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O mercado começa a quarta-feira em compasso de espera, com os holofotes voltados para a decisão de política monetária do Federal Reserve. A aposta dominante é de um novo corte de 25 pontos-base, que levaria a taxa básica para 4%. Apesar da escassez de indicadores de curtíssimo prazo desde a última reunião, o banco central deve se orientar pelas tendências: inflação que ainda permanece pressionada nos próximos meses, mas um mercado de trabalho visivelmente mais frágil. Esse quadro favorece um discurso de continuidade no processo de afrouxamento monetário, ainda que gradual. A coletiva de Jerome Powell ganha assim destaque, não apenas pelo sinal sobre os próximos passos do Fed, mas pelas especulações em torno de sua sucessão.
No ambiente corporativo, a temporada de resultados continua movimentada. As atenções se voltam para os balanços de Microsoft, Meta e Alphabet, depois do fechamento de mercado. A Apple chegou a ultrapassar brevemente a marca de US$ 4 trilhões em valor de mercado, impulsionada pelas vendas mais fortes do iPhone 17 nos EUA e na China, juntando-se a um grupo extremamente seleto de gigantes globais. Já na Ásia, o humor é positivo: os índices sobem durante a passagem do presidente Trump pela região e aumenta a expectativa para o encontro com o líder chinês Xi Jinping, visto como oportunidade para reduzir tensões e destravar avanços comerciais.
· 00:55 — Limpando canais
No Brasil, o Ibovespa voltou a registrar máximas históricas nominais, embalado pelo bom humor dos mercados globais antes da decisão de juros nos Estados Unidos. No front corporativo, Bradesco e Santander divulgam resultados nesta manhã, concentrando a atenção sobre o setor financeiro. No cenário internacional, o Senado americano aprovou uma resolução derrubando o tarifaço aplicado sobre produtos brasileiros, em um raro movimento de união entre democratas e parte dos republicanos para contestar os poderes emergenciais utilizados por Trump nas tarifas recíprocas. Apesar do simbolismo, a medida deve travar na Câmara — que já votou por não apreciar propostas tarifárias até 2026 — e, ainda que avançasse, Trump provavelmente vetaria. O desfecho real ficará nas mãos da Suprema Corte, que analisará em novembro a extensão da autoridade presidencial para impor tarifas amplas.
Em Brasília, o relator Renan Calheiros aguarda da Fazenda uma revisão do impacto fiscal da isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, afirmando que o texto aprovado na Câmara rompeu a neutralidade fiscal. Eventuais correções no projeto podem exigir desmembramento ou compensações adicionais. No setor elétrico, o senador Eduardo Braga manteve em seu relatório da MP do setor energético a criação de um teto para subsídios embutidos nas tarifas, mudança que penalizou as empresas do setor no pregão de ontem. Ainda assim, a avaliação predominante no mercado é de que o texto encontra baixa probabilidade de prosperar, tema que seguirá em debate nas próximas semanas. Por fim, a megaoperação de segurança no Rio de Janeiro dominou as manchetes e já repercute no campo político, reacendendo o debate sobre segurança pública — tema que, segundo pesquisas recentes, será central para a eleição em 2026 e segue como um dos pontos mais sensíveis para o governo federal.
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· 01:49 — Esperando pelo Rali de Natal
Nos EUA, as bolsas estenderam o movimento de alta, sustentadas pela temporada de resultados, contribuindo para novas máximas nos principais índices. Historicamente, o atual período costuma marcar o início de uma fase favorável para o mercado: desde 1928, em 71 dos 97 anos analisados, o S&P 500 apresentou valorização entre o fim de outubro e dezembro, com ganho mediano de 4%. Até aqui, 86% das companhias reportaram lucros acima das expectativas, reforçando a percepção de um terceiro trimestre robusto para a economia americana. Os próximos dias devem ser ainda mais determinantes, com a divulgação dos números de Microsoft, Alphabet e Meta.
O sentimento positivo também é reforçado por dois fatores macroeconômicos relevantes: a expectativa de que o Federal Reserve anuncie um corte de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros hoje, e a melhora no tom das negociações comerciais entre Estados Unidos e China, que podem resultar na redução de tarifas. Ainda assim, existe um descompasso entre o que o mercado espera e o que o próprio Fed sinaliza para o futuro: investidores apostam em quedas mais rápidas e profundas, enquanto os dirigentes defendem cortes graduais e espaçados, o que pode gerar algum atrito adiante. Na economia real, os indicadores mostram um mercado de trabalho perdendo força de maneira ordenada. Vale observar, porém, que a alta recente do S&P 500 foi concentrada em poucas companhias, evidenciando fragilidade no restante do mercado. Mesmo assim, o cenário atual segue compatível com a continuidade do processo de normalização monetária, incluindo novos cortes e o possível fim do programa de enxugamento do balanço pelo banco central.
· 02:32 — Racionalizando cargos
As grandes empresas americanas voltaram a apertar o cinto e a estratégia já se traduz em cortes profundos no setor administrativo. A Amazon anunciou o encerramento de 14 mil posições corporativas, com projeção de que o número chegue a 30 mil nos próximos meses — aproximadamente 10% de sua força de trabalho não operacional. A UPS seguiu o mesmo movimento: já eliminou 48 mil vagas em 2025, sendo 14 mil cargos de gerência. Outras companhias relevantes — como Chegg, Paramount, Target e PwC — também divulgaram reduções significativas, justificadas por necessidade de redução de custos, reorganização interna e, em alguns casos, pela substituição de atividades tradicionais por soluções de inteligência artificial. No caso da Amazon, o discurso é direto: a empresa quer se transformar numa estrutura profundamente integrada à IA, canalizando capital para computação em nuvem e novas tecnologias.
Mesmo com o aumento de anúncios de demissões, o mercado de trabalho nos EUA ainda não mostra sinais de ruptura. Segundo dados da ADP, o setor privado criou, em média, 14.250 postos por semana ao longo das últimas quatro semanas, indicando que o movimento pode ser pontual e concentrado em grandes empresas. O humor das famílias, porém, já reflete maior apreensão: a confiança do consumidor, medida pelo Conference Board, caiu pelo terceiro mês seguido, influenciada pelo medo de perda de renda, desaceleração da economia e inflação ainda longe do ideal. O quadro é compatível com uma economia em desaceleração gradual — não uma crise — marcada por ajustes corporativos, cautela generalizada e incertezas adicionais trazidas pela guerra comercial e pelas novas rodadas de tarifas conduzidas por Trump.
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· 03:28 — A onda tecnológica
Nesta temporada de balanços, grande parte da atenção do mercado está voltada para o desempenho das operações em computação em nuvem, hoje impulsionadas pela forte demanda gerada pela inteligência artificial. A necessidade crescente por capacidade de processamento vem obrigando Amazon, Google e Microsoft a ampliar rapidamente sua infraestrutura, com novos data centers e investimentos em hardware avançado. Os resultados recentes ilustram esse movimento: a AWS registrou alta de 17,5% em receita, o Google Cloud avançou 31,7% e o Azure — principal motor de crescimento da Microsoft — cresceu 39% no comparativo anual. Apesar da expansão expressiva, o mercado continua avaliando a sustentabilidade desse ritmo, já que muitas empresas ainda buscam modelos de monetização claros para seus produtos de IA.
Esse cenário evidencia uma disputa tecnológica cada vez mais intensa. A Microsoft acumula uma carteira robusta, com cerca de US$ 368 bilhões em contratos de nuvem assinados, enquanto reforça sua posição estratégica com a OpenAI, garantindo 27% de participação na companhia e acesso antecipado a modelos de IA até 2032. O Google amplia sua estratégia ao oferecer chips personalizados aos clientes, posicionando-se diretamente contra a Nvidia, que por sua vez segue expandindo seu ecossistema e anunciou investimento de US$ 1 bilhão na Nokia para acelerar sua transição para inteligência artificial. A Amazon, por outro lado, aposta no chip Trainium, desenvolvido para entregar baixo consumo de energia e menor custo por processamento. Ao mesmo tempo, a IA começa a se integrar ao consumo cotidiano: um novo acordo entre OpenAI e PayPal permitirá que milhões de comerciantes vendam diretamente dentro do ChatGPT, com pagamentos instantâneos processados pela plataforma. Em essência, os resultados desta semana devem revelar não apenas o crescimento financeiro das gigantes da tecnologia, mas também como cada uma está se preparando estruturalmente para liderar a próxima fase da economia digital.
· 04:14 — O Fórum de Riade
A Arábia Saudita abriu a Iniciativa de Investimento Futuro, em Riade, com um claro objetivo: se posicionar como um dos principais polos econômicos globais e ampliar sua influência geopolítica. O evento contou com a presença de figuras de peso do mercado financeiro internacional, como Bill Ackman, David Solomon (Goldman Sachs) e Jamie Dimon (JPMorgan), que destacaram o potencial de negócios no país. O reino está investindo centenas de bilhões de dólares para diversificar sua economia e reduzir a dependência do petróleo — um projeto central da agenda do príncipe herdeiro Mohammed Bin Salman (MBS). A conferência também ocorre em um momento estratégico, a poucas semanas da visita de MBS à Casa Branca.
As relações entre Estados Unidos e Arábia Saudita atravessam uma fase de aproximação acelerada. Há expectativa de que os dois países assinem um pacto formal de defesa e segurança, além de acordos envolvendo inteligência artificial, livre comércio e, possivelmente, tecnologia nuclear. Para investidores estrangeiros, um tratado dessa natureza colocaria o reino sob o guarda-chuva de proteção militar dos EUA, diminuindo riscos geopolíticos e abrindo espaço para mais investimentos no país. Entretanto, mesmo com reformas econômicas ambiciosas, executivos e analistas reconhecem que, no curto prazo, a Arábia Saudita seguirá sendo mais exportadora de capital do que destino final de investimentos — razão pela qual Riad continua aprofundando parcerias também com China e Rússia, ambas representadas no evento.
Ao mesmo tempo, volta a crescer o debate sobre a possibilidade de Riad aderir aos Acordos de Abraão e normalizar relações diplomáticas com Israel — algo que teria enorme impacto econômico e geopolítico. A aproximação abriria comércio bilateral, turismo, integração tecnológica e reforçaria o pacto de segurança mediado pelos EUA. Porém, obstáculos importantes permanecem. A opinião pública saudita resiste à ideia e o reino teme perder espaço como liderança do mundo árabe. Mesmo com essas barreiras, Washington continua pressionando Riad, enxergando a normalização como o próximo passo-chave de sua estratégia de normalização na região.
· 05:03 — Uma breve atualização sobre as debêntures da Vale
A Vale (VALE3) anunciou uma oferta pública para recomprar até 100% das debêntures participativas da 6ª emissão (CVRDA6), hoje com cerca de 388,5 milhões de unidades em circulação. Esses títulos foram criados em 1997, no contexto da privatização da companhia, e garantem aos detentores uma participação direta na receita futura gerada pela venda de minério de ferro, cobre e ouro. Em outras palavras, são instrumentos cuja remuneração varia conforme o desempenho operacional da mineradora. O perfil dos investidores também mudou ao longo do tempo: após a venda das posições detidas pela União e pelo BNDES entre 2020 e 2021, o ativo ganhou liquidez e passou a ser negociado majoritariamente por gestoras, mesas proprietárias e investidores pessoa física, tornando a base mais pulverizada e alinhada à dinâmica de mercado.
Na proposta apresentada, a Vale se dispõe a pagar R$ 42 por debênture — valor equivalente ao negociado hoje no mercado secundário — o que pode gerar um desembolso total de aproximadamente R$ 16,3 bilhões caso todos os detentores aceitem a oferta. O racional econômico é transparente…