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Investimentos

Novo capítulo do julgamento de Bolsonaro, ataque de Israel em Doha, novo premiê na França: Veja o que ocupa os holofotes no mercado nesta quarta-feira (10)

O Ibovespa reflete cautela diante da retomada do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. Leia mais.

Por Matheus Spiess

10 set 2025, 09:10

Atualizado em 10 set 2025, 09:10

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Imagem: iStock/ Hankimage9

A geopolítica voltou a dominar as manchetes. Ao menos até aqui, contudo, o ataque aéreo de Israel em Doha, capital do Catar, que matou membros do Hamas, teve efeito limitado sobre o petróleo, enquanto relatos de incursões russas no espaço aéreo polonês e a renúncia do primeiro-ministro japonês não provocaram grandes movimentos de preços. Já na Europa, a crise política francesa ganhou novo capítulo com Emmanuel Macron nomeando Sébastien Lecornu como o quinto premiê em menos de dois anos, em meio a protestos que questionam a viabilidade de cortes fiscais em um Parlamento fragmentado. No Brasil, o foco está no julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro no STF, que eleva o risco de atritos diplomáticos e potenciais sanções americanas. Paralelamente, investidores acompanham indicadores decisivos: nos EUA, o PPI (hoje) e o CPI (amanhã) devem orientar os próximos passos do Federal Reserve; no Brasil, a leitura do IPCA de agosto pode abrir espaço para cortes na Selic já a partir de dezembro, reforçando a tese de suporte aos ativos locais.

No campo corporativo, os holofotes se voltaram para a Apple, que apresentou sua nova linha de produtos. O destaque foi o iPhone 17 Air — o mais fino já lançado pela companhia, além dos modelos Pro com melhorias em câmeras e bateria. Apesar do apelo de design e desempenho, o evento trouxe pouco avanço em inteligência artificial, tema sensível para investidores, o que se refletiu em uma queda nas ações da empresa. Na Ásia, os mercados acionários avançaram embalados pelo otimismo de cortes de juros nos EUA e pela força de Wall Street, ainda que a China siga mostrando sinais contraditórios de deflação. Já na Europa, o índice Stoxx 600 encontra fôlego nesta manhã graças ao bom desempenho de Inditex (varejo) e Novo Nordisk (saúde), compensando parcialmente a grande turbulência política e fiscal em Paris. 

· 00:57 — Medo de novas sanções

No Brasil, em uma sessão marcada por agenda esvaziada, o Ibovespa encerrou em leve queda, enquanto o dólar avançou, refletindo a cautela dos investidores diante da retomada do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal retoma hoje o processo, que já conta com dois votos pela condenação do ex-presidente, e cuja conclusão é esperada até sexta-feira. Como venho comentando, a principal preocupação dos mercados não está restrita ao resultado em si, mas às potenciais consequências diplomáticas. Ontem, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou não haver nenhuma ação adicional para antecipar, mas deixou aberta a possibilidade de novas sanções, caso o governo norte-americano julgue apropriado. A declaração foi recebida de forma negativa provocou resposta do Itamaraty, acendendo ainda mais os sinais de alerta. Nesse ambiente, a atenção recai hoje sobre o voto do ministro Luiz Fux, que deve se alinhar à condenação, mas já mostrou sinais de que deve divergir na dosimetria da pena.

Além do julgamento, a agenda doméstica conta com a divulgação do IPCA de agosto, que deve apontar deflação de 0,16% na comparação mensal e desaceleração da taxa anual de 5,23% para 5,08%. A forte queda decorre principalmente do impacto temporário do pagamento do bônus de Itaipu, da moderação dos preços das passagens aéreas (com deflação parcial já antecipada pelo IPCA-15) e de uma retração mais intensa nos preços de alimentação no domicílio. Olhando à frente, caminhamos para uma inflação abaixo de 5% até o final de 2025 — ainda bem acima da meta, mas em trajetória mais benigna. Somada a uma economia doméstica em desaceleração e à expectativa de cortes de juros nos Estados Unidos, essa dinâmica abre espaço para o Banco Central avaliar uma redução da Selic já em dezembro, movimento que seria recebido de forma bastante positiva pelos ativos locais.

· 01:43 — Revisão

Nos EUA, o mercado acionário registrou um momento histórico: pela primeira vez desde dezembro, os três principais índices — Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq — encerraram o pregão em novas máximas simultâneas. O avanço ocorreu apesar de uma revisão expressiva do Bureau of Labor Statistics (BLS), que reduziu em 911 mil o número de vagas criadas nos 12 meses até março de 2025, revelando que a economia adicionou menos da metade dos empregos inicialmente reportados. Essa correção — a mais profunda desde o ano 2000 — trouxe uma dose de cautela, mas não foi suficiente para abalar o apetite por risco. Pelo contrário: a constatação de que o mercado de trabalho está mais frágil reforçou as apostas em cortes de juros pelo Federal Reserve. O mercado agora precifica com mais de 90% de chance de um movimento de 25 pontos-base já na reunião da semana que vem, o que ajudou a sustentar o rali.

Mesmo em meio à volatilidade dos indicadores, os investidores reagiram com serenidade, em contraste com o pano de fundo político cada vez mais conturbado. A demissão da chefe do BLS por Trump e a tentativa — temporariamente bloqueada pela Justiça — de remover a governadora Lisa Cook do Fed ilustram as pressões sobre a independência da instituição monetária. Paralelamente, a atenção se volta para a divulgação dos próximos dados de preços nos EUA, com o PPI previsto para hoje e o CPI amanhã, que devem calibrar as expectativas sobre a velocidade do ciclo de afrouxamento monetário. No front internacional, Trump voltou a acenar com novas tarifas contra Índia e China, condicionadas ao apoio da União Europeia — um movimento que mantém no radar riscos adicionais para cadeias globais de suprimento e potenciais pressões inflacionárias. Assim, o mercado encontra-se diante de um paradoxo: celebra máximas históricas em Wall Street, ao mesmo tempo em que convive com sinais claros de desaquecimento da economia real e com a escalada da incerteza política e geopolítica que pode definir os próximos passos do ciclo de juros.

· 02:34 — As novidades

A Apple realizou ontem o evento Awe Dropping, trazendo ao mercado sua nova linha de produtos, com protagonismo para os iPhones 17, 17 Pro e 17 Pro Max, além da grande novidade: o iPhone Air, o modelo mais fino já lançado pela companhia, com apenas 5,6 mm de espessura. A versão “Air” chega com vidro mais resistente, processador mais rápido e um design renovado, mas também suscita questionamentos relevantes sobre a autonomia da bateria — possivelmente comprometida pelo formato ultrafino — e sobre o equilíbrio entre preço e valor entregue. Posicionado a partir de US$ 999, o Air custa apenas US$ 100 a menos que o 17 Pro, o que pode limitar seu apelo em termos de custo-benefício. Além dos smartphones, a Apple apresentou o Apple Watch Series 11, o SE3 e o Ultra 3, todos com novos recursos de saúde e conectividade, e os AirPods Pro 3, que incorporaram tradução em tempo real por inteligência artificial (pode ser revolucionário), maior duração de bateria e cancelamento de ruído mais sofisticado. Apesar da relevância das novidades, o mercado financeiro reagiu com frieza: as ações da companhia recuaram cerca de 1,4% no pregão, em linha com o histórico de quedas nos dias de lançamento de iPhones.

O ponto mais criticado do evento, contudo, foi a falta de protagonismo da inteligência artificial — tema que domina a narrativa tecnológica global e no qual a Apple aparece atrasada em relação a rivais como Microsoft, Google e Meta. A empresa admitiu que a versão avançada da Siri com recursos de IA só deve chegar em 2026, reforçando a percepção de cautela excessiva diante de um setor que concentra as maiores expectativas de crescimento no mercado. Esse distanciamento do debate central da indústria ajuda a explicar o desempenho fraco das ações no ano, com queda de 6,4%, bem abaixo dos ganhos de 13% do Nasdaq e de 11% do S&P 500. Ainda assim, o iPhone Air pode funcionar como catalisador de uma nova onda de atualizações, atraindo consumidores que aguardavam por uma mudança mais marcante no design. Caso a novidade consiga engajar esse público e sustentar margens mesmo com preços mais altos, a Apple tem espaço para recuperar parte da confiança dos investidores e reafirmar sua relevância no grupo das gigantes de tecnologia — ainda que o entusiasmo tenha ficado aquém das expectativas em um primeiro momento.

· 03:29 — Ataque aéreo

Israel conduziu um ataque aéreo em Doha, capital do Catar, que resultou na morte de pelo menos cinco pessoas, incluindo integrantes da alta cúpula do Hamas. A operação, realizada em pleno território catariano, acendeu um alerta vermelho na região: além de ser o principal mediador das negociações de cessar-fogo, o Catar mantém relações estratégicas tanto com os Estados Unidos — ao hospedar a maior base aérea americana no Oriente Médio e prometer investimentos de US$ 500 bilhões no país — quanto com vizinhos como Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos. O ataque vai além de um ato militar, representando um potencial divisor de águas diplomático, com risco de desestabilizar as já frágeis conversas de paz e de comprometer o processo, ainda incipiente, de normalização das relações entre Israel e os países do Golfo.

Do lado político, a repercussão foi imediata. Donald Trump afirmou ter sido informado tarde demais para impedir a ação, mas poupou críticas diretas a Israel e ao primeiro-ministro Netanyahu — que, por sua vez, celebrou a operação em discurso na embaixada americana em Jerusalém. Para Tel Aviv, a ofensiva integra a estratégia de acelerar o desfecho do conflito em Gaza, ainda que não haja indícios de rendição por parte do Hamas ou de moderação nas operações militares israelenses. O episódio adiciona uma nova camada de incerteza ao xadrez geopolítico e repercute sobre os mercados globais, ao reforçar a percepção de que a instabilidade no Oriente Médio pode ganhar tração e respingar diretamente nos fluxos financeiros internacionais.

· 04:15 — Inédito

A Polônia protagonizou um episódio inédito desde o início da guerra na Ucrânia: caças poloneses, com suporte de aeronaves da OTAN, derrubaram drones que violaram seu espaço aéreo durante um ataque da Rússia contra Kiev. Segundo o governo local, 19 objetos cruzaram a fronteira, dos quais apenas os que representavam risco efetivo foram neutralizados. O incidente levou ao fechamento temporário dos aeroportos de Varsóvia e Lublin e foi classificado pelo primeiro-ministro Donald Tusk como uma provocação. Em resposta, ele acionou o artigo 4º do tratado da OTAN, convocando consultas emergenciais com os aliados. Moscou, por sua vez, negou envolvimento, enquanto autoridades europeias sugeriram tratar-se de uma violação deliberada. Já o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, afirmou que drones de fabricação iraniana, usados pela Rússia, chegaram a ser direcionados contra o território polonês. O episódio acentuou os temores de que o conflito possa transbordar para um choque direto entre Moscou e a aliança atlântica, elevando a percepção de risco geopolítico.

No campo diplomático, a reação foi rápida. A União Europeia defendeu o reforço das defesas aéreas do bloco e anunciou novos planos de sanções, mirando tanto os petroleiros que transportam petróleo russo quanto os países que ainda compram essa commodity. O episódio também serviu de gatilho para conversas mais duras com os Estados Unidos sobre a possibilidade de medidas coordenadas contra a Rússia. Para os mercados, a mensagem é clara: a escalada militar na fronteira oriental da OTAN não apenas aumenta a aversão a risco na Europa, mas também adiciona uma camada extra de vulnerabilidade a um continente já pressionado por déficits fiscais elevados, desafios de crescimento e fragilidade estrutural. Nesse ambiente, choques externos — sobretudo de natureza geopolítica — tendem a ter impacto ampliado sobre ativos europeus, reforçando a importância de cautela e diversificação nas alocações.

· 05:01 — Firmeza mesmo diante da dúvida

O mercado de ações vive hoje um dilema central: até que ponto o entusiasmo em torno da inteligência artificial (IA) se converterá, de fato, em ganhos tangíveis de produtividade e prosperidade econômica?

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.