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A geopolítica voltou a dominar as manchetes. Ao menos até aqui, contudo, o ataque aéreo de Israel em Doha, capital do Catar, que matou membros do Hamas, teve efeito limitado sobre o petróleo, enquanto relatos de incursões russas no espaço aéreo polonês e a renúncia do primeiro-ministro japonês não provocaram grandes movimentos de preços. Já na Europa, a crise política francesa ganhou novo capítulo com Emmanuel Macron nomeando Sébastien Lecornu como o quinto premiê em menos de dois anos, em meio a protestos que questionam a viabilidade de cortes fiscais em um Parlamento fragmentado. No Brasil, o foco está no julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no STF, que eleva o risco de atritos diplomáticos e potenciais sanções americanas. Paralelamente, investidores acompanham indicadores decisivos: nos EUA, o PPI (hoje) e o CPI (amanhã) devem orientar os próximos passos do Federal Reserve; no Brasil, a leitura do IPCA de agosto pode abrir espaço para cortes na Selic já a partir de dezembro, reforçando a tese de suporte aos ativos locais.
No campo corporativo, os holofotes se voltaram para a Apple, que apresentou sua nova linha de produtos. O destaque foi o iPhone 17 Air — o mais fino já lançado pela companhia, além dos modelos Pro com melhorias em câmeras e bateria. Apesar do apelo de design e desempenho, o evento trouxe pouco avanço em inteligência artificial, tema sensível para investidores, o que se refletiu em uma queda nas ações da empresa. Na Ásia, os mercados acionários avançaram embalados pelo otimismo de cortes de juros nos EUA e pela força de Wall Street, ainda que a China siga mostrando sinais contraditórios de deflação. Já na Europa, o índice Stoxx 600 encontra fôlego nesta manhã graças ao bom desempenho de Inditex (varejo) e Novo Nordisk (saúde), compensando parcialmente a grande turbulência política e fiscal em Paris.
· 00:57 — Medo de novas sanções
No Brasil, em uma sessão marcada por agenda esvaziada, o Ibovespa encerrou em leve queda, enquanto o dólar avançou, refletindo a cautela dos investidores diante da retomada do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal retoma hoje o processo, que já conta com dois votos pela condenação do ex-presidente, e cuja conclusão é esperada até sexta-feira. Como venho comentando, a principal preocupação dos mercados não está restrita ao resultado em si, mas às potenciais consequências diplomáticas. Ontem, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou não haver nenhuma ação adicional para antecipar, mas deixou aberta a possibilidade de novas sanções, caso o governo norte-americano julgue apropriado. A declaração foi recebida de forma negativa provocou resposta do Itamaraty, acendendo ainda mais os sinais de alerta. Nesse ambiente, a atenção recai hoje sobre o voto do ministro Luiz Fux, que deve se alinhar à condenação, mas já mostrou sinais de que deve divergir na dosimetria da pena.
Além do julgamento, a agenda doméstica conta com a divulgação do IPCA de agosto, que deve apontar deflação de 0,16% na comparação mensal e desaceleração da taxa anual de 5,23% para 5,08%. A forte queda decorre principalmente do impacto temporário do pagamento do bônus de Itaipu, da moderação dos preços das passagens aéreas (com deflação parcial já antecipada pelo IPCA-15) e de uma retração mais intensa nos preços de alimentação no domicílio. Olhando à frente, caminhamos para uma inflação abaixo de 5% até o final de 2025 — ainda bem acima da meta, mas em trajetória mais benigna. Somada a uma economia doméstica em desaceleração e à expectativa de cortes de juros nos Estados Unidos, essa dinâmica abre espaço para o Banco Central avaliar uma redução da Selic já em dezembro, movimento que seria recebido de forma bastante positiva pelos ativos locais.
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· 01:43 — Revisão
Nos EUA, o mercado acionário registrou um momento histórico: pela primeira vez desde dezembro, os três principais índices — Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq — encerraram o pregão em novas máximas simultâneas. O avanço ocorreu apesar de uma revisão expressiva do Bureau of Labor Statistics (BLS), que reduziu em 911 mil o número de vagas criadas nos 12 meses até março de 2025, revelando que a economia adicionou menos da metade dos empregos inicialmente reportados. Essa correção — a mais profunda desde o ano 2000 — trouxe uma dose de cautela, mas não foi suficiente para abalar o apetite por risco. Pelo contrário: a constatação de que o mercado de trabalho está mais frágil reforçou as apostas em cortes de juros pelo Federal Reserve. O mercado agora precifica com mais de 90% de chance de um movimento de 25 pontos-base já na reunião da semana que vem, o que ajudou a sustentar o rali.
Mesmo em meio à volatilidade dos indicadores, os investidores reagiram com serenidade, em contraste com o pano de fundo político cada vez mais conturbado. A demissão da chefe do BLS por Trump e a tentativa — temporariamente bloqueada pela Justiça — de remover a governadora Lisa Cook do Fed ilustram as pressões sobre a independência da instituição monetária. Paralelamente, a atenção se volta para a divulgação dos próximos dados de preços nos EUA, com o PPI previsto para hoje e o CPI amanhã, que devem calibrar as expectativas sobre a velocidade do ciclo de afrouxamento monetário. No front internacional, Trump voltou a acenar com novas tarifas contra Índia e China, condicionadas ao apoio da União Europeia — um movimento que mantém no radar riscos adicionais para cadeias globais de suprimento e potenciais pressões inflacionárias. Assim, o mercado encontra-se diante de um paradoxo: celebra máximas históricas em Wall Street, ao mesmo tempo em que convive com sinais claros de desaquecimento da economia real e com a escalada da incerteza política e geopolítica que pode definir os próximos passos do ciclo de juros.
· 02:34 — As novidades
A Apple realizou ontem o evento Awe Dropping, trazendo ao mercado sua nova linha de produtos, com protagonismo para os iPhones 17, 17 Pro e 17 Pro Max, além da grande novidade: o iPhone Air, o modelo mais fino já lançado pela companhia, com apenas 5,6 mm de espessura. A versão “Air” chega com vidro mais resistente, processador mais rápido e um design renovado, mas também suscita questionamentos relevantes sobre a autonomia da bateria — possivelmente comprometida pelo formato ultrafino — e sobre o equilíbrio entre preço e valor entregue. Posicionado a partir de US$ 999, o Air custa apenas US$ 100 a menos que o 17 Pro, o que pode limitar seu apelo em termos de custo-benefício. Além dos smartphones, a Apple apresentou o Apple Watch Series 11, o SE3 e o Ultra 3, todos com novos recursos de saúde e conectividade, e os AirPods Pro 3, que incorporaram tradução em tempo real por inteligência artificial (pode ser revolucionário), maior duração de bateria e cancelamento de ruído mais sofisticado. Apesar da relevância das novidades, o mercado financeiro reagiu com frieza: as ações da companhia recuaram cerca de 1,4% no pregão, em linha com o histórico de quedas nos dias de lançamento de iPhones.
O ponto mais criticado do evento, contudo, foi a falta de protagonismo da inteligência artificial — tema que domina a narrativa tecnológica global e no qual a Apple aparece atrasada em relação a rivais como Microsoft, Google e Meta. A empresa admitiu que a versão avançada da Siri com recursos de IA só deve chegar em 2026, reforçando a percepção de cautela excessiva diante de um setor que concentra as maiores expectativas de crescimento no mercado. Esse distanciamento do debate central da indústria ajuda a explicar o desempenho fraco das ações no ano, com queda de 6,4%, bem abaixo dos ganhos de 13% do Nasdaq e de 11% do S&P 500. Ainda assim, o iPhone Air pode funcionar como catalisador de uma nova onda de atualizações, atraindo consumidores que aguardavam por uma mudança mais marcante no design. Caso a novidade consiga engajar esse público e sustentar margens mesmo com preços mais altos, a Apple tem espaço para recuperar parte da confiança dos investidores e reafirmar sua relevância no grupo das gigantes de tecnologia — ainda que o entusiasmo tenha ficado aquém das expectativas em um primeiro momento.
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· 03:29 — Ataque aéreo
Israel conduziu um ataque aéreo em Doha, capital do Catar, que resultou na morte de pelo menos cinco pessoas, incluindo integrantes da alta cúpula do Hamas. A operação, realizada em pleno território catariano, acendeu um alerta vermelho na região: além de ser o principal mediador das negociações de cessar-fogo, o Catar mantém relações estratégicas tanto com os Estados Unidos — ao hospedar a maior base aérea americana no Oriente Médio e prometer investimentos de US$ 500 bilhões no país — quanto com vizinhos como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. O ataque vai além de um ato militar, representando um potencial divisor de águas diplomático, com risco de desestabilizar as já frágeis conversas de paz e de comprometer o processo, ainda incipiente, de normalização das relações entre Israel e os países do Golfo.
Do lado político, a repercussão foi imediata. Donald Trump afirmou ter sido informado tarde demais para impedir a ação, mas poupou críticas diretas a Israel e ao primeiro-ministro Netanyahu — que, por sua vez, celebrou a operação em discurso na embaixada americana em Jerusalém. Para Tel Aviv, a ofensiva integra a estratégia de acelerar o desfecho do conflito em Gaza, ainda que não haja indícios de rendição por parte do Hamas ou de moderação nas operações militares israelenses. O episódio adiciona uma nova camada de incerteza ao xadrez geopolítico e repercute sobre os mercados globais, ao reforçar a percepção de que a instabilidade no Oriente Médio pode ganhar tração e respingar diretamente nos fluxos financeiros internacionais.
· 04:15 — Inédito
A Polônia protagonizou um episódio inédito desde o início da guerra na Ucrânia: caças poloneses, com suporte de aeronaves da OTAN, derrubaram drones que violaram seu espaço aéreo durante um ataque da Rússia contra Kiev. Segundo o governo local, 19 objetos cruzaram a fronteira, dos quais apenas os que representavam risco efetivo foram neutralizados. O incidente levou ao fechamento temporário dos aeroportos de Varsóvia e Lublin e foi classificado pelo primeiro-ministro Donald Tusk como uma provocação. Em resposta, ele acionou o artigo 4º do tratado da OTAN, convocando consultas emergenciais com os aliados. Moscou, por sua vez, negou envolvimento, enquanto autoridades europeias sugeriram tratar-se de uma violação deliberada. Já o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, afirmou que drones de fabricação iraniana, usados pela Rússia, chegaram a ser direcionados contra o território polonês. O episódio acentuou os temores de que o conflito possa transbordar para um choque direto entre Moscou e a aliança atlântica, elevando a percepção de risco geopolítico.
No campo diplomático, a reação foi rápida. A União Europeia defendeu o reforço das defesas aéreas do bloco e anunciou novos planos de sanções, mirando tanto os petroleiros que transportam petróleo russo quanto os países que ainda compram essa commodity. O episódio também serviu de gatilho para conversas mais duras com os Estados Unidos sobre a possibilidade de medidas coordenadas contra a Rússia. Para os mercados, a mensagem é clara: a escalada militar na fronteira oriental da OTAN não apenas aumenta a aversão a risco na Europa, mas também adiciona uma camada extra de vulnerabilidade a um continente já pressionado por déficits fiscais elevados, desafios de crescimento e fragilidade estrutural. Nesse ambiente, choques externos — sobretudo de natureza geopolítica — tendem a ter impacto ampliado sobre ativos europeus, reforçando a importância de cautela e diversificação nas alocações.
· 05:01 — Firmeza mesmo diante da dúvida
O mercado de ações vive hoje um dilema central: até que ponto o entusiasmo em torno da inteligência artificial (IA) se converterá, de fato, em ganhos tangíveis de produtividade e prosperidade econômica?