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O petróleo disparou no mercado internacional após os EUA anunciarem sanções contra as gigantes russas Rosneft e Lukoil, em mais uma ofensiva do governo Trump para aumentar a pressão sobre Putin e forçar o fim da guerra na Ucrânia. A medida também tem um claro componente geopolítico: busca reduzir a dependência de Índia e China do petróleo russo, com refinarias indianas já projetando uma queda quase total das importações vindas de Moscou. O movimento intensifica as tensões comerciais globais, especialmente porque Washington avalia novas restrições às exportações de softwares estratégicos para a China, ampliando a incerteza entre investidores e elevando a aversão ao risco. Ainda assim, o foco dos mercados se dividiu com a temporada de resultados corporativos nos EUA, marcada por um desempenho robusto — o maior percentual de empresas superando as estimativas em quatro anos —, o que tem ajudado a sustentar o apetite por risco e reforçado a percepção de resiliência da economia americana, mesmo diante de um cenário político mais conturbado.
Entre as companhias em destaque, a Tesla decepcionou o mercado ao divulgar uma queda expressiva no lucro trimestral, mesmo após registrar vendas recordes de veículos, pressionada por custos crescentes e margens mais estreitas. Durante a teleconferência de resultados, Elon Musk adotou um tom confiante, defendendo seu pacote salarial bilionário e reiterando a aposta em robotáxis, robôs humanoides e inteligência artificial como vetores de crescimento futuro da companhia — iniciativas que ele descreve como a “próxima fronteira” de valor da Tesla. No panorama global, o ambiente segue carregado de incertezas, com o prolongamento do shutdown americano, o avanço das sanções energéticas e o aumento das tensões entre EUA e China contrastando com um quadro mais favorável no Brasil, onde a inflação dá sinais de arrefecimento e o mercado mantém um otimismo cauteloso. Já na Ásia, as bolsas encerraram o pregão de forma mista — com alta na China e queda no Japão —, refletindo a expectativa por novas medidas de estímulo após a reunião do Partido Comunista Chinês, que deve definir as diretrizes econômicas para os próximos anos.
· 00:55 — Procurando um rumo
No Brasil, o humor do mercado voltou a melhorar, sustentado pela expectativa de que o Banco Central possa antecipar o início do ciclo de cortes da Selic em breve. Como já tenho destacado há algum tempo, mesmo que a autoridade monetária mantenha a taxa inalterada em dezembro, nada impede que o primeiro ou segundo encontro do Copom em 2026 marque o início da flexibilização, desde que o discurso do BC comece a sinalizar essa transição nas próximas semanas. O tom da comunicação — especialmente na reunião da próxima semana — e os dados que forem sendo divulgados nos próximos meses serão determinantes, sempre levando em conta também o avanço do ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos. Nesse contexto, o Ibovespa voltou a se aproximar dos 145 mil pontos, impulsionado por Vale e Petrobras. A mineradora subiu após divulgar seu melhor volume de produção em sete anos, conforme comentei ontem, enquanto a estatal acompanhou a alta do preço do barril.
Em Brasília, o destaque foi a movimentação do governo para reforçar o compromisso com as metas fiscais, em meio à pressão por credibilidade. A Fazenda apresentou um conjunto de medidas que reconfigura a MP alternativa ao IOF, estimando arrecadar cerca de R$ 30 bilhões. Entre as ações, estão o aumento da CSLL para fintechs, a elevação da tributação sobre apostas online e Juros sobre Capital Próprio (JCP) e a revisão de gastos tributários. A Câmara, inclusive, já aprovou regime de urgência para o projeto que dobra a taxação das bets, sinalizando alinhamento político no curto prazo. Em paralelo, o ministro Benjamin Zymler, do TCU, votou para permitir que o governo mire o piso da meta fiscal em 2025, mantendo, porém, a obrigação de cumprir o centro da meta a partir de 2026 — um desafio expressivo, dado que o superávit primário projetado é de 0,25% do PIB (cerca de R$ 34 bilhões). Alcançar esse resultado em ano eleitoral parece improvável, especialmente para um governo que não conseguiu conter o avanço das despesas públicas e continua dependendo de receitas extraordinárias e fontes não recorrentes de arrecadação. A solução estrutural, contudo, tende a ficar para 2027, quando, após as eleições, o país deverá enfrentar um debate inevitável e profundo sobre o tamanho e a sustentabilidade do orçamento brasileiro.
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· 01:48 — Contornos de correção
Wall Street encerrou o pregão em tom de correção, com investidores reduzindo exposição a ativos de perfil mais especulativo após semanas de forte valorização. O movimento refletiu tanto o aumento da aversão ao risco quanto o ambiente político conturbado nos Estados Unidos, onde a paralisação parcial do governo já é a segunda mais longa da história. Em resposta às pressões do setor agrícola, o presidente Donald Trump anunciou a reabertura parcial do Departamento de Agricultura para garantir pagamentos a produtores rurais e flexibilizou o salário mínimo de trabalhadores migrantes sazonais, numa tentativa de conter riscos à produção de alimentos e reduzir tensões econômicas. No mercado acionário, os principais índices acompanharam o clima de cautela: o Nasdaq recuou 0,9%, o S&P 500 caiu 0,5% e o Dow Jones perdeu 334 pontos (0,7%), refletindo uma onda de realização de lucros especialmente concentrada em papéis que vinham liderando os ganhos desde agosto.
A pressão vendedora recaiu sobre empresas com maior beta — aquelas mais sensíveis ao mercado —, especialmente nos setores de energia nuclear, computação quântica, criptomoedas e exploração espacial, que haviam se destacado nas últimas altas. Desde meados de outubro, essas companhias acumulam quedas médias entre 6% e 20%, em um sinal de que o fôlego das apostas mais ousadas começa a diminuir. Embora parte da recuperação no final do pregão tenha sido atribuída a estratégias quantitativas e ao investidor de varejo, o tom geral segue de cautela e seletividade. A temporada de resultados promete ditar o ritmo dos próximos dias, com nomes de peso como Ford, Intel, T-Mobile e Union Pacific prestes a divulgar seus balanços.
· 02:37 — Um pouco frustrante
A Tesla inaugurou a temporada de resultados das chamadas “Sete Magníficas”, mas seu desempenho ficou abaixo do esperado. Apesar de ter registrado vendas recordes de veículos elétricos — impulsionadas pela corrida de consumidores para aproveitar os últimos créditos tributários concedidos pelo governo americano —, a companhia apresentou queda de 37% no lucro líquido em relação ao mesmo período do ano anterior. O lucro ajustado foi de US$ 0,50 por ação, ante expectativa de US$ 0,56, enquanto a receita avançou 12%, totalizando US$ 28 bilhões, o maior valor trimestral da história da empresa. Ainda assim, as margens operacionais e brutas foram pressionadas pela política de descontos agressivos, com o preço médio dos veículos caindo para cerca de US$ 42 mil. A margem operacional recuou para 5,8%, frente aos 10,8% de 2024, refletindo a dificuldade de conciliar volume e rentabilidade. Musk, porém, manteve o tom, destacando os avanços nos robotáxis, robôs humanoides e direção autônoma total, que considera pilares da próxima fase de crescimento da Tesla.
A companhia também enfrenta desafios estratégicos e regulatórios. Musk afirmou que o serviço de robotáxis deve começar a operar em até dez áreas metropolitanas nos EUA até o final de 2025, ainda sob monitoramento de segurança, enquanto prepara a produção em escala do robô humanoide Optimus e versões mais acessíveis dos Model 3 e Model Y, lançadas para compensar o fim dos incentivos fiscais. Mesmo com margens comprimidas, a Tesla reafirma sua liderança no setor automotivo global, impulsionada pela combinação entre inovação tecnológica e escala industrial. O próximo teste de confiança virá em novembro, quando os acionistas votarão o pacote de remuneração bilionário de Elon Musk, estimado em mais de US$ 1 trilhão. A decisão será simbólica não apenas para a governança da empresa, mas também para a credibilidade de sua estratégia de longo prazo — uma aposta de que a Tesla pode converter ambição tecnológica em valor sustentável para seus investidores.
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· 03:24 — Os perigos da IA…
As grandes empresas de tecnologia travam uma corrida intensa para alcançar a chamada inteligência artificial geral (AGI) — um estágio de desenvolvimento em que máquinas seriam capazes de raciocinar, aprender e tomar decisões com a mesma adaptabilidade da mente humana. Essa ambição representa, para muitos, o passo decisivo rumo a uma “explosão de inteligência” que poderia redefinir por completo a economia global, o trabalho e a estrutura da sociedade. No entanto, não há consenso sobre o que exatamente constitui a AGI, tampouco sobre como ou quando ela poderá ser atingida. A OpenAI, por exemplo, traçou um roteiro dividido em cinco estágios evolutivos: começando com chatbots e assistentes especializados, e culminando em modelos de IA capazes de executar o trabalho integral de uma organização, substituindo de forma autônoma processos humanos complexos. Ainda assim, muitos analistas veem o projeto com ceticismo, questionando se essa visão é tecnicamente viável ou se reflete um otimismo excessivo alimentado por expectativas de mercado.
Em paralelo ao avanço tecnológico, cresce a preocupação com os riscos éticos, sociais e existenciais que a superinteligência pode trazer. Um grupo diverso de cientistas, executivos e pensadores — entre eles Yoshua Bengio, Geoffrey Hinton, Steve Wozniak e Yuval Noah Harari — assinou uma petição pedindo uma paralisação temporária no desenvolvimento de sistemas que superem a cognição humana, até que haja consenso científico e mecanismos de controle robustos. O documento alerta para potenciais ameaças à liberdade individual, à dignidade humana e à segurança global, chegando a mencionar o risco de extinção da espécie caso o avanço ocorra sem salvaguardas adequadas. Apesar da gravidade das advertências, a reação do setor tem sido limitada. Desde uma carta semelhante publicada em 2023, a indústria apenas acelerou os investimentos, com líderes como Sam Altman — CEO da OpenAI — defendendo que a AGI se tornará realidade até 2030. O movimento reflete o paradoxo da era atual: o mesmo impulso que promete revolucionar o progresso humano também carrega os temores de uma transformação que pode escapar ao controle de quem a criou.
· 04:11 — Fluxo interrompido
Os fluxos de petróleo russo com destino à Índia devem praticamente cessar após as novas sanções impostas pelos EUA às gigantes Rosneft e Lukoil, interrompendo o principal canal de comércio que, nos últimos três anos, sustentou o fornecimento de energia entre os dois países. Trata-se de uma virada significativa para Nova Déli, que até então dependia da Rússia para cerca de 36% de suas importações de petróleo bruto. Agora, o país será forçado a buscar fornecedores alternativos, possivelmente com custos mais elevados e margens mais apertadas para suas refinarias. A medida também acirra as tensões diplomáticas com Washington, já abaladas pelas tarifas impostas pelo governo Trump e pela pressão contínua para que a Índia reduza sua exposição ao petróleo russo. Além do impacto econômico, a decisão marca um novo capítulo na tentativa dos EUA de restringir a capacidade de financiamento energético de Moscou, reconfigurando gradualmente as rotas de comércio global de energia.
O alcance das sanções, contudo, vai além do subcontinente indiano. Na China, o setor energético também sente os efeitos, com estimativas apontando para uma possível redução de até 20% nas importações de petróleo russo. Refinarias estatais e privadas enfrentam agora um dilema estratégico: continuar comprando barris com desconto e correr o risco de sanções secundárias — que podem limitar o acesso a sistemas ocidentais de banco, seguros e transporte marítimo — ou diversificar fornecedores para preservar o acesso ao sistema financeiro global. As empresas têm até 21 de novembro para encerrar contratos com produtores listados nas novas restrições, o que pressiona Pequim a equilibrar pragmatismo econômico e prudência geopolítica. No pano de fundo, a decisão reforça o esforço americano de enfraquecer a receita energética russa e consolidar um redesenho das cadeias globais de suprimento de petróleo, com impactos potenciais sobre preços, rotas comerciais e fluxos de investimento no setor.
· 05:09 — As eficiências da inteligência artificial
A OpenAI deu mais um passo audacioso na convergência entre inteligência artificial e finanças. A companhia está conduzindo um projeto interno, batizado de Mercury, que mobiliza mais de 100 ex-banqueiros — profissionais com passagens por instituições como JPMorgan, Morgan Stanley e Goldman Sachs — para treinar modelos de IA capazes de construir e interpretar projeções financeiras complexas. Esses especialistas recebem cerca de US$ 150 por hora para desenvolver prompts e estruturar modelos voltados a operações de reestruturação, fusões e IPOs, com o objetivo de automatizar as tarefas repetitivas e manuais tradicionalmente executadas por analistas juniores. O processo seletivo, quase inteiramente conduzido por um chatbot de IA, evidencia a maturidade dos próprios sistemas da OpenAI em lidar com contextos técnicos e sofisticados. A mensagem é clara: o trabalho operacional que forma a base da rotina do mercado financeiro começa a ser disputado pelo avanço da inteligência artificial.
Enquanto isso, na Meta, a estratégia…