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Investimentos

Agenda da semana: Julgamento de Bolsonaro continua e dados de inflação e varejo no Brasil; veja os destaques

Google pagará multa à UE, renúncia do primeiro-ministro do Japão e eleição legislativa na Argentina: veja o que mais é destaque.

Por Matheus Spiess

08 set 2025, 09:24

Atualizado em 08 set 2025, 09:24

supremo tribunal stf governo brasilia

Imagem: iStock/ @diegograndi

O relatório de empregos mais recente nos Estados Unidos reforçou a percepção de enfraquecimento do mercado de trabalho. Em agosto, foram criadas apenas 22 mil vagas, bem abaixo do esperado, acompanhadas de revisões negativas nos meses anteriores — destaque para junho, que acabou registrando a primeira perda líquida de postos desde 2020. Esse conjunto de dados praticamente sela a expectativa de que o Federal Reserve iniciará um ciclo de cortes de juros já em setembro. O ponto de debate agora recai sobre o ritmo dessa flexibilização: há investidores precificando a possibilidade de um corte de 50 pontos-base, embora eu avalie que um movimento inicial mais parcimonioso, de 25 pontos, seja o caminho mais prudente, permitindo ao Fed observar os desdobramentos antes de acelerar o passo. Outra grande questão reside em identificar se os cortes terão caráter preventivo — o que costuma apoiar ativos de risco (ambiente de valorização) — ou se serão uma reação a uma recessão, circunstância que tende a aumentar a volatilidade e pressionar os mercados.

No cenário internacional, a semana começa carregada de eventos relevantes para os ativos globais. A Opep+ anunciou um novo aumento de produção, medida que adiciona pressão baixista sobre os preços do petróleo.

No Oriente Médio, surgem sinais de negociação de um cessar-fogo entre Israel e Hamas, mediado pelos EUA, enquanto no Japão a renúncia do premiê Shigeru Ishiba adiciona incertezas à política local. Na Europa, a atenção se volta à França, onde o primeiro-ministro François Bayrou enfrenta um voto de confiança que pode resultar em mais uma mudança de governo, ao mesmo tempo em que a União Europeia discute novas sanções contra empresas russas.

Apesar desse pano de fundo geopolítico conturbado, bolsas europeias e asiáticas iniciaram a semana em território positivo, embaladas pela perspectiva de cortes de juros nos EUA.

No Brasil, os holofotes recaem sobre o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e sobre a agenda de indicadores, que inclui a divulgação dos dados de inflação de agosto, além das estatísticas de varejo e serviços. 

· 00:56 — Depois do Dia da Independência

Na sexta-feira, o Ibovespa renovou sua máxima intradiária, alcançando 143.408,64 pontos, impulsionado principalmente pelas expectativas de cortes de juros nos Estados Unidos. Tenho destacado que, hoje, três grandes forças direcionam o mercado brasileiro. A primeira é um dólar globalmente mais fraco — reflexo tanto dos ruídos institucionais nos EUA quanto da perspectiva de flexibilização monetária pelo Federal Reserve. A segunda está justamente na própria expectativa de cortes de juros americanos, que fragilizam ainda mais o dólar e, por consequência, ampliam a margem para cortes também no Brasil, sobretudo se os indicadores locais seguirem apontando sinais de fraqueza. Por fim, o terceiro vetor é o chamado “rali eleitoral”, que desde o final de agosto tem ganhado corpo e contribuído para sustentar os preços dos ativos. 

Nesta semana, os dados de inflação devem ganhar destaque: resultados mais fracos podem reforçar a visão de um corte de juros em setembro nos EUA e, em seguida, abrir espaço para um movimento semelhante no Brasil em dezembro — cenário bastante favorável para ativos de risco. No campo político, o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal será o ponto central. A Primeira Turma retoma amanhã, terça-feira (9), os trabalhos com o voto do relator, ministro Alexandre de Moraes, em um processo que deve se estender até sexta-feira (12).

O desfecho pode acelerar a transição de liderança dentro da direita, com o governador Tarcísio de Freitas despontando como herdeiro natural. O movimento parece, inclusive, já estar sendo construído: durante os atos do 7 de setembro, Tarcísio adotou um tom mais alinhado a pautas tradicionalmente bolsonaristas, em gesto calculado para sinalizar ao eleitorado sua disposição em absorver esse legado — a fala, aliás, deve ter sido telegrafada antecipadamente às lideranças brasileiras, inclusive ao próprio STF, com quem se reuniu na semana passada. A lógica estratégica é nítida: ao adotar uma postura percebida como mais radical neste momento, o governador facilita a transferência do capital político de Bolsonaro, criando espaço para, no futuro, moderar seu discurso. O caminho inverso — moderar agora e tentar radicalizar depois — seria muito mais difícil, pois tornaria a própria transição de liderança mais complexa e arriscada. Esse reposicionamento ocorre em paralelo ao risco de que o governo Trump adote novas sanções contra o Brasil caso haja condenação dos réus, o que adiciona uma camada de cautela ao ambiente político e de mercado. O trajeto não será fácil.

· 01:45 — Um mercado de trabalho mais fraco

Os mercados acionários nos EUA encerraram a sexta-feira (5) em território negativo após a divulgação de um relatório de empregos que frustrou amplamente as expectativas. Em agosto, a economia americana criou apenas 22 mil vagas, contra 76 mil previstas, sinalizando um desaquecimento mais acentuado do que o antecipado. O desemprego avançou para 4,3%, maior nível desde 2021, enquanto revisões retroativas indicaram perda líquida de postos em junho — a primeira em quase quatro anos. A fraqueza foi particularmente evidente em segmentos específicos: o desemprego entre jovens de 16 a 24 anos saltou para 10,5% e a indústria manufatureira já acumula a eliminação de 78 mil empregos em 2025. Esse conjunto de indicadores reacendeu os temores de recessão e fortaleceu as apostas em cortes de juros pelo Federal Reserve já em setembro, com o cenário base apontando para 25 pontos-base, embora parte do mercado especule até mesmo uma redução de 50 pontos (o primeiro é mais provável).

Ainda que a perspectiva de afrouxamento monetário traga algum alívio, o pano de fundo segue delicado. O mercado de trabalho exibe sinais persistentes de fragilidade, com menos da metade dos setores aumentando contratações ao longo dos últimos cinco meses — dinâmica que, caso se aprofunde, pode limitar a eficácia dos cortes de juros como instrumento de estímulo. Apesar disso, a queda nos rendimentos dos títulos públicos abriu espaço para ganhos em setores mais sensíveis a juros, como o imobiliário e o de materiais. A atenção dos investidores nesta semana se volta para as revisões adicionais dos números de emprego e para os indicadores de inflação, como o índice de preços ao produtor (PPI) e o índice de preços ao consumidor (CPI), que devem calibrar as apostas em torno da reunião do Fed nos dias 16 e 17 de setembro. No campo corporativo, a temporada de resultados ganha continuidade, com Oracle, Adobe e Kroger programadas para divulgar seus números ao longo dos próximos dias.

· 02:31 — Nem tudo são rosas

A União Europeia impôs ao Google uma multa de US$ 3,5 bilhões por práticas consideradas anticompetitivas em seu negócio de publicidade digital, ao favorecer de forma injusta suas próprias tecnologias frente às de rivais. Trata-se de uma das maiores penalidades antitruste já aplicadas pelo bloco, reforçando o endurecimento regulatório sobre gigantes americanas de tecnologia. A decisão gerou reação imediata de Donald Trump, que acusou a UE de discriminar empresas dos Estados Unidos e ameaçou retaliar com uma investigação comercial. No mesmo dia, a Anthropic anunciou um acordo bilionário de US$ 1,5 bilhão para encerrar processos de direitos autorais movidos por escritores, que alegavam que a companhia utilizou cópias não autorizadas de livros no treinamento de seus modelos de inteligência artificial. O caso representa um marco para o setor de IA, que segue sob forte escrutínio e enfrenta dezenas de ações semelhantes em diferentes jurisdições.

Vale notar que, apesar de ter escapado de medidas mais severas em um julgamento recente nos Estados Unidos — como a possibilidade de ser obrigada a vender o navegador Chrome —, o Google continua envolto em riscos regulatórios. Entre as determinações judiciais, está a obrigação de compartilhar determinados dados, o que, com tempo e investimento, pode abrir espaço para concorrentes replicarem aspectos de seu buscador. Além disso, permanece em aberto a revisão dos pagamentos bilionários feitos à Apple para garantir sua posição como mecanismo de busca padrão nos dispositivos da marca, um contrato que somou US$ 20 bilhões há três anos. O Departamento de Justiça americano ainda pode recorrer, e novos processos, em especial ligados à rede de publicidade, já estão em andamento. Nesse contexto, o Google permanece sob intensa pressão antitruste em ambos os lados do Atlântico, justamente em um momento em que sua hegemonia nas buscas começa a ser contestada por novas ferramentas de inteligência artificial, como ChatGPT e Perplexity, que trazem concorrência real a um mercado antes considerado impenetrável.

· 03:23 — Mais um caiu

O primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, anunciou sua renúncia após mais um revés eleitoral, desencadeando uma disputa pela liderança que eleva as incertezas políticas no país e acende sinais de alerta para os investidores. A reação foi imediata nos mercados: o iene recuou frente ao dólar, enquanto os títulos soberanos de longo prazo do Japão passaram a ser vistos como particularmente vulneráveis a pressões de venda. Dessa forma, ainda que breve, o mandato de Ishiba tende a ser lembrado como um período marcado por turbulência, instabilidade e perda de sustentação parlamentar.

Embora sua saída coincida com a conclusão de um acordo tarifário com os Estados Unidos, a renúncia está mais associada ao desgaste político interno do que ao resultado da negociação. Em julho, o Partido Liberal Democrata perdeu a maioria na câmara alta do Parlamento, reflexo da insatisfação popular diante da inflação persistente e de políticas de imigração impopulares. Quanto ao acordo firmado, os termos preveem a redução das tarifas americanas para 15% em troca de compromissos do Japão de ampliar a compra de exportações dos EUA e direcionar investimentos adicionais de US$ 550 bilhões no país. Esse contexto reforça a leitura de que a queda de Ishiba se deve mais à perda de capital político doméstico do que a fatores externos. O Japão mantém sua tradição de primeiros-ministros de mandato curto, com raras exceções que fogem à regra — como o caso marcante de Shinzo Abe, cujo longo período no poder se tornou um ponto fora da curva na política japonesa.

· 04:17 — Um derrota problemática

Tenho acompanhado de perto o processo eleitoral argentino, e a recente eleição legislativa na Província de Buenos Aires representou um duro revés para Javier Milei e sua coalizão, La Libertad Avanza (LLA). O grupo obteve apenas 33,8% dos votos, contra 47% conquistados pelo bloco peronista-kirchnerista, frustrando expectativas que apontavam para uma diferença bem menor — entre 1 e 3 pontos percentuais. O resultado amplia as incertezas sobre a capacidade de Milei de sustentar apoio nas eleições nacionais de outubro, especialmente após o impacto negativo do escândalo envolvendo sua irmã, que minou parte de seu capital político. A derrota já se refletiu nos ativos: o câmbio saltou de ARS 1.370 para ARS 1.430 logo após a divulgação, em meio a um ambiente financeiro fragilizado, marcado por desvalorização do peso, aceleração inflacionária, desaceleração do crescimento e denúncias de corrupção dentro do governo. Ainda que Milei tenha reforçado seu compromisso com disciplina fiscal, política monetária restritiva e continuidade do regime cambial, o revés político amplia o prêmio de risco e sinaliza maiores dificuldades na aprovação de sua agenda de reformas após outubro (ainda é preciso de muitas outras novas reformas).

Do ponto de vista político, diversos fatores ajudam a explicar a derrota: erros estratégicos, como a negligência em articular com lideranças locais e a ausência de uma mobilização mais organizada; divisões internas no governo; medidas impopulares com impacto fiscal limitado, mas alto custo político; e, sobretudo, a fragilidade da economia. Embora o resultado tenha efeito institucional restrito — a eleição se restringe ao legislativo provincial —, ele funciona como um verdadeiro termômetro para a disputa de outubro. A Província de Buenos Aires concentra cerca de 40% do eleitorado argentino e, historicamente, tende a favorecer o peronismo, mas havia a expectativa de que Milei pudesse reverter parte dessa tendência. Apesar da derrota, o cenário nacional ainda está em aberto: fora da Grande Buenos Aires, o governo pode ter desempenho mais favorável. No entanto, a recuperação dos ativos argentinos dependerá diretamente do desenrolar das eleições de outubro e da habilidade do governo em ajustar sua estratégia econômica e política para reconquistar confiança.

· 05:02 — Colhendo frutos dos investimentos em tecnologia

O encontro anual de investidores do Itaú em 2025 trouxe uma mensagem inequívoca: após anos de forte investimento em transformação digital e modernização de processos, o banco entra agora em uma fase de captura de valor, traduzindo iniciativas passadas em ganhos tangíveis de crescimento, eficiência e rentabilidade. A instituição, reconhecida por…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.