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Como fica a relação entre China e Estados Unidos com a eleição de Donald Trump?

No primeiro mandato de Trump, houve uma guerra comercial entre as duas potências. Isso pode acontecer de novo agora? Veja as perspectivas de analistas.

Por Nicole Vasselai

08 nov 2024, 08:37 - atualizado em 08 nov 2024, 08:37

china EUA

Imagem: iStock.com/narvikk

Não é de hoje que China e Estados Unidos têm relações comerciais conturbadas, mas, com a vitória de Donald Trump nas eleições americanas, alguns atritos podem se intensificar.

Logo após o resultado eleitoral, na última quarta-feira (6), a cotação das commodities derreteu devido ao fortalecimento do dólar e à promessa de Trump de adotar uma postura mais rígida contra o país de Xi Jinping.

O presidente chinês chegou a parabenizar Trump pela vitória e destacou a importância dos dois países se respeitarem e coexistirem pacificamente.

Queda das commodities e fortalecimento do dólar podem pesar sobre mercados emergentes

Para Matheus Spiess, analista de macroeconomia da Empiricus Research, essa combinação de fatores representa um duplo impacto para os mercados emergentes, que aguardam novos estímulos econômicos na China até o final da semana.

“Há sinais claros de que as autoridades chinesas observam de perto as movimentações de Trump, especialmente considerando a possibilidade de uma retomada da guerra comercial, com impactos potencialmente severos sobre a segunda maior economia mundial“.

Tarifas sobre produtos chineses podem chegar a 60%

Inclusive, o analista recorda que Trump já ameaçou implementar tarifas de até 60% sobre produtos chineses, o que, em sua visão, poderia comprometer fortemente o comércio entre as duas nações. Em seu primeiro governo, o republicano implementou taxas de 7,5% a 25%.

Com uma postura alinhada a isso, o governo de Joe Biden deu continuidade à maioria das tarifas impostas na gestão de Trump, além de incrementar as taxações em maio de 2024. As tarifas atingem produtos como veículos elétricos (100%), células solares (50%), baterias de veículos elétricos (25%), minerais críticos, aço, alumínio, semicondutores e produtos médicos.

China ainda vai conflitar com Taiwan?

Já há muitos anos, desde a Guerra Civil Chinesa, a China se posiciona contra atos separatistas de Taiwan, que venceu o conflito, em 1949. Mais recentemente, em outubro de 2024, as manobras militares do país contra a ilha voltaram a se intensificar e os Estados Unidos entraram em defesa de Taiwan em caso de ataque chinês, ainda que considere os dois territórios “uma só China“.

Para o CIO da Empiricus Gestão, João Piccioni, Trump já se provou hábil, em seu primeiro mandato, para negociar questões geopolíticas e pode conseguir evitar novos ataques a Taiwan. “Acho difícil, por exemplo, a China querer invadir Taiwan agora. Acho mais provável uma negociação”.

China tem ‘casca’ para enfrentar o Trump 2.0?

Mesmo diante desses riscos, para Spiess a China parece mais bem preparada para enfrentar um novo mandato de Trump: “Embora os esforços dos EUA para conter o avanço tecnológico chinês tenham tido algum êxito, a China ainda mantém liderança em áreas críticas, incluindo a indústria de veículos elétricos, da qual é líder mundial”.

Além disso, como o próprio Xi Jinping reforçou nas últimas entrevistas coletivas, Pequim tem buscado fortalecer laços diplomáticos com países com os quais teve atritos recentes. Para o analista, é uma estratégia que atua como seguro diante da possibilidade de uma nova escalada de tensões com os Estados Unidos.

“Em termos de resposta, a China também tem alternativas para retaliar as tarifas americanas, incluindo possíveis taxações sobre produtos agrícolas dos EUA — uma ação que poderia favorecer exportadores brasileiros — ou até mesmo restrições à exportação de insumos essenciais para os EUA”, explica.

Por isso, em sua opinião, a próxima fase da guerra comercial tem tudo para ser ainda mais complexa e distinta da anterior.

Sobre o autor

Nicole Vasselai

Editora do site da Empiricus. Jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero, com MBA em Análise de Ações e Finanças e passagem por portais de notícias e fintechs.