Imagem: Reprodução/ Federal Reserve
O presidente Donald Trump anunciou a demissão da diretora do Federal Reserve, Lisa Cook, na última segunda-feira (25). A justificativa do republicano é que a economista teria cometido fraude hipotecária.
Em uma disputa sem precedentes, Cook declarou à imprensa que não irá renunciar ao cargo e seu advogado afirmou que serão tomadas as medidas necessárias para impedir a “tentativa de ação ilegal”.
Cook, a primeira mulher negra no conselho, foi indicada pelo ex-presidente Joe Biden e seu mandato tem duração prevista até 2038. Nos últimos meses, entretanto, a doutora em Economia vem sofrendo ameaças da administração e dos aliados do atual presidente americano, como forma de aumentar a pressão sobre o banco central dos EUA para redução dos juros.
Segundo o CIO da Empiricus Research, Felipe Miranda, o poder de Trump para esta decisão é uma subjetividade. “Há uma prescrição formal de que ele pode demitir diretores do Fed desde que haja justa causa, que deveria estar associada a uma grande negligência ou má conduta”, comentou.
Em sua coluna diária, o analista de macroeconomia da Empiricus, Matheus Spiess, afirma que a medida de Trump desafia o risco de ingerência política sobre a condução da política monetária.
“O caso inevitavelmente seguirá para a Justiça e, caso prevaleça a posição da Casa Branca, abrirá espaço para que o presidente indique outro nome ao conselho, ampliando sua influência política sobre uma instituição que, até aqui, era vista como pilar de autonomia técnica”, diz Spiess.
Por que a ameaça de demissão de Lisa Cook estremece os mercados?
Felipe Miranda explica que o mercado encara a decisão de Trump pela demissão de uma forma cautelosa diante de duas facetas diferentes.
Primeiro, o analista enxerga que há uma falta de liturgia na demissão, pela qual as instituições americanas sempre foram caracterizadas. “O mercado sempre viu nos Estados Unidos uma coisa mais ritualística, institucional e formal, de forma que não cabe a um presidente arbitrariamente determinar a diretoria do Fed”, contextualiza Miranda.
Diante desta incerteza, nesta manhã os futuros do S&P 500 recuaram e os juros longos de 30 anos subiam, demonstrando um desconforto com as instituições. “O dólar apresentou forte volatilidade e o ouro chegou a subir, refletindo a percepção de risco institucional”, comenta.
Spiess ainda levanta que, caso Trump consiga emplacar a destituição, o presidente teria a oportunidade de consolidar maioria no Conselho de Governadores do Fed, abrindo espaço para reforçar sua agenda de cortes de juros com vistas a estimular a economia.
“Trata-se, portanto, de um ataque direto à autonomia da instituição e evidencia a delicada fragilidade do equilíbrio entre política monetária e ingerência política nos EUA, ainda que parte do mercado mantenha a aposta de que o Senado e os tribunais servirão como barreiras de contenção às investidas de Trump”, escreve o analista em sua newsletter diária.
Por outro lado, essa abertura para Trump fazer mais uma nomeação no Fed implicaria no acirramento desta perseguição do presidente pelo juro curto, o que Miranda enxerga que poderia ser uma vantagem para os mercados no curto prazo.
“Um corte de juros seria pró-lucro para as empresas no curto prazo e permitiria também um menor retorno sobre o dólar. Assim, o dinheiro poderia ir para outros mercados, uma medida que poderia ser até positiva no curto prazo para mercados emergentes”, pontua Miranda.