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Os ETFs de ETH, muito provavelmente, não virão em 2024; saiba quais são as alternativas

Uma análise da postura da SEC em relação a cripto

Por Valter Rebelo

19 mar 2024, 15:56 - atualizado em 19 mar 2024, 15:56

atualização de Ethereum (ETH)
Imagem: Unsplash

Os ETFs de BTC já são o lançamento de maior sucesso da história do mercado financeiro, por várias métricas. Os veículos permitem que corporações, gestoras, fundos de pensão, dentre outros perfis de investidor de grande porte, invistam no maior ativo digital da atualidade sem as complicações fiscais e de custódia. Isto, sem dúvida, tem tido um grande impacto para o preço do BTC; certamente não teríamos visto a máxima histórica sem a aprovação destes veículos nessa fase do ciclo.

Entretanto, a aprovação dos ETFs não foi um processo rápido nem livre de entraves de natureza política e judicial. Desde 2018, sob a gestão do então presidente da SEC, Jay Clayton, até outubro de 2023, a Comissão rejeitou mais de 20 solicitações de ETFs de Bitcoin à vista. Após a derrocada no processo ajuizado pela Grayscale (criadora do GBTC), a SEC teve a sua mão forçada, aprovando os ETFs no dia 10 de janeiro de 2024.

A hostilidade da SEC para com o mercado cripto não é mera coincidência, ou mesmo uma colocação baseada em sentimentos; são dados.

Ações da SEC no âmbito dos criptoativos, ano a ano 

Fonte: Securities & Exchange Commision

Aproximadamente 50% dos casos iniciados pela SEC em 2023 foram relacionados à cripto, um aumento de 47% em relação ao ano anterior. É possível argumentar que, por ser um mercado completamente novo, é justificável que a SEC foque 50% de seus esforços nesse nicho inédito – em que pese cripto ter uma capitalização de mercado de US$ 2,5 trilhões, em contraste ao mercado de ações americano, por exemplo, com US$ 50 trilhões. Ainda que qualquer pessoa, se esforçando, compreenda essa gestão, isso ainda diz pouco sobre a efetividade da SEC.

Em retrospecto, os esforços da SEC para proteger o investidor têm sido um tanto mal direcionados. Em 2022, alguns dos focos do órgão foram: coleções de NFTs de gatos (Stoner Cats), o caso Ripple (o qual perderam no tribunal), e processos judiciais relacionados à Coinbase, Kraken e Binance. Nenhum dos casos citados foi relevante em termos de danos ao investidor amplo, como foram os casos da FTX, Celsius, BlockFi, e Terra/Luna, os quais não tiveram a devida atenção do órgão. Sem falar nas estranhas ligações que os principais membros da FTX têm com o atual presidente da SEC.

Sam Bankman-Fried, o SBF, que foi sentenciado a mais de 100 anos de cadeia, foi o segundo maior doador da campanha eleitoral de Joe Biden (que foi quem colocou Gensler no poder), atrás somente de George Soros. Caroline Ellison, amante de Sam, e a CEO do lado de venture capital da FTX, é filha de Glenn Ellison, que já foi chefe de Gensler durante seus anos de MIT. Essas são apenas observações curiosas; não desejo entrar no âmbito da teoria da conspiração aqui. Voltemos para o lado dos dados.

Nesta semana, a Coinbase entrou com um processo na justiça, o qual questiona a autoridade que a SEC tem sobre cripto. Um dos argumentos utilizados são as declarações que o órgão dá sobre criptoativos em diferentes momentos. As inconsistências são claras. Abaixo você encontra o original, e uma versão traduzida por nós.

Trecho do processo aberto pela Coinbase

Fonte: Coinbase | Tradução: Empiricus

Em resumo, a postura da SEC frente a cripto não tem sido consistente, e a evolução mais relevante para o mercado nos últimos anos (os ETFs de BTC) foi fruto de longos processos judiciais. Isso nos dá uma ideia sobre a possível aprovação do ETF de ETH à vista, que terá a sua data decisiva no dia 23 de maio deste ano.

Implicações da atual gestão para o ETF de ETH 

Apesar de argumentos baseados em dados empíricos apresentados na mais recente reunião entre SEC e Coinbase, que comprovam que o caso de aprovação para o ETH é muito parecido com o caso do BTC, o guidance dado aos aplicantes pelo órgão tem sido esparso, até o momento. O analista de ETFs da Bloomberg, Eric Balchunas, estima uma probabilidade de aprovação de 35%.

Por mais que a Grayscale entre novamente com um processo mediante a não aprovação no dia 23 de maio, o mesmo se arrastaria por longos meses. O processo que foi o gatilho para aprovação dos ETFs de BTC foi decidido mais de um ano após ter sido dado entrada na justiça. A gestão de Gensler se encerrará em menos de um ano, em março de 2025, caso um novo presidente seja eleito (Trump tem boas chances).

Votantes que possuem crypto tendem a favorecer Trump

Amostragem: 1000 votantes, online. Margem de erro de 3,5%.

Fonte: Public Opinion Strategies

Baseado no histórico da aprovação dos ETFs de BTC, a aprovação para o ether deverá transcorrer em dois possíveis cenários: 1. SEC surpreende com uma aprovação; 2. ETFs de ETH são aprovados em 2025, com uma mudança de gestão, sob um presidente republicano.

Implicações para o ETH 

A rede Ethereum continua sendo um dos projetos mais promissores dentro de cripto, tanto pela qualidade da sua economia de token, com demanda calcada em uso e qualidade das aplicações que constroem em cima de sua rede descentralizada de contratos autoexecutáveis, possuindo uma emissão líquida negativa, ou seja, um token que é deflacionário. Por outro lado, a rede apresenta uma experiência de usuário mais complexa, e com taxas de transação proibitivas para o investidor de varejo, o que tem prejudicado a performance do token em relação ao seu principal concorrente, Solana (SOL), e ao próprio BTC.

O ether se encontra em um purgatório, em que uma performance superior a de seus concorrentes depende muito do acesso do institucional a esse ativo, via ETFs. Dada toda essa conjuntura, a probabilidade de que o ETH seja um destaque em termos de performance de preço, neste ano, é pequena, ou pelo menos menor do que a de seus concorrentes.

Variações semanais (11/03/24 a 18/03/24) 

  • Bitcoin (BTC)

Preço: US$ 68.350 | Var. -1,00%

  • Ethereum (ETH)

Preço: US$ 3.641 | Var. -6,12%

🌐 Dominância Bitcoin: 53,47% (Var. -0,27%)

* dados referentes ao fechamento em 18/03/24

Tópicos da semana 

  • Fidelity vai fazer staking nos seu ETF: Fidelity propôs uma emenda à sua aplicação para um fundo de investimento em Ethereum (ETF) à vista, que agora incluirá staking de uma parte dos ativos de Ether para gerar renda adicional aos investidores. Essa movimentação coloca a Fidelity entre outros emissores, como Ark 21Shares e Franklin Templeton, que buscam inovar em seus ETFs com estratégias similares de staking. 
  • Juiz no estado do Utah reprova a gestão da SEC: “A conduta da Comissão, discutida acima, constitui um abuso grave do poder que lhe foi confiado pelo Congresso e minou substancialmente a integridade desses procedimentos e do processo judicial… A operação do sistema judicial americano repousa sobre a proposição fundamental de que cada parte que comparece perante o tribunal está vinculada e adere ao mesmo conjunto de regras.”
  • O varejo está comprando ETFs: Os ETFs de Bitcoin estão tendo um início promissor. Dados revelam que o tamanho médio de negociação para o maior ETF de Bitcoin à vista, o IBIT da BlackRock, é de cerca de $13.000, sugerindo que grande parte da demanda provém de investidores não profissionais. Desde o lançamento dos ETFs de Bitcoin à vista em janeiro, bilhões de dólares fluíram para esses fundos, melhorando simultaneamente o sentimento em torno da criptomoeda, numa clara demonstração de que a realidade está à altura das expectativas. 
  • O maior fundo de pensão está sondando o BTC: O Fundo de Pensão do Governo do Japão (GPIF), o maior fundo de pensão do mundo em termos de ativos sob gestão, anunciou na terça-feira que está buscando informações sobre “ativos ilíquidos” como o bitcoin, como parte de uma pesquisa sobre potenciais novos investimentos. O GPIF está procurando por informações básicas sobre ativos ilíquidos além daqueles nos quais já investe, incluindo títulos domésticos e estrangeiros, ações, imóveis, infraestrutura e capital privado. Agora, o fundo está interessado em saber mais sobre outros ativos, como florestas, terras agrícolas, ouro e bitcoin, e como estes poderiam ser incorporados ao portfólio dos fundos de pensão. Não há, no entanto, indicação de que o GPIF investirá em bitcoin ou outras criptomoedas.  

Gráfico da semana  

A recente correção do BTC pode deixar muitos, especialmente os mais inexperientes, bastante preocupados. Posso garantir que o ciclo não acabou e que não há razão para sensacionalismo no presente momento.

O MVRV é um indicador que nos dá uma ideia do lucro geral dos investidores do mercado. Ele é calculado a partir de uma divisão do valor de mercado atual do BTC, ou seja, sua capitalização de mercado, dividido pelo valor realizado, que é o valor de mercado do bitcoin contabilizando o preço que cada subunidade do BTC foi adquirida. Quanto mais o valor de mercado (MV) cresce em relação ao valor realizado (RV), mais próximo do topo do ciclo estamos chegando.

O momento de inflexão, em outras palavras, o momento em que o mercado chega no topo, e um bear market é o cenário mais provável nos meses vindouros, pode ser previsto pelo cruzamento das médias móveis do MVRV. Se a média curta (de 30 dias, em vermelho) cruzar para baixo das médias mais longas, isso definitivamente não é um bom sinal para quem está comprado. Esse não é o caso; pelo menos não ainda.

Fonte: Glassnode | Elaboração: Empiricus Cripto 

A média de 30 dias do MVRV ainda se mantém bem acima das médias mais longas, de 60, 90 e 365 dias. Sem mencionar o fato de que o MVRV só começa a entrar em uma zona de extrema importância a partir de 6 pontos. A proporção ainda está abaixo de 3, ou seja, o lucro, na média, é de menos 3 vezes o valor de aquisição.

Correções fazem parte. Agradeça e aproveite a chance de comprar caso você ainda não tenha comprado.

Um grande abraço, 

Valter Rebelo – Head de Ativos Digitais na Empiricus

Sobre o autor

Valter Rebelo

Valter Rebelo é analista de criptoativos na Empiricus Research. É economista formado pelo Insper, com especialização em ciência dos dados. Valter é consultado regularmente por relevantes portais de notícias brasileiros como Exame, Estadão, Jovem Pan, Seu Dinheiro e Money Times. Foi integrante da primeira entidade voltada para a pesquisa e estudo da tecnologia de blockchain no Brasil, o Blockchain Insper, em 2019.

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