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O mercado internacional inicia a semana em clima de entusiasmo, impulsionada por uma intensa agenda que combina a divulgação dos balanços das gigantes de tecnologia com a penúltima reunião do Federal Reserve no ano. O mercado precifica amplamente um novo corte de 25 pontos-base nos juros, após o dado de inflação norte-americana vir abaixo das expectativas — sinal de que o ciclo de afrouxamento monetário deve prosseguir. A temporada de resultados ganha força com as “Sete Magníficas” no centro das atenções — Microsoft, Alphabet, Meta, Apple e Amazon —, cujo desempenho tende a definir o tom dos mercados. No cenário global, investidores também observam atentamente a viagem de Donald Trump à Ásia, marcada por encontros com Lula, Xi Jinping e Sanae Takaichi, em meio ao fortalecimento dos mercados japonês e chinês diante do alívio nas tensões comerciais.
Na América Latina, o destaque fica por conta da vitória expressiva de Javier Milei nas eleições legislativas da Argentina, que deve consolidar sua agenda liberal e ampliar o respaldo político necessário para seguir adiante com suas reformas econômicas. O resultado provocou uma reação imediata dos mercados — o ETF argentino chegou a subir mais de 17% no pré-mercado — e reforça a percepção de uma virada estrutural pró-mercado na região. O pano de fundo internacional também segue favorável, com avanços diplomáticos como a reaproximação entre Trump e Lula e as tratativas para um acordo comercial entre Estados Unidos e China, somando-se à expectativa de cortes de juros globais e sustentando o apetite por risco nos principais mercados.
· 00:53 — Entre conversas e decisões
No Brasil, a semana será movimentada, com destaque para a intensificação da temporada de resultado e para a divulgação de indicadores-chave do mercado de trabalho. Bradesco, Santander e Vale concentram as atenções entre as grandes empresas, enquanto os dados de emprego de setembro devem ajudar a calibrar as expectativas em torno do início do ciclo de cortes da Selic. O consenso do mercado aponta para uma leve desaceleração na criação de vagas e uma moderação no crescimento dos salários, sinais que reforçam o cenário de convergência da inflação para a meta e abrem espaço para reduções graduais de juros ao longo de 2026.
Na semana passada, o IPCA-15 de outubro confirmou essa tendência mais benigna ao subir apenas 0,18% no mês e acumular alta de 4,94% em 12 meses — ambos os números abaixo das estimativas de mercado. A leitura reforça a percepção de que a política monetária segue atuando de forma eficaz, especialmente sobre a dinâmica dos serviços e dos bens industriais, sustentando o processo de desinflação.
No front político, o encontro entre o presidente Lula e Donald Trump marcou um avanço importante nas relações bilaterais, com compromissos de revisão tarifária e ampliação do diálogo econômico entre Brasil e Estados Unidos — movimento que tende a beneficiar o comércio e o fluxo de investimentos entre os dois países.
Em Brasília, o foco recai sobre o esforço da equipe econômica para recompor receitas e manter o equilíbrio fiscal. O governo pretende aproveitar a semana de esforço concentrado na Câmara dos Deputados para retomar medidas que haviam sido derrubadas com a caducidade da MP do IOF, buscando recuperar parte da arrecadação e ajustar o Orçamento de 2026. Entre as propostas em discussão, estão limites para compensações tributárias, regras mais rígidas para o seguro-defeso e ajustes em programas sociais, medidas que podem gerar alívio fiscal relevante e contribuir para sustentar a confiança dos investidores.
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· 01:49 — Confirmando o corte da semana
A leitura mais recente do índice de preços ao consumidor (CPI) nos Estados Unidos trouxe alívio aos mercados e reforçou a percepção de que o Federal Reserve seguirá com seu plano de corte de juros. A inflação de setembro subiu 0,3% no mês e 3% em 12 meses — levemente abaixo das expectativas, que apontavam 0,4% e 3,1%, respectivamente. O dado, divulgado em meio à paralisação parcial do governo, foi suficiente para reacender o otimismo de que o ciclo de desinflação permanece consistente, permitindo ao Fed concentrar esforços no enfraquecido mercado de trabalho. Essa leitura mais branda do CPI impulsionou os índices acionários americanos, com o Dow Jones superando a marca histórica dos 47 mil pontos, enquanto o S&P 500 e o Nasdaq renovaram recordes de fechamento.
Apesar do alívio, a inflação ainda está acima da meta de 2% do Fed e continua pesando sobre o custo de vida, com aumentos expressivos em itens como café, carne e serviços. Além disso, as tarifas comerciais podem reacender pressões inflacionárias nos próximos meses, especialmente em bens importados. Mesmo assim, o cenário predominante é de moderação gradual dos preços e de política monetária mais flexível, o que cria um ambiente favorável para ativos de risco. A atenção dos investidores agora se volta à reunião entre Donald Trump e Xi Jinping, que pode contribuir para aliviar tensões comerciais e sustentar o sentimento positivo dos mercados globais.
· 02:34 — Fase de distensão
As tensões comerciais entre EUA e China parecem, enfim, entrar em um período de trégua após semanas de escalada. A decisão de Washington de retirar a ameaça de tarifas de 100% sobre produtos chineses sinaliza uma tentativa de reconstruir pontes diplomáticas antes do aguardado encontro entre Trump e Xi Jinping. As negociações conduzidas na Malásia indicaram avanços em temas sensíveis — como tarifas, controle de exportações, taxas de embarque e combate ao fentanil — e foram acompanhadas por um discurso mais conciliador de ambos os lados. O Partido Comunista chegou a conclamar às economias a preservarem as conquistas, um gesto que simboliza o desejo de estabilizar uma relação bilateral que vinha se deteriorando.
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· 03:21 — A necessidade energética
A Constellation Energy consolidou-se como um dos grandes símbolos da nova era energética moldada pela inteligência artificial. A companhia, que administra 21 reatores nucleares e prepara a aquisição da Calpine — uma das maiores geradoras de energia a gás dos Estados Unidos —, está prestes a se tornar uma fornecedora essencial para dezenas de milhões de residências e para gigantes da tecnologia como Microsoft e Meta. Desde que se desvinculou da Exelon há apenas três anos, suas ações acumularam valorização superior a 750%, elevando seu valor de mercado a mais de US$ 120 bilhões. O diferencial competitivo da Constellation reside na oferta de energia limpa, confiável e em grande escala — um recurso que se tornou central em um mundo em que a eletricidade é o novo combustível da revolução digital.
Posicionada no epicentro da transição energética global, a empresa busca converter o atual boom de demanda por eletricidade em um ciclo de crescimento sustentável e duradouro, evitando os erros cometidos por companhias que sucumbiram em períodos de euforia no passado. O desafio é monumental: estima-se que, até 2030, os data centers dedicados à IA multipliquem por dez seu consumo de energia — o equivalente à construção de 45 novos reatores nucleares. Com uma estratégia prudente, sua liderança reconhece a competição com players de enorme poder financeiro, mas vê na Constellation uma ponte entre o tradicional setor elétrico e o futuro digital — um futuro em que a segurança energética deixará de ser apenas um requisito técnico para se tornar um ativo estratégico de primeira ordem na era da inteligência artificial.
· 04:18 — Kirchnerismo, game over: Milei assume o volante e deverá pisar no acelerador das reformas
A vitória expressiva do partido de Javier Milei nas eleições legislativas argentinas de meio de mandato — com mais de 40% dos votos e uma expansão significativa de sua base no Congresso — representa um marco político de grande simbolismo para a região. Em um pleito considerado um referendo sobre sua agenda de austeridade e liberalização econômica, Milei conseguiu não apenas consolidar apoio interno após meses de desgaste, mas também transformar a disputa em um sinal de força de seu projeto reformista. Ao conquistar 64 das 127 cadeiras em disputa na Câmara e avançar também no Senado, o governo passa a contar com poder suficiente para proteger vetos e impulsionar reformas estruturais. O resultado surpreendeu os mercados, reacendeu o otimismo com os ativos argentinos e reforçou o apoio dos Estados Unidos, que recentemente ampliaram linhas de crédito e swap cambial com Buenos Aires.
Mais do que um episódio isolado, o avanço de Milei se insere em uma tendência mais ampla de mudança política na América Latina, como tenho defendido há meses — um movimento de reação ao esgotamento dos modelos populistas, estatizantes e intervencionistas que dominaram o continente nas últimas décadas. O caso argentino ecoa transformações recentes observadas na Bolívia, onde o eleitorado também começou a sinalizar cansaço com o estatismo e o discurso de dependência estatal. A ascensão de plataformas mais liberais, pró-mercado e voltadas à eficiência fiscal sugere que o continente pode estar iniciando uma reconfiguração de ciclo político, marcada por maior pragmatismo econômico e busca por estabilidade. O desfecho argentino, portanto, pode servir de espelho e inspiração para outras nações latino-americanas que irão às urnas nos próximos meses, em um ambiente de crescente demanda por reformas, responsabilidade fiscal e liberdade econômica.
· 05:02 — Depois da correção
O ouro passou por uma correção significativa na última semana, recuando 5,7% em apenas um dia — um movimento estatisticamente raro após meses de valorização constante. A realização de lucros reacendeu o debate sobre o caráter especulativo dos fluxos recentes, embora a demanda estrutural siga firme, sustentada pelas compras de bancos centrais e pelo consumo asiático. Mesmo diante dessa oscilação, o metal mantém sua função essencial como instrumento de diversificação e proteção contra riscos fiscais, cambiais e de liquidez. O movimento ocorreu em um contexto de inflação em desaceleração e atividade econômica ainda sólida, cenário conhecido como “Goldilocks” — equilibrado o bastante para evitar tanto o sobreaquecimento inflacionário quanto a recessão, e, portanto, favorável à sustentação do preço do ouro.
Apesar da aparente estabilidade, o ambiente global permanece sensível. Com ativos próximos de máximas históricas e condições técnicas mais esticadas, o espaço para …