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‘Lula é o grande vencedor no curto prazo’, diz Felipe Miranda sobre tarifa de 50% aplicada por Donald Trump ao Brasil 

Por outro lado, impactos econômicos de médio e longo prazo devem ser prejudiciais ao atual presidente brasileiro, na visão do CIO da Empiricus.

Por Juan Rey

10 jul 2025, 12:33 - atualizado em 10 jul 2025, 12:44

Lula Trump tarifa 50%

A tarifa de 50% imposta por Donald Trump aos produtos brasileiros caiu como uma bomba tanto em Brasília quanto na Faria Lima. E, na visão do CIO da Empiricus, Felipe Miranda, pode dar “a retórica que Lula precisava” para reaquecer os índices de aprovação e de popularidade.

“Não cabe a outro país arbitrar sobre questões jurídicas e políticas do outro. Dá ao Lula uma retórica de defesa da soberania nacional, da democracia e do nacionalismo brasileiro. E fortalece a narrativa da esquerda de que Eduardo Bolsonaro está nos Estados Unidos conspirando contra o próprio país. Do ponto de vista político, o grande vencedor de curto prazo nessa história é o Lula”, disse.

O estrategista-chefe também destaca que a decisão de Trump é “estritamente política” e “sem nenhum elemento técnico”.

“É verdade que existe uma retórica antiamericana desgastante e falsa dentro do PT, e que a opção de associação cada vez maior com os BRICS e com a Rússia são ruins. Também é verdade que o STF tomou proporções maiores do que deveria. Não é coincidência que isso venha logo depois da cúpula dos BRICS”, afirmou.

“Mas é claro que o Trump cruzou a linha. E isso dá ao Lula o discurso do ‘nós contra eles’, de defensor dos interesses nacionais, e pode dar a ele um reaquecimento sobre os índices de aprovação e de popularidade”, completou. 

Do ponto de vista econômico, no curto prazo deve haver alta do dólar, dos juros futuros, além de uma queda da bolsa brasileira, afirma Miranda. “As exportadoras vão sofrer, as empresas sensíveis ao juro mais longo vão sofrer. É um impacto material na operação das empresas”, disse, citando o caso de Weg (WEGE3) e Embraer (EMBR3), duas exportadoras da B3. 

Médio e longo prazo: impactos econômicos devem ser ruins para Lula

São justamente os impactos econômicos de médio e longo prazo que podem mitigar os benefícios retóricos e políticos que Lula deve ter no curto prazo.

Caso as tarifas se confirmem (elas passam a valer no dia 1º de agosto), a atividade econômica deverá ser impactada e interferir no bem-estar social. É importante mencionar que os EUA correspondem a 12% de toda a exportação brasileira – cerca de 2% do PIB local. 

“Se o acordo com a China vingar, o Brasil teria hoje a maior tarifa. É muito elevada e inviabiliza o comércio. O Brasil perde um dos principais mercados consumidores e isso é ruim para a atividade econômica local. Tem perdas de emprego, dólar para cima traz mais inflação, e o juro longo subindo dificulta o ambiente de crédito. Se a economia sofrer, pode vir a ser ruim para o Lula mais para frente em termos objetivos”, analisa Miranda.

Outro ponto negativo para Lula, na visão de Miranda, é que parte do chamado centrão é próximo ao agronegócio, um dos setores mais atingidos pelas tarifas. Com isso, a relação já estremecida do Governo Brasileiro com o Congresso pode ficar ainda mais abalada e enfraquecer Lula.

“Dado o lobby que existe no Congresso, pode tensionar ainda mais a relação entre o Poder Executivo e o Legislativo. Sem apoio político, é muito difícil Lula ir para uma reeleição. O Lula só se elegeu em 2022 por conta da frente ampla. Sem o apoio do centro, historicamente não ganha”, disse Felipe Miranda.

“Aquela vantagem política que Lula ganha no começo, vai se enfraquecendo, porque o dólar vai subir, o juro futuro vai subir, o valor dos ativos vai cair e os exportadores vão ter esse impacto. A economia sofre, isso tira um pouco do benefício em prol do Lula”, completa.

E agora, quais devem ser os próximos passos?

Na visão de Miranda, nem Lula e nem o STF devem recuar após as tarifas anunciadas por Trump. 

“Lula tem a retórica a seu favor. Foi muito grave o que Trump fez e, nesse aspecto específico, ele está correto. Do mesmo modo, o STF não pode ceder […] É claro que há grande influência política, mas o STF, tendo que se mostrar técnico e soberano, não pode ceder a uma imposição americana. Se ele tinha a intenção de condenar e prender Bolsonaro, a probabilidade aumenta”, avalia o estrategista-chefe da Empiricus.

Da mesma maneira, apesar do perfil de “idas e vindas” de Trump nas negociações, Miranda acredita que ele não vai ceder sem um motivo plausível. Dessa maneira, a solução seria uma discussão técnica entre os dois países.

“Agora é hora de entrar com os técnicos do Itamaraty e deixar que essa conversa aconteça em um ambiente técnico. Há gente de muita competência no Itamaraty. O Brasil tem uma relação histórica com técnicos americanos, até pela postura brasileira de neutralidade diplomática. Precisamos de alguma maneira construir um meio do caminho em que o Lula não pareça que tenha cedido, o STF não pareça que tenha cedido, e o Trump não pareça que tenha cedido”, finalizou. 

Assista aos comentários do CIO da Empiricus, Felipe Miranda, na íntegra neste link.

Sobre o autor

Juan Rey

Jornalista pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Contato: juan.rey@empiricus.com.br