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Eucatex (EUCA4): Veja quatro gatilhos que podem continuar a impulsionar as ações

Os dados positivos do 1T25 da Eucatex (EUCA4) não parecem ter sido um “ponto fora da curva”. Leia mais.

Por Ruy Hungria

11 jul 2025, 15:00 - atualizado em 17 jul 2025, 15:39

eucatex (EUCA4)

Imagem: Divulgação/Eucatex

Temos a sensação de que o ótimo primeiro trimestre de Eucatex (EUCA4) não foi um ponto fora da curva. 

Com reajustes de dois dígitos nos produtos de madeira implementados desde meados de 2024, a expectativa é de que as margens se mantenham em níveis semelhantes aos do início do ano, o que é ótima notícia. 

Avanço do 1T25 aqueceu os motores da Eucatex?

Podemos até observar uma ligeira queda, até porque o 1T25 marcou o maior nível de margem bruta desde 2012, e seria natural observar alguma acomodação. No entanto, a dinâmica de crescimento na comparação anual observada no primeiro trimestre deve permanecer. 

Além dos reajustes, isso também é reflexo dos maiores níveis de exportação, que passaram de cerca de 20% da receita em 2023 e 2024 para aproximadamente 30% no 1T25, nível que deve ser mantido nos próximos trimestres.

Isso porque além dos grandes investimentos visando ganho de mercado nos Estados Unidos, a coleção tem sido bem aceita nas redes locais, o que deve garantir pelo menos mais alguns trimestres de boas vendas. 

Esse ganho de participação nos Estados Unidos trouxe um aumento com gastos logísticos, o que deve se refletir em despesas estruturalmente mais altas do que no passado, e em linha com o que temos visto nos últimos trimestres. Por outro lado, a geração de caixa tende a melhorar quando as vendas por lá se estabilizarem, devido à menor necessidade de aumento de capital de giro.

Sobre as eventuais tarifas que podem ser impostas pelos Estados Unidos ao Brasil nos próximos dias, a companhia está avaliando as repercussões práticas em seus segmentos de atuação. Voltaremos com atualizações assim que tivermos novidades. 

Mercado brasileiro desenha cenário benéfico à small cap

De qualquer modo, se engana quem pensa que o único crescimento virá de fora. O mercado brasileiro segue bastante aquecido, com capacidade ociosa da indústria nas mínimas dos últimos anos, mesmo com a Selic elevada.

Em partes, isso é resultado do ótimo desempenho do programa Minha Casa Minha Vida, e tende a melhorar ainda mais com a criação da Faixa 4. Neste segmento, destinado a um perfil de consumidor com renda um pouco mais elevada, os gastos com decoração e produtos de maior valor agregado aumentam, o que ajuda receita e margens. 

Além disso, a companhia segue atenta a outras avenidas de crescimento no mercado interno. Sem grandes oportunidades de M&A por enquanto, Eucatex tem investido na atualização de suas máquinas, não apenas para aumentar a capacidade, mas principalmente para incrementar o valor agregado dos produtos. 

O mercado de portas é um onde ela acredita ter bastante espaço para crescer, especialmente quando a nova máquina de acabamento estiver operando – estimamos que a companhia tenha um dígito médio de market share neste segmento. 

Com relação à remuneração aos acionistas, apesar de ter uma política básica (distribuição anual de 25% do lucro líquido), a gestão está estudando a possibilidade de distribuir JCPs trimestrais – devemos ter novidades sobre isso em breve.

Terras na Eucatex estão subavaliadas

Outro tópico importante é a atualização do valor de terras, que inclusive foi tema de uma pergunta na divulgação dos resultados do 1T25. Apenas contextualizando, desde 2009 a reavaliação de ativos imobilizados para fins contábeis está proibida no Brasil, como adequação às normas de IFRS.

Mas isso não impede companhias como SLC Agrícola e BrasilAgro de contratarem consultorias especializadas para divulgar ao mercado os valores atualizados. Essa prática é crucial para os acionistas entenderem melhor os ativos nos quais estão investindo.

Voltando à Eucatex, suas terras estão marcadas no balanço por R$ 300 milhões, claramente subavaliadas. Isso porque, mesmo utilizando premissas conservadoras, nós chegamos ao triplo desse valor (antes de impostos) em exercício realizado em relatório recente. Dito isso, ficamos com a sensação de que o tema está sendo discutido, o que pode destravar um valor interessante aos papéis. 

Migração para Novo Mercado

Por fim, vale a pena falar sobre a possibilidade de migração para o Novo Mercado, que ajudaria a consolidar a melhora de governança que temos visto nos últimos anos. Segundo a gestão, não falta vontade e nem compromisso para que isso aconteça. 

O impeditivo é a regra que garante o direito de retirada aos minoritários pelo valor patrimonial, aproximadamente R$ 28, quase 50% acima dos níveis atuais. 

Apesar de parecer distante, todos os tópicos abordados têm potencial de reduzir sobremaneira esse gap: resultados futuros em linha com os do 1T25, aumento na exportação e construção civil, reavaliação de terras, JCPs trimestrais, são gatilhos que jogam a favor de um re-rating, o que pode tornar a migração para o NM um tópico bem mais plausível do que parece atualmente.

Sobre o autor

Ruy Hungria

Bacharel em Física formado na Universidade de São Paulo (USP), possui MBA de Finanças na Fipe e iniciou a carreira no mercado financeiro em 2011, na própria Empiricus Research. Está à frente da série da casa focada em opções desde 2018, além de contribuir na elaboração e decisões de investimentos nas séries da Empiricus focadas em microcaps e dividendos, além de fazer o acompanhamento de companhias de diversos setores, com mais foco em Utilities e Oil & Gas. Desde o início de 2020 é colunista do portal Seu Dinheiro.