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Alívio externo e tom suave do Copom impulsiona Ibovespa, que crava nova máxima histórica; veja o que esperar desta sexta-feira (9)

No radar de hoje, a divulgação do IPCA de abril deve dar o tom para a continuidade do movimento positivo

Por Matheus Spiess

09 maio 2025, 09:54 - atualizado em 09 maio 2025, 10:03

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Imagem: iStock.com/mirsad sarajlic

A quinta-feira (8) teve de tudo. Além da surpresa vinda do Vaticano com o anúncio de um novo Papa, os mercados globais reagiram com entusiasmo, impulsionados por uma combinação de fatores — com destaque para o Brasil, onde os ativos reagiram fortemente à crescente percepção de que o ciclo de aperto monetário chegou ao fim. O tom mais suave do Copom foi suficiente para acender a discussão sobre cortes de juros ainda em 2025, o que, somado ao alívio externo, impulsionou o apetite por risco.

Lá fora, o anúncio de um acordo comercial entre Estados Unidos e Reino Unido trouxe ânimo adicional, especialmente para as praças asiáticas. O pacto, ainda que embrionário, foi interpretado como um aceno do governo Trump em direção a uma agenda mais pragmática, com redução seletiva de tarifas e remoção gradual de barreiras comerciais. Embora mantenha a tarifa de 10% sobre produtos britânicos, o acordo suaviza restrições sobre a exportação de automóveis do Reino Unido, sinalizando uma disposição para concessões estratégicas. Trump, como de costume, negou estar mudando de postura — mas os fatos parecem dizer outra coisa.

O pano de fundo é claro: com a economia americana enfrentando sinais crescentes de pressão e o efeito das tarifas se espalhando por setores-chave, Washington busca agora pactos rápidos com aliados estratégicos. Há rumores de que negociações com Índia, Coreia do Sul e Japão já estejam sendo costuradas. Se esse padrão de acordos com cláusulas flexíveis se confirmar — e, sobretudo, se a China entrar nessa nova rodada de diplomacia comercial — o humor dos mercados pode mudar de patamar. Para investidores, o recado é direto: mesmo em meio ao ruído geopolítico, o pragmatismo ainda tem chance de vencer. A sexta-feira mantém o tom de bom humor.

· 00:58 — Sinais de um novo ciclo

Ontem, o Ibovespa cravou um novo recorde intradiário e encerrou o pregão em forte alta, alimentado pela combinação de alívio nos mercados globais e crescente expectativa de que o ciclo de aperto monetário esteja finalmente chegando ao fim no Brasil. O índice subiu 2,12% e fechou aos 136.231 pontos, após atingir os 137.634 pontos no melhor momento do dia — uma nova máxima histórica. No acumulado de 2025, o Ibovespa já sobe 14%. Esse rali, impulsionado principalmente pela rotação para ativos de risco, também fortaleceu o real, com o dólar caindo 1,47% e encerrando cotado a R$ 5,66. A moeda americana acumula queda de quase 9% no ano, refletindo o enfraquecimento global do dólar e o capital gringo em busca de ativos descontados.

No radar de hoje, a divulgação do IPCA de abril deve dar o tom para a continuidade desse movimento. A expectativa é de uma leitura mensal mais amena, por volta de 0,56%, embora a inflação acumulada em 12 meses deva seguir em trajetória ascendente, alcançando a marca dos 6% em breve. Apesar do cenário ainda desconfortável, o mercado já começa a precificar algum espaço para cortes modestos na Selic antes do fim do ano — algo que antecipamos por aqui há meses. Esse ambiente cria uma equação rara: dólar fraco, perspectiva de juros menores, inflação ainda gerenciável e, como pano de fundo, o início da precificação de uma eventual mudança de governo em 2026, vista como pró-mercado. É uma janela interessante.

Essa conjunção de fatores tem provocado um rali notável, puxado por ações sensíveis à curva longa de juros e papéis cíclicos domésticos. Como de praxe, o movimento começa pelas blue chips, mas, com a liquidez se espalhando, as small e micro caps entram no jogo. Estamos vendo os primeiros sinais de uma possível nova temporada para essas ações menos líquidas — um ambiente fértil para quem sabe navegar em mercados emergentes. O retorno de um bull market brasileiro genuíno, daqueles de manual, é um evento raro — talvez aconteça três ou quatro vezes em toda uma carreira de investidor. E a verdade incômoda é que, para transformar seu futuro financeiro, basta acertar uma única vez. A hora de prestar atenção é agora.

· 01:43 — Bom humor

As bolsas americanas encerraram a quinta-feira em alta, impulsionadas pelo anúncio de um acordo comercial entre Estados Unidos e Reino Unido — uma sinalização que animou os mercados às vésperas do início das conversas com a China. Bastou esse gesto diplomático para reacender o apetite por risco, em um movimento típico de “comprar o rumor”. O presidente Trump, em seu estilo habitual, ainda reforçou o entusiasmo ao declarar que “seria uma boa hora para comprar ações”.

Na agenda desta sexta-feira (9), os investidores seguem de olho nos desdobramentos da temporada de balanços corporativos, mas o foco recai principalmente sobre os discursos de dirigentes do Federal Reserve. Christopher Waller e Lisa Cook, membros votantes do FOMC, participam hoje de um painel que pode oferecer alguma leitura mais refinada sobre o humor da autoridade monetária. Mais tarde, o presidente do Fed de Nova York, John Williams, também sobe ao palco em outro evento relevante.

Dado o atual ambiente de incerteza em torno da política comercial e do ciclo de juros, qualquer nuance nas declarações será cuidadosamente dissecada pelo mercado. Ainda que não se espere nenhuma mudança imediata no tom, o momento é propício para ajustes de expectativa. Por ora, basta uma fagulha para manter os ativos em alta.

· 02:31 — Acordos

O acordo firmado entre EUA e Reino Unido manteve a tarifa-base de 10% sobre importações, estabelecida em abril, mas introduziu concessões pontuais — como tarifas reduzidas para determinados automóveis britânicos e promessas de “bilhões de dólares em maior acesso ao mercado” para exportações americanas, segundo o próprio Donald Trump. Embora o pacto não represente uma grande redução tarifária, o que animou os mercados foi a leitura de que esse acerto com Londres pode ser apenas o primeiro de uma sequência de acordos bilaterais destinados a desmontar, ainda que parcialmente, a armadilha protecionista criada pelo próprio governo americano.

Trump celebrou o entendimento como um “avanço importante” e prometeu que os termos finais ainda serão lapidados nas próximas semanas. O anúncio marca, simbolicamente, a primeira trégua comercial desde a escalada tarifária imposta contra dezenas de parceiros comerciais no início deste ano — um gesto interpretado como tentativa de reposicionar a Casa Branca em meio às críticas crescentes sobre os impactos negativos da guerra comercial na inflação e no consumo doméstico.

Em discurso na Casa Branca, o presidente sinalizou ambições maiores: declarou que pretende negociar um acordo com a União Europeia e que espera tratativas “substanciais” com a China em breve. Nesse sentido, o pacto com o Reino Unido pode funcionar como uma espécie de protótipo — ou, ao menos, de vitrine — para o que seria uma nova fase da política comercial americana: menos retórica agressiva, mais pragmatismo negociador. Resta saber se o resto do mundo vai comprar essa narrativa.

· 03:25 — O choque chinês

Há décadas, o mundo vive sob os efeitos prolongados de um terremoto econômico: a ascensão da China como potência industrial global. Esse movimento deslocou indústrias, barateou produtos e remodelou cadeias produtivas em escala planetária. Agora, um novo abalo começa a reverberar com força: o Choque Trump. E diferentemente da lenta e sistemática ascensão chinesa, este novo tremor chega abrupto e deliberadamente destrutivo. O gatilho foi puxado no começo do mês passado, com o anúncio do maior pacote tarifário dos EUA em um século — uma investida frontal contra o modelo de globalização que vigorava desde os anos 1990.

Mas o impacto inicial nos mercados é apenas o primeiro capítulo. O projeto trumpista mira mais alto: quer reescrever, à força, as regras do comércio global. Isso implicará redesenhar cadeias de suprimentos, reformular investimentos internacionais, elevar o custo das importações e tensionar relações comerciais com aliados e rivais. A estratégia de Trump é clara: causar turbulência. E, nesse cenário, o caos não é um efeito colateral — é a própria ferramenta. Quanto maior a desordem, maior a chance de Washington reassumir as rédeas do jogo geoeconômico mundial.

O problema? Ao tentar minar a influência chinesa, os EUA podem acabar intensificando, paradoxalmente, o próprio Choque Chinês. Forçada a buscar novos mercados, Pequim ampliará sua presença em outros destinos — o que tende a provocar retaliações, tarifas em cadeia e uma fragmentação ainda mais radical do sistema multilateral de comércio. Ou seja: um mundo que já vinha se realinhando lentamente em blocos pode agora acelerar rumo à balcanização comercial. O resultado não será apenas uma colisão entre gigantes, mas um redirecionamento profundo nos fluxos globais de bens, capitais e poder. Em um ambiente onde dois choques colossais — o da China e o de Trump — se retroalimentam, a pergunta relevante não é mais “se” haverá impacto, mas quem será atropelado primeiro.

· 04:14 — O mal não prevalecerá

Ontem, em meio aos sinos de Roma e à fumaça branca que se ergueu da Capela Sistina, o mundo testemunhou mais um daqueles raros momentos em que a história se curva diante da tradição: os cardeais reunidos no Vaticano elegeram um novo papa. A missão, como sempre, era monumental — escolher alguém capaz de inspirar e guiar 1,4 bilhão de católicos em uma era marcada por incertezas, fragmentação cultural e avanços tecnológicos que reconfiguram a própria noção de humanidade.

E, ao que tudo indica, eles tiveram sucesso. Robert Francis Prevost, norte-americano de Chicago e ex-bispo no Peru, foi o escolhido para suceder São Pedro. Aos 69 anos, traz em seu currículo a formação em Villanova, a experiência missionária e a espiritualidade da Ordem de Santo Agostinho — um detalhe nada irrelevante para um momento em que a Igreja parece precisar, mais do que nunca, de clareza doutrinal e lucidez. Assumindo o nome de Leão XIV, ele se coloca na linhagem de grandes pontificados, como o de Leão XIII, o papa da Rerum Novarum, que enfrentou de peito aberto os dilemas éticos da Primeira Revolução Industrial.

Leão XIII foi a resposta da Igreja à modernidade emergente do século XIX. Leão XIV, espera-se, será a voz católica diante da revolução da inteligência artificial e da crise da dissolução das certezas — e, sobretudo, da escassez de sentido. Seu discurso inaugural foi marcado pela moderação e pelo apelo à construção de pontes. Mas entre as entrelinhas, havia uma firmeza palpável: “O mal não prevalecerá”, disse, encerrando sua fala sabendo que o caos não se vence com gritos, mas com coerência.

Se o nome carrega a coragem dos grandes Leões da Igreja, o santo de sua ordem — Agostinho — lembra o mundo que toda reconstrução começa dentro da alma humana. Que Leão XIV tenha, pois, o coração vigilante e o espírito de um teólogo que, há séculos, nos ensinou que só se ama verdadeiramente aquilo que se conhece. Que conheça, então, profundamente seu tempo. Vida longa a Leão XIV.

· 05:01 — Proteção avançada

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Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.