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Investimentos

Ibovespa hoje: Mercados digerem tensões comerciais enquanto Copom e Fed iniciam reuniões de decisão monetária nesta terça-feira (29); veja destaques

O destaque do dia é o relatório JOLTS de junho,com números a rotatividade da força de trabalho nos EUA. Veja mais.

Por Matheus Spiess

29 jul 2025, 09:39

Atualizado em 29 jul 2025, 09:39

ações ibovespa bolsa de valores

Imagem: iStock.com/sankai

A terça-feira (29) amanhece cheia de expectativas no front internacional. O destaque do dia é a divulgação do relatório JOLTS de junho, que traz detalhes sobre a rotatividade da força de trabalho nos Estados Unidos e deve ajudar a ajustar as apostas do mercado para o payroll de sexta-feira (1º). A ansiedade se soma à espera pelas decisões de política monetária do Copom e do Federal Reserve, que serão conhecidas na quarta.

No Brasil, a agenda de dados econômicos segue esvaziada, mas o noticiário político ganha corpo: o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, concede entrevista à CNN em meio às negociações tarifárias com os EUA. O governo brasileiro insiste que não sairá da mesa, mas a cada dia que passa sem progresso — a poucos dias do prazo fatal imposto por Trump —, a disposição soa mais como esperança do que estratégia.

No exterior, os índices ocidentais iniciam o dia em tom moderadamente positivo, embalados por sinais de distensão nas tensões comerciais, enquanto os mercados asiáticos fecharam sem direção clara. Os EUA mantêm conversas com a China, após selarem um acordo com a União Europeia e avançarem nas negociações com o Japão — tratativas que, embora nitidamente favoráveis aos interesses americanos, ajudam a mitigar o risco de uma escalada protecionista. O petróleo opera em alta, refletindo a percepção de menor risco comercial. Ainda assim, o ambiente de curto prazo segue exigindo cautela, com os investidores aguardando o discurso de Jerome Powell, amanhã (30), e os desdobramentos da complexa frente fiscal e comercial brasileira.

· 00:57 — Cuidado com o fogo amigo

Por aqui, com a proximidade do prazo final para a implementação das tarifas — previsto para 1º de agosto — e sem qualquer sinal concreto de avanço nas negociações, os ativos locais continuam operando sob pressão, com desempenho inferior ao de seus pares globais. O desconforto se materializa nos preços: o Ibovespa recuou novamente ontem para a faixa dos 132 mil pontos. A percepção predominante é a de que dificilmente o governo Trump recuará ou postergará a aplicação da taxação de 50% sobre os produtos brasileiros. Como já mencionei na segunda-feira (28), o chanceler Mauro Vieira cumpre agenda diplomática nos EUA, mas não há sequer previsão de uma reunião com a Casa Branca. O Brasil, ao que tudo indica, segue fora da lista de prioridades da administração americana. E o tempo segue passando sem avanços relevantes ou agendas marcadas com autoridades de fato influentes.

Na iminência da tarifa, circula a ideia de redirecionar nossas exportações para outros mercados como forma de mitigar os danos. Mas não é assim que o mundo real funciona. Trocar de destino comercial exige anos de adaptação, investimento e diplomacia — e abandonar o mercado americano está longe de ser uma estratégia inteligente. Por que não tratamos essa crise com o mesmo pragmatismo que adotamos com a Argentina? Todos sabem que os presidentes de Brasil e Argentina não se toleram politicamente, e ainda assim o comércio bilateral prospera: no primeiro semestre de 2025, as exportações brasileiras para o país vizinho aumentaram 55,4%, alcançando US$ 9,1 bilhões, com destaque para veículos, autopeças e carne bovina, que saltou de US$ 1 milhão em 2024 para US$ 22,9 milhões este ano. Ideologia de lado, comércio à frente. Lula, no entanto, oscila entre o discurso conciliador e uma retórica agressiva. Teria razões para suavizar o tom, especialmente porque depende da interlocução com o setor empresarial e sabe que uma escalada da guerra comercial seria nociva para sua própria governabilidade. Ainda assim, demonstra hesitação.

As reações à medida de Trump oscilam entre a indignação generalizada e o apoio isolado de aliados ideológicos do próprio presidente americano — notadamente a ala de Eduardo Bolsonaro. O tarifaço, na prática, expõe o estilo intempestivo de Trump, que desafia a ordem global que os próprios Estados Unidos ajudaram a construir. Mas a culpa não pode ser terceirizada: a diplomacia brasileira contribuiu, sim, para o agravamento do cenário. A retórica antiamericana, o alinhamento agressivo aos BRICS e a insistência em agendas escancaradamente desalinhadas aos interesses estratégicos ocidentais colocaram o Brasil em rota de colisão — enquanto países como a Índia, com pragmatismo, avançavam em acordos comerciais bilaterais com os EUA.

Cada grupo tenta agora instrumentalizar a crise conforme seus próprios interesses. A ala radical bolsonarista ostenta a proximidade com o trumpismo, ignorando que isso pode ter contribuído para a hostilidade da carta. Já o governo Lula falha sistematicamente em construir pontes e coleciona gestos diplomáticos desastrosos, como os novos ataques retóricos a Israel ou a tolerância seletiva com autocracias antiocidentais. Some-se a isso a atuação hipertrofiada do Judiciário — que há tempos extrapola sua função constitucional — e temos o retrato de um ambiente institucional esgarçado, no qual o tarifaço opera como catalisador das divisões internas.

No fim das contas, os prejudicados são os de sempre: brasileiros e brasileiras. Empresários, trabalhadores, consumidores e investidores, todos reféns de uma espiral de deterioração das expectativas, desvalorização cambial, alta nos juros futuros e perda de acesso a um mercado estratégico. Enquanto isso, os extremos seguem ocupados em seu teatro autofágico. E para piorar, o que tenho chamado de principal risco à tese do “trade eleitoral” se intensifica: o fogo amigo dentro da própria oposição. A ala mais radical do bolsonarismo segue cada vez mais isolada — embora tipicamente muito barulhenta — e multiplica ataques a figuras do mesmo campo político, como Tarcísio de Freitas, Ratinho Jr. e até Nikolas Ferreira. Essa desorganização atrapalha, ainda que não inviabilize completamente, a expectativa de uma guinada em 2026.

Enquanto isso, a política monetária segue contracionista, já produzindo efeitos sobre a atividade e o crédito. A inadimplência das famílias voltou a subir e a tendência é de piora, especialmente com a manutenção da Selic nesta quarta-feira. O Banco Central não tem outra escolha: diante da omissão fiscal, é ele quem precisa continuar ancorando a confiança. Para horizontes de 12 a 18 meses, o cenário segue construtivo — os valuations continuam atrativos, o dólar permanece estruturalmente mais fraco lá fora e talvez vejamos até alguma moderação do Fed nesta semana. Mas a travessia até o final de 2026 não será tranquila. E o Brasil parece navegar contra a corrente.

· 01:43 — Pisando com cuidado

O acordo comercial firmado entre Estados Unidos e União Europeia no fim de semana chegou a animar os mercados inicialmente, mas o entusiasmo não resistiu. A nova tarifa de 15% sobre as importações europeias — aquém dos 30% que Donald Trump ameaçava impor — cobre a maioria dos setores, embora alguns segmentos estratégicos, como matérias-primas e aeronaves, tenham escapado ilesos. A princípio, o entendimento parecia sinalizar estabilidade e previsibilidade. No entanto, a reação morna dos mercados — com o S&P 500 e o Nasdaq registrando altas discretas e o Dow Jones em leve queda — reflete uma percepção mais sóbria: por trás da “normalização”, o que se vê é a confirmação de que Washington continua disposto a redesenhar unilateralmente as regras do jogo, sempre que lhe for conveniente. 

Nesse contexto, a aparente calmaria nos mercados pode esconder riscos. O impacto acumulado das tarifas e o desgaste progressivo do consumidor americano após anos de inflação crescente não podem ser subestimados. Além disso, paira sobre o mercado a sombra de um volume colossal de vencimentos de títulos públicos — cerca de US$ 9 trilhões — que, por ora, não vem recebendo atenção proporcional ao seu peso. O Federal Reserve, atento a esse quadro delicado, tende a manter uma postura prudente na reunião desta semana, sem abrir espaço para cortes precipitados. Ainda assim, há apostas mais otimistas: algumas casas revisaram para cima a projeção do S&P 500 em 2025, mirando 7 mil pontos — sustentadas por lucros corporativos e menor ruído comercial. É um cenário possível, mas que pressupõe alguma complacência com a volatilidade. A agenda desta terça-feira (29), aliás, reserva a divulgação do relatório JOLTS, que pode oferecer pistas importantes sobre a temperatura da economia americana — ainda resiliente, é verdade, mas já exibindo sinais discretos de arrefecimento. A dúvida: os indícios serão suficientes para convencer o Fed a cortar juros?

· 02:36 — Não foi unanimidade

O processo de negociações tarifárias nos EUA segue em curso — e com ele, a retórica volátil de Donald Trump. O presidente norte-americano voltou a sinalizar que poderá impor uma tarifa geral entre 15% e 20% sobre importações de países que não firmarem novos acordos comerciais com Washington, elevando o tom em relação aos 10% anunciados em abril. O movimento mais recente, envolvendo a União Europeia, está longe de ser unânime. Embora o anúncio conjunto feito no domingo por Trump e pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, tenha sido bem recebido por parte do setor privado — visto como uma alternativa à escalada rumo a uma guerra comercial — o desfecho provocou forte resistência entre os líderes políticos europeus.

França e Alemanha, por exemplo, as duas maiores economias do bloco, não esconderam sua insatisfação. A chanceler alemã alertou que o acordo poderá prejudicar substancialmente as finanças do país, enquanto o primeiro-ministro francês foi ainda mais direto, classificando o plano como um gesto de submissão. A crítica não ficou restrita aos principais países: líderes de outras nações europeias, como o húngaro Viktor Orbán, também engrossaram o coro de reprovação. Enquanto isso, representantes dos EUA e da China voltaram à mesa de negociações em Estocolmo, em mais uma tentativa de distensionar as relações entre as duas maiores potências econômicas do planeta — ainda que sem garantias de sucesso duradouro.

· 03:21 — Cessar-fogo?

Na semana passada, mencionei o risco de mais um conflito internacional — desta vez no Sudeste Asiático. Felizmente, ao que tudo indica, a tensão não escalou para um impasse prolongado: Tailândia e Camboja chegaram a um acordo de cessar-fogo incondicional durante as negociações de paz realizadas na Malásia, pondo fim a dias de confrontos intensos ao longo da fronteira. O embate tem raízes históricas profundas, com mais de um século de disputas territoriais, mas esse foi o episódio mais violento em mais de dez anos: ao menos 33 mortos e cerca de 150 mil pessoas deslocadas.

As negociações de paz foram coorganizadas pelos Estados Unidos e pela Malásia, com participação também da China — em um raro momento de convergência diplomática. Antes do encontro, Donald Trump havia deixado claro que não retomaria as tratativas comerciais com nenhum dos dois países até que fosse firmado um cessar-fogo, condicionando explicitamente as conversas tarifárias à estabilidade regional. Uma postura que, mesmo criticada, acabou por exercer pressão suficiente para destravar o diálogo. O mundo escapou de mais uma frente de instabilidade.

· 04:12 — Nada de novo no front

Na última sexta-feira (25), comentei sobre um processo eleitoral especialmente delicado em Taiwan — e os desdobramentos do fim de semana apenas reforçaram a complexidade do tabuleiro político local. Uma tentativa inédita de destituir aproximadamente 20% do Parlamento fracassou de forma contundente: os 24 parlamentares do Kuomintang (KMT), principal partido de oposição e tradicionalmente mais alinhado a Pequim, mantiveram seus mandatos após os votos de revogação. A primeira onda de votações, portanto, frustrou completamente a ofensiva articulada pelo Partido Democrático Progressista (PDP), legenda atualmente no poder e defensora de uma agenda pró-independência. Outras sete votações estão marcadas para 23 de agosto, mas dificilmente o resultado será diferente. A estratégia visava abrir espaço para que o presidente William Lai revertesse a maioria legislativa opositora, mas deu errado.

O fracasso do plano representa mais do que um tropeço momentâneo: mina a tentativa do governo de ampliar sua base parlamentar e, de quebra, fortalece a disposição da oposição em dificultar qualquer avanço da agenda presidencial. Com os parlamentares pró-China fortalecidos, a coalizão liderada pelo KMT tende a intensificar o bloqueio institucional, alimentando o impasse político. Para William Lai, que já lidava com um cenário desafiador, o revés representa mais do que uma derrota tática — é um alerta sobre a resiliência das forças opositoras e a dificuldade de se impor em meio à fragmentação do Legislativo. Em uma ilha onde os ventos da independência sopram contra o pano de fundo da crescente tensão geopolítica com a China, o tempo para construir pontes políticas está cada vez mais curto. Vale ficar acompanhando de perto.

· 05:05 — Atenção para a infraestrutura

O debate sobre infraestrutura global parece ter chegado a um ponto de virada determinante, impulsionado simultaneamente pela urgência e pela inovação. A incorporação acelerada de tecnologias disruptivas — como inteligência artificial generativa, veículos autônomos e elétricos, energia renovável e novas soluções em defesa — está criando ventos francamente favoráveis para um novo ciclo de investimentos em infraestrutura. Ao mesmo tempo, economias desenvolvidas lidam com dilemas cada vez mais evidentes: redes envelhecidas, riscos climáticos intensificados e gargalos históricos demandam reformas abrangentes e imediatas. 

Nos países emergentes, o panorama é diferente, mas não menos relevante. Na Índia, por exemplo…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.