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Investimentos

Temporada de resultados avança no exterior em meio à turbulência tarifária; veja os destaques da segunda (21)

Resultados trimestrais buscam a reliência dos lucros diante de turbulências geopolíticas. Leia mais.

Por Matheus Spiess

21 jul 2025, 09:02

Atualizado em 21 jul 2025, 09:06

economia mercado mundo global finanças

Imagem: iStock/ Athitat Shinagowin

No exterior, a semana passada foi marcada por incertezas crescentes, sobretudo após o fracasso em firmar novos acordos comerciais por parte dos EUA — em especial com a União Europeia. A frustração em torno dessas negociações adiciona mais uma camada de instabilidade a um ambiente já tensionado, agravado por ruídos políticos. Além disso, o foco recai agora sobre a continuidade da temporada de resultados do segundo trimestre. Trata-se de um momento decisivo para os mercados, que buscam a resiliência dos lucros corporativos em meio à turbulência geopolítica.

Os investidores também estarão atentos ao discurso de Jerome Powell, presidente do Fed, que fará a abertura de uma conferência com grandes bancos, na terça-feira (22). O pronunciamento ocorre em um contexto particularmente sensível: o presidente Trump intensificou seus ataques ao Fed, levantando suspeitas sobre uma possível tentativa de interferência direta na autoridade. Embora a demissão de Powell ainda seja improvável, o simples fato de o tema estar na pauta já é, por si só, institucionalmente corrosivo. A credibilidade do banco central é uma âncora da estabilidade macroeconômica — e qualquer percepção de submissão política tem efeitos nocivos sobre ativos de risco.

Do outro lado do mundo, o Banco Central da China (PBoC) optou por manter suas taxas de juros inalteradas: 3,00% para empréstimos de um ano e 3,50% para cinco anos. A estabilidade também deve prevalecer na quinta-feira, quando o Banco Central Europeu (BCE) se reúne. Por fim, a guerra tarifária entre Trump e o Brasil continua a monopolizar atenções — a situação é preocupante, onde bravatas políticas substituem estratégia e o caminho da escalada se mostra cada vez mais pavimentado por erros.

· 00:57 — O caminho de escalada deixa o clima muito ruim

No Brasil, o foco se divide entre o início da temporada de resultados e uma bateria relevante de dados macroeconômicos, incluindo o Relatório de Receitas e Despesas e o IPCA-15. Entre eles, merece atenção especial o relatório fiscal, com expectativa de manutenção da contenção de R$ 31 bilhões. Qualquer revisão nesse número, a esta altura, seria recebida com evidente nova rodada de desconfiança pelos mercados.

Ainda assim, nenhum desses tópicos tem o poder de capturar as atenções como o conflito tarifário entre Brasil e Estados Unidos, que vem assumindo contornos cada vez mais disfuncionais. A mais recente escalada — a revogação unilateral de vistos por parte dos EUA para Alexandre de Moraes, outros sete ministros do STF, o procurador-geral da República e familiares — aprofunda o impasse diplomático, em resposta às medidas judiciais contra Jair Bolsonaro. Como já venho pontuando, essa ingerência americana em temas que escapam completamente da alçada do Executivo brasileiro não apenas é inócua como contraproducente: apenas antecipa a condenação do ex-presidente e desorganiza o cenário político no curto prazo. A situação é ruim.

Se a eleição fosse neste ano, Lula teria um trunfo nas mãos. Mas, faltando ainda 15 meses, o impulso de popularidade tende a esfarelar com o tempo — e o estrago institucional, esse sim, permanece. Pior: caso as punições avancem para novas sanções formais, ainda que restritas a indivíduos, a relação bilateral poderia se deteriorar mais. Isso complica o que já era difícil: o processo de reversão do tarifaço de 50% prometido por Trump a partir de 1º de agosto. Até pouco tempo atrás, o mercado ainda mantinha algum otimismo na não aplicação dessas tarifas. Mas esse fio de esperança vem se rompendo à medida que a retórica atrapalhada do governo brasileiro fornece munição política ao discurso de Trump. Não por acaso, o presidente americano voltou a atacar os BRICS, acusando-os de tentar minar a hegemonia do dólar.

Lula, por sua vez, parece tatear no escuro. Estão mapeadas alternativas de retaliação caso as negociações sobre o tarifaço fracassem: desde a quebra de patentes farmacêuticas até um endurecimento na fiscalização de remessas de lucros e dividendos de multinacionais americanas. Esta última, já desmentida pela Fazenda, seria loucura (naturalmente percebida como controle de capitais). A estratégia sensata, ainda em curso, passa por esticar a corda até o limite da diplomacia, na esperança de costurar algum avanço por meio do diálogo. Exportadores pressionam por uma solução técnica e pragmática. Mas, com um governo acuado e uma interlocução cada vez mais trincada com Washington, a condução da política externa brasileira mais parece um improviso do que uma estratégia. E, nesse jogo, errar no tom pode custar caro.

· 01:46 — Ganhando tração

Nos Estados Unidos, a temporada de resultados segue em ritmo acelerado — e o mercado continua encontrando razões para manter o entusiasmo. Na última sexta-feira (18), o índice Nasdaq avançou discretos 0,1%, suficiente, porém, para emplacar seu 11º recorde de fechamento apenas em 2025, mesmo após encerrar uma sequência de cinco pregões consecutivos de alta. O S&P 500, por sua vez, passou o dia em compasso de espera, oscilando entre perdas e ganhos, e acabou encerrando praticamente estável — ainda assim, garantindo seu segundo melhor fechamento da história. Já o Dow Jones, mais tradicional e menos sensível à tecnologia, ficou para trás: caiu 0,3% (142 pontos) no dia, embora permaneça a apenas 1,5 ponto percentual de renovar sua máxima histórica, não atualizada desde dezembro passado.

O pano de fundo que sustenta esse otimismo? Uma combinação eficaz: o impacto das tarifas, até agora, parece diluído; os balanços corporativos surpreendem positivamente; o mercado de trabalho permanece robusto; e o consumidor americano, sempre resiliente, segue gastando — como se não houvesse guerra tarifária em curso. A expectativa é de que cerca de 100 empresas do S&P 500 divulguem seus números nesta semana, incluindo dois dos pesos-pesados da chamada “Mag 7”: Alphabet e Tesla, que abrem o jogo na quarta-feira. Em resumo, ainda que a narrativa econômica venha sendo sabotada por ruídos políticos, os resultados das empresas continuam cumprindo o papel de âncora racional para os investidores. E, por ora, isso basta.

· 02:35 — Alguma luz?

Representantes da União Europeia devem se reunir nesta semana para afinar a resposta caso as negociações comerciais com os EUA não avancem antes do prazo-limite. A tensão é justificada: a equipe de Donald Trump teria endurecido a proposta e agora pressiona por uma tarifa quase universal superior a 10% sobre produtos da UE — com bem menos exceções do que aquelas ventiladas antes. O cenário ideal para Trump? Uma tarifa base de 15% a 20% sobre todos os bens vindos da Europa, rejeitando a possibilidade de reduzir o atual imposto setorial de 25% sobre veículos europeus. Em outras palavras, negociar com essa Casa Branca parece mais um exercício de paciência estratégica do que um diálogo propriamente dito.

A pergunta que paira no ar é se o desejo europeu de responder com firmeza superará o temor legítimo de empurrar o ônus das tarifas para os próprios consumidores do bloco — afinal, retaliar produtos importados significa encarecer o custo de vida da população (uma lição para Lula, aliás). E a conta pode ser alta. Desde 2017, a crescente incerteza política e econômica — impulsionada, em grande parte, por esse estilo errático e conflitivo de condução das relações comerciais — já custou impressionantes US$ 300 bilhões às empresas listadas ao redor do mundo. A essa altura, a Europa precisa ponderar: até onde vale a pena entrar em uma guerra tarifária com os EUA para salvar a própria credibilidade sem destruir valor no processo?

· 03:21 — Dobrando a aposta em terras raras

A Apple anunciou recentemente um acordo de US$ 500 milhões com a MP Materials, única produtora de terras raras com sede nos Estados Unidos. O anúncio impulsionou as ações da companhia, coroando uma sequência positiva iniciada quando o Departamento de Defesa revelou que compraria US$ 400 milhões em ações preferenciais da empresa. Desde sua abertura de capital em 2020, a MP Materials já vinha despertando interesse, mas agora ganha respaldo de gigantes — tanto públicos quanto privados. Fundada em 2017, a companhia ressuscitou a produção da mina de Mountain Pass, no deserto da Califórnia. Trata-se da segunda maior mina de terras raras do mundo e a única ainda em operação no território americano.

O nome “terras raras” deriva do fato de que os minerais são difíceis (e caros) de extrair, refinar e processar — especialmente em países que respeitam normas ambientais. Esses elementos são insubstituíveis na fabricação de ímãs de alta potência, presentes em quase tudo o que há de tecnologicamente avançado: de caças militares a carros elétricos, passando pelos onipresentes iPhones. Até os anos 1980, os EUA lideravam o setor. Mas a China entrou em cena, com escala, subsídios e uma abordagem ambiental, digamos, “mais flexível”. Hoje, os chineses respondem por 99% da produção global de terras raras pesadas e usam essa dominância como instrumento de poder geopolítico, aplicando embargos ou barganhas conforme o contexto.

É nesse cenário que se insere o movimento da Apple, que prometeu construir com a MP um centro de reciclagem de terras raras de última geração. A empresa fará um pagamento inicial de US$ 200 milhões como parte do contrato plurianual, com embarques previstos para começar apenas em 2027. Não se trata de filantropia patriótica: há risco de ruptura na cadeia global, e os EUA não querem mais depender de um fornecedor que pode transformar uma commodity estratégica em munição diplomática. O problema? O preço. Ímãs produzidos nos EUA devem custar pelo menos 50% mais do que os fabricados na China — um custo que, inevitavelmente, será repassado ao consumidor ou aos lucros. O recado é claro: segurança nacional e autonomia industrial voltaram ao topo da lista de prioridades — mesmo que para isso a eficiência econômica tenha que ser sacrificada no altar da resiliência estratégica.

· 04:18 — Difícil de se segurar

No Japão, o primeiro-ministro Shigeru Ishiba declarou que pretende seguir no cargo, mesmo após a derrota da coalizão governista nas eleições para a câmara alta do Parlamento. O resultado da eleição foi claro: a coalizão saiu três cadeiras abaixo do necessário para a maioria. Pela primeira vez desde 1955, o tradicional Partido Liberal Democrata (PLD) governará o Japão sem maioria em ao menos uma das casas legislativas — uma anomalia que expõe a fragilidade do atual premiê. Com isso, Ishiba passa a depender do humor volátil da oposição para avançar qualquer pauta relevante — e, pior, perde margem para costurar um acordo comercial de emergência com os Estados Unidos antes da entrada em vigor das tarifas previstas para agosto. 

Historicamente, os três últimos primeiros-ministros do PLD que perderam a maioria na câmara alta renunciaram em até dois meses. Ishiba tenta escapar dessa sina, mas sabe que caminha em terreno minado. Apesar disso, por ora, o partido parece hesitante em puxar o tapete. Não há, até aqui, um nome óbvio que possa substituir Ishiba e simultaneamente revigorar o PLD. A ausência de um sucessor viável segura o premiê no cargo — não por força, mas por falta de alternativa. O iene, sensível ao risco político doméstico, reagiu com valorização, reflexo tanto da instabilidade quanto da percepção de que um governo mais frágil tende a postergar reformas impopulares. Em um momento de crescente tensão comercial e pressão por segurança energética e militar, o vácuo de liderança em Tóquio pode ter implicações não apenas locais, mas globais. E o tempo — sempre cruel com líderes enfraquecidos — já começou a correr.

· 05:04 — Depois da Cripto Week

Enfim, a tão aguardada “Cripto Week” nos Estados Unidos entregou o que prometia. Na sexta-feira, o presidente Donald Trump sancionou o projeto de lei GENIUS, estabelecendo o primeiro marco regulatório robusto para as stablecoins — moedas digitais pareadas com ativos tradicionais, como o dólar. Trata-se de uma vitória institucional importante para a indústria cripto, que ganha respaldo legal e uma dose de previsibilidade. Nas palavras do próprio Trump, é um “passo gigantesco” para consolidar o domínio americano nas finanças globais e na nova fronteira digital das criptomoedas. O gesto não foi apenas simbólico…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.