Imagem: iStock/ Athitat Shinagowin
No exterior, a semana passada foi marcada por incertezas crescentes, sobretudo após o fracasso em firmar novos acordos comerciais por parte dos EUA — em especial com a União Europeia. A frustração em torno dessas negociações adiciona mais uma camada de instabilidade a um ambiente já tensionado, agravado por ruídos políticos. Além disso, o foco recai agora sobre a continuidade da temporada de resultados do segundo trimestre. Trata-se de um momento decisivo para os mercados, que buscam a resiliência dos lucros corporativos em meio à turbulência geopolítica.
Os investidores também estarão atentos ao discurso de Jerome Powell, presidente do Fed, que fará a abertura de uma conferência com grandes bancos, na terça-feira (22). O pronunciamento ocorre em um contexto particularmente sensível: o presidente Trump intensificou seus ataques ao Fed, levantando suspeitas sobre uma possível tentativa de interferência direta na autoridade. Embora a demissão de Powell ainda seja improvável, o simples fato de o tema estar na pauta já é, por si só, institucionalmente corrosivo. A credibilidade do banco central é uma âncora da estabilidade macroeconômica — e qualquer percepção de submissão política tem efeitos nocivos sobre ativos de risco.
Do outro lado do mundo, o Banco Central da China (PBoC) optou por manter suas taxas de juros inalteradas: 3,00% para empréstimos de um ano e 3,50% para cinco anos. A estabilidade também deve prevalecer na quinta-feira, quando o Banco Central Europeu (BCE) se reúne. Por fim, a guerra tarifária entre Trump e o Brasil continua a monopolizar atenções — a situação é preocupante, onde bravatas políticas substituem estratégia e o caminho da escalada se mostra cada vez mais pavimentado por erros.
· 00:57 — O caminho de escalada deixa o clima muito ruim
No Brasil, o foco se divide entre o início da temporada de resultados e uma bateria relevante de dados macroeconômicos, incluindo o Relatório de Receitas e Despesas e o IPCA-15. Entre eles, merece atenção especial o relatório fiscal, com expectativa de manutenção da contenção de R$ 31 bilhões. Qualquer revisão nesse número, a esta altura, seria recebida com evidente nova rodada de desconfiança pelos mercados.
Ainda assim, nenhum desses tópicos tem o poder de capturar as atenções como o conflito tarifário entre Brasil e Estados Unidos, que vem assumindo contornos cada vez mais disfuncionais. A mais recente escalada — a revogação unilateral de vistos por parte dos EUA para Alexandre de Moraes, outros sete ministros do STF, o procurador-geral da República e familiares — aprofunda o impasse diplomático, em resposta às medidas judiciais contra Jair Bolsonaro. Como já venho pontuando, essa ingerência americana em temas que escapam completamente da alçada do Executivo brasileiro não apenas é inócua como contraproducente: apenas antecipa a condenação do ex-presidente e desorganiza o cenário político no curto prazo. A situação é ruim.
Se a eleição fosse neste ano, Lula teria um trunfo nas mãos. Mas, faltando ainda 15 meses, o impulso de popularidade tende a esfarelar com o tempo — e o estrago institucional, esse sim, permanece. Pior: caso as punições avancem para novas sanções formais, ainda que restritas a indivíduos, a relação bilateral poderia se deteriorar mais. Isso complica o que já era difícil: o processo de reversão do tarifaço de 50% prometido por Trump a partir de 1º de agosto. Até pouco tempo atrás, o mercado ainda mantinha algum otimismo na não aplicação dessas tarifas. Mas esse fio de esperança vem se rompendo à medida que a retórica atrapalhada do governo brasileiro fornece munição política ao discurso de Trump. Não por acaso, o presidente americano voltou a atacar os BRICS, acusando-os de tentar minar a hegemonia do dólar.
Lula, por sua vez, parece tatear no escuro. Estão mapeadas alternativas de retaliação caso as negociações sobre o tarifaço fracassem: desde a quebra de patentes farmacêuticas até um endurecimento na fiscalização de remessas de lucros e dividendos de multinacionais americanas. Esta última, já desmentida pela Fazenda, seria loucura (naturalmente percebida como controle de capitais). A estratégia sensata, ainda em curso, passa por esticar a corda até o limite da diplomacia, na esperança de costurar algum avanço por meio do diálogo. Exportadores pressionam por uma solução técnica e pragmática. Mas, com um governo acuado e uma interlocução cada vez mais trincada com Washington, a condução da política externa brasileira mais parece um improviso do que uma estratégia. E, nesse jogo, errar no tom pode custar caro.
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· 01:46 — Ganhando tração
Nos Estados Unidos, a temporada de resultados segue em ritmo acelerado — e o mercado continua encontrando razões para manter o entusiasmo. Na última sexta-feira (18), o índice Nasdaq avançou discretos 0,1%, suficiente, porém, para emplacar seu 11º recorde de fechamento apenas em 2025, mesmo após encerrar uma sequência de cinco pregões consecutivos de alta. O S&P 500, por sua vez, passou o dia em compasso de espera, oscilando entre perdas e ganhos, e acabou encerrando praticamente estável — ainda assim, garantindo seu segundo melhor fechamento da história. Já o Dow Jones, mais tradicional e menos sensível à tecnologia, ficou para trás: caiu 0,3% (142 pontos) no dia, embora permaneça a apenas 1,5 ponto percentual de renovar sua máxima histórica, não atualizada desde dezembro passado.
O pano de fundo que sustenta esse otimismo? Uma combinação eficaz: o impacto das tarifas, até agora, parece diluído; os balanços corporativos surpreendem positivamente; o mercado de trabalho permanece robusto; e o consumidor americano, sempre resiliente, segue gastando — como se não houvesse guerra tarifária em curso. A expectativa é de que cerca de 100 empresas do S&P 500 divulguem seus números nesta semana, incluindo dois dos pesos-pesados da chamada “Mag 7”: Alphabet e Tesla, que abrem o jogo na quarta-feira. Em resumo, ainda que a narrativa econômica venha sendo sabotada por ruídos políticos, os resultados das empresas continuam cumprindo o papel de âncora racional para os investidores. E, por ora, isso basta.
· 02:35 — Alguma luz?
Representantes da União Europeia devem se reunir nesta semana para afinar a resposta caso as negociações comerciais com os EUA não avancem antes do prazo-limite. A tensão é justificada: a equipe de Donald Trump teria endurecido a proposta e agora pressiona por uma tarifa quase universal superior a 10% sobre produtos da UE — com bem menos exceções do que aquelas ventiladas antes. O cenário ideal para Trump? Uma tarifa base de 15% a 20% sobre todos os bens vindos da Europa, rejeitando a possibilidade de reduzir o atual imposto setorial de 25% sobre veículos europeus. Em outras palavras, negociar com essa Casa Branca parece mais um exercício de paciência estratégica do que um diálogo propriamente dito.
A pergunta que paira no ar é se o desejo europeu de responder com firmeza superará o temor legítimo de empurrar o ônus das tarifas para os próprios consumidores do bloco — afinal, retaliar produtos importados significa encarecer o custo de vida da população (uma lição para Lula, aliás). E a conta pode ser alta. Desde 2017, a crescente incerteza política e econômica — impulsionada, em grande parte, por esse estilo errático e conflitivo de condução das relações comerciais — já custou impressionantes US$ 300 bilhões às empresas listadas ao redor do mundo. A essa altura, a Europa precisa ponderar: até onde vale a pena entrar em uma guerra tarifária com os EUA para salvar a própria credibilidade sem destruir valor no processo?
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· 03:21 — Dobrando a aposta em terras raras
A Apple anunciou recentemente um acordo de US$ 500 milhões com a MP Materials, única produtora de terras raras com sede nos Estados Unidos. O anúncio impulsionou as ações da companhia, coroando uma sequência positiva iniciada quando o Departamento de Defesa revelou que compraria US$ 400 milhões em ações preferenciais da empresa. Desde sua abertura de capital em 2020, a MP Materials já vinha despertando interesse, mas agora ganha respaldo de gigantes — tanto públicos quanto privados. Fundada em 2017, a companhia ressuscitou a produção da mina de Mountain Pass, no deserto da Califórnia. Trata-se da segunda maior mina de terras raras do mundo e a única ainda em operação no território americano.
O nome “terras raras” deriva do fato de que os minerais são difíceis (e caros) de extrair, refinar e processar — especialmente em países que respeitam normas ambientais. Esses elementos são insubstituíveis na fabricação de ímãs de alta potência, presentes em quase tudo o que há de tecnologicamente avançado: de caças militares a carros elétricos, passando pelos onipresentes iPhones. Até os anos 1980, os EUA lideravam o setor. Mas a China entrou em cena, com escala, subsídios e uma abordagem ambiental, digamos, “mais flexível”. Hoje, os chineses respondem por 99% da produção global de terras raras pesadas e usam essa dominância como instrumento de poder geopolítico, aplicando embargos ou barganhas conforme o contexto.
É nesse cenário que se insere o movimento da Apple, que prometeu construir com a MP um centro de reciclagem de terras raras de última geração. A empresa fará um pagamento inicial de US$ 200 milhões como parte do contrato plurianual, com embarques previstos para começar apenas em 2027. Não se trata de filantropia patriótica: há risco de ruptura na cadeia global, e os EUA não querem mais depender de um fornecedor que pode transformar uma commodity estratégica em munição diplomática. O problema? O preço. Ímãs produzidos nos EUA devem custar pelo menos 50% mais do que os fabricados na China — um custo que, inevitavelmente, será repassado ao consumidor ou aos lucros. O recado é claro: segurança nacional e autonomia industrial voltaram ao topo da lista de prioridades — mesmo que para isso a eficiência econômica tenha que ser sacrificada no altar da resiliência estratégica.
· 04:18 — Difícil de se segurar
No Japão, o primeiro-ministro Shigeru Ishiba declarou que pretende seguir no cargo, mesmo após a derrota da coalizão governista nas eleições para a câmara alta do Parlamento. O resultado da eleição foi claro: a coalizão saiu três cadeiras abaixo do necessário para a maioria. Pela primeira vez desde 1955, o tradicional Partido Liberal Democrata (PLD) governará o Japão sem maioria em ao menos uma das casas legislativas — uma anomalia que expõe a fragilidade do atual premiê. Com isso, Ishiba passa a depender do humor volátil da oposição para avançar qualquer pauta relevante — e, pior, perde margem para costurar um acordo comercial de emergência com os Estados Unidos antes da entrada em vigor das tarifas previstas para agosto.
Historicamente, os três últimos primeiros-ministros do PLD que perderam a maioria na câmara alta renunciaram em até dois meses. Ishiba tenta escapar dessa sina, mas sabe que caminha em terreno minado. Apesar disso, por ora, o partido parece hesitante em puxar o tapete. Não há, até aqui, um nome óbvio que possa substituir Ishiba e simultaneamente revigorar o PLD. A ausência de um sucessor viável segura o premiê no cargo — não por força, mas por falta de alternativa. O iene, sensível ao risco político doméstico, reagiu com valorização, reflexo tanto da instabilidade quanto da percepção de que um governo mais frágil tende a postergar reformas impopulares. Em um momento de crescente tensão comercial e pressão por segurança energética e militar, o vácuo de liderança em Tóquio pode ter implicações não apenas locais, mas globais. E o tempo — sempre cruel com líderes enfraquecidos — já começou a correr.
· 05:04 — Depois da Cripto Week
Enfim, a tão aguardada “Cripto Week” nos Estados Unidos entregou o que prometia. Na sexta-feira, o presidente Donald Trump sancionou o projeto de lei GENIUS, estabelecendo o primeiro marco regulatório robusto para as stablecoins — moedas digitais pareadas com ativos tradicionais, como o dólar. Trata-se de uma vitória institucional importante para a indústria cripto, que ganha respaldo legal e uma dose de previsibilidade. Nas palavras do próprio Trump, é um “passo gigantesco” para consolidar o domínio americano nas finanças globais e na nova fronteira digital das criptomoedas. O gesto não foi apenas simbólico…