Imagem: iStock/ @diegograndi
O relatório de empregos mais recente nos Estados Unidos reforçou a percepção de enfraquecimento do mercado de trabalho. Em agosto, foram criadas apenas 22 mil vagas, bem abaixo do esperado, acompanhadas de revisões negativas nos meses anteriores — destaque para junho, que acabou registrando a primeira perda líquida de postos desde 2020. Esse conjunto de dados praticamente sela a expectativa de que o Federal Reserve iniciará um ciclo de cortes de juros já em setembro. O ponto de debate agora recai sobre o ritmo dessa flexibilização: há investidores precificando a possibilidade de um corte de 50 pontos-base, embora eu avalie que um movimento inicial mais parcimonioso, de 25 pontos, seja o caminho mais prudente, permitindo ao Fed observar os desdobramentos antes de acelerar o passo. Outra grande questão reside em identificar se os cortes terão caráter preventivo — o que costuma apoiar ativos de risco (ambiente de valorização) — ou se serão uma reação a uma recessão, circunstância que tende a aumentar a volatilidade e pressionar os mercados.
No cenário internacional, a semana começa carregada de eventos relevantes para os ativos globais. A Opep+ anunciou um novo aumento de produção, medida que adiciona pressão baixista sobre os preços do petróleo.
No Oriente Médio, surgem sinais de negociação de um cessar-fogo entre Israel e Hamas, mediado pelos EUA, enquanto no Japão a renúncia do premiê Shigeru Ishiba adiciona incertezas à política local. Na Europa, a atenção se volta à França, onde o primeiro-ministro François Bayrou enfrenta um voto de confiança que pode resultar em mais uma mudança de governo, ao mesmo tempo em que a União Europeia discute novas sanções contra empresas russas.
Apesar desse pano de fundo geopolítico conturbado, bolsas europeias e asiáticas iniciaram a semana em território positivo, embaladas pela perspectiva de cortes de juros nos EUA.
No Brasil, os holofotes recaem sobre o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e sobre a agenda de indicadores, que inclui a divulgação dos dados de inflação de agosto, além das estatísticas de varejo e serviços.
· 00:56 — Depois do Dia da Independência
Na sexta-feira, o Ibovespa renovou sua máxima intradiária, alcançando 143.408,64 pontos, impulsionado principalmente pelas expectativas de cortes de juros nos Estados Unidos. Tenho destacado que, hoje, três grandes forças direcionam o mercado brasileiro. A primeira é um dólar globalmente mais fraco — reflexo tanto dos ruídos institucionais nos EUA quanto da perspectiva de flexibilização monetária pelo Federal Reserve. A segunda está justamente na própria expectativa de cortes de juros americanos, que fragilizam ainda mais o dólar e, por consequência, ampliam a margem para cortes também no Brasil, sobretudo se os indicadores locais seguirem apontando sinais de fraqueza. Por fim, o terceiro vetor é o chamado “rali eleitoral”, que desde o final de agosto tem ganhado corpo e contribuído para sustentar os preços dos ativos.
Nesta semana, os dados de inflação devem ganhar destaque: resultados mais fracos podem reforçar a visão de um corte de juros em setembro nos EUA e, em seguida, abrir espaço para um movimento semelhante no Brasil em dezembro — cenário bastante favorável para ativos de risco. No campo político, o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal será o ponto central. A Primeira Turma retoma amanhã, terça-feira (9), os trabalhos com o voto do relator, ministro Alexandre de Moraes, em um processo que deve se estender até sexta-feira (12).
O desfecho pode acelerar a transição de liderança dentro da direita, com o governador Tarcísio de Freitas despontando como herdeiro natural. O movimento parece, inclusive, já estar sendo construído: durante os atos do 7 de setembro, Tarcísio adotou um tom mais alinhado a pautas tradicionalmente bolsonaristas, em gesto calculado para sinalizar ao eleitorado sua disposição em absorver esse legado — a fala, aliás, deve ter sido telegrafada antecipadamente às lideranças brasileiras, inclusive ao próprio STF, com quem se reuniu na semana passada. A lógica estratégica é nítida: ao adotar uma postura percebida como mais radical neste momento, o governador facilita a transferência do capital político de Bolsonaro, criando espaço para, no futuro, moderar seu discurso. O caminho inverso — moderar agora e tentar radicalizar depois — seria muito mais difícil, pois tornaria a própria transição de liderança mais complexa e arriscada. Esse reposicionamento ocorre em paralelo ao risco de que o governo Trump adote novas sanções contra o Brasil caso haja condenação dos réus, o que adiciona uma camada de cautela ao ambiente político e de mercado. O trajeto não será fácil.
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· 01:45 — Um mercado de trabalho mais fraco
Os mercados acionários nos EUA encerraram a sexta-feira (5) em território negativo após a divulgação de um relatório de empregos que frustrou amplamente as expectativas. Em agosto, a economia americana criou apenas 22 mil vagas, contra 76 mil previstas, sinalizando um desaquecimento mais acentuado do que o antecipado. O desemprego avançou para 4,3%, maior nível desde 2021, enquanto revisões retroativas indicaram perda líquida de postos em junho — a primeira em quase quatro anos. A fraqueza foi particularmente evidente em segmentos específicos: o desemprego entre jovens de 16 a 24 anos saltou para 10,5% e a indústria manufatureira já acumula a eliminação de 78 mil empregos em 2025. Esse conjunto de indicadores reacendeu os temores de recessão e fortaleceu as apostas em cortes de juros pelo Federal Reserve já em setembro, com o cenário base apontando para 25 pontos-base, embora parte do mercado especule até mesmo uma redução de 50 pontos (o primeiro é mais provável).
Ainda que a perspectiva de afrouxamento monetário traga algum alívio, o pano de fundo segue delicado. O mercado de trabalho exibe sinais persistentes de fragilidade, com menos da metade dos setores aumentando contratações ao longo dos últimos cinco meses — dinâmica que, caso se aprofunde, pode limitar a eficácia dos cortes de juros como instrumento de estímulo. Apesar disso, a queda nos rendimentos dos títulos públicos abriu espaço para ganhos em setores mais sensíveis a juros, como o imobiliário e o de materiais. A atenção dos investidores nesta semana se volta para as revisões adicionais dos números de emprego e para os indicadores de inflação, como o índice de preços ao produtor (PPI) e o índice de preços ao consumidor (CPI), que devem calibrar as apostas em torno da reunião do Fed nos dias 16 e 17 de setembro. No campo corporativo, a temporada de resultados ganha continuidade, com Oracle, Adobe e Kroger programadas para divulgar seus números ao longo dos próximos dias.
· 02:31 — Nem tudo são rosas
A União Europeia impôs ao Google uma multa de US$ 3,5 bilhões por práticas consideradas anticompetitivas em seu negócio de publicidade digital, ao favorecer de forma injusta suas próprias tecnologias frente às de rivais. Trata-se de uma das maiores penalidades antitruste já aplicadas pelo bloco, reforçando o endurecimento regulatório sobre gigantes americanas de tecnologia. A decisão gerou reação imediata de Donald Trump, que acusou a UE de discriminar empresas dos Estados Unidos e ameaçou retaliar com uma investigação comercial. No mesmo dia, a Anthropic anunciou um acordo bilionário de US$ 1,5 bilhão para encerrar processos de direitos autorais movidos por escritores, que alegavam que a companhia utilizou cópias não autorizadas de livros no treinamento de seus modelos de inteligência artificial. O caso representa um marco para o setor de IA, que segue sob forte escrutínio e enfrenta dezenas de ações semelhantes em diferentes jurisdições.
Vale notar que, apesar de ter escapado de medidas mais severas em um julgamento recente nos Estados Unidos — como a possibilidade de ser obrigada a vender o navegador Chrome —, o Google continua envolto em riscos regulatórios. Entre as determinações judiciais, está a obrigação de compartilhar determinados dados, o que, com tempo e investimento, pode abrir espaço para concorrentes replicarem aspectos de seu buscador. Além disso, permanece em aberto a revisão dos pagamentos bilionários feitos à Apple para garantir sua posição como mecanismo de busca padrão nos dispositivos da marca, um contrato que somou US$ 20 bilhões há três anos. O Departamento de Justiça americano ainda pode recorrer, e novos processos, em especial ligados à rede de publicidade, já estão em andamento. Nesse contexto, o Google permanece sob intensa pressão antitruste em ambos os lados do Atlântico, justamente em um momento em que sua hegemonia nas buscas começa a ser contestada por novas ferramentas de inteligência artificial, como ChatGPT e Perplexity, que trazem concorrência real a um mercado antes considerado impenetrável.
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· 03:23 — Mais um caiu
O primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, anunciou sua renúncia após mais um revés eleitoral, desencadeando uma disputa pela liderança que eleva as incertezas políticas no país e acende sinais de alerta para os investidores. A reação foi imediata nos mercados: o iene recuou frente ao dólar, enquanto os títulos soberanos de longo prazo do Japão passaram a ser vistos como particularmente vulneráveis a pressões de venda. Dessa forma, ainda que breve, o mandato de Ishiba tende a ser lembrado como um período marcado por turbulência, instabilidade e perda de sustentação parlamentar.
Embora sua saída coincida com a conclusão de um acordo tarifário com os Estados Unidos, a renúncia está mais associada ao desgaste político interno do que ao resultado da negociação. Em julho, o Partido Liberal Democrata perdeu a maioria na câmara alta do Parlamento, reflexo da insatisfação popular diante da inflação persistente e de políticas de imigração impopulares. Quanto ao acordo firmado, os termos preveem a redução das tarifas americanas para 15% em troca de compromissos do Japão de ampliar a compra de exportações dos EUA e direcionar investimentos adicionais de US$ 550 bilhões no país. Esse contexto reforça a leitura de que a queda de Ishiba se deve mais à perda de capital político doméstico do que a fatores externos. O Japão mantém sua tradição de primeiros-ministros de mandato curto, com raras exceções que fogem à regra — como o caso marcante de Shinzo Abe, cujo longo período no poder se tornou um ponto fora da curva na política japonesa.
· 04:17 — Um derrota problemática
Tenho acompanhado de perto o processo eleitoral argentino, e a recente eleição legislativa na Província de Buenos Aires representou um duro revés para Javier Milei e sua coalizão, La Libertad Avanza (LLA). O grupo obteve apenas 33,8% dos votos, contra 47% conquistados pelo bloco peronista-kirchnerista, frustrando expectativas que apontavam para uma diferença bem menor — entre 1 e 3 pontos percentuais. O resultado amplia as incertezas sobre a capacidade de Milei de sustentar apoio nas eleições nacionais de outubro, especialmente após o impacto negativo do escândalo envolvendo sua irmã, que minou parte de seu capital político. A derrota já se refletiu nos ativos: o câmbio saltou de ARS 1.370 para ARS 1.430 logo após a divulgação, em meio a um ambiente financeiro fragilizado, marcado por desvalorização do peso, aceleração inflacionária, desaceleração do crescimento e denúncias de corrupção dentro do governo. Ainda que Milei tenha reforçado seu compromisso com disciplina fiscal, política monetária restritiva e continuidade do regime cambial, o revés político amplia o prêmio de risco e sinaliza maiores dificuldades na aprovação de sua agenda de reformas após outubro (ainda é preciso de muitas outras novas reformas).
Do ponto de vista político, diversos fatores ajudam a explicar a derrota: erros estratégicos, como a negligência em articular com lideranças locais e a ausência de uma mobilização mais organizada; divisões internas no governo; medidas impopulares com impacto fiscal limitado, mas alto custo político; e, sobretudo, a fragilidade da economia. Embora o resultado tenha efeito institucional restrito — a eleição se restringe ao legislativo provincial —, ele funciona como um verdadeiro termômetro para a disputa de outubro. A Província de Buenos Aires concentra cerca de 40% do eleitorado argentino e, historicamente, tende a favorecer o peronismo, mas havia a expectativa de que Milei pudesse reverter parte dessa tendência. Apesar da derrota, o cenário nacional ainda está em aberto: fora da Grande Buenos Aires, o governo pode ter desempenho mais favorável. No entanto, a recuperação dos ativos argentinos dependerá diretamente do desenrolar das eleições de outubro e da habilidade do governo em ajustar sua estratégia econômica e política para reconquistar confiança.
· 05:02 — Colhendo frutos dos investimentos em tecnologia
O encontro anual de investidores do Itaú em 2025 trouxe uma mensagem inequívoca: após anos de forte investimento em transformação digital e modernização de processos, o banco entra agora em uma fase de captura de valor, traduzindo iniciativas passadas em ganhos tangíveis de crescimento, eficiência e rentabilidade. A instituição, reconhecida por…