
Imagem: x.ia (grok, IA do X)
A incerteza voltou a dar as caras nos mercados globais, desta vez reacendida pelos novos ruídos em torno da agenda tarifária de Donald Trump. O presidente norte-americano ressurgiu com ameaças veladas de ampliar barreiras comerciais, colocando mais uma vez o mundo em compasso de espera. Ainda assim, há uma fagulha de otimismo: especula-se a possibilidade de um diálogo entre Trump e Xi Jinping nos próximos dias, o que tem servido de trégua emocional para os investidores mais sensíveis a qualquer gesto diplomático. Não à toa, os mercados asiáticos reagiram positivamente nesta madrugada, embalados por essa esperança volátil de que a retórica beligerante possa dar lugar, ainda que brevemente, a um tom conciliador.
O alívio, porém, é frágil e se apoia em terreno instável. Dois focos de preocupação seguem no radar:
- i) a atividade manufatureira chinesa voltou a decepcionar, atingindo o menor nível desde setembro de 2022; e
- ii) as eleições na Coreia do Sul adicionam mais um componente de incerteza, com possíveis implicações geopolíticas dependendo do grau de alinhamento que o novo governo adotar em relação a Washington.
Na Europa, os mercados operam de forma errática nesta manhã, sem direção clara, enquanto os futuros americanos recuam levemente — talvez sinalizando que o entusiasmo com eventuais acenos entre EUA e China ainda não é suficiente para dissipar o nevoeiro.
· 00:52 — De poço em poço, o Tesouro enche o bolso
No Brasil, o Ibovespa prolongou a ressaca de sexta-feira e voltou a cair ontem, refletindo o humor azedo dos investidores diante de um cenário interno ainda mais desafiador (o corte no preço da gasolina para as distribuidoras impediu que a Petrobras acompanhasse a alta do barril de petróleo). Para hoje, o destaque é a divulgação da produção industrial de abril, que deve desacelerar, sinalizando uma economia que começa a desacelerar gradualmente. Enquanto isso, em Brasília, as atenções se voltam às negociações conduzidas por Fernando Haddad com o Congresso, na tentativa de encontrar um “plano B” que suavize o impacto do aumento do IOF e, ao mesmo tempo, lance alguma isca de medidas estruturantes para os parlamentares. Após o estrago político e reputacional causado pelo decreto, a Fazenda agora admite “ajustar” a medida. O episódio forçou debates estruturais que o governo evitava.
Um dos temas que pode voltar à mesa é a desoneração da folha de pagamentos, que hoje custa R$ 22 bilhões anuais aos cofres públicos. Esse, no entanto, é apenas um entre os muitos gastos tributários que drenam o orçamento — as chamadas “renúncias fiscais” já ultrapassam R$ 800 bilhões por ano. Embora seja justo revisitar esses benefícios, o governo mais uma vez opta por aumentar a arrecadação sem mexer na raiz do problema: o crescimento contínuo e descontrolado das despesas obrigatórias. Outros temas espinhosos que exigiriam coragem — como a revisão dos supersalários do funcionalismo ou das regras de aposentadoria das Forças Armadas — seguem em banho-maria, dado o evidente déficit de capital político da atual gestão.
Diante disso, o governo volta seus olhos — e sua fome arrecadatória — para onde sempre há margem: o setor de óleo e gás. Em pauta na ANP, uma proposta de revisão das regras que definem os preços de referência do petróleo para cálculo das participações governamentais (como royalties) pode render até R$ 10 bilhões por ano aos cofres públicos. Trata-se de uma operação de engenharia fiscal digna dos tempos de heterodoxia explícita da era Dilma: um malabarismo tributário travestido de modernização regulatória. A medida, que está em discussão desde 2023, é agora apresentada como alternativa mais palatável ao impopular aumento do IOF — um “plano de arrecadação de emergência” disfarçado de ajuste técnico.
Mas a imaginação arrecadatória não para por aí. O Ministério de Minas e Energia está tentando emplacar um pacote mais amplo de medidas sobre o setor de petróleo, que pode adicionar mais de R$ 20 bilhões ao caixa, incluindo receitas de leilões de áreas não contratadas do pré-sal, venda de óleo da União pela PPSA e outras medidas regulatórias. Em resumo, o governo se desdobra para encontrar novas receitas sob qualquer pedra, sem demonstrar disposição real para revisar gastos. O vício arrecadatório segue firme, enquanto o ajuste verdadeiro continua sendo empurrado para o próximo da fila — como de costume. A trajetória atual torna 2027 cada vez mais preocupante, com risco crescente de colapso fiscal contratado pelo governo atual. O que impede, por ora, uma correção mais drástica nos preços de mercado é a expectativa implícita de alguma inflexão relevante nas eleições de 2026.
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· 01:49 — Começa a temporada dos dados de emprego
Com os mercados americanos aparentemente imunizados ao barulho geopolítico, as bolsas encerraram a segunda-feira em alta, mesmo com o recrudescimento das tensões comerciais entre EUA e China. O drama tarifário — que dominou as manchetes nos últimos dois meses — parece ter perdido parte de sua capacidade de gerar pânico. As ameaças recentes, embora ruidosas, não conseguiram virar o jogo.
Em parte, o alívio veio da força renovada do setor de tecnologia, que voltou a embalar o humor dos investidores. Ainda assim, o dia não começou exatamente promissor: os mercados abriram em baixa após a China acusar formalmente a Casa Branca de “prejudicar gravemente” o acordo firmado em Genebra. As críticas surgiram como resposta direta aos comentários do presidente Donald Trump, que, na sexta-feira, afirmou que Pequim “violou completamente” os termos negociados. Em suma, segue o roteiro já conhecido: ruídos geopolíticos de um lado, euforia com tecnologia do outro.
Na agenda, começa a temporada de dados do mercado de trabalho, com a divulgação do relatório JOLTS (“Job Openings and Labor Turnover Survey”, ou “Pesquisa de Vagas de Emprego e Rotatividade de Mão de Obra”), que mede a quantidade de vagas em aberto e a rotatividade da força de trabalho. A expectativa do mercado é de 7,1 milhões de vagas em abril, uma leve queda frente aos 7,2 milhões observados em março. Caso os números venham mais fracos que o esperado, aumentam as apostas de que o Fed pode finalmente abrir espaço para discutir cortes de juros.
· 02:36 — Um telefonema
As investidas protecionistas de Donald Trump voltaram a deixar suas impressões digitais na economia global — e, segundo a OCDE, o estrago não é pequeno. De acordo com a nova projeção da entidade, o crescimento mundial deve desacelerar de 3,3% em 2024 para 2,9% neste ano (o ritmo mais fraco desde a pandemia). E, ironicamente, os próprios EUA estão entre os mais prejudicados por sua cruzada tarifária. Em outras palavras: a guerra comercial que pretendia proteger a economia americana pode, na prática, estar puxando o freio de mão do crescimento global.
No campo diplomático, há rumores de uma possível conversa entre Trump e o presidente chinês Xi Jinping ainda nesta semana. A Casa Branca já ventilou a possibilidade, mas Pequim permanece em silêncio — e, até agora, não há sinais concretos de que um avanço real esteja no horizonte. Se o diálogo acontecer, será o primeiro contato formal entre os dois líderes desde janeiro, antes da posse de Trump. Mesmo que a ligação se confirme, a chance de um entendimento rápido é pequena.
Enquanto isso, os EUA tentam acelerar negociações com outros países, potencialmente recorrendo a instrumentos de coerção que, mais uma vez, podem elevar a temperatura da incerteza global. Para agravar o quadro, ainda há dúvidas jurídicas sobre a legalidade de parte das tarifas impostas por Trump, especialmente à luz de uma decisão recente do Tribunal de Comércio Internacional americano. Em suma: além de imprevisível, o tabuleiro comercial está perigosamente instável — e os próximos lances do presidente americano podem custar caro.
· 03:23 — Um dólar mais fraco
O Dollar Index até ensaia uma recuperação nesta manhã. Mas isso está longe de reverter a tendência mais ampla das últimas semanas. O que temos visto, na prática, é um movimento coordenado de fortalecimento das principais moedas do G10 — notadamente o euro, a libra e o iene — em um cenário que expõe a fragilidade relativa do dólar. A posição comprada das dez principais moedas globais contra o dólar atingiu, inclusive, seu maior patamar desde 2023, sugerindo que, salvo solavancos pontuais, a moeda americana pode seguir em rota de desvalorização.
O diagnóstico é compartilhado por grandes casas. O Morgan Stanley, por exemplo, projeta uma queda de até 9% no valor do dólar até meados de 2025, impulsionada por uma combinação de desaceleração econômica nos EUA e expectativa de cortes de juros por parte do Fed. Já o Goldman Sachs vai além: seus modelos indicam que o dólar estaria supervalorizado em até 15%, o que abre espaço para uma reprecificação significativa à medida que os fluxos de capitais globais forem realocados.
Na prática, o mundo começa a repensar sua dependência estrutural do dólar — e não apenas por razões geopolíticas, mas também por pragmatismo. Prova disso é que alguns dos maiores gestores de recursos já começaram a evitar os títulos longos do Tesouro americano, optando por papeis de curto prazo, menos sensíveis a volatilidade nas curvas de juros. Isso, no entanto, não significa abandonar o dólar em carteiras internacionais. Significa, sim, diversificar. O investidor brasileiro que busca exposição global precisa olhar para além dos EUA e considerar outras moedas e regiões.
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· 04:11 — Sinal vindo a europa
Após um bimestre dominado por movimentos eleitorais mais alinhados à esquerda — em meio à turbulência gerada pela escalada tarifária de Donald Trump —, o pêndulo político global parece ter retomado sua inclinação em direção a agendas mais conservadoras. A vitória de Karol Nawrocki nas eleições presidenciais da Polônia, no último fim de semana, representa um revés expressivo para o primeiro-ministro pró-União Europeia, Donald Tusk. Trata-se de mais um capítulo da estratégia internacional de Trump, que há tempos tenta exportar sua marca MAGA como catalisadora de lideranças ideologicamente simpáticas à sua retórica.
É importante lembrar que o país vive um grau de polarização digno de manual — assim como o Brasil —, onde os votos se distribuem entre zonas urbanas progressistas e interiores fortemente conservadores. Nawrocki surfou nesse antagonismo: atacou a Alemanha, minimizou a adesão da Ucrânia à OTAN e assumiu um discurso abertamente cético em relação à União Europeia, angariando apoio dos nacionalistas. Seu triunfo, portanto, é mais uma rachadura na já fragilizada coesão europeia.
Seguimos monitorando com atenção se esse movimento global do pêndulo político encontrará eco nas eleições brasileiras de 2026. Por ora, o vento que sopra de Varsóvia levanta a poeira de um cenário internacional cada vez mais volátil — e, para os mercados, volatilidade política costuma ser só outro nome para prêmio de risco.
· 05:03 — Todo mundo quer um pouco de cripto
Nos EUA, fundos negociados em bolsa (ETFs) têm registrado uma migração expressiva de recursos do ouro para o Bitcoin, refletindo uma mudança curiosa de percepção: com o arrefecimento das tensões comerciais, diminuiu a procura pelo refúgio tradicional, enquanto os temores em torno da saúde fiscal dos EUA vêm impulsionando o apetite pela criptomoeda. Nas últimas cinco semanas, os ETFs de Bitcoin já somam entradas superiores a US$ 9 bilhões — com destaque para o iShares Bitcoin Trust da BlackRock —, enquanto os fundos lastreados em ouro amargaram saídas de mais de US$ 2,8 bilhões. Isso não enterra a tese do ouro — que continua robusta —, mas escancara um movimento técnico de curto prazo que merece atenção.
Mais do que os ETFs, o entusiasmo parece ter contagiado o mundo corporativo: empresas listadas em bolsa estão acumulando Bitcoin. De abril para cá, o número de companhias de capital aberto com Bitcoin em seus balanços saltou de 89 para 114. Todas tentando, de alguma forma, replicar a estratégia da outrora obscura MicroStrategy — agora rebatizada apenas de Strategy —, que já acumula mais de 580 mil bitcoins e abandonou de vez sua vocação original de empresa de software para se tornar, essencialmente, uma holding de criptomoeda com um legado tecnológico. O entusiasmo não é apenas corporativo — é também político. O lobby pró-cripto agora ocupa cadeiras de alto escalão. Durante discurso recente, o vice-presidente JD Vance prometeu que pretende revogar regulações federais sobre criptoativos e aprovar legislação que autorize a negociação de stablecoins.
Diante desse novo contexto — de legitimidade regulatória crescente, adoção institucional mais ampla e apoio político declarado —, faz sentido abrir espaço, ainda que tático, para criptoativos dentro de portfólios diversificados. Para perfis compatíveis com maior volatilidade, alocações entre 1% e 5% continuam razoáveis. Há, inclusive, caminhos regulados e acessíveis para fazer isso com segurança, como o…