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Investimentos

Petróleo dispara com sanções dos EUA à Rússia e Tesla decepciona no 3T25; confira os destaques do dia

A sanção americana é mais em mais uma medido de Trump para aumentar a pressão sobre Putin em prol do fim da guerra na Ucrânia. Veja mais.

Por Matheus Spiess

23 out 2025, 09:24

Atualizado em 23 out 2025, 09:24

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Imagem: iStock/ pixinoo

O petróleo disparou no mercado internacional após os EUA anunciarem sanções contra as gigantes russas Rosneft e Lukoil, em mais uma ofensiva do governo Trump para aumentar a pressão sobre Putin e forçar o fim da guerra na Ucrânia. A medida também tem um claro componente geopolítico: busca reduzir a dependência de Índia e China do petróleo russo, com refinarias indianas já projetando uma queda quase total das importações vindas de Moscou. O movimento intensifica as tensões comerciais globais, especialmente porque Washington avalia novas restrições às exportações de softwares estratégicos para a China, ampliando a incerteza entre investidores e elevando a aversão ao risco. Ainda assim, o foco dos mercados se dividiu com a temporada de resultados corporativos nos EUA, marcada por um desempenho robusto — o maior percentual de empresas superando as estimativas em quatro anos —, o que tem ajudado a sustentar o apetite por risco e reforçado a percepção de resiliência da economia americana, mesmo diante de um cenário político mais conturbado.

Entre as companhias em destaque, a Tesla decepcionou o mercado ao divulgar uma queda expressiva no lucro trimestral, mesmo após registrar vendas recordes de veículos, pressionada por custos crescentes e margens mais estreitas. Durante a teleconferência de resultados, Elon Musk adotou um tom confiante, defendendo seu pacote salarial bilionário e reiterando a aposta em robotáxis, robôs humanoides e inteligência artificial como vetores de crescimento futuro da companhia — iniciativas que ele descreve como a “próxima fronteira” de valor da Tesla. No panorama global, o ambiente segue carregado de incertezas, com o prolongamento do shutdown americano, o avanço das sanções energéticas e o aumento das tensões entre EUA e China contrastando com um quadro mais favorável no Brasil, onde a inflação dá sinais de arrefecimento e o mercado mantém um otimismo cauteloso. Já na Ásia, as bolsas encerraram o pregão de forma mista — com alta na China e queda no Japão —, refletindo a expectativa por novas medidas de estímulo após a reunião do Partido Comunista Chinês, que deve definir as diretrizes econômicas para os próximos anos.

· 00:55 — Procurando um rumo

No Brasil, o humor do mercado voltou a melhorar, sustentado pela expectativa de que o Banco Central possa antecipar o início do ciclo de cortes da Selic em breve. Como já tenho destacado há algum tempo, mesmo que a autoridade monetária mantenha a taxa inalterada em dezembro, nada impede que o primeiro ou segundo encontro do Copom em 2026 marque o início da flexibilização, desde que o discurso do BC comece a sinalizar essa transição nas próximas semanas. O tom da comunicação — especialmente na reunião da próxima semana — e os dados que forem sendo divulgados nos próximos meses serão determinantes, sempre levando em conta também o avanço do ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos. Nesse contexto, o Ibovespa voltou a se aproximar dos 145 mil pontos, impulsionado por Vale e Petrobras. A mineradora subiu após divulgar seu melhor volume de produção em sete anos, conforme comentei ontem, enquanto a estatal acompanhou a alta do preço do barril.

Em Brasília, o destaque foi a movimentação do governo para reforçar o compromisso com as metas fiscais, em meio à pressão por credibilidade. A Fazenda apresentou um conjunto de medidas que reconfigura a MP alternativa ao IOF, estimando arrecadar cerca de R$ 30 bilhões. Entre as ações, estão o aumento da CSLL para fintechs, a elevação da tributação sobre apostas online e Juros sobre Capital Próprio (JCP) e a revisão de gastos tributários. A Câmara, inclusive, já aprovou regime de urgência para o projeto que dobra a taxação das bets, sinalizando alinhamento político no curto prazo. Em paralelo, o ministro Benjamin Zymler, do TCU, votou para permitir que o governo mire o piso da meta fiscal em 2025, mantendo, porém, a obrigação de cumprir o centro da meta a partir de 2026 — um desafio expressivo, dado que o superávit primário projetado é de 0,25% do PIB (cerca de R$ 34 bilhões). Alcançar esse resultado em ano eleitoral parece improvável, especialmente para um governo que não conseguiu conter o avanço das despesas públicas e continua dependendo de receitas extraordinárias e fontes não recorrentes de arrecadação. A solução estrutural, contudo, tende a ficar para 2027, quando, após as eleições, o país deverá enfrentar um debate inevitável e profundo sobre o tamanho e a sustentabilidade do orçamento brasileiro.

· 01:48 — Contornos de correção

Wall Street encerrou o pregão em tom de correção, com investidores reduzindo exposição a ativos de perfil mais especulativo após semanas de forte valorização. O movimento refletiu tanto o aumento da aversão ao risco quanto o ambiente político conturbado nos Estados Unidos, onde a paralisação parcial do governo já é a segunda mais longa da história. Em resposta às pressões do setor agrícola, o presidente Donald Trump anunciou a reabertura parcial do Departamento de Agricultura para garantir pagamentos a produtores rurais e flexibilizou o salário mínimo de trabalhadores migrantes sazonais, numa tentativa de conter riscos à produção de alimentos e reduzir tensões econômicas. No mercado acionário, os principais índices acompanharam o clima de cautela: o Nasdaq recuou 0,9%, o S&P 500 caiu 0,5% e o Dow Jones perdeu 334 pontos (0,7%), refletindo uma onda de realização de lucros especialmente concentrada em papéis que vinham liderando os ganhos desde agosto.

A pressão vendedora recaiu sobre empresas com maior beta — aquelas mais sensíveis ao mercado —, especialmente nos setores de energia nuclear, computação quântica, criptomoedas e exploração espacial, que haviam se destacado nas últimas altas. Desde meados de outubro, essas companhias acumulam quedas médias entre 6% e 20%, em um sinal de que o fôlego das apostas mais ousadas começa a diminuir. Embora parte da recuperação no final do pregão tenha sido atribuída a estratégias quantitativas e ao investidor de varejo, o tom geral segue de cautela e seletividade. A temporada de resultados promete ditar o ritmo dos próximos dias, com nomes de peso como Ford, Intel, T-Mobile e Union Pacific prestes a divulgar seus balanços. 

· 02:37 — Um pouco frustrante

A Tesla inaugurou a temporada de resultados das chamadas “Sete Magníficas”, mas seu desempenho ficou abaixo do esperado. Apesar de ter registrado vendas recordes de veículos elétricos — impulsionadas pela corrida de consumidores para aproveitar os últimos créditos tributários concedidos pelo governo americano —, a companhia apresentou queda de 37% no lucro líquido em relação ao mesmo período do ano anterior. O lucro ajustado foi de US$ 0,50 por ação, ante expectativa de US$ 0,56, enquanto a receita avançou 12%, totalizando US$ 28 bilhões, o maior valor trimestral da história da empresa. Ainda assim, as margens operacionais e brutas foram pressionadas pela política de descontos agressivos, com o preço médio dos veículos caindo para cerca de US$ 42 mil. A margem operacional recuou para 5,8%, frente aos 10,8% de 2024, refletindo a dificuldade de conciliar volume e rentabilidade. Musk, porém, manteve o tom, destacando os avanços nos robotáxis, robôs humanoides e direção autônoma total, que considera pilares da próxima fase de crescimento da Tesla.

A companhia também enfrenta desafios estratégicos e regulatórios. Musk afirmou que o serviço de robotáxis deve começar a operar em até dez áreas metropolitanas nos EUA até o final de 2025, ainda sob monitoramento de segurança, enquanto prepara a produção em escala do robô humanoide Optimus e versões mais acessíveis dos Model 3 e Model Y, lançadas para compensar o fim dos incentivos fiscais. Mesmo com margens comprimidas, a Tesla reafirma sua liderança no setor automotivo global, impulsionada pela combinação entre inovação tecnológica e escala industrial. O próximo teste de confiança virá em novembro, quando os acionistas votarão o pacote de remuneração bilionário de Elon Musk, estimado em mais de US$ 1 trilhão. A decisão será simbólica não apenas para a governança da empresa, mas também para a credibilidade de sua estratégia de longo prazo — uma aposta de que a Tesla pode converter ambição tecnológica em valor sustentável para seus investidores.

· 03:24 — Os perigos da IA…

As grandes empresas de tecnologia travam uma corrida intensa para alcançar a chamada inteligência artificial geral (AGI) — um estágio de desenvolvimento em que máquinas seriam capazes de raciocinar, aprender e tomar decisões com a mesma adaptabilidade da mente humana. Essa ambição representa, para muitos, o passo decisivo rumo a uma “explosão de inteligência” que poderia redefinir por completo a economia global, o trabalho e a estrutura da sociedade. No entanto, não há consenso sobre o que exatamente constitui a AGI, tampouco sobre como ou quando ela poderá ser atingida. A OpenAI, por exemplo, traçou um roteiro dividido em cinco estágios evolutivos: começando com chatbots e assistentes especializados, e culminando em modelos de IA capazes de executar o trabalho integral de uma organização, substituindo de forma autônoma processos humanos complexos. Ainda assim, muitos analistas veem o projeto com ceticismo, questionando se essa visão é tecnicamente viável ou se reflete um otimismo excessivo alimentado por expectativas de mercado.

Em paralelo ao avanço tecnológico, cresce a preocupação com os riscos éticos, sociais e existenciais que a superinteligência pode trazer. Um grupo diverso de cientistas, executivos e pensadores — entre eles Yoshua Bengio, Geoffrey Hinton, Steve Wozniak e Yuval Noah Harari — assinou uma petição pedindo uma paralisação temporária no desenvolvimento de sistemas que superem a cognição humana, até que haja consenso científico e mecanismos de controle robustos. O documento alerta para potenciais ameaças à liberdade individual, à dignidade humana e à segurança global, chegando a mencionar o risco de extinção da espécie caso o avanço ocorra sem salvaguardas adequadas. Apesar da gravidade das advertências, a reação do setor tem sido limitada. Desde uma carta semelhante publicada em 2023, a indústria apenas acelerou os investimentos, com líderes como Sam Altman — CEO da OpenAI — defendendo que a AGI se tornará realidade até 2030. O movimento reflete o paradoxo da era atual: o mesmo impulso que promete revolucionar o progresso humano também carrega os temores de uma transformação que pode escapar ao controle de quem a criou.

· 04:11 — Fluxo interrompido

Os fluxos de petróleo russo com destino à Índia devem praticamente cessar após as novas sanções impostas pelos EUA às gigantes Rosneft e Lukoil, interrompendo o principal canal de comércio que, nos últimos três anos, sustentou o fornecimento de energia entre os dois países. Trata-se de uma virada significativa para Nova Déli, que até então dependia da Rússia para cerca de 36% de suas importações de petróleo bruto. Agora, o país será forçado a buscar fornecedores alternativos, possivelmente com custos mais elevados e margens mais apertadas para suas refinarias. A medida também acirra as tensões diplomáticas com Washington, já abaladas pelas tarifas impostas pelo governo Trump e pela pressão contínua para que a Índia reduza sua exposição ao petróleo russo. Além do impacto econômico, a decisão marca um novo capítulo na tentativa dos EUA de restringir a capacidade de financiamento energético de Moscou, reconfigurando gradualmente as rotas de comércio global de energia.

O alcance das sanções, contudo, vai além do subcontinente indiano. Na China, o setor energético também sente os efeitos, com estimativas apontando para uma possível redução de até 20% nas importações de petróleo russo. Refinarias estatais e privadas enfrentam agora um dilema estratégico: continuar comprando barris com desconto e correr o risco de sanções secundárias — que podem limitar o acesso a sistemas ocidentais de banco, seguros e transporte marítimo — ou diversificar fornecedores para preservar o acesso ao sistema financeiro global. As empresas têm até 21 de novembro para encerrar contratos com produtores listados nas novas restrições, o que pressiona Pequim a equilibrar pragmatismo econômico e prudência geopolítica. No pano de fundo, a decisão reforça o esforço americano de enfraquecer a receita energética russa e consolidar um redesenho das cadeias globais de suprimento de petróleo, com impactos potenciais sobre preços, rotas comerciais e fluxos de investimento no setor.

· 05:09 — As eficiências da inteligência artificial

A OpenAI deu mais um passo audacioso na convergência entre inteligência artificial e finanças. A companhia está conduzindo um projeto interno, batizado de Mercury, que mobiliza mais de 100 ex-banqueiros — profissionais com passagens por instituições como JPMorgan, Morgan Stanley e Goldman Sachs — para treinar modelos de IA capazes de construir e interpretar projeções financeiras complexas. Esses especialistas recebem cerca de US$ 150 por hora para desenvolver prompts e estruturar modelos voltados a operações de reestruturação, fusões e IPOs, com o objetivo de automatizar as tarefas repetitivas e manuais tradicionalmente executadas por analistas juniores. O processo seletivo, quase inteiramente conduzido por um chatbot de IA, evidencia a maturidade dos próprios sistemas da OpenAI em lidar com contextos técnicos e sofisticados. A mensagem é clara: o trabalho operacional que forma a base da rotina do mercado financeiro começa a ser disputado pelo avanço da inteligência artificial.

Enquanto isso, na Meta, a estratégia…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.