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O Federal Reserve anunciou ontem o primeiro corte de juros em quase um ano, reduzindo a taxa básica em 25 pontos-base, para o intervalo de 4,00% a 4,25%. A decisão já era amplamente antecipada, mas tem um peso simbólico relevante: marca o início de um novo ciclo de flexibilização monetária. Além da redução imediata, o banco central sinalizou que poderá realizar mais dois cortes até dezembro, totalizando 75 pontos-base ao longo de 2025. A mensagem principal é clara — o Fed passa a priorizar a fragilidade crescente do mercado de trabalho, ainda que a inflação siga acima da meta de 2%. O único voto divergente veio de Stephen Miran, indicado por Donald Trump, que defendia um corte mais agressivo de 50 pontos-base. No entanto, prevaleceu a visão de que ajustes graduais são mais adequados. Para os investidores, o recado é que o Fed seguirá cauteloso, mas o movimento abre espaço para enfraquecimento do dólar no cenário global e dá sustentação aos ativos de risco ao redor do mundo, inclusive no Brasil, além de oferecer maior flexibilidade para que outros bancos centrais iniciem seus próprios ciclos de corte.
Os reflexos foram imediatos nos mercados internacionais. Em Nova York, os índices mostraram volatilidade: o Dow Jones avançou, enquanto o S&P 500 recuou levemente, refletindo realização de lucros após ganhos expressivos nas últimas semanas. Na Europa, os mercados abriram o dia de hoje em alta, sustentados pela perspectiva de novos cortes do Fed, enquanto na Ásia o movimento foi misto, com quedas na China e ganhos no Japão. O petróleo, por sua vez, oscilou entre as expectativas de maior demanda global em um ambiente de juros mais baixos e a preocupação com excesso de oferta. Já os futuros em Nova York avançaram nesta manhã, à espera de novos dados de emprego. No Brasil, o Copom manteve a Selic em 15%, reforçando postura conservadora diante de inflação ainda elevada e crescimento econômico frágil. Em síntese, a sessão de ontem marcou uma virada significativa para os mercados globais: o Fed inaugurou um ciclo de cortes graduais, equilibrando a necessidade de sustentar o emprego com a vigilância sobre a inflação — um ponto de inflexão que continuará guiando o comportamento dos investidores nas próximas semanas.
· 00:54 — Ainda cauteloso
Por aqui, o Ibovespa emplacou ontem seu terceiro pregão consecutivo de alta, embalado pela confirmação do início do ciclo de cortes de juros nos EUA. O índice renovou recordes e encerrou acima dos 145 mil pontos, em mais um sinal de apetite por risco no mercado local. No mesmo dia, o Comitê de Política Monetária (Copom) realizou sua reunião e, como amplamente esperado, manteve a taxa Selic em 15%, sem indicar qualquer alteração relevante no curto prazo. Alguns pontos, no entanto, chamaram atenção no comunicado. Embora tenha preservado a expressão “período bastante prolongado” para descrever o tempo em que os juros devem permanecer no atual patamar — o que reforça o tom contracionista —, o Banco Central retirou o trecho que mencionava a possibilidade de retomar altas da Selic. Ainda que essa hipótese nunca tenha sido vista como realista, a simples presença da sinalização transmitia uma postura mais dura. A retirada formaliza, portanto, o encerramento definitivo do ciclo de aperto monetário, deslocando o debate para quando começará o ciclo de cortes.
Além disso, nas projeções do cenário de referência, o IPCA estimado para o primeiro trimestre de 2027 foi mantido em 3,4%, ligeiramente acima das expectativas de mercado. Esse detalhe reforça a percepção de cautela (ele revisou sua estimativa para o hiato do produto, ponto que poderá ser melhor esclarecido pela ata da semana que vem) e, em tese, dificultaria um corte já em dezembro, empurrando a possibilidade para janeiro. Ainda assim, não está descartada a hipótese de uma redução antes do fim do ano, especialmente se os dados de atividade confirmarem desaceleração adicional, a inflação seguir convergindo para a meta e o Fed mantiver a trajetória de cortes. Nesse caso, um movimento em dezembro tenderia a ser de 25 pontos-base, enquanto um ajuste em janeiro poderia vir mais robusto, em 50 pontos-base. Seja como for, para os mercados, a sinalização é positiva: assim como um dólar globalmente mais fraco e os cortes do Fed têm sustentado o rali brasileiro, uma flexibilização monetária doméstica representaria a terceira perna desse tripé de sustentação. A outra força adicional deve vir do chamado rali eleitoral, que tende a ganhar intensidade nos próximos meses, conforme o calendário eleitoral entrar na janela dos 12 meses até as eleições — fator que promete adicionar mais combustível ao desempenho dos ativos locais.
· 01:48 — E o novo ciclo de cortes começou
Nos Estados Unidos, o Federal Reserve promoveu o primeiro corte de juros em nove meses, reduzindo a taxa básica em 25 pontos-base, para o intervalo entre 4,00% e 4,25%. Embora amplamente antecipada, a decisão ganhou peso pelos sinais de que o banco central projeta novas reduções ao longo do ano — possivelmente mais dois cortes de 25 pontos cada até dezembro. O movimento reflete a mudança de foco da instituição, que agora dá maior ênfase ao enfraquecimento do mercado de trabalho, mesmo com a inflação ainda persistindo acima da meta de 2%. Em sua coletiva, Jerome Powell destacou a queda na geração de empregos e a alta do desemprego para 4,3%, com impacto mais severo sobre jovens, recém-formados e minorias. Apesar da discordância de Stephen Miran — recém-empossado e indicado por Donald Trump —, que defendia um corte mais ousado de 50 pontos-base (inclinação política), prevaleceu o entendimento de que a política monetária deve ser conduzida de forma gradual, evitando medidas que possam soar emergenciais sem respaldo nos dados.
Mais do que a decisão, as projeções econômicas atualizadas atraíram atenção. O chamado dot plot apontou uma mediana de mais dois cortes ainda em 2025, levando a taxa de juros a 3,6% ao final do ano, com ritmo mais lento de afrouxamento se estendendo até 2027. Powell aproveitou a ocasião para reforçar a independência institucional do Fed, em meio a questionamentos sobre possíveis interferências políticas após a entrada de Miran no colegiado. A reação dos mercados foi marcada por volatilidade: os índices acionários oscilaram de forma significativa, refletindo a frustração de parte dos investidores que esperavam cortes mais agressivos. Em linhas gerais, a mensagem deixada pelo Fed é clara: a economia americana mostra sinais crescentes de fragilidade no mercado de trabalho, mas ainda não há justificativa para acelerar o ciclo de flexibilização. Por ora, os cortes virão em um ritmo previsível e calibrado, mantendo o equilíbrio entre o combate à inflação e o suporte à atividade.
· 02:32 — Pelo menos ele é comprador
Elon Musk voltou a chamar a atenção dos mercados ao anunciar nesta semana a compra de US$ 1 bilhão em ações da Tesla, marcando sua primeira aquisição expressiva no mercado aberto desde 2020. A operação elevou sua participação direta para 413 milhões de ações, sem incluir o expressivo volume de opções que ainda detém, e foi lida como um gesto de confiança na empresa justamente em um momento de pressão sobre os resultados. Afinal, os lucros vêm sendo comprimidos e as vendas caíram 13% no primeiro semestre em comparação ao ano anterior. Ainda assim, a reação do mercado foi contundente: desde a mínima registrada em abril, os papéis acumulam alta de 85%, refletindo a aposta de investidores no potencial disruptivo dos projetos de carros autônomos treinados por inteligência artificial e dos robôs humanoides, que podem inaugurar uma nova fase de crescimento para a companhia.
O momento da compra não poderia ser mais emblemático: ela acontece às vésperas da votação de 6 de novembro, quando os acionistas decidirão sobre um novo e polêmico pacote de remuneração que pode conceder a Musk 425 milhões de opções de ações, abrindo caminho para que se torne o primeiro trilionário do mundo. A transação também inflou seu patrimônio líquido em cerca de US$ 17 bilhões, fruto da valorização imediata dos papéis após a notícia. No mercado, prevaleceu a leitura de que o movimento reforça a convicção do próprio CEO na trajetória da Tesla. Com a expectativa de um terceiro trimestre robusto, apoiado pelo avanço do projeto de robotáxis e pela expansão da área de armazenamento de energia com novos Megapacks, a companhia volta ao centro do radar de Wall Street, em um momento crucial para consolidar sua narrativa de inovação e crescimento de longo prazo.
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· 03:27 — Testando limites
A OpenAI está prestes a colocar à prova os limites do manual de financiamento que moldou o Vale do Silício nas últimas décadas. A lógica consagrada da região é simples, ainda que agressiva: levantar capital, queimar recursos em ritmo acelerado para ganhar escala, conquistar talentos e tecnologia, e só depois, com a liderança consolidada, colher os frutos. Mas, até aqui, nenhuma companhia ousou projetar uma queima de caixa na magnitude que a OpenAI planeja. O acordo firmado com a Oracle, estimado em US$ 300 bilhões ao longo de cinco anos a partir de 2027, ilustra bem o tamanho da aposta. Para comparação, gigantes como Uber, Tesla, Snap e Netflix — ícones da expansão custosa — consumiram juntos algo em torno de US$ 42 bilhões em seus períodos de maior voracidade de capital. A OpenAI, por sua vez, já levantou cerca de US$ 64 bilhões desde sua fundação, mas pretende investir US$ 115 bilhões até 2029, exigindo captar ainda entre US$ 50 bilhões e US$ 75 bilhões adicionais. Trata-se de uma escala inédita, mesmo para os padrões exuberantes do setor.
Esse cenário expõe não apenas a dimensão da ambição da empresa, mas também uma mudança estrutural no funcionamento do mercado de capitais. Operações desse tamanho, em teoria, sempre foram prerrogativa do mercado público — como no caso do IPO da Alibaba em 2014, que arrecadou US$ 25 bilhões, valor que sequer cobriria um único ano do pico de gastos da OpenAI. O fato de a companhia tentar estruturar essa captação em mercados privados lança uma questão incômoda: estariam as bolsas de valores deixando de cumprir seu papel clássico de financiar projetos de grande escala? Se o maior consumidor de capital da história consegue driblar o mercado acionário e se sustentar apenas em rodadas privadas, talvez estejamos diante de uma redefinição profunda. A função das bolsas estaria migrando de um canal de formação de capital — que sustentou o capitalismo americano por mais de um século — para algo mais próximo de um palco de liquidez, precificação e gestão de risco. Uma transformação silenciosa, mas que pode redesenhar o sistema financeiro global.
· 04:11 — Momento decisivo
A Alemanha atravessa um ponto de inflexão que o chanceler Friedrich Merz descreveu como decisivo e, ao mesmo tempo, carregado de riscos. Em discurso ao parlamento, Merz reiterou que sua coalizão — formada por conservadores e social-democratas — tem como missão central proteger a liberdade, assegurar a prosperidade econômica e preservar a coesão social. Para isso, precisará enfrentar de imediato dois obstáculos que travam o dinamismo do país: o elevado custo da energia e a complexidade excessiva da burocracia. Como resposta, o governo anunciou um programa robusto para sustentar o crescimento já em 2026, ancorado em um forte aumento de gastos financiados por dívida. Esses recursos deverão ser direcionados à modernização das Forças Armadas, à recuperação de uma infraestrutura envelhecida e a um pacote adicional de medidas de estímulo à atividade no curto prazo.
No entanto, tais promessas ecoam bem além das fronteiras alemãs, despertando tanto expectativa quanto desconfiança entre investidores globais. Muitos ainda aguardam sinais concretos de implementação antes de reverem sua alocação na Europa. Gestores continuam a ver a região em atraso quando comparada aos Estados Unidos — impulsionados pela revolução da inteligência artificial — e à China, que segue à frente no bloco dos emergentes. Além disso, críticos levantam dúvidas sobre a real destinação dos recursos, temendo que parte significativa acabe sendo absorvida por déficits regionais, em vez de fomentar investimentos produtivos. O desafio, portanto, é claro: transformar o discurso de estímulos maciços em resultados tangíveis para empresas e mercados, condição indispensável para restaurar a confiança internacional e recolocar a Alemanha como protagonista do crescimento europeu.
· 05:06 — A nova geração de óculos inteligentes
Mark Zuckerberg utilizou a conferência anual Connect para revelar a nova geração de óculos inteligentes da Meta, dando mais um passo ousado na intersecção entre moda, tecnologia e inteligência artificial. O grande destaque foi o lançamento dos Ray-Ban Display, equipados com um visor discreto no lado direito, capaz de exibir textos, notificações, aplicativos, fotos e até traduções em tempo real. O comando dos dispositivos se dá por meio da Neural Band, uma pulseira que detecta movimentos das mãos e viabiliza a interação sem a necessidade de toques na armação. Durante a demonstração, o recurso mostrou fluidez, embora tenha apresentado falhas pontuais, como no momento em que Zuckerberg tentou atender a uma videochamada. A linha chega ao mercado em breve, por US$ 799, acompanhada também da atualização dos Ray-Ban Meta Gen 2 e de um modelo da Oakley, para o público esportivo.
Mais do que um avanço estético ou uma simples conveniência tecnológica, o movimento da Meta representa uma…