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Investimentos

Volatilidade domina mercado na abertura do Simpósio de Jackson Hole; veja os destaques desta quinta (21) 

A atenção dos mercados nesta semana recai sobre o evento de Jackson Hole e novas pressões econômicas e políticas no mundo. Leia mais.

Por Matheus Spiess

21 ago 2025, 09:39

Atualizado em 21 ago 2025, 09:39

mercado ibovespa ações bolsa b3

Imagem: iStock.com/spawns

O Simpósio de Jackson Hole começa hoje (21), mas a verdadeira atenção dos mercados recai sobre o aguardado discurso de Jerome Powell amanhã. O pano de fundo é um ambiente carregado de expectativas em torno do ciclo de cortes de juros, após a ata mais recente do Federal Reserve ter exposto divisões internas no comitê: de um lado, dirigentes preocupados com a resiliência da inflação; de outro, vozes que destacam os riscos de enfraquecimento da atividade. Nesse contexto, os investidores mantêm apostas elevadas em um corte já em setembro, com probabilidade superior a 80%. A equação, no entanto, ganhou novas variáveis: a pressão explícita do presidente Trump sobre a instituição e as recentes mudanças na composição do comitê aumentam as dúvidas sobre a independência do Fed — elemento fundamental para a credibilidade do dólar como moeda de reserva global. Diante disso, as bolsas americanas passam por um movimento de rotação setorial, com saída de tecnologia em direção a setores mais defensivos, num ajuste cauteloso típico de momentos de transição monetária.

No exterior, o cenário também se mostra fragmentado. As bolsas asiáticas exibiram desempenho misto, mas Xangai ganhou destaque ao atingir o maior nível em uma década, impulsionada pelo avanço das fintechs e por uma trégua momentânea na guerra comercial. Na Europa, ao contrário, os índices recuam em compasso de espera pelo simpósio, apesar da surpresa positiva com o PMI industrial da Zona do Euro, que voltou à expansão após mais de três anos de contração.

O discurso de Powell ganha ainda mais peso por ser o último de sua gestão à frente do Fed em Jackson Hole, transformando-se, assim, em uma espécie de testamento de política monetária. Enquanto isso, investidores aguardam também a divulgação dos pedidos de auxílio-desemprego nos EUA, que podem reforçar ou enfraquecer a tese de flexibilização já no curto prazo. Nos mercados de commodities, o petróleo avança sustentado pela combinação de sinais de demanda robusta nos EUA e incertezas geopolíticas persistentes, complementando o quadro de volatilidade dos ativos globais.

· 00:53 — Em meio às turbulências políticas, o problema fiscal permanece

No Brasil, o Ibovespa encontrou ontem algum espaço para recuperação após a queda do pregão anterior, encerrando o dia em alta, enquanto o dólar recuou 0,48%, retornando ao patamar de R$ 5,47 após ter testado R$ 5,50. A tensão diplomática com os EUA segue no radar, mas, no curto prazo, abriu margem para uma trégua no mercado. No campo político, as atenções se voltaram para a pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta manhã, que apontou Lula à frente em todos os cenários para 2026, confirmando a melhora já captada no levantamento anterior sobre a avaliação do governo. Embora ainda faltem mais de 12 meses para o pleito, a estratégia de reforçar o discurso de soberania nacional, somada ao tradicional enquadramento de “nós contra eles”, mostrou-se eficaz na mobilização da base, rendendo dividendos políticos imediatos. No entanto, tais ganhos tendem a ser limitados: a vitória em 2026 dependerá essencialmente da conquista do eleitorado de centro — o verdadeiro fiel da balança em disputas presidenciais —, algo difícil de alcançar apenas com retórica polarizadora ou sem uma solução para o impasse diplomático com Washington, especialmente quando outros players globais avançam em negociações paralelas.

No ambiente doméstico, o Planalto enfrentou novos obstáculos. A instalação da CPMI do INSS foi dominada pela oposição — um revés que promete desgastar o governo nos próximos meses. No campo fiscal, as dificuldades também se acumulam: a PEC dos Precatórios foi retirada de pauta diante do risco de derrota em destaques que poderiam reduzir em R$ 12 bilhões o espaço fiscal, e as negociações para excluir R$ 9,5 bilhões do pacote de socorro ao tarifaço seguem travadas. A arrecadação federal de julho, estimada em R$ 252,5 bilhões (alta de 3,8% em relação ao mesmo mês de 2024), traz algum alívio conjuntural, mas não altera a fragilidade estrutural das contas públicas, ainda pressionadas pelo déficit externo e pela saída sazonal de capitais típica do fim do ano. Em audiência no Senado, a ministra Simone Tebet reconheceu que um corte linear de R$ 20 bilhões não seria suficiente, já que o ajuste necessário chega a R$ 31,9 bilhões para enquadrar os gastos tributários no teto de 2% do PIB até 2029.

Apesar disso, o governo insiste em celebrar uma trajetória de superávit primário que soa mais cosmética do que sustentável, enquanto a fatura de 2027 — quando será necessário um ajuste fiscal mais robusto — continua crescendo. A proposta de isenção do Imposto de Renda até R$ 5 mil, ainda que haja mérito no debate do ponto de vista técnico, acrescenta mais incertezas às negociações do Orçamento de 2026, cuja meta de superávit de 0,25% do PIB, por ora, segue mantida. Nesse intervalo, o déficit nominal permanece orbitando em torno de 8% do PIB, reforçando a urgência de um debate sério sobre reformas e disciplina fiscal no processo eleitoral. Dentro desse tabuleiro político, a recém-criada federação UP, com 109 deputados e 14 senadores, tende a embaralhar a articulação do PT com o centro, elevando a complexidade do cenário para 2026. Já no campo da oposição, embora ainda não haja um nome consolidado, os novos vazamentos envolvendo Jair e Eduardo Bolsonaro aceleram a transição interna e podem abrir espaço para uma candidatura mais competitiva, menos rejeitada e com discurso reformista mais consistente — possivelmente oriunda de governadores que se consolidam como alternativas viáveis ao atual governo.

· 01:42 — Na expectativa

Os mercados americanos seguem em compasso de cautela diante da expectativa pelo simpósio de Jackson Hole. Ontem, o Nasdaq e o S&P 500 recuaram, enquanto o Dow Jones encerrou praticamente estável. A pressão veio, sobretudo, das chamadas “Sete Magníficas”, que registraram queda pelo segundo pregão consecutivo. O movimento refletiu a mudança na política industrial dos Estados Unidos, após o governo Trump anunciar planos de adquirir participação em companhias estratégicas, como a Intel. A medida reacendeu debates sobre intervenção estatal em um setor já sensível às oscilações de expectativas ligadas à inteligência artificial. Não é um bom sinal…

Apesar desse ambiente de maior prudência, o tom de aversão ao risco segue contido. O S&P 500 permanece apenas 1% abaixo das máximas históricas, e a volatilidade segue em níveis reduzidos, mesmo após uma valorização expressiva de cerca de 30% desde abril. O movimento de rotação em direção a small caps e ações de valor indica alguma perda de fôlego das grandes empresas de tecnologia, mas ainda não configura uma reversão estrutural da tendência. No curto prazo, além das atenções voltadas a Jackson Hole, investidores acompanham indicadores importantes: os pedidos semanais de auxílio-desemprego — com destaque para os números contínuos, considerados um termômetro mais fiel do mercado de trabalho —, os PMIs de agosto e as vendas de imóveis usados, que se aproximam dos níveis mais baixos desde 2008. 

No front corporativo, a temporada de balanços ainda promete trazer volatilidade adicional. Companhias como Ross Stores, Walmart e Zoom divulgam resultados, fornecendo pistas relevantes sobre o comportamento do consumo e sobre a resiliência dos diferentes segmentos da economia americana em meio ao cenário atual.

· 02:33 — Nova pressão no Fed

Nesse ambiente, o discurso de Jerome Powell em Jackson Hole ganha peso adicional. Não seria a primeira vez que as declarações do presidente do Federal Reserve nesse palco serviriam como gatilho para movimentos significativos nos mercados. A ata da reunião de julho mostrou que quase todos os dirigentes apoiaram a manutenção dos juros, com apenas dois votos dissidentes a favor de cortes — o maior número de divergências registrado desde 1993. O documento evidenciou que, naquele momento, a maioria do comitê ainda via a inflação como risco mais premente do que um enfraquecimento do mercado de trabalho (o documento é sobre uma reunião em julho). Essa percepção, no entanto, pode ter se alterado diante da sequência de dados mais fracos de emprego divulgados logo após a reunião, adicionando incerteza ao cenário.

Esse pano de fundo é politicamente delicado. O presidente Trump tem intensificado a pressão pública por cortes de juros, levantando questionamentos sobre a independência do banco central. A tensão ficou ainda mais evidente às vésperas do simpósio, quando Trump pediu a renúncia da governadora Lisa Cook — nomeada por Biden e acusada de fraude hipotecária. Cook negou as acusações, reafirmou que não pretende deixar o cargo e destacou que seu mandato vai até 2038. O episódio soma-se à ofensiva de Trump para remodelar o Fed com nomes mais alinhados à sua agenda de crescimento acelerado e juros mais baixos, estratégia que já havia levado à saída de Adriana Kugler. Essa disputa explicita não apenas o choque entre a Casa Branca e a autoridade monetária, mas também os riscos à credibilidade e à independência do Fed — fatores centrais para a confiança global no dólar como moeda de reserva.

· 03:24 — O Simpósio de Jackson Hole

Além do Federal Reserve, autoridades monetárias da Europa e do Reino Unido também marcam presença no simpósio de Jackson Hole desta semana, em meio à escalada das tensões entre Donald Trump e Jerome Powell. O presidente americano tem intensificado sua pressão sobre o Fed, exigindo cortes de juros, atacando Powell de forma recorrente e prometendo substituí-lo no próximo ano por alguém mais alinhado à sua agenda política e econômica. Esse embate coloca em evidência um tema crucial para os mercados: o risco de ingerência política sobre instituições que, por definição, deveriam preservar sua independência. Não por acaso, nomes como Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE), e Andrew Bailey, do Banco da Inglaterra, devem aproveitar o encontro para reforçar publicamente a importância da autonomia dos bancos centrais, lembrando que qualquer erosão dessa independência compromete a credibilidade das políticas monetárias e, em última instância, a estabilidade econômica global. O presidente do Bundesbank, Joachim Nagel, foi direto ao ponto ao afirmar que a independência faz parte do “DNA dos bancos centrais” — e precisa ser preservada sem concessões. É fundamental.

Aliás, na Europa, Christine Lagarde acrescentou que a economia da zona do euro deve registrar um crescimento mais fraco neste trimestre, em meio a um cenário de incertezas comerciais. Ainda assim, avaliou que as tarifas de 15% impostas pelos Estados Unidos ficaram aquém do pior cenário inicialmente projetado pelo BCE, o que oferece algum alívio. Foi também sua primeira manifestação pública após o anúncio do novo acordo comercial firmado entre União Europeia e EUA, um marco que, por si só, já reposiciona parte da dinâmica global. Assim, o pano de fundo em Jackson Hole tende a ser moldado não apenas pelo debate em torno da política monetária, mas também pela intersecção entre geopolítica, protecionismo e credibilidade institucional — ingredientes que ampliam a complexidade do ambiente econômico internacional.

· 04:16 — Atenção na Índia

O bilionário Mukesh Ambani, homem mais rico da Índia e controlador da gigante Reliance, passou a ser alvo indireto dentro da crescente tensão comercial entre Índia e Estados Unidos. Embora as críticas de Donald Trump tenham se concentrado nas importações indianas de petróleo russo, assessores do governo americano foram além e acusaram magnatas locais de lucrar com a guerra — e Ambani, cuja companhia é hoje a maior compradora individual de petróleo russo no país, acabou colocado no epicentro da controvérsia. O impacto, contudo, vai além de sua imagem pessoal: figuras como Ambani são pilares fundamentais do projeto econômico do primeiro-ministro Narendra Modi, com quem mantêm uma relação quase simbiótica. Amparados por políticas que protegeram setores estratégicos como telecomunicações e varejo, esses conglomerados prosperaram, mas agora se veem expostos à ofensiva americana, que mira diretamente os alicerces desse modelo de crescimento.

Em paralelo, a Índia busca alternativas estratégicas para lidar com a deterioração nas relações com Washington. No campo diplomático, um gesto simbólico e relevante veio à tona: após anos de atritos, Índia e China anunciaram a intenção de avançar na demarcação de sua disputada fronteira, numa tentativa de reduzir tensões históricas e abrir espaço para maior cooperação em comércio e turismo. O anúncio ocorreu durante a visita do chanceler chinês Wang Yi a Nova Déli — a primeira em três anos — e antecede a esperada participação de Narendra Modi em uma cúpula regional na China. Pequim, por sua vez, mostrou habilidade em equilibrar suas alianças: além de estreitar laços com a Índia, incluiu no itinerário uma visita ao Paquistão, parceiro histórico e peça central de sua estratégia regional, sinalizando que pretende ampliar influência sem abrir mão de antigos compromissos.

· 05:05 — Alguns outros destaques

Com o encerramento da temporada de resultados do 2T25 no Brasil, o balanço trouxe surpresas positivas, mesmo em meio a um ambiente desafiador de juros elevados, que naturalmente limita o espaço para grandes destaques. Como já destaquei neste espaço, muitas empresas conseguiram entregar números consistentes e até superar projeções, evidenciando eficiência operacional acima da média.

Excluindo Petrobras e Vale, os resultados consolidados reforçam esse cenário: receitas cresceram 8% em 12 meses, o EBITDA avançou 5,4% e o lucro líquido saltou 17%. O ponto de destaque veio das companhias mais expostas à demanda interna, que mostraram resiliência frente à Selic ainda elevada, reiterando que as empresas brasileiras seguem encontrando caminhos para crescer mesmo diante de obstáculos relevantes.

A SLC Agrícola (SLCE3) apresentou…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.