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A perspectiva de uma nova escalada na guerra comercial entre Estados Unidos e China continua a lançar sombra sobre os mercados globais, ainda que o histórico recente sugira uma maior probabilidade de acordo do que de ruptura. Nos últimos dias, o presidente Donald Trump alternou entre o tom de pressão e o de conciliação: após apresentar uma lista de demandas americanas, o presidente voltou a adotar um discurso mais otimista, mencionando a possibilidade de um “acordo fantástico” com Pequim. O mercado, por sua vez, parece precificar uma trégua, com empresas mais expostas à relação sino-americana, como a Apple, atingindo novas máximas. Ainda assim, mesmo um eventual entendimento parcial dificilmente eliminará as tensões estruturais entre as duas potências: de um lado, os EUA seguem reforçando a produção doméstica de insumos estratégicos; de outro, a China acelera investimentos para alcançar autossuficiência tecnológica, sobretudo no setor de semicondutores.
Nesse contexto, os investidores permanecem atentos tanto aos desdobramentos da política comercial quanto à nova temporada de balanços corporativos e à evolução dos principais indicadores globais. A melhora dos dados de atividade na China, a queda dos rendimentos dos Treasuries de 10 anos para abaixo de 4% e o tom momentaneamente mais moderado de Trump ajudaram a sustentar um sentimento de alívio nos mercados. As bolsas asiáticas fecharam próximas da estabilidade, assim como fazem os índices europeus nesta manhã, refletindo um compasso de espera, enquanto o petróleo segue sem direção definida, mesmo diante do aumento da oferta global. O cenário geral ainda é de otimismo contido — os investidores aguardam uma definição mais clara nas negociações entre as duas maiores economias do mundo.
· 00:51 — Cuidado com o tom
No Brasil, o Ibovespa voltou a se aproximar da marca dos 145 mil pontos no fechamento de ontem, refletindo um ambiente doméstico de notícias positivas no curto prazo. O destaque ficou por conta da Petrobras, que anunciou uma redução de 4,9% no preço da gasolina — o equivalente a R$ 0,14 por litro. Essa é a segunda queda do ano e reflete o recuo recente nas cotações internacionais do petróleo. A medida deve exercer impacto desinflacionário relevante, contribuindo para que o IPCA encerre o ano abaixo de 5% no acumulado de 12 meses (ainda elevado, claro, mas em trajetória de queda). O movimento ocorre em meio a um cenário externo mais benigno, com o dólar em queda e as expectativas inflacionárias recuando Ainda assim, o Banco Central mantém postura prudente, especialmente diante da fragilidade fiscal. Na ausência de uma âncora fiscal, a política monetária precisa continuar exercendo um papel de contenção. Nesse contexto, ao que tudo indica, o BC tende a iniciar um ciclo de cortes da Selic apenas em 2026, a menos que a autoridade monetária sinalize uma mudança de tom rapidamente, evitando uma eventual correção brusca de rota adiante.
Em Brasília, o mercado acompanha a disputa pela nova vaga no Supremo Tribunal Federal, aberta com a saída do ministro Luís Roberto Barroso. O advogado-geral da União, Jorge Messias, é apontado como favorito na corrida pela posição. Além disso, como antecipamos aqui, o presidente Lula anunciou a nomeação de Guilherme Boulos para a Secretaria-Geral da Presidência — movimento interpretado como parte de um reposicionamento do governo para 2026 e de um progressivo afastamento do Centrão. Contudo, esse rearranjo reforça a percepção de uma governabilidade mais frágil, cenário que já se reflete nas dificuldades recentes do Executivo no Congresso. Aliás, sobre o tema, a Comissão Mista de Orçamento voltou a adiar a votação do relatório final da LDO de 2026, evidenciando a indefinição política e o desafio do governo em conduzir sua agenda fiscal em um ambiente legislativo cada vez mais fragmentado.
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· 01:45 — Se recuperando
Nas últimas semanas, o apetite por risco dos investidores nos EUA arrefeceu de maneira significativa. A combinação entre a retomada das tensões tarifárias e o aumento dos temores de perdas de crédito gerou um ambiente de maior cautela, refletindo-se principalmente no desempenho mais fraco dos bancos. Apesar de os indicadores de estresse de liquidez e solvência terem mostrado alguma alta, o impacto sobre o mercado de crédito segue limitado: os spreads permanecem controlados e não há sinais consistentes de deterioração estrutural. Em outras palavras, embora o sentimento tenha se deteriorado, os fundamentos do sistema financeiro continuam robustos, indicando mais uma correção técnica do que o início de um risco sistêmico.
Mesmo diante desse cenário de incerteza, os mercados acionários mantiveram desempenho positivo ontem. O S&P 500 avançou 1,1% e o Nasdaq subiu 1,4%, apoiados pelo otimismo em torno de uma possível reaproximação diplomática entre Estados Unidos e China. As reuniões previstas entre autoridades econômicas dos dois países reacenderam expectativas de distensão comercial e impulsionaram o humor dos investidores. Ao mesmo tempo, o foco se volta para a nova temporada de resultados corporativos, que tende a exercer um papel estabilizador sobre os preços. Historicamente, os lucros das companhias do S&P 500 têm superado as estimativas iniciais em cerca de sete pontos percentuais, e o desempenho das gigantes Tesla, Netflix e Coca-Cola — que divulgam balanços nesta semana — deverá servir como termômetro do sentimento do mercado e ajudar a definir o tom das próximas semanas.
· 02:34 — Um acordo interessante
Os EUA e a Austrália anunciaram um acordo estratégico voltado ao fortalecimento da produção e do fornecimento de terras raras — um passo importante na tentativa de reduzir a dependência global da China em um setor vital para a economia atual. Esses minerais são essenciais para a fabricação de produtos de alta tecnologia, como eletrônicos, veículos elétricos e equipamentos de defesa. A estrutura de cooperação prevê investimentos iniciais de US$ 1 bilhão por país nos próximos seis meses e pode movimentar até US$ 8,5 bilhões em projetos conjuntos. A iniciativa surge em meio ao agravamento da guerra comercial entre Washington e Pequim e à intensificação das restrições chinesas sobre a exportação desses insumos — um movimento sensível, considerando que a China concentra cerca de 70% da produção e 90% do refino.
A reação dos mercados foi imediata e positiva, especialmente na Austrália, onde as ações de mineradoras de terras raras registraram forte valorização. A Arafura Rare Earths chegou a disparar 29% após o anúncio de que o Export-Import Bank dos EUA avalia conceder um financiamento de US$ 300 milhões ao seu projeto Nolans, um dos mais promissores do país. Outras companhias do setor, como VHM e Northern Minerals, também avançaram significativamente, com altas de até 30% e 19%, respectivamente. O acordo marca um avanço relevante na estratégia ocidental de diversificação das cadeias de suprimento e de redução da influência chinesa sobre setores críticos da indústria global. Além do impacto simbólico, o movimento reforça a confiança dos investidores na capacidade de Austrália e Estados Unidos de liderarem uma nova etapa na segurança mineral, energética e tecnológica do Ocidente.
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· 03:29 — Situação aparentemente normalizada
Após um fim de semana marcado por novos confrontos, o cessar-fogo em Gaza foi restabelecido, conforme confirmaram autoridades de Israel e dos Estados Unidos. A escalada teve início quando militantes do grupo terrorista Hamas lançaram mísseis antitanque e disparos contra soldados israelenses, resultando na morte de dois militares. Em resposta, Israel realizou uma série de ataques aéreos de caráter defensivo, direcionados a posições estratégicas do Hamas dentro do enclave, atingindo alvos militares previamente identificados. O episódio expôs a fragilidade do acordo de paz firmado na semana anterior e evidenciou as dificuldades persistentes em conter facções extremistas que continuam agindo à revelia de qualquer entendimento diplomático, colocando em risco o cessar-fogo e a estabilidade de toda a região.
Apesar da tensão, a trégua foi retomada com o apoio de mediadores norte-americanos, entre eles Jared Kushner e Steve Witkoff, que se reuniram com representantes israelenses para consolidar os termos do acordo e restabelecer a confiança entre as partes. Israel, por sua vez, condiciona devidamente a continuidade do cessar-fogo ao cumprimento integral dos compromissos assumidos — incluindo a devolução dos restos mortais dos últimos reféns e a interrupção total das hostilidades por parte do Hamas —, enquanto o grupo extremista tenta instrumentalizar a ajuda humanitária como ferramenta de pressão política. Embora parte do fornecimento de suprimentos tenha sido retomada, a passagem de Rafah permanece fechada por razões de segurança, naturalmente. O equilíbrio da trégua segue, portanto, delicado, refletindo a complexidade da região. Assim, a instabilidade no Oriente Médio volta a despertar cautela entre os investidores, repercutindo em volatilidade no petróleo e sustentando o movimento de alta do ouro, que permanece como refúgio em tempos de incerteza.
· 04:18 — Finalmente oficializada
O Japão vive um momento histórico com a ascensão de Sanae Takaichi como a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra do país. A líder do tradicional Partido Liberal Democrata (PLD), predominantemente de centro-direita, alcançou o posto após firmar um acordo de coalizão com o Partido da Inovação do Japão (Ishin), de direita, substituindo o antigo parceiro centrista Komeito. A nova aliança, mais alinhada a pautas pró-mercado e conservadoras, garante maioria parlamentar suficiente para confirmar sua nomeação, oficializando-a finalmente. Takaichi assume o governo em meio a um cenário econômico desafiador — com inflação persistente e crescimento moderado — e a um ambiente geopolítico tenso, em que o fortalecimento das forças armadas e a relação estratégica com os EUA ganham destaque. A expectativa é de que sua gestão represente uma guinada mais clara à direita, reforçando uma postura mais assertiva em defesa dos interesses japoneses.
Com estilo firme e discurso nacionalista, Takaichi é frequentemente comparada a Margaret Thatcher e se apresenta como uma figura determinada a revitalizar o prestígio do Japão, tanto internamente quanto no cenário global. Sua vitória, obtida por pequena margem no Parlamento, reflete uma aposta do PLD em reconquistar os eleitores mais jovens e conservadores que migraram para partidos populistas de direita. No campo econômico, sua plataforma promete estímulos à atividade, ecoando os princípios da “Abenomics”, embora sua prioridade imediata seja conter a inflação. No plano internacional, Takaichi deve reforçar laços com os americanos — especialmente durante o encontro com o presidente Trump — e adotar uma postura mais dura em relação à China. A reação inicial dos mercados foi cautelosa: o iene cedeu, e o índice Nikkei ficou de lado após altas recentes. Agora, o desafio da nova premiê será equilibrar ambição política e pragmatismo econômico, provando se poderá, de fato, tornar-se a “Dama de Ferro da Ásia”, aos moldes do que foi Thatcher.
· 05:02 — Prévias alvissareiras
Nos últimos dias, as prévias operacionais de Cyrela e Direcional, referentes ao terceiro trimestre de 2025, reforçaram a boa fase do setor imobiliário, ainda que em um contexto macro contido. Ambas as empresas apresentaram avanços expressivos em lançamentos e vendas, demonstrando resiliência e execução sólida dentro de seus respectivos nichos. A Cyrela manteve sua posição de liderança no segmento de média e alta renda, sustentada por uma expansão vigorosa no volume de novos projetos, enquanto a Direcional consolidou sua força no mercado de baixa e média renda, com destaque para o desempenho da marca Riva e pela robusta geração de caixa.
A Cyrela (CYRE3) mostrou, mais uma vez, por que…