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Investimentos

Milei reacende espírito pró-mercado na América Latina e encontro de Trump e Lula; veja destaques

No campo geopolítico, as eleições legislativas da Argetina e os encontros entre presidentes na Malásia devem ecoar no mercado hoje.

Por Matheus Spiess

27 out 2025, 09:39

Atualizado em 27 out 2025, 09:39

argentina bolsa de valores

Imagem: Pixabay

O mercado internacional inicia a semana em clima de entusiasmo, impulsionada por uma intensa agenda que combina a divulgação dos balanços das gigantes de tecnologia com a penúltima reunião do Federal Reserve no ano. O mercado precifica amplamente um novo corte de 25 pontos-base nos juros, após o dado de inflação norte-americana vir abaixo das expectativas — sinal de que o ciclo de afrouxamento monetário deve prosseguir. A temporada de resultados ganha força com as “Sete Magníficas” no centro das atenções — Microsoft, Alphabet, Meta, Apple e Amazon —, cujo desempenho tende a definir o tom dos mercados. No cenário global, investidores também observam atentamente a viagem de Donald Trump à Ásia, marcada por encontros com Lula, Xi Jinping e Sanae Takaichi, em meio ao fortalecimento dos mercados japonês e chinês diante do alívio nas tensões comerciais.

Na América Latina, o destaque fica por conta da vitória expressiva de Javier Milei nas eleições legislativas da Argentina, que deve consolidar sua agenda liberal e ampliar o respaldo político necessário para seguir adiante com suas reformas econômicas. O resultado provocou uma reação imediata dos mercados — o ETF argentino chegou a subir mais de 17% no pré-mercado — e reforça a percepção de uma virada estrutural pró-mercado na região. O pano de fundo internacional também segue favorável, com avanços diplomáticos como a reaproximação entre Trump e Lula e as tratativas para um acordo comercial entre Estados Unidos e China, somando-se à expectativa de cortes de juros globais e sustentando o apetite por risco nos principais mercados.

· 00:53 — Entre conversas e decisões

No Brasil, a semana será movimentada, com destaque para a intensificação da temporada de resultado e para a divulgação de indicadores-chave do mercado de trabalho. Bradesco, Santander e Vale concentram as atenções entre as grandes empresas, enquanto os dados de emprego de setembro devem ajudar a calibrar as expectativas em torno do início do ciclo de cortes da Selic. O consenso do mercado aponta para uma leve desaceleração na criação de vagas e uma moderação no crescimento dos salários, sinais que reforçam o cenário de convergência da inflação para a meta e abrem espaço para reduções graduais de juros ao longo de 2026.

Na semana passada, o IPCA-15 de outubro confirmou essa tendência mais benigna ao subir apenas 0,18% no mês e acumular alta de 4,94% em 12 meses — ambos os números abaixo das estimativas de mercado. A leitura reforça a percepção de que a política monetária segue atuando de forma eficaz, especialmente sobre a dinâmica dos serviços e dos bens industriais, sustentando o processo de desinflação. 

No front político, o encontro entre o presidente Lula e Donald Trump marcou um avanço importante nas relações bilaterais, com compromissos de revisão tarifária e ampliação do diálogo econômico entre Brasil e Estados Unidos — movimento que tende a beneficiar o comércio e o fluxo de investimentos entre os dois países.

Em Brasília, o foco recai sobre o esforço da equipe econômica para recompor receitas e manter o equilíbrio fiscal. O governo pretende aproveitar a semana de esforço concentrado na Câmara dos Deputados para retomar medidas que haviam sido derrubadas com a caducidade da MP do IOF, buscando recuperar parte da arrecadação e ajustar o Orçamento de 2026. Entre as propostas em discussão, estão limites para compensações tributárias, regras mais rígidas para o seguro-defeso e ajustes em programas sociais, medidas que podem gerar alívio fiscal relevante e contribuir para sustentar a confiança dos investidores.

· 01:49 — Confirmando o corte da semana

A leitura mais recente do índice de preços ao consumidor (CPI) nos Estados Unidos trouxe alívio aos mercados e reforçou a percepção de que o Federal Reserve seguirá com seu plano de corte de juros. A inflação de setembro subiu 0,3% no mês e 3% em 12 meses — levemente abaixo das expectativas, que apontavam 0,4% e 3,1%, respectivamente. O dado, divulgado em meio à paralisação parcial do governo, foi suficiente para reacender o otimismo de que o ciclo de desinflação permanece consistente, permitindo ao Fed concentrar esforços no enfraquecido mercado de trabalho. Essa leitura mais branda do CPI impulsionou os índices acionários americanos, com o Dow Jones superando a marca histórica dos 47 mil pontos, enquanto o S&P 500 e o Nasdaq renovaram recordes de fechamento.

Apesar do alívio, a inflação ainda está acima da meta de 2% do Fed e continua pesando sobre o custo de vida, com aumentos expressivos em itens como café, carne e serviços. Além disso, as tarifas comerciais podem reacender pressões inflacionárias nos próximos meses, especialmente em bens importados. Mesmo assim, o cenário predominante é de moderação gradual dos preços e de política monetária mais flexível, o que cria um ambiente favorável para ativos de risco. A atenção dos investidores agora se volta à reunião entre Donald Trump e Xi Jinping, que pode contribuir para aliviar tensões comerciais e sustentar o sentimento positivo dos mercados globais.

· 02:34 — Fase de distensão

As tensões comerciais entre EUA e China parecem, enfim, entrar em um período de trégua após semanas de escalada. A decisão de Washington de retirar a ameaça de tarifas de 100% sobre produtos chineses sinaliza uma tentativa de reconstruir pontes diplomáticas antes do aguardado encontro entre Trump e Xi Jinping. As negociações conduzidas na Malásia indicaram avanços em temas sensíveis — como tarifas, controle de exportações, taxas de embarque e combate ao fentanil — e foram acompanhadas por um discurso mais conciliador de ambos os lados. O Partido Comunista chegou a conclamar às economias a preservarem as conquistas, um gesto que simboliza o desejo de estabilizar uma relação bilateral que vinha se deteriorando.

· 03:21 — A necessidade energética

A Constellation Energy consolidou-se como um dos grandes símbolos da nova era energética moldada pela inteligência artificial. A companhia, que administra 21 reatores nucleares e prepara a aquisição da Calpine — uma das maiores geradoras de energia a gás dos Estados Unidos —, está prestes a se tornar uma fornecedora essencial para dezenas de milhões de residências e para gigantes da tecnologia como Microsoft e Meta. Desde que se desvinculou da Exelon há apenas três anos, suas ações acumularam valorização superior a 750%, elevando seu valor de mercado a mais de US$ 120 bilhões. O diferencial competitivo da Constellation reside na oferta de energia limpa, confiável e em grande escala — um recurso que se tornou central em um mundo em que a eletricidade é o novo combustível da revolução digital.

Posicionada no epicentro da transição energética global, a empresa busca converter o atual boom de demanda por eletricidade em um ciclo de crescimento sustentável e duradouro, evitando os erros cometidos por companhias que sucumbiram em períodos de euforia no passado. O desafio é monumental: estima-se que, até 2030, os data centers dedicados à IA multipliquem por dez seu consumo de energia — o equivalente à construção de 45 novos reatores nucleares. Com uma estratégia prudente, sua liderança reconhece a competição com players de enorme poder financeiro, mas vê na Constellation uma ponte entre o tradicional setor elétrico e o futuro digital — um futuro em que a segurança energética deixará de ser apenas um requisito técnico para se tornar um ativo estratégico de primeira ordem na era da inteligência artificial.

· 04:18 — Kirchnerismo, game over: Milei assume o volante e deverá pisar no acelerador das reformas

A vitória expressiva do partido de Javier Milei nas eleições legislativas argentinas de meio de mandato — com mais de 40% dos votos e uma expansão significativa de sua base no Congresso — representa um marco político de grande simbolismo para a região. Em um pleito considerado um referendo sobre sua agenda de austeridade e liberalização econômica, Milei conseguiu não apenas consolidar apoio interno após meses de desgaste, mas também transformar a disputa em um sinal de força de seu projeto reformista. Ao conquistar 64 das 127 cadeiras em disputa na Câmara e avançar também no Senado, o governo passa a contar com poder suficiente para proteger vetos e impulsionar reformas estruturais. O resultado surpreendeu os mercados, reacendeu o otimismo com os ativos argentinos e reforçou o apoio dos Estados Unidos, que recentemente ampliaram linhas de crédito e swap cambial com Buenos Aires.

Mais do que um episódio isolado, o avanço de Milei se insere em uma tendência mais ampla de mudança política na América Latina, como tenho defendido há meses — um movimento de reação ao esgotamento dos modelos populistas, estatizantes e intervencionistas que dominaram o continente nas últimas décadas. O caso argentino ecoa transformações recentes observadas na Bolívia, onde o eleitorado também começou a sinalizar cansaço com o estatismo e o discurso de dependência estatal. A ascensão de plataformas mais liberais, pró-mercado e voltadas à eficiência fiscal sugere que o continente pode estar iniciando uma reconfiguração de ciclo político, marcada por maior pragmatismo econômico e busca por estabilidade. O desfecho argentino, portanto, pode servir de espelho e inspiração para outras nações latino-americanas que irão às urnas nos próximos meses, em um ambiente de crescente demanda por reformas, responsabilidade fiscal e liberdade econômica.

· 05:02 — Depois da correção

O ouro passou por uma correção significativa na última semana, recuando 5,7% em apenas um dia — um movimento estatisticamente raro após meses de valorização constante. A realização de lucros reacendeu o debate sobre o caráter especulativo dos fluxos recentes, embora a demanda estrutural siga firme, sustentada pelas compras de bancos centrais e pelo consumo asiático. Mesmo diante dessa oscilação, o metal mantém sua função essencial como instrumento de diversificação e proteção contra riscos fiscais, cambiais e de liquidez. O movimento ocorreu em um contexto de inflação em desaceleração e atividade econômica ainda sólida, cenário conhecido como “Goldilocks” — equilibrado o bastante para evitar tanto o sobreaquecimento inflacionário quanto a recessão, e, portanto, favorável à sustentação do preço do ouro.

Apesar da aparente estabilidade, o ambiente global permanece sensível. Com ativos próximos de máximas históricas e condições técnicas mais esticadas, o espaço para …

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.