
Imagem: Divulgação/Eucatex
Temos a sensação de que o ótimo primeiro trimestre de Eucatex (EUCA4) não foi um ponto fora da curva.
Com reajustes de dois dígitos nos produtos de madeira implementados desde meados de 2024, a expectativa é de que as margens se mantenham em níveis semelhantes aos do início do ano, o que é ótima notícia.
Avanço do 1T25 aqueceu os motores da Eucatex?
Podemos até observar uma ligeira queda, até porque o 1T25 marcou o maior nível de margem bruta desde 2012, e seria natural observar alguma acomodação. No entanto, a dinâmica de crescimento na comparação anual observada no primeiro trimestre deve permanecer.
Além dos reajustes, isso também é reflexo dos maiores níveis de exportação, que passaram de cerca de 20% da receita em 2023 e 2024 para aproximadamente 30% no 1T25, nível que deve ser mantido nos próximos trimestres.
Isso porque além dos grandes investimentos visando ganho de mercado nos Estados Unidos, a coleção tem sido bem aceita nas redes locais, o que deve garantir pelo menos mais alguns trimestres de boas vendas.
Esse ganho de participação nos Estados Unidos trouxe um aumento com gastos logísticos, o que deve se refletir em despesas estruturalmente mais altas do que no passado, e em linha com o que temos visto nos últimos trimestres. Por outro lado, a geração de caixa tende a melhorar quando as vendas por lá se estabilizarem, devido à menor necessidade de aumento de capital de giro.
Sobre as eventuais tarifas que podem ser impostas pelos Estados Unidos ao Brasil nos próximos dias, a companhia está avaliando as repercussões práticas em seus segmentos de atuação. Voltaremos com atualizações assim que tivermos novidades.
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Mercado brasileiro desenha cenário benéfico à small cap
De qualquer modo, se engana quem pensa que o único crescimento virá de fora. O mercado brasileiro segue bastante aquecido, com capacidade ociosa da indústria nas mínimas dos últimos anos, mesmo com a Selic elevada.
Em partes, isso é resultado do ótimo desempenho do programa Minha Casa Minha Vida, e tende a melhorar ainda mais com a criação da Faixa 4. Neste segmento, destinado a um perfil de consumidor com renda um pouco mais elevada, os gastos com decoração e produtos de maior valor agregado aumentam, o que ajuda receita e margens.
Além disso, a companhia segue atenta a outras avenidas de crescimento no mercado interno. Sem grandes oportunidades de M&A por enquanto, Eucatex tem investido na atualização de suas máquinas, não apenas para aumentar a capacidade, mas principalmente para incrementar o valor agregado dos produtos.
O mercado de portas é um onde ela acredita ter bastante espaço para crescer, especialmente quando a nova máquina de acabamento estiver operando – estimamos que a companhia tenha um dígito médio de market share neste segmento.
Com relação à remuneração aos acionistas, apesar de ter uma política básica (distribuição anual de 25% do lucro líquido), a gestão está estudando a possibilidade de distribuir JCPs trimestrais – devemos ter novidades sobre isso em breve.
Terras na Eucatex estão subavaliadas
Outro tópico importante é a atualização do valor de terras, que inclusive foi tema de uma pergunta na divulgação dos resultados do 1T25. Apenas contextualizando, desde 2009 a reavaliação de ativos imobilizados para fins contábeis está proibida no Brasil, como adequação às normas de IFRS.
Mas isso não impede companhias como SLC Agrícola e BrasilAgro de contratarem consultorias especializadas para divulgar ao mercado os valores atualizados. Essa prática é crucial para os acionistas entenderem melhor os ativos nos quais estão investindo.
Voltando à Eucatex, suas terras estão marcadas no balanço por R$ 300 milhões, claramente subavaliadas. Isso porque, mesmo utilizando premissas conservadoras, nós chegamos ao triplo desse valor (antes de impostos) em exercício realizado em relatório recente. Dito isso, ficamos com a sensação de que o tema está sendo discutido, o que pode destravar um valor interessante aos papéis.
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Migração para Novo Mercado
Por fim, vale a pena falar sobre a possibilidade de migração para o Novo Mercado, que ajudaria a consolidar a melhora de governança que temos visto nos últimos anos. Segundo a gestão, não falta vontade e nem compromisso para que isso aconteça.
O impeditivo é a regra que garante o direito de retirada aos minoritários pelo valor patrimonial, aproximadamente R$ 28, quase 50% acima dos níveis atuais.
Apesar de parecer distante, todos os tópicos abordados têm potencial de reduzir sobremaneira esse gap: resultados futuros em linha com os do 1T25, aumento na exportação e construção civil, reavaliação de terras, JCPs trimestrais, são gatilhos que jogam a favor de um re-rating, o que pode tornar a migração para o NM um tópico bem mais plausível do que parece atualmente.