esforço apressado para evitar que as ameaças se concretizem. O Japão, por sua vez, pela voz do primeiro-ministro Shigeru Ishiba, declarou estar engajado em buscar um acordo que beneficie ambas as partes, após a aplicação de tarifas de 25% sobre produtos japoneses. A mensagem da Casa Branca é clara: ou assina o acordo que Washington quer, ou paga caro por isso. Agora, com cerca de três semanas no relógio, os países alvo dessas medidas correm contra o tempo — não exatamente em busca de melhores termos, mas tentando minimizar os danos. Como disse, a incerteza é ruim para a percepção de inflação no curto prazo.
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· 03:23 — Shadow Fed?
E já que o tema é inflação e política monetária, vale destacar um novo ruído vindo de Washington: a Casa Branca está acelerando os bastidores para nomear um novo presidente para o Federal Reserve. Embora a atual gestão negue qualquer decisão iminente, os mercados captaram o sinal de alerta — até porque, quando o assunto é Donald Trump, a distância entre “não está nos planos” e “está feito” costuma ser curta. O mandato de Jerome Powell termina apenas em maio do ano que vem, e não há indicação formal de que esse calendário será antecipado. Mas o simples fato de discutir sucessores com antecedência já alimenta especulações de ingerência política.
Se Trump decidir anunciar o nome agora, mesmo sem mandato concluído, o movimento será lido como tentativa de instaurar um “Shadow Fed” — uma espécie de presidente paralelo do banco central, posicionado para pressionar a autoridade monetária a agir segundo os caprichos da Casa Branca do lado de fora, trabalhando as expectativas do mercado para 2026. Isso comprometeria a percepção de independência do Fed, elemento-chave para a credibilidade da política monetária americana. Entre os nomes cotados estão Kevin Warsh (ex-membro do Board), Kevin Hassett (diretor do Conselho Econômico Nacional) e Scott Bessent (atual secretário do Tesouro). Warsh desponta como favorito — e, justiça seja feita, seria uma escolha muito respeitável. Mas, ainda assim, o simples debate sobre a sucessão antecipada já é suficiente para reacender a volatilidade e manter os investidores em estado de vigilância. Afinal, política monetária e populismo raramente formam uma boa dupla.
· 04:12 — Um novo partido
Elon Musk decidiu jogar gasolina no barril já inflamável da política americana. Irritado com o “Big Beautiful Bill” — proposta legislativa que, segundo ele, feriu diretamente seus interesses —, o bilionário anunciou publicamente a intenção de fundar o “Partido América”, uma alternativa ao sistema bipartidário (ou, como ele chama, unipartidário) que perpetua o gasto governamental. A ruptura com o Partido Republicano foi selada quando o projeto de lei retirou incentivos fiscais robustos para veículos elétricos e, na prática, ainda apagou seu papel no governo (no DOGE). Musk, que gastou cerca de US$ 300 milhões para ajudar Trump a retornar à Casa Branca, agora percebe que, ao apostar no cavalo errado, pode ter enfraquecido a si mesmo e sua ideia de país.
Segundo Musk, bastaria conquistar algo como três cadeiras no Senado e dez na Câmara para influenciar legislações controversas. A ideia, embora ainda embrionária, não é trivial — e seu potencial de adesão deve ser levado a sério. No curto prazo, o Partido América pode corroer os republicanos, mas o establishment democrata também não escaparia ileso caso continue cedendo espaço a candidatos cada vez mais progressistas, identitários (woke) ou abertamente socialistas. A resposta de Trump veio no tom esperado: minimizou a iniciativa e disse que “terceiros partidos nunca funcionam nos EUA”. Pode ser. Mas este, vindo de alguém com dinheiro, megafone e base engajada, tem tudo para se tornar uma pedra incômoda no sapato da velha política de Washington. Para investidores, o recado é claro: o embate entre Musk e Trump não é só barulho de bastidor — ele aprofunda as incertezas políticas.
· 05:05 — Novos ataques cibernéticos
A Cybernews revelou o que já se tornou rotina no mundo digital, mas em escala inédita: mais de 16 bilhões de senhas foram expostas em uma violação de dados recorde, comprometendo o acesso a serviços como Facebook, Google, Apple e praticamente qualquer outro nome imaginável. Com esse arsenal, cibercriminosos passam a ter um passe livre para invadir contas, roubar identidades e orquestrar ataques de phishing altamente direcionados. A cada novo vazamento, o questionamento se repete — empresas e indivíduos se perguntam se estão realmente protegidos. Como já ficou claro, porém, não existe entidade grande ou sofisticada o bastante que esteja a salvo.
O custo global do cibercrime ultrapassou US$ 8 trilhões em 2023, superando o PIB da maioria dos países — e deve chegar a US$ 14 trilhões até 2028, segundo projeções. Se fosse uma economia, o cibercrime já seria a terceira maior do planeta, atrás apenas de EUA e China. E quanto se gasta hoje para combater esse monstro? Aproximadamente…