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Os mercados internacionais reforçaram quase unanimemente — em torno de 90%, segundo o CME FedWatch — a expectativa de um novo corte de juros pelo Federal Reserve na próxima semana, após o relatório do ADP revelar a eliminação de 32 mil vagas no setor privado, em vez da criação de 10 mil postos prevista pelo consenso. A fraqueza seria suficiente para justificar uma política monetária mais acomodatícia. Esse ambiente, combinado ao baixo temor de desemprego, que mantém elevada a confiança do consumidor, reforça a aposta em um ciclo que tende a sustentar ativos de risco.
Na manhã de hoje, o cenário é equilibrado no exterior. As bolsas europeias operam próximas da estabilidade, refletindo um tom construtivo antes da decisão do Fed e apoiadas por uma inflação na zona do euro, que segue muito próxima da meta, sugerindo um ambiente de política monetária menos restritivo. Na Ásia, o destaque foi o forte desempenho da bolsa de Tóquio, impulsionado tanto pelo otimismo global quanto pela expectativa de ajustes na política monetária do Banco do Japão. Já no mercado de commodities, o petróleo voltou a subir diante de novos ataques ucranianos à infraestrutura energética russa e da ausência de avanço nas negociações de paz.
· 00:57 — Os problemas de Brasília ainda não afetar a continuidade da alta
No Brasil, o clima mais benigno no exterior — em especial a crescente expectativa de corte de juros nos EUA — voltou a impulsionar os ativos locais, que já vinham se beneficiando das apostas de flexibilização monetária doméstica no início de 2026 e da possibilidade de alternância de política econômica nas eleições. Nesse ambiente, o Ibovespa renovou seu recorde nominal, fechando aos 161.755 pontos, sustentado sobretudo pela forte valorização das empresas ligadas ao minério de ferro, após sinais de que a China buscará um crescimento de 5% em 2026. Nem mesmo o leve ajuste de precificação na curva de juros, refletindo a chance de um Copom mais hawkish na semana que vem, foi suficiente para conter a alta. O dado potencialmente decisivo para o mercado sai hoje: o PIB do 3º trimestre. A mediana aponta avanço de apenas 0,2%, reforçando a narrativa de desaceleração. Se vier abaixo disso, aumentam as chances de corte já em janeiro; se vier acima, a decisão deve ficar para março. Ainda assim, vale reiterar — como sempre faço — que os juros elevados são consequência direta da fragilidade fiscal, que demanda uma postura mais conservadora do Banco Central.
No campo fiscal e institucional, o ambiente segue turbulento. O Congresso vota hoje o PLDO, que autoriza o governo a contingenciar o Orçamento pelo piso da meta fiscal, e não pelo centro, reacendendo o embate com o TCU, que exige estudos sobre sustentabilidade da dívida e compatibilidade das metas dentro do arcabouço. A combinação entre mirar o piso da meta e excluir dezenas de bilhões do cálculo fiscal prejudica a credibilidade da política econômica em um momento sensível. Paralelamente, a crise entre Poderes ganhou contornos mais agudos após decisão liminar de Gilmar Mendes determinar que apenas a PGR pode apresentar pedidos de impeachment de ministros do STF e que a abertura exige maioria de dois terços — interpretação que contraria a lei de 1950, que permite denúncias por qualquer cidadão e aprovação por maioria simples. A reação no Senado foi imediata: Davi Alcolumbre classificou a decisão como “grave ofensa” à separação de Poderes e acelerou projetos para restringir decisões monocráticas no Supremo. O quadro institucional se deteriora às vésperas de 2026, elevando ruídos e exigindo atenção redobrada do investidor.
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· 01:47 — Potencial brasileiro
O TikTok anunciou um investimento histórico, superior a R$ 200 bilhões, para a construção de seu primeiro data center na América Latina, que será instalado no Ceará. O projeto, desenvolvido em parceria com a Omnia e a Casa dos Ventos, operará integralmente com energia renovável proveniente de parques eólicos, alinhando-se às exigências de eficiência e sustentabilidade que vêm acompanhando a expansão global da infraestrutura de IA. A escolha da localização não é casual: a unidade ficará próxima ao porto de Pecém, um dos pontos mais estratégicos do país por abrigar cabos submarinos de altíssima velocidade que conectam o Brasil diretamente à Europa e à África, reduzindo latência e ampliando o potencial tecnológico da região. Para a empresa, o movimento reforça o compromisso com o mercado brasileiro, considerado um dos ecossistemas digitais mais dinâmicos do mundo. O investimento deve desencadear uma revolução no Brasil, ao impulsionar emprego, tecnologia e integração da economia local a cadeias globais de inovação.
· 02:32 — O corte vem aí
Os mercados acionários americanos seguiram em firme alta ontem, impulsionados pela crescente convicção de que o Federal Reserve poderá anunciar um novo corte de juros na semana que vem. O S&P 500 avançou 0,3% e voltou a flertar com sua máxima histórica, enquanto o Dow Jones ganhou 0,9% e o Nasdaq subiu 0,2%. Entre os destaques do dia, o Dow Jones Transportation Average emplacou sua oitava sessão consecutiva de valorização — a mais longa desde 2021 — reforçando a leitura de que setores ligados ao transporte e à logística começam a refletir um ambiente econômico mais favorável. A alta do ouro completou o quadro, após dados de emprego mais fracos contribuírem para o fortalecimento da tese de flexibilização monetária.
Esses dados vieram do relatório da ADP, que registrou a eliminação de 32 mil vagas no setor privado em novembro, revertendo o avanço do mês anterior e elevando para cerca de 89% a probabilidade de corte de juros, segundo o CME FedWatch. A contração concentrou-se nas pequenas empresas — responsáveis por mais de 120 mil demissões — e costuma servir como indicador antecedente da perda de tração no mercado de trabalho. Embora o cenário ainda não sinalize uma deterioração profunda, permanece bastante sensível: uma desaceleração mais pronunciada poderia reacender temores de recessão e rapidamente reduzir o apetite por risco.
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· 03:29 — Reforçando a ajuda
A União Europeia busca uma solução rápida para reforçar o financiamento à Ucrânia, mas esbarra em um impasse delicado depois que o Banco Central Europeu classificou como ilegal o uso dos cerca de US$ 300 bilhões em ativos russos congelados — majoritariamente sob custódia na Bélgica — como garantia para um empréstimo de US$ 160 bilhões ao governo ucraniano. Diante da resistência belga, que teme assumir sozinha eventuais perdas caso o plano avance, Bruxelas passou a considerar duas alternativas: estruturar um empréstimo lastreado nesses ativos congelados ou recorrer ao próprio orçamento do bloco para garantir a operação, com o objetivo de cobrir aproximadamente € 90 bilhões das necessidades financeiras mais urgentes de Kiev. Apesar dos esforços de Ursula von der Leyen para minimizar os riscos e tranquilizar os países mais expostos, a pressão do tempo aumenta: a Ucrânia enfrenta deterioração fiscal acelerada em meio ao avanço militar russo, enquanto Moscou — que chamou a proposta europeia de “roubo” — afirma manter conversas com enviados dos EUA, embora sem qualquer sinal concreto de avanço rumo a um acordo de paz.
· 04:16 — Vai moderar o ritmo?
A China deu um sinal claro de que pretende moderar o ritmo de valorização do yuan ao fixar a taxa de câmbio diária em um patamar significativamente mais fraco do que o projetado pelo mercado — o maior desvio desde fevereiro de 2022. A mensagem implícita é que Pequim deseja manter o fortalecimento da moeda sob gestão estreita, evitando movimentos bruscos que prejudiquem exportadores ou gerem volatilidade excessiva. Embora o yuan venha se apreciando recentemente, impulsionado pela melhora do apetite por ativos chineses, pela queda do dólar e pelo alívio das tensões comerciais com os EUA, autoridades e bancos estatais têm intervindo de maneira pontual, comprando dólares para suavizar o avanço da moeda.
Mesmo negociado perto das máximas em mais de um ano, o índice ponderado pelo comércio mostra um yuan ainda historicamente fraco, reforçando a leitura de que a intenção não é interromper a valorização, mas garantir que ela ocorra de forma gradual e controlada. A expectativa é que o nível de 7 yuans por dólar seja preservado até o fim de 2025, com possibilidade de rompimento em 2026 — um movimento que dependerá do equilíbrio que Pequim busca entre atração de capital, manutenção da competitividade das exportações e preservação da estabilidade financeira.
· 05:01 — Código vermelho
A OpenAI decretou um estado interno de “código vermelho” após Sam Altman circular um memorando determinando que toda a empresa concentre seus esforços, de forma integral, na evolução do ChatGPT — mesmo que isso exija interromper projetos paralelos, como agentes de IA, o assistente Pulse e iniciativas voltadas a compras automatizadas. A medida ocorre em um momento de pressão competitiva intensa: como comentei neste espaço, o Google lançou a nova geração do Gemini, que superou o ChatGPT em diversos benchmarks e elevou sua base de usuários mensais para 650 milhões. Em resposta, a OpenAI instituiu reuniões diárias dedicadas exclusivamente ao desenvolvimento do ChatGPT e reforçou que seu foco prioritário é ampliar o público semanal — hoje em 800 milhões — e tornar a ferramenta mais pessoal e intuitiva.
Esse reposicionamento estratégico ganha ainda mais relevância diante…