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Investimentos

Com ‘alívio’ no cenário macro internacional, veja o que deve movimentar o Ibovespa nesta sexta (19)

Índice de preços ao consumidor de novembro nos Estados Unidos veio melhor que o esperado e contribuiu para melhora de humor dos mercados

Por Matheus Spiess

19 dez 2025, 10:16

Atualizado em 19 dez 2025, 10:16

ibovespa mercados mercado

Imagem: iStock.com/pookpiik

Os mercados globais iniciaram a sessão reagindo a uma combinação de notícias que, no conjunto, trouxe algum alívio ao cenário macro internacional. Nos Estados Unidos, o índice de preços ao consumidor de novembro surpreendeu positivamente ontem. A leitura reforçou a percepção de que o processo desinflacionário segue em curso e reabriu espaço para discussões sobre cortes de juros pelo Federal Reserve ao longo dos próximos meses. Ainda assim, o mercado mantém certa cautela na interpretação dos dados, uma vez que a paralisação do governo americano pode ter afetado a qualidade das estatísticas recentes, exigindo confirmação nos próximos indicadores.

Na Ásia, o principal destaque veio do Japão. O Banco do Japão elevou sua taxa básica para 0,75% — o maior patamar em três décadas — e indicou que novos ajustes poderão ocorrer caso a atividade econômica e a inflação sigam conforme o esperado. A decisão foi bem absorvida pelos mercados: o índice Nikkei avançou e os rendimentos dos títulos públicos japoneses subiram.

Já na Europa, as bolsas operam em leve alta, sustentadas sobretudo pelo desempenho do setor financeiro, enquanto ações de tecnologia e consumo limitaram ganhos mais expressivos. No mercado de commodities, o petróleo permaneceu relativamente estável no curto prazo, mas caminha para encerrar a semana em baixa, com receios de excesso de oferta superando, por ora, as tensões geopolíticas envolvendo Estados Unidos e Venezuela.

Aviso aos leitores

Esta é a última newsletter matinal de 2025. Nossa programação regular será retomada na segunda-feira, 5 de janeiro de 2026. Aproveito para desejar a todos um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo. A quem nos acompanhou ao longo deste ano, fica o meu mais sincero agradecimento pela confiança e pela parceria. No ano que vem, estaremos juntos novamente!

· 00:53 — Tentando encontrar o equilíbrio

No mercado doméstico, o Ibovespa ensaiou uma recuperação modesta na quinta-feira, acompanhando o tom mais construtivo do ambiente externo após o CPI americano vir abaixo do esperado e reacender as apostas em cortes de juros pelo Federal Reserve.

No campo político, como já destaquei ontem, a pesquisa AtlasIntel voltou a evidenciar um quadro de elevada rejeição tanto ao presidente Lula quanto aos nomes mais polarizados da oposição, o que mantém o cenário eleitoral de 2026 envolto em incerteza. Esse pano de fundo ajudou a recolocar no debate a possibilidade de candidaturas mais competitivas ao centro — movimento que levou, inclusive, Ciro Nogueira a voltar a mencionar o nome de Tarcísio de Freitas.

Ainda assim, há muita água para correr debaixo dessa ponte: até março, diversos eventos podem alterar a dinâmica política. Nesse contexto, ganha relevância a autorização do ministro Alexandre de Moraes para que o ex-presidente Jair Bolsonaro conceda entrevista na próxima semana, um fator que pode gerar ruídos adicionais nos mercados nesta reta final de 2025, período tradicionalmente marcado por liquidez mais reduzida.

Do lado monetário, as declarações de Gabriel Galípolo reforçaram a leitura de que o ciclo de cortes da Selic se aproxima, com março hoje parecendo mais provável do que janeiro, embora esta última opção ainda não esteja completamente descartada, a depender dos dados que serão divulgados até a reunião do fim do mês. O ambiente segue pressionado pelos juros elevados, que já provocaram um aumento de cerca de 20% nos pedidos de recuperação judicial desde a última rodada de alta da Selic. Ainda assim, parece mais consistente esperar primeiro uma mudança mais clara no tom da comunicação do Banco Central antes do início efetivo do ciclo de afrouxamento, em vez de uma simples atuação verbal. Mais sinais devem surgir na primeira metade de janeiro. Esse processo, contudo, continuará condicionado ao pano de fundo fiscal.

Sobre esse tema, o Congresso vota hoje o Orçamento de 2026, destravado após a aprovação de medidas que o governo considera suficientes para cumprir o piso da meta fiscal, embora a Instituição Fiscal Independente estime a necessidade de um esforço adicional de R$ 26,5 bilhões e alerte para projeções de receita excessivamente otimistas e pouco recorrentes (o que já falei neste espaço).

Para completar o quadro, Fernando Haddad confirmou que deixará o Ministério da Fazenda no primeiro trimestre para se dedicar à eleição do ano que vem, abrindo espaço para mudanças nos trabalhos da ala econômica em 2026. A sucessão ainda é cercada de incertezas: Dario Durigan surge como nome provável para assumir a pasta no curto prazo, mas permanece em aberto quem comandará a Fazenda em um eventual novo mandato.

· 01:44 — Melhor do que o esperado

O índice de preços ao consumidor de novembro nos Estados Unidos veio melhor do que o esperado, com a inflação cheia em 2,7% e o núcleo em 2,6% na comparação anual, ambos abaixo das projeções do mercado. O dado foi interpretado como um sinal de alívio no processo inflacionário e reacendeu as apostas em cortes de juros pelo Federal Reserve, favorecendo especialmente os ativos mais sensíveis à política monetária, como as ações de tecnologia — refletido no bom desempenho do Nasdaq.

Ainda assim, a reação foi acompanhada de cautela. A paralisação parcial do governo americano afetou a coleta e a qualidade dos dados nos meses de outubro e novembro, o que pode ter introduzido distorções temporárias e, eventualmente, pressionado os números para baixo. A interpretação mais equilibrada, portanto, é que a inflação talvez não esteja desacelerando tão rapidamente quanto o relatório isolado sugere, mas tampouco apresenta sinais consistentes de reaceleração. Esse conjunto de informações mantém aberta a possibilidade de uma postura monetária mais flexível nos próximos meses, sem eliminar a necessidade de prudência por parte do banco central.

· 02:39 — Transição suave

A União Europeia decidiu suavizar sua estratégia de transição energética no setor automotivo ao recuar da proposta que, na prática, proibiria a venda de veículos com motores a combustão a partir de 2035. Com a nova diretriz, a meta deixa de ser a eliminação total das emissões e passa a exigir uma redução de 90%, abrindo espaço para a continuidade da comercialização de carros a gasolina, diesel, híbridos plug-in e veículos com extensor de autonomia. Em contrapartida, as montadoras terão de compensar as emissões remanescentes por meio do uso de combustíveis de baixo carbono, insumos renováveis ou materiais menos poluentes, como o “aço verde”.

A mudança reflete, sobretudo, a crescente pressão da indústria e o reconhecimento das dificuldades econômicas envolvidas na eletrificação em larga escala. Globalmente, as montadoras têm encontrado obstáculos para tornar os veículos elétricos rentáveis, o que ficou evidente em anúncios recentes de reestruturação, como o da Ford, que revisou seus planos e absorveu custos bilionários em sua divisão de elétricos. Nesse contexto, a decisão europeia aponta para uma transição mais gradual, menos disruptiva e mais alinhada ao pragmatismo observado em outras grandes economias.

· 03:25 — Deixando o país

Entre 2010 e 2021, aproximadamente 20 mil cientistas de origem chinesa deixaram os Estados Unidos, em um movimento que ganhou intensidade a partir de 2018, com a implementação da chamada Iniciativa China, lançada durante o governo Trump com o objetivo de combater o suposto roubo de tecnologia. Na prática, porém, a iniciativa passou a atingir de forma desproporcional pesquisadores de etnia chinesa, criando um ambiente de insegurança jurídica e profissional que acelerou o fluxo de saída.

Em paralelo, a China avançou de maneira contundente em sua estratégia científica: os investimentos em pesquisa e desenvolvimento cresceram cerca de 16 vezes, em termos reais, desde o início do século, acompanhados da criação de programas estruturados para repatriar talentos, oferecendo não apenas incentivos financeiros, mas também prestígio acadêmico, autonomia e infraestrutura de alto nível.

Esse movimento tem efeito cumulativo — cientistas de renome tendem a atrair outros profissionais ao seu redor —, como ilustram novos centros de excelência fundados por pesquisadores que retornaram ao país. Para os Estados Unidos, o fenômeno acende um sinal de alerta, sobretudo em áreas estratégicas como inteligência artificial, nas quais uma parcela relevante dos principais pesquisadores globais possui formação chinesa e muitas empresas americanas dependem diretamente desse capital humano, em um contexto de tensões geopolíticas cada vez mais evidentes.

· 04:12 — O patamar mais alto em décadas

O Banco do Japão decidiu elevar sua taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, levando-a a 0,75% — o patamar mais alto observado em três décadas — e deixou claro que esse movimento não precisa ser o último, desde que a atividade econômica e a dinâmica de preços continuem evoluindo conforme o cenário projetado pela autoridade monetária. A decisão reforça a leitura de que o país avança, de forma gradual, para um regime de inflação mais estável, rompendo com um longo período marcado por juros próximos de zero e pressões deflacionárias persistentes.

Em sua comunicação, o presidente do Banco do Japão, Kazuo Ueda, ressaltou a expectativa de continuidade do crescimento dos salários ao longo de 2026, elemento-chave para sustentar a inflação de maneira mais estrutural. Ao mesmo tempo, reconheceu que ainda há elevada incerteza em torno da definição do chamado juro neutro da economia japonesa, que tende a permanecer em uma faixa ampla. Os dados mais recentes corroboram esse pano de fundo: a inflação ao consumidor segue próxima de 3% e já supera a meta de 2% há mais de três anos consecutivos.

A resposta dos mercados foi relativamente contida, sugerindo que boa parte da decisão já estava incorporada aos preços dos ativos. O iene chegou a se desvalorizar pontualmente frente ao dólar, mas posteriormente voltou a níveis próximos aos anteriores ao anúncio. Já os rendimentos dos títulos públicos avançaram, com o papel de dez anos ultrapassando 2% pela primeira vez desde 2006, enquanto o índice Nikkei 225 conseguiu sustentar a maior parte dos ganhos observados ao longo da sessão.

· 05:08 — Da travessia difícil à retomada consistente em 2025

Em 2025, o mercado de fundos imobiliários apresentou uma dinâmica praticamente oposta à observada em 2024. Após um início mais desafiador, marcado por cotas negociadas a níveis bastante descontados no mercado secundário, a inflexão nas expectativas para a trajetória dos juros e a melhora gradual do ambiente macroeconômico devolveram tração ao setor. Ao longo do ano, os FIIs passaram por um processo consistente de recuperação, acompanhando a reprecificação do cenário monetário e a reabertura do mercado de capitais. Esse movimento se refletiu diretamente no aumento…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.