
Imagem: iStock/ phongphan5922
Ao longo do pregão de segunda-feira (19), o Ibovespa ultrapassou os 140 mil pontos pela primeira vez em sua história. O que está por trás dessa escalada — e, mais importante, ela é sustentável?
Os gatilhos que vêm destravando esse movimento foram tema do Radar da Semana, podcast do BTG Pactual, que contou com a participação de Larissa Quaresma, analista de ações da Empiricus Research.
Em sua análise, ela destacou os fatores por trás da virada de humor da Bolsa brasileira.
Primeiro trimestre mostrou empresas ‘vacinadas’
Após seis meses de decepções, o primeiro trimestre de 2025 trouxe otimismo renovado. Na visão de Larissa, “a gente teve menos surpresas negativas e mais surpresas positivas nessa temporada de resultados, depois de duas que tinham sido mais fracas”.
Segundo a analista, empresas voltadas à economia doméstica apresentaram crescimento de receita e manutenção da rentabilidade, mesmo em um ambiente ainda desafiador. Para ela, a economia está forte:
“O mercado de trabalho está apertado, a inadimplência está baixa e as empresas, felizmente, entraram nesse ciclo de juros elevados muito mais ‘vacinadas’, muito mais preparadas.”
Ela também destacou que o impacto de inflação e juros mais altos foi menos severo do que se imaginava, e que várias empresas mostraram que fizeram “o dever de casa” com eficiência em custos.
Entre os destaques do período, Larissa apontou:
- Bancos: o aumento dos spreads combinado à queda da inadimplência formou uma “combinação muito poderosa para o setor”, com Itaú (ITUB4) e Porto (PSSA3) como principais representantes.
- Setor de saúde: impulsionado pelo aumento do número de beneficiários e queda da sinistralidade, demonstrando um comportamento mais sadio na dinâmica desse mercado.
- Varejo: com casos como o da Azzas (AZZA3), que surpreendeu nas margens e subiu 22% no pregão seguinte à divulgação de resultados.
Corte da Selic pode ser o gatilho que falta
A ata do Copom reforçou o viés mais “dovish” do Banco Central, e o mercado já começa a precificar um possível primeiro corte para novembro ou dezembro. O que, segundo a analista, é coerente com o padrão histórico de três reuniões de pausa até o primeiro corte.
Para Larissa, o fim do ciclo de alta da Selic é um divisor de águas para o mercado:
“Sem dúvida, esse é um dos gatilhos mais importantes que a gente tem para a Bolsa brasileira no curto e médio prazo.”
A perspectiva de queda da Selic ajuda a aliviar a curva de juros reais longos, reduzindo o custo de capital das empresas e tornando os ativos de risco mais atrativos. Isso contribui para a melhora dos resultados das companhias e, por consequência, para o desempenho da Bolsa como um todo.
Ela também chamou a atenção para o descompasso entre investidor local e estrangeiro:
“Até o pregão de segunda-feira (12), o gringo aportou pelo 15º pregão consecutivo na Bolsa brasileira. O acumulado do ano está em R$ 17 bilhões positivos, mas os fundos de ações continuam sofrendo resgate.”
O que revela uma janela assimétrica: o capital internacional já enxergou valor, enquanto o fluxo local ainda está por vir.
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A virada começou, mas ainda exige atenção
Com a Selic no teto, economia doméstica resiliente e fluxo internacional consistente, os sinais de um novo ciclo estão no ar. Mas o mercado ainda é raso e volátil, o que amplia os movimentos tanto para cima quanto para baixo.
Para o investidor, o momento exige atenção aos movimentos do mercado: os gatilhos estão se alinhando e o ciclo de valorização pode estar apenas começando.
O episódio também contou com a participação de Luísa Paparounis, economista do BTG Pactual, que analisou os desdobramentos da guerra comercial e seus reflexos globais.
Segundo ela, “os Estados Unidos espirram e o mundo pega um resfriado” — por isso, é importante ficar de olho nos próximos capítulos do conflito tarifário que, por ora, anuncia apenas uma pausa.
Para conferir a discussão completa, assista ao episódio do Radar da Semana no vídeo abaixo.