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O mercado ignorou a pancada do IOF? Analista revela os verdadeiros motores da alta na bolsa brasileira

A reação positiva da bolsa após uma má notícia revela muito mais do que resiliência. Segundo Matheus Spiess, é sinal de que o Brasil pode estar no início de um novo ciclo de alta — mesmo em meio à turbulência.

Por Mariana Pavão

02 jun 2025, 13:33 - atualizado em 02 jun 2025, 13:33

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Imagem: iStock/manassanant pamai

Maio terminou com números animadores para a bolsa brasileira: o Ibovespa fechou o mês com alta de 1,45%, aos 137 mil pontos. No acumulado de 2025, o avanço já chega a 13,92%

Durante o mês, o índice chegou a ultrapassar os 140 mil pontos pela primeira vez na história em uma marca simbólica em meio a um noticiário carregado de ruídos fiscais e incertezas políticas.

O que surpreende é que uma das semanas de melhor desempenho veio justamente após a divulgação de uma medida polêmica: o aumento do IOF sobre operações no exterior.

“O mercado que reage bem a uma notícia ruim é um mercado de alta”, explicou Matheus Spiess, estrategista da Empiricus Research, em vídeo publicado no canal da casa. 

E é exatamente isso que parece estar acontecendo com o Brasil.

O que explica a reação positiva do mercado?

O anúncio do aumento do IOF causou mal-estar imediato no mercado. A medida desagradou até aliados do governo e gerou forte reação negativa, tanto que a Fazenda foi obrigada a recuar parcialmente na decisão.

No entanto, o cenário virou e o Ibovespa pareceu ignorar uma pancada que parecia certeira, com a bolsa subindo e o dólar caindo contra o real. 

Para Spiess, isso revela que há algo mais profundo guiando os preços:

“Talvez, e arrisco aqui a dizer, o fato de a gente ter subido nos conta uma história muito mais interessante.”

Na avaliação do estrategista, embora tenha sido mal recebido, o aumento do imposto pode funcionar, na prática, como um instrumento de aperto nas condições de crédito.

“O próprio IOF cumpre por tabela, de certo modo, um papel de contração monetária. O fato de você ter um IOF apertando as condições de crédito, pressionando um pouco os agentes da economia e ajuda o Banco Central na sua tarefa de contração”, afirma. 

Isso reforça a expectativa de que o Banco Central pode ter encerrado o ciclo de alta da Selic e já prepara terreno para futuros cortes.

“A partir do momento que você muda para essa outra conversa de corte de juros, as coisas já começam a mudar”, analisa. 

A expectativa de juros mais baixos tende a beneficiar os ativos de risco, e o mercado se antecipa a isso.

A política também entrou na conta

O aumento do IOF também teve impacto político relevante. A decisão desagradou inclusive partidos da base aliada, gerou desgastes internos e reacendeu críticas à condução econômica do governo. 

“Prejudica a credibilidade da ala econômica, que é vista como mais pragmática dentro desse governo”, apontou Spiess.

Essa fragilidade alimenta a tese do “pêndulo político”, uma narrativa crescente no mercado sobre a possibilidade de alternância de poder em 2026.

“Nas eleições de 2026, a gente pode ter uma migração do pêndulo para um governo mais pró-mercado, mais fiscalista, mais pró-reforma”, comentou. 

Com isso, o mercado começa a antecipar um eventual rali eleitoral, precificando cenários mais favoráveis para os ativos brasileiros.

Quando a má notícia reforça a tese de alta

O que parecia ser uma semana desastrosa virou um novo capítulo de alta da bolsa brasileira. 

A notícia ruim do aumento do IOF não apenas foi absorvida pelo mercado, como reforçou a leitura de que o Brasil está um ciclo de alta como um player importante na rotação dos portfólios globais

Essa movimentação vem sendo impulsionada também pelos riscos crescentes nos EUA, principalmente após as propostas fiscais de Donald Trump:

“Essa tensão com o novo governo Trump, agora passou a ser mais um vetor de incerteza comercial, fiscal, diplomático… fez com que houvesse uma necessidade de rotação dos portfólios ao nível global.”

Dentro desse cenário, “o Brasil, que apanhou que nem condenado no final do ano passado, tem apresentado um desempenho muito robusto”, aponta Spiess.

Entre ruídos, volatilidades e contradições, uma coisa é certa: o investidor que apenas lê as manchetes pode estar perdendo a história que o mercado realmente está contando.

Para conferir a análise de Matheus Spiess na íntegra, assista à transmissão no vídeo abaixo.

Sobre o autor

Mariana Pavão

Redatora dos portais Empiricus, Seu Dinheiro e MoneyTimes.