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Julho foi um mês de máximas históricas em muitos ativos de risco. Depois de toda a volatilidade deflagrada pela guerra comercial de Donald Trump em abril, o S&P 500 está subindo uns respeitáveis 9% no ano, com o Nasdaq em alta de 10%.
Ainda assim, para muitos investidores essa recuperação das mínimas de abril – por exemplo, as ações da NVIDIA subiram 102% desde abril – ainda gera grande desconforto e até indignação.
Obviamente, em um ambiente político polarizado como o americano, fica difícil determinar até que ponto a indignação se deve à crença dos opositores de Donald Trump de que tudo o que ele faz está errado e que a economia deve implodir a qualquer momento.
Do lado oposto, seus apoiadores celebram suas várias vitórias recentes, como a aprovação do seu pacote fiscal – o “Big, Beautifull Bill”, e os acordos comerciais com vários países – especialmente o acordo “humilhante” imposto sobre a União Europeia (felizmente, o tarifaço sobre o Brasil veio bastante aguado, mas ninguém nos EUA está dando bola para isso).
Mas voltando à economia americana, há de fato um certo mistério de por que a economia está indo muito melhor do que esperado quando, apesar de todos os acordos, o nível tarifário médio deve acabar ao redor de 15%, o que não é muito diferente do nível esperado em abril, quando mais de um analista está prevendo não somente um choque inflacionário, mas uma recessão (mea culpa: eu cheguei a defender que a economia americana ia enfrentar uma recessão neste ano).
Há duas importantes razões pelas quais as coisas estão indo bem. Primeiro, o adiamento das tarifas em muitos casos permitiu o que um analista no Financial Times chamou de “otimização” das cadeias de suprimento. Se as tarifas tivessem entrado em vigor em abril de uma vez, a história provavelmente teria sido bem pior.
A segunda é a mesma razão pela qual o “juraço” que o Fed promoveu entre 2022 e 2023 não causou uma recessão: os efeitos positivos da temática AI sobre o nível de investimentos, os níveis de riqueza e a aversão ao risco.
Olhando para o “Mag 7”, o nível de investimentos dessas empresas subiu de US$ 104 bilhões por ano em 2022 para estimados US$ 200 bilhões este ano (lembrando que o ChatGPT foi lançado no final de 2022). O nível de riqueza criado nos mercados de risco – tanto público como privado – é assustador: a capitalização de mercado do “Mag 7” subiu ao redor de US$ 10 trilhões desde 2022 (para referência, o PIB americano em 2024 foi de US$ 29 trilhões). O valor, da ainda privada Open AI, subiu de entre US$ 20-30 bilhões em 2022 para US$ 300 bilhões hoje.
Com números assim, não é qualquer guerrinha comercial que vai derrubar a economia americana.
Mas essa mesma exuberância ao redor da temática AI tem levantado um outro debate nos mercados: estaríamos vivendo uma perigosa bolha especulativa e/ou excesso de especulação?
Em recente relatório os analistas da Goldman Sachs apresentaram seu novo “indicador de especulação” – índice que olha a proporção de volume de operações que representam ações de empresas em prejuízo, ações de empresas pequenas (“penny stocks”) e empresas com valor de mercado sobre vendas acima de 10x.
O índice está hoje no seu maior nível desde o período da bolha da internet (1998-2001) e o arranque dos mercados depois do choque da pandemia em 2020-2021. Eles também notam sinais de especulação nos mercados de opções, onde opções de compra representam 61% da demanda dos investidores (o valor médio normal é ao redor de 50%). Eles notam que historicamente esses picos de especulação levam ao mercado performar melhor no curto prazo (por exemplo, para o S&P 500, alta de 7% em 6 meses, versus 4% em média), mas pior no longo prazo (7% de alta em 24 meses versus 16% em média).
Não há dúvida que há uma boa dose de euforia nos mercados, mas isso se configura em uma bolha? Nove entre dez analistas admitem que não há como identificar uma bolha “em tempo real”. Mas ainda assim há como comparar o momento atual com bolhas recentes, um exercício de outro relatório recente publicado pelos estrategistas do Bank of America.
Fazendo uma comparação detalhada, especialmente com a bolha da internet dos anos 90, os analistas concluem que será muito difícil evitar uma bolha especulativa dado a enorme e revolucionária importância e aos rápidos avanços da temática AI.
Eles notam que tipicamente no final de um processo de uma bolha especulativa, antes da inevitável correção, há um forte aumento da volatilidade junto com aumento explosivo de preços. E enquanto as altas recentes nos preços de algumas ações como a da NVIDIA são “bubble like”, o nível de volatilidade em geral está relativamente calmo. Assim eles concluem que estamos hoje mais perto do que aconteceu em 1995 – o início da bolha da internet, do que 1999, perto do seu fim.
Que boa notícia – se for verdade: o Nasdaq subiu ao redor de 500% entre 1995 e 1999, caindo 80% depois do crash de 2000.
Eu, neste momento, acredito que tanto os analistas do Goldman como do Bank of America estão corretos.
Há agora fortes sinais de excesso de especulação justo quando estamos prestes a entrar no sazonalmente difícil período entre agosto e outubro para as bolsas. Os resultados das empresas de tech (veja Meta e MSFT) estão, mais uma vez, superando as expectativas, gerando nova onda de compras. Um “blow out top” é bem possível.
E, ao mesmo tempo, será muito difícil evitar uma bolha com AI, uma tecnologia que deve ser mais impactante do que a própria internet. Assim, enquanto fazer um pouco de lucro e assumir uma postura menos agressiva nestes próximos meses fizer sentido – se de fato houver uma correção na bolsa americana – você já deve saber o que deve fazer: buy that dip!
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