Imagem: iStock/Rmcarvalho
Lá fora, o mercado americano continua sustentado pelo entusiasmo em torno da tecnologia. O S&P 500 renovou suas máximas, impulsionado pelo anúncio do novo acordo da Nvidia com a OpenAI, mas o movimento não se espalha de forma uniforme. Menos de 10% das ações listadas atingiram os maiores níveis dos últimos 12 meses, revelando um desempenho bastante concentrado. Esse descompasso ilustra a dependência excessiva dos pesos-pesados de tecnologia, que acabam mascarando a fraqueza de setores mais vulneráveis às oscilações da política monetária.
Paralelamente, o mercado de trabalho americano começa a dar sinais de deterioração, o setor imobiliário registra volumes de vendas nos piores níveis desde 2009 e a inflação ainda se mantém como obstáculo relevante. Esse conjunto de fatores coloca o Federal Reserve diante de um dilema: enquanto algumas partes da economia parecem não necessitar de estímulos adicionais, outras demandam cortes de juros com urgência.
Nesse contexto, o discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, assume importância redobrada. A expectativa é de que ele mantenha um tom prudente, reforçando a preocupação com a inflação em meio a uma instituição claramente dividida sobre o rumo da política monetária. O corte de 25 pontos-base promovido na semana passada foi bem recebido, mas não dissipou a incerteza em torno do ritmo de futuras reduções.
No cenário externo, os mercados asiáticos apresentaram desempenho misto: na Ásia, quedas na China e em Hong Kong contrastaram com altas na Coreia do Sul e em Taiwan, beneficiadas pelo otimismo com o setor de chips para inteligência artificial. Já na Europa, as bolsas abriram em terreno positivo, apoiadas pela expectativa de novos cortes de juros. No Brasil, a terça-feira começou agitada, com a divulgação da ata do Copom e expectativa para o discurso do presidente Lula na ONU, em meio ao aumento das tensões políticas com os EUA, após novas sanções contra autoridades brasileiras.
· 00:52 — Brasil no contrafluxo: as novas sanções externas e os velhos desafios fiscais
No Brasil, a semana começou em queda, em contraste com o movimento positivo observado nos mercados internacionais, reflexo também da nova rodada de sanções impostas ao país pelo governo de Donald Trump. Os episódios de ontem ampliaram as tensões: a esposa do ministro Alexandre de Moraes foi incluída na Lei Magnitsky e outras autoridades tiveram seus vistos revogados, entre elas o Advogado-Geral da União. Nesse contexto, o discurso do presidente Lula na ONU ganha ainda mais relevância, diante da possibilidade de uma resposta mais dura às medidas adicionais decididas pela Casa Branca. Vale lembrar que Lula é o único chefe de governo do G20 que ainda não manteve contato com Trump nesta gestão, e a coincidência da agenda pode proporcionar um encontro nos bastidores, já que o discurso do presidente americano será proferido logo após o do presidente brasileiro. As ações de Washington também tornam mais delicada a situação de Jair Bolsonaro no STF, bem como a tramitação do projeto de Dosimetria, sob relatoria do deputado Paulinho da Força.
Enquanto isso, o mercado local ainda assimila a ata do Copom, divulgada nesta manhã. O documento reforçou a projeção de IPCA em 3,4% para o primeiro trimestre de 2027 — acima do esperado pelo mercado —, interpretação considerada hawkish. Segundo o Banco Central, a revisão decorre da persistente desancoragem das expectativas de inflação, de uma inflação de serviços mais resiliente que o previsto, fruto de um hiato do produto mais positivo, e de uma combinação de fatores domésticos e externos que têm gerado pressões inflacionárias adicionais. O tema do hiato do produto deverá ser detalhado no Relatório de Política Monetária desta quinta-feira. Na prática, o documento não elimina a possibilidade de corte de juros em dezembro, mas torna esse cenário mais difícil, já que dependerá da evolução dos dados de atividade e inflação, além da trajetória da política monetária nos EUA. Aliás, a fragilidade fiscal continua sendo um ponto de atenção: o relatório bimestral de receitas e despesas divulgado ontem elevou o bloqueio de gastos obrigatórios de R$ 10,7 bilhões para R$ 12,1 bilhões, como previsto, e revisou a previsão de déficit primário para 0,24% do PIB, praticamente no limite do arcabouço fiscal (0,25%). O quadro ilustra as dificuldades crescentes da equipe econômica na condução do orçamento, que tende a se agravar ao longo do tempo. Uma reforma fiscal profunda, como já temos ressaltado, só deve ser discutida em 2027, após as eleições do próximo ano.
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· 01:46 — Brilhou mais uma vez
Os mercados acionários americanos mantiveram o ritmo de alta e iniciaram a semana com novos recordes, impulsionados pelo entusiasmo em torno da inteligência artificial. Na segunda-feira, os três principais índices de Wall Street renovaram suas máximas históricas: o Dow Jones avançou 0,1%, registrando seu sétimo fechamento recorde no ano; o S&P 500 ganhou 0,4%, alcançando o 28º recorde de 2025; e o Nasdaq subiu 0,7%, no 29º recorde anual. O movimento não se restringiu às ações: metais preciosos também estabeleceram novos marcos, com destaque para o ouro em máxima histórica. Entre os papéis individuais, a Nvidia brilhou mais uma vez, subindo mais de 3% e atingindo novo pico. O protagonismo da empresa reforça a tese de que a inteligência artificial continua sendo um vetor dominante para os mercados globais.
Apesar do cenário favorável, investidores permanecem atentos a dados econômicos que podem redefinir a narrativa otimista. O foco principal recai sobre a divulgação, nesta sexta-feira, do índice de preços de despesas de consumo pessoal (PCE), métrica de inflação preferida do Federal Reserve. O corte de juros de 25 pontos-base na semana passada trouxe algum alívio, mas uma leitura persistente de inflação poderia limitar novas rodadas de flexibilização monetária. Além disso, a semana trará os Índices de Gerentes de Compras de setembro, que devem indicar leve desaceleração tanto na manufatura quanto nos serviços, e novos números do mercado imobiliário. Historicamente, setembro é um mês de maior volatilidade e correções — em 18 dos últimos 20 anos, houve quedas de 4% ou mais —, mas 2025 tem se mostrado uma exceção, sem recuos relevantes desde abril. Caso não haja surpresas negativas, os dados da semana podem reforçar o otimismo e sustentar a continuidade do rali.
· 02:31 — Um grande investimento
A Nvidia anunciou um investimento de até US$ 100 bilhões na OpenAI, com o objetivo de financiar a construção de data centers de grande porte e fortalecer a infraestrutura necessária para suportar modelos avançados de inteligência artificial, como o ChatGPT. O projeto prevê instalações capazes de operar com pelo menos 10 gigawatts de energia — equivalente ao consumo de milhões de residências — e será equipado com chips de última geração desenvolvidos pela Nvidia. O cronograma financeiro será escalonado: os primeiros US$ 10 bilhões serão liberados no momento da assinatura do acordo, enquanto os aportes subsequentes ocorrerão conforme cada gigawatt adicional de capacidade entrar em operação. Como parte do arranjo, a Nvidia também garantirá o status de fornecedora preferencial de chips e equipamentos de rede da OpenAI, assegurando assim uma posição estratégica no crescimento futuro da empresa.
O acordo ainda prevê que a Nvidia receba participação acionária na OpenAI, ampliando sua exposição direta ao avanço das tecnologias de IA e reforçando seu papel central na expansão desse ecossistema. A iniciativa reflete o ritmo acelerado da demanda global por poder computacional e consolida a liderança da companhia como principal fornecedora de hardware para inteligência artificial em escala mundial. O anúncio teve impacto imediato nos mercados: as ações da Nvidia registraram alta no pregão de Nova York no dia da notícia e acumulam valorização de cerca de 37% no ano, consolidando seu posto como a empresa mais valiosa do planeta. Para os investidores, esse movimento representa não apenas uma aposta bilionária em IA, mas também um passo decisivo na integração entre infraestrutura, hardware e software, que tende a moldar a próxima etapa do desenvolvimento tecnológico global.
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· 03:29 — O acordo
O governo dos Estados Unidos anunciou que o acordo envolvendo o TikTok deverá ser concluído em até 120 dias após sua assinatura formal. Pelo desenho atual, a Oracle ficará responsável por auditar e operar o algoritmo da plataforma em território americano, garantindo que seu funcionamento atenda às exigências de segurança e transparência impostas pela legislação. A estrutura societária também passará por mudanças relevantes: investidores norte-americanos, em conjunto com parceiros globais, formarão um consórcio controlador, enquanto a chinesa Bytedance deterá menos de 20% da operação local do aplicativo. A Casa Branca acrescentou ainda que uma cópia do algoritmo será transferida para os EUA, sob a gestão de uma nova entidade americana, em conformidade com a lei de 2024, que estabeleceu critérios mais rígidos para empresas estrangeiras de tecnologia que atuam no país.
Esse anúncio acontece em um contexto geopolítico mais amplo, marcado pela retomada do diálogo entre Washington e Pequim. Após uma conversa telefônica descrita como “produtiva”, Donald Trump e Xi Jinping indicaram avanços em temas sensíveis, como comércio bilateral, combate à disseminação do fentanil e até mesmo esforços para reduzir as tensões relacionadas à guerra entre Rússia e Ucrânia. O gesto sinaliza uma tentativa de reconstruir canais diplomáticos após meses de negociações difíceis. Como próximo passo, ambos os líderes devem se encontrar em uma cúpula regional na Coreia do Sul no mês que vem, e há expectativa de que Trump realize uma visita oficial à China no início de 2026 — movimento que teria forte valor simbólico e poderia redefinir os rumos das relações entre as duas maiores economias do mundo.
· 04:14 — O bote salva-vidas vai funcionar?
A visita do presidente argentino Javier Milei aos EUA, onde se reunirá com Donald Trump e com o secretário do Tesouro, Scott Bessent, simboliza um ponto de inflexão para a já combalida economia argentina. O encontro ocorre em meio a uma crise de liquidez que ameaça a capacidade do país de honrar seus compromissos junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Milei busca apoio financeiro de última instância, enquanto Bessent, em uma postura semelhante aos grandes resgates das décadas de 1980 e 1990, deixou claro seu compromisso de “fazer o que for necessário” para evitar o colapso argentino — seja por linhas de swap, compras de moeda ou até mesmo aquisições de dívida soberana. Apesar do tom, os mercados reagiram com prudência. A percepção predominante é de que qualquer pacote de ajuda virá inevitavelmente acompanhado de duras condições e trará riscos políticos adicionais para Milei, já sob pressão: enfrenta resistência significativa no Congresso, desgaste crescente em sua base de apoio e o desafio das cruciais eleições de meio de mandato em outubro.
No plano doméstico, a vulnerabilidade econômica do país se entrelaça à instabilidade política. Milei chegou ao poder prometendo reformas profundas e cortes drásticos na máquina pública, e de fato conseguiu avanços importantes mais rápidos do que se imaginava: a inflação começou a ceder e a economia dava sinais de normalização após anos de políticas equivocadas dos peronistas e kirchneristas. No entanto, ficou evidente que a sustentação desse processo exigiria novas rodadas de reformas, o que explicava o otimismo dos investidores com uma eventual vitória de Milei nas eleições de outubro. Esse cenário começou a ruir diante dos escândalos envolvendo sua irmã e, posteriormente, com a derrota regional em Buenos Aires, interpretada como um voto de desconfiança. A reação foi imediata: o peso voltou a se desvalorizar, a confiança dos agentes diminuiu e os mercados sentiram o impacto. As declarações de Bessent funcionaram como um breve fôlego, mas não endereçam o problema central: sem respaldo político e social, recursos externos tendem apenas a adiar a próxima crise. Para o investidor, a questão central é se essa intervenção representa uma mudança estrutural ou se será apenas mais um capítulo de instabilidade da Argentina.
A dúvida, contudo, permanece: até que ponto Washington está disposto a estender a mão, sobretudo em uma administração Trump que já demonstrou pouca disposição em apoiar parceiros regionais de maior relevância econômica, como o Brasil. Nesse sentido, o gesto em favor da Argentina parece ter tanto peso político quanto econômico, premiando a lealdade de um aliado ideológico. Ainda assim, o verdadeiro teste é interno. Milei precisa reconquistar a confiança de eleitores e investidores, provando que tem condições de evitar que o país caia em mais uma espiral recessiva. O apoio de Bessent, nesse momento, soa como um bote salva-vidas em um mar revolto — útil para ganhar tempo, mas incapaz de garantir, por si só, estabilidade duradoura. É um paradoxo: o medo da volta de peronistas e kirchneristas eleva ainda mais o prêmio de risco argentino, alimentando um ciclo vicioso em que mais instabilidade leva a mais intervenções externas, o que mina a popularidade de Milei e amplia a probabilidade de uma vitória da oposição em outubro. O desafio imediato do presidente é conduzir o barco até as eleições sem naufragar no meio do caminho.
· 05:08 — Boa sinalização sobre dividendos
Em entrevista recente, o CEO da Eletrobras, Ivan Monteiro, trouxe reflexões importantes sobre a estratégia da companhia no período pós-privatização. Ele lembrou que, em um primeiro momento, o foco recaiu sobre os projetos de transmissão, segmento que oferece maior previsibilidade de receitas e está menos sujeito às oscilações típicas do mercado de geração. Esse direcionamento não deve mudar: a transmissão continua sendo um gargalo estrutural no país e, portanto, permanece como uma frente prioritária de crescimento. Já os leilões de baterias surgem como…