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Os mercados globais renovaram máximas históricas, sustentados pelo corte de juros promovido pelo Federal Reserve e por uma leitura mais confiante em relação às perspectivas da economia americana. O S&P 500 e o MSCI All Country World avançaram para novos recordes, enquanto as bolsas asiáticas acompanharam o movimento de forma consistente e o cobre também apresentou valorização, refletindo expectativas mais favoráveis para a atividade global. A comunicação do Fed foi interpretada como mais construtiva, ajudando a dissipar receios sobre a independência da política monetária após a recondução antecipada dos presidentes dos bancos regionais, o que reforçou o apetite por risco e favoreceu ativos mais cíclicos.
Os preços do petróleo recuaram diante das preocupações com um possível excesso de oferta no mercado global, enquanto o setor de tecnologia voltou a pesar sobre o Nasdaq, em meio a dúvidas sobre o volume e a rentabilidade dos investimentos em inteligência artificial. Na China, a situação da incorporadora Vanke reacendeu alertas sobre a persistência da crise imobiliária e seus potenciais efeitos financeiros. Já na Europa, indicadores de crescimento fracos e inflação baixa mantêm o Banco Central Europeu em posição de espera, compondo um cenário que segue positivo no curto prazo, mas ainda permeado por riscos específicos de setores e regiões.
· 00:57 — Juros fazem o trabalho sujo enquanto a política ensaia 2026
No mercado doméstico, o Ibovespa encerrou a quinta-feira praticamente estável, no dia seguinte à chamada Super Quarta, marcada pela manutenção da Selic no Brasil e pelo corte de juros nos Estados Unidos. O principal movimento ficou por conta do câmbio: o dólar recuou 1,17%, para R$ 5,40, refletindo tanto uma correção após a forte volatilidade recente quanto o aumento do diferencial de juros entre Brasil e EUA — fator que tende a tornar os ativos brasileiros relativamente mais atrativos, em linha com o que vínhamos antecipando. No mercado de juros, a postura cautelosa do Banco Central contribuiu para um movimento de achatamento da curva, reforçando a credibilidade da política monetária e abrindo espaço para cortes mais relevantes no futuro, desde que os dados permitam.
Um corte já em janeiro ainda não está descartado, mas a manutenção do tom mais duro no comunicado tornou março um cenário hoje bem provável. Em qualquer caso, o timing dependerá tanto da evolução dos indicadores domésticos quanto da trajetória dos juros no exterior, especialmente nos Estados Unidos. Ainda hoje, por exemplo, serão divulgados os dados de serviços de outubro por aqui, com expectativa de alta de 0,3%; se confirmada, será a nona leitura consecutiva de crescimento do setor, enquanto um número mais fraco ampliaria a margem para o início do ciclo de cortes, com impacto positivo para ativos de risco.
Vale ressaltar, contudo, que o ciclo de flexibilização monetária no Brasil tende a ser limitado pelo quadro fiscal ainda bastante delicado. Com o tripé macroeconômico desequilibrado — em especial pela fragilidade da âncora fiscal — o Banco Central acaba sendo obrigado a manter uma política monetária mais restritiva por mais tempo, “trabalhando por dois”. A solução estrutural desse problema dificilmente virá antes de 2027 e estará diretamente condicionada ao resultado das eleições de 2026. Nesse contexto, o noticiário político ganha peso crescente. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou já ter conversado com o presidente Lula sobre o cenário eleitoral e deve deixar o cargo em algum momento para disputar uma posição eletiva — sendo o Senado por São Paulo, hoje, a alternativa com maior viabilidade.
Antes disso, a agenda do Congresso segue relevante: o presidente da Câmara, Hugo Motta, indicou que a votação do projeto que corta benefícios e incentivos fiscais deve ocorrer na próxima semana, medida importante para o curto prazo das contas públicas, embora insuficiente como solução estrutural. Em paralelo, Flávio Bolsonaro intensificou os movimentos para viabilizar sua pré-candidatura à Presidência em 2026, buscando testar sua aceitação junto ao mercado financeiro ao se apresentar como um “Bolsonaro mais centrado” e acenar com a continuidade da agenda liberal. É natural que ele sustente essa estratégia ao menos até março, avaliando seu espaço político.
Ainda assim, sua candidatura é vista como menos competitiva em um eventual segundo turno do que a de outros nomes, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Até que esse quadro se esclareça, o processo eleitoral seguirá como um fator relevante de volatilidade para os ativos — como ficou evidente desde a última sexta-feira (5).
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· 01:46 — Volatilidade no setor de tecnologia
Os mercados acionários americanos atravessaram ontem um pregão de forte volatilidade, mas encerraram o dia com novos recordes históricos no Dow Jones e no S&P 500. Após um início instável, o Dow avançou 1,3% e o S&P 500 subiu 0,2%, enquanto o Nasdaq recuou 0,3%, refletindo a pressão concentrada nas ações de tecnologia. O principal destaque negativo veio da Oracle, que surpreendeu ao anunciar uma expansão significativa de seus investimentos, especialmente em infraestrutura voltada à inteligência artificial. O movimento reacendeu preocupações quanto ao aumento do endividamento e à capacidade de geração de retorno desses aportes, levando as ações da empresa a despencarem quase 11%. O episódio reforçou a postura mais cautelosa dos investidores diante do custo crescente da corrida pela IA.
No plano macro, o Federal Reserve também ocupou papel central no noticiário. O banco central anunciou, de forma unânime, a recondução de todos os presidentes dos Bancos Regionais para novos mandatos, decisão interpretada como um sinal de continuidade e estabilidade institucional em meio às tensões políticas e à proximidade da transição na presidência da autoridade monetária. Em paralelo, os dados mais recentes do mercado de trabalho acenderam um alerta: os pedidos de auxílio-desemprego registraram a maior alta desde o início da pandemia, sugerindo que o processo de desaceleração do emprego pode ser mais prolongado do que o inicialmente projetado. Esse conjunto de fatores reforça a relevância das próximas falas de dirigentes do Fed e das divulgações de dados, que seguirão sendo determinantes para calibrar as expectativas de crescimento e a trajetória da política monetária.
· 02:33 — Nova versão
A OpenAI apresentou o GPT-5.2, a mais nova versão do ChatGPT, ressaltando avanços relevantes em desempenho, com melhorias claras em velocidade, precisão e capacidade de execução de tarefas mais complexas. O novo modelo entrega ganhos consistentes em áreas como programação, tradução, busca de informações e resolução de problemas matemáticos, ampliando o escopo de aplicações práticas da ferramenta. O anúncio acontece em um momento sensível para a companhia, após críticas internas e externas quanto ao impacto percebido do acordo de US$ 1 bilhão firmado com a Disney, e cerca de uma semana depois de o CEO Sam Altman ter acionado um “alerta” dentro da organização, reconhecendo explicitamente o risco de o ChatGPT perder competitividade frente a concorrentes, como o Gemini 3, do Google.
· 03:21 — Retomando o crescimento
Os investidores globais passaram a incorporar de forma cada vez mais clara a expectativa de uma retomada do crescimento global em 2026, movimento que ajuda a explicar tanto a recente aproximação do S&P 500 de suas máximas históricas quanto a rotação observada dentro das carteiras. Vejo redução de exposição a estratégias mais defensivas e ampliando posições em ativos cíclicos e de maior sensibilidade ao ciclo econômico, refletindo uma disposição maior ao risco. Esse comportamento aparece de maneira consistente em diferentes indicadores: ações de “alto beta” têm superado aquelas de baixa volatilidade, papéis cíclicos avançam em relação aos defensivos, o Federal Reserve revisou para cima suas projeções de crescimento para o próximo ano, os juros de longo prazo voltaram a subir globalmente e diversos países desenvolvidos já projetam taxas de juros mais altas à frente. Em conjunto, esses sinais sugerem uma leitura mais confiante sobre a trajetória da atividade econômica, indicando que tanto o mercado de ações quanto o de renda fixa convergem para a mesma conclusão: o cenário-base passou a ser o de um crescimento mais robusto e disseminado em 2026.
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· 04:18 — Os cenários para as tarifas
O mercado vem trabalhando com quatro cenários distintos para a política tarifária americana, todos com potencial de alterar de forma significativa o ritmo de crescimento da economia global em 2026. No cenário mais adverso, uma escalada para uma guerra comercial aberta entre Estados Unidos e China levaria o crescimento do PIB mundial a cerca de 1,9%, bem abaixo da projeção-base atual, de aproximadamente 2,7%. No extremo oposto, um desfecho mais construtivo — marcado pela negociação de acordos bilaterais e pela reversão das tarifas implementadas recentemente — poderia elevar o crescimento global para algo próximo de 3% em 2026. Entre esses dois polos, situam-se cenários intermediários, como o fortalecimento do protecionismo industrial em setores estratégicos ou uma eventual invalidação judicial de tarifas nos Estados Unidos, que tenderiam a gerar impactos mais limitados sobre o PIB global, mas ainda assim relevantes para o fluxo e a composição do comércio internacional.
A mensagem central, portanto, é que, embora o cenário-base ainda assuma relativa estabilidade no regime tarifário, o grau de incerteza segue elevado. A experiência recente mostra que mudanças abruptas podem ocorrer, especialmente em um ambiente político marcado por decisões discricionárias e imprevisíveis, como tem sido associado à atuação do presidente Donald Trump. Além disso, os efeitos econômicos das tarifas não dependem apenas de sua magnitude, mas também — e de forma decisiva — da reação dos parceiros comerciais, sobretudo no caso de retaliações.
· 05:02 — Ganhando tração
A Argentina entrou nesta semana em uma nova fase política com a posse de um Congresso mais alinhado ao governo de Javier Milei, o que altera de forma relevante o balanço…