Imagem: iStock.com/franckreporter
Donald Trump sancionou o projeto de lei que põe fim à paralisação recorde de 43 dias do governo norte-americano, permitindo a retomada imediata das operações federais. Embora o financiamento aprovado dure apenas até 30 de janeiro — o que mantém aberta a possibilidade de novo impasse no início de 2026 — os impactos econômicos já são expressivos. O crescimento do PIB do trimestre deve ser reduzido, diversos programas sociais foram interrompidos e a divulgação de indicadores-chave, como inflação e emprego, permanece atrasada, com risco de que os dados de outubro nem sequer sejam publicados. Ainda assim, o fim do shutdown trouxe alívio aos mercados.
No cenário internacional, seguem as discussões sobre possíveis reduções de tarifas de alimentos como forma de aliviar a inflação, ainda que o repasse aos consumidores dependa majoritariamente da estratégia dos varejistas. A União Europeia trabalha para avançar em novos acordos comerciais, enquanto a Ucrânia pressiona Bruxelas pelo uso de ativos russos congelados para financiar o esforço de guerra. No Japão, o iene continua pressionado, com o mercado duvidando da disposição do novo governo em intervir no câmbio. Nesta manhã, a Europa opera de forma mista, refletindo dados de crescimento fraco no Reino Unido, depois das bolsas asiáticas terem encerrado o pregão desta quinta-feira em alta, apoiadas pelo fim do shutdown americano.
· 00:51 — Alta interrompida
No Brasil, após 15 altas consecutivas — a mais longa sequência desde 1994 — o Ibovespa finalmente interrompeu sua série de recordes e encerrou a quarta-feira com leve queda de 0,07%, aos 157.633 pontos, enquanto o dólar avançou 0,37%, a R$ 5,29. A principal pressão negativa veio das ações da Petrobras (PETR4), que recuaram acompanhando a queda do petróleo no mercado internacional. Ainda assim, vale reforçar que correções são parte natural e saudável de qualquer movimento de alta; funcionam como um ajuste técnico que preserva a qualidade da tendência mais ampla.
Outro gatilho para a realização foi o impacto das declarações de Galípolo, que esfriaram as apostas de corte da Selic em janeiro. Após a ata desta semana reacender essa possibilidade, o presidente do Banco Central foi enfático ao afirmar que o Copom permanece plenamente alinhado em manter os juros em território restritivo até que a inflação retorne ao centro da meta de 3%. A divulgação de que a atividade de serviços acelerou 0,6% em setembro — acima das expectativas — reforçou essa leitura mais dura, reduzindo ainda mais o espaço para cortes imediatos. Ainda assim, mesmo com a interrupção do rali, a queda observada foi muito moderada, sinalizando que o movimento de alta recente segue vigoroso e pode ser retomado rapidamente. Correções voltarão a ocorrer, claro, mas a trajetória estrutural permanece positiva, sustentada por dólar mais fraco globalmente, cortes de juros nas principais economias sem recessão e a perspectiva de afrouxamento monetário no Brasil, além da possibilidade de um rali eleitoral, com a reforma fiscal servindo de pano de fundo.
No campo macroeconômico doméstico, o foco do dia recai sobre as vendas do varejo, que devem mostrar leve avanço puxado por supermercados e, no conceito ampliado, pelo setor automotivo. Já no ambiente político, em linha com o que temos comentado desde a megaoperação no Rio de Janeiro — e confirmado pelas pesquisas do início da semana que mostraram queda na popularidade do governo — a nova pesquisa Quaest divulgada nesta manhã reforçou a fragilidade recente de Lula e o ganho relativo de nomes alternativos para 2026, algo que pode se aprofundar nos próximos meses.
- Em que segmento investir? A Empiricus Research tem 10 recomendações de ações brasileiras em diversas áreas da economia. Confira o relatório gratuito aqui.
· 01:44 — Fim do shutdown aprovado
Ontem, nos EUA, os mercados reagiram de forma amplamente positiva à perspectiva de encerramento da paralisação do governo americano, que já dura 43 dias. Na madrugada, Donald Trump sancionou o projeto de lei que retomará o financiamento federal, reduzindo o risco de um impacto mais profundo sobre a economia. É um bom sinal: caso o impasse tivesse se estendido para a principal temporada de compras e para o pico de viagens de fim de ano, a probabilidade de recessão teria aumentado significativamente. O humor mais construtivo levou o Dow Jones a ultrapassar, pela primeira vez na história, os 48 mil pontos, enquanto o S&P 500 registrou leve alta e o Nasdaq recuou, pressionado pelo desempenho das grandes empresas de tecnologia.
No ambiente corporativo, a divulgação de resultados continuou oferecendo suporte ao mercado. A Cisco apresentou números e projeções acima das estimativas, beneficiada pela demanda crescente por soluções ligadas à inteligência artificial, o que impulsionou suas ações no pós-mercado. Em contraste, a Circle teve forte queda, movimento que parece estar mais relacionado ao fim do período de lock-up pós-IPO — que permite a venda de ações por executivos e acionistas iniciais — do que aos fundamentos da companhia. Os investidores agora voltam suas atenções para os resultados de empresas como Disney, Applied Materials, Brookfield, Tencent e JD.com. Ainda assim, o principal catalisador de curto prazo permanece sendo a provável reabertura do governo, fator que pode renovar o fôlego dos mercados nos próximos pregões.
· 02:38 — Dados perdidos
A divulgação do índice de preços ao consumidor de outubro nos EUA está ameaçada devido à paralisação do governo, que comprometeu a coleta regular dos dados. Com grande parte dos funcionários das agências estatísticas afastada, o volume de preços efetivamente observados caiu, elevando a dependência de estimativas e interpolações. Nesse contexto, a Casa Branca chegou a questionar a capacidade do Bureau of Labor Statistics (BLS) de publicar os indicadores de inflação e emprego referentes ao período. Ainda assim, vale lembrar que a agência possui obrigação legal de divulgar suas estatísticas trabalhistas mensalmente, e decisões dessa natureza são tomadas pelos técnicos do próprio BLS, não por instâncias políticas.
Mesmo diante do impacto operacional significativo, a maior parte dos profissionais do BLS avalia que os dados de outubro ainda serão publicados, ainda que com atraso e menor precisão. Em episódios anteriores, como a paralisação de 2013, apenas 75% dos preços foram coletados — percentual que poderia cair para algo próximo de 50% em uma interrupção mais prolongada. Ainda assim, caso a divulgação de outubro seja cancelada, os ex-dirigentes do BLS enfatizam que os dados não serão descartados: eles deverão ser incorporados aos relatórios de novembro e incluídos posteriormente nas séries históricas, assim que as operações forem normalizadas.
· 03:22 — Um período difícil
O setor de inteligência artificial tem atravessado um período de maior volatilidade — a semana passada, inclusive, foi a pior desde o anúncio das tarifas em abril. Ainda assim, no início desta semana, cestas de empresas americanas expostas ao tema voltaram a puxar a alta do mercado, impulsionadas pelo otimismo em torno de uma possível resolução para a paralisação do governo. O movimento, porém, encontrou resistência novamente ontem, refletindo um ambiente de curto prazo mais desafiador. Apesar disso, permanece a leitura de que a correção não decorreu de deterioração nos fundamentos, mas sim de ruídos momentâneos, que podem inclusive abrir espaço para oportunidades a investidores que buscam movimentos contrários. Em essência, mesmo diante do ceticismo, o superciclo de investimentos em IA continua firme e estruturado.
A narrativa de uma “bolha de IA” também ignora a solidez dessa nova etapa de transformação tecnológica. As expectativas de lucros das empresas ligadas ao tema têm crescido em ritmo significativamente superior ao do S&P 500: no terceiro trimestre, os ganhos projetados para esse grupo avançaram cerca de três vezes mais do que os das demais companhias do índice. Essa diferença expressiva reforça a robustez dos fundamentos e sustenta a visão de que o ciclo de valorização do setor de tecnologia tende a seguir ativo por pelo menos mais dois anos, apoiado tanto na expansão dos casos de uso quanto no aprofundamento da demanda por capacidade computacional.
· 04:15 — Uma virada nas relações
A visita do presidente sírio Ahmed Al-Sharaa à Casa Branca representou uma virada notável em sua trajetória — de ex-jihadista procurado pelos EUA a novo aliado diplomático de Washington. O encontro resultou na promessa de um alívio das sanções americanas, incluindo a suspensão parcial da Lei César, em troca do compromisso de Al-Sharaa em integrar uma coalizão liderada pelos EUA contra o Estado Islâmico. O gesto marca uma inflexão relevante na geopolítica do Oriente Médio, com a Síria se afastando gradualmente da órbita de influência do Irã e da Rússia.
Apesar do simbolismo e do tom conciliador adotado por Donald Trump — que elogiou o líder sírio e destacou o desejo de promover estabilidade regional —, os desafios de Al-Sharaa permanecem profundos. A Síria ainda enfrenta as cicatrizes de uma guerra civil devastadora, com pobreza generalizada, fragmentação política, tensões sectárias e colapso econômico. O governo segue sob críticas por violações de direitos humanos e precisa equilibrar relações delicadas com potências regionais, como Turquia, Israel e países do Golfo, enquanto ainda lida com a influência persistente de Moscou e Teerã. A histórica visita à Casa Branca, a primeira desde 1946, é um avanço diplomático inédito — mas, sozinha, não dissipa as incertezas que cercam o futuro do país.
· 05:03 — Indexados à inflação: protagonistas
Como sabemos, o Banco Central manteve a taxa Selic em 15% ao ano, conforme amplamente esperado pelo mercado, e reforçou sua postura conservadora, destacando que a política monetária seguirá contracionista por um período prolongado. Embora tenha reconhecido sinais de alívio na inflação — com queda tanto no índice cheio quanto nos núcleos — a autoridade monetária segue atenta ao mercado de trabalho ainda aquecido. A ata divulgada posteriormente trouxe, no entanto, um tom mais brando, indicando que o BC já incorporou o impacto fiscal da nova faixa de isenção do Imposto de Renda em suas projeções. Mesmo assim, as estimativas de inflação para 2027 caíram de 3,4% para 3,3%, reforçando a trajetória de convergência para a meta.
Paralelamente, o IPCA de outubro surpreendeu positivamente, com alta de apenas 0,09% no mês — abaixo das expectativas. A deflação de alimentos e bens duráveis, a queda dos bens comercializáveis e o recuo nos preços administrados, especialmente de energia elétrica e combustíveis, contribuíram para o resultado. O contraponto veio dos…