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O primeiro semestre de 2025 terminou com uma arrancada surpreendente dos ativos brasileiros. O Ibovespa disparou 15,6%, o índice de small caps (SMLL11) acumulou mais de 27% de alta e o dólar registrou sua maior queda frente ao real desde 1973.
Mas a pergunta inevitável é: o Brasil fez por merecer essa alta ou é apenas reflexo dos ventos externos?
Para os analistas da Empiricus, a resposta é, no mínimo, desconfortável:
“Se eu tivesse que colocar uma balança, eu acho que a minha nota seria menos da metade dessa alta para os fundamentos brasileiros mesmo.”
Essa foi a avaliação de Ruy Hungria, analista da casa, durante o episódio mais recente do Empiricus Podca$t.
Segundo ele, o desempenho doméstico foi mais um reflexo do ambiente internacional do que um prêmio pelos avanços internos.
Já João Piccioni, CIO da Empiricus Asset, foi ainda mais direto: “Eu acho que 90% da alta da bolsa brasileira é explicada por fatores externos”.
Obrigado, Trump?
Essa percepção se apoia em dados concretos. O ETF brasileiro negociado em Nova York (EWZ) subiu 32% no ano, mas não foi um caso isolado.
A bolsa da Grécia avançou 56%, a da Polônia, 45%, a da Coreia do Sul, 42,7% e até o México superou o Brasil, com 34%. Esses números mostram que houve uma realocação global de capitais em direção a mercados emergentes.
Parte desse movimento foi alimentado pela desvalorização do dólar. Em 2025, o dólar teve a pior performance frente a uma cesta de moedas desde o fim do padrão-ouro.
Na visão de Piccioni, o efeito foi deflagrado por uma combinação de estímulos fiscais, ruído político e tarifas na economia americana.
“Por linhas tortas, parece que o Trump arrumou a casa do mundo… Com suas tarifas e barulho ensurdecedor, jogou o dólar para baixo e fez os emerging markets se tornarem atrativos de novo”, disse.
A consequência? “Esse enfraquecimento do dólar no final abre o apetite a risco de uma forma estrondosa”, disse o gestor.
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Small caps ainda têm fôlego
Mesmo diante da arrancada do primeiro semestre, os analistas veem espaço para continuidade, especialmente no universo das small caps — empresas menores, mais sensíveis ao ciclo econômico, mas também com maior potencial de valorização.
“O índice small caps está ganhando do Ibovespa num semestre bom para a renda variável, mas se a gente olhar num intervalo mais longo, essa boca de jacaré ainda está muito aberta”, observou Hungria, citando o enorme gap acumulado desde o início do ciclo de alta dos juros.
“O que as small caps sofreram nos últimos 5 anos, desde quando começou o aumento da Selic, é uma desvalorização brutal.”
Esse passado de quedas abre espaço para ganhos futuros, desde que o investidor saiba onde pisar.
“Nem toda small cap é igual”, alertou o analista. “Existem sim empresas que têm um ótimo potencial, mas você precisa ainda ser muito cauteloso”.
Riscos no radar — mas não o suficiente para parar o rali
É fato que o cenário doméstico ainda possui ruídos. Os juros seguem elevados, a política fiscal é instável e o calendário eleitoral promete volatilidade.
“Agora a gente vai ter um monte de coisa. Dia 22 de julho tem relatório bimestral de receita e despesa. Dia 31 de agosto tem orçamento de 2026. Tem muita coisa que vai gerar volatilidade”, alertou Matheus Spiess, analista de macroeconomia e política.
Mas isso não significa, necessariamente, que a alta recente será revertida. Ao contrário, os analistas destacam que as empresas brasileiras têm mostrado força mesmo com os juros altos.
“Os resultados, apesar de tudo, foram bem fortes no último trimestre”, disse Hungria. Ele complementa que “as empresas brasileiras já estão tão calejadas de conviver com problemas fiscais e juros elevados que entraram nesse ciclo com balanços muito mais conservadores”.
Embora os juros de curto prazo continuem pressionando os lucros no presente, a expectativa de queda nos juros longos pode reprecificar a bolsa, especialmente se houver alguma sinalização fiscal mais crível no horizonte.
“Hoje a gente tem uma situação de juros, relativa à insustentabilidade fiscal, que é completamente maluca. Juro real de 7%”, criticou Spiess. “Mas se vier um plano de voo minimamente aceitável, o mercado pode comprar essa história. E aí vem o re-rating dos ativos.”
Para Hungria, o importante é olhar além do ruído. “Não me preocupa muito se vai ser dois meses antes, três depois… Se tiver uma resolução do juro longo, isso vai ser muito mais impactante para as empresas, dado que elas não vão morrer no curto prazo”.
Com essa análise, os analistas se afirmam comprados em small caps, mas com estratégia e alinhado ao perfil de risco do investidor.
“Por mais que você tenha uma perspectiva muito positiva para as small caps, eu nunca sugeriria ter mais de metade da carteira nelas. Bem menos do que isso”, recomendou Hungria, indicando um intervalo entre 10% e 20% da carteira de ações nas pequenas da bolsa.
Uma forma de equilibrar risco e retorno, segundo os analistas, é combinar ações mais defensivas, como boas pagadoras de dividendos, com uma fatia tática em microcaps.
E para quem busca praticidade, há formas de acessar essa tese via fundos geridos pela Empiricus Asset.
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O jogo continua no segundo tempo
Apesar da alta expressiva no segundo semestre, os analistas acreditam que ainda há espaço para o investidor se posicionar neste ano.
O Brasil talvez não tenha feito por merecer, mas está no jogo e a maré pode continuar favorável, mesmo que com solavancos pelo caminho.
No episódio, os analistas também discorreram sobre oportunidades com a desvalorização do dólar e a visão otimista com a NVIDIA. Para conferir o vídeo completo, é só acessar abaixo.