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Investimentos

Bolsas globais: Dados de PIB da Europa e Japão e petróleo no aguardo de acordo entre Rússia e EUA devem repercutir no mercado; veja os destaques desta quinta (14)

Confira os destaques desta quinta-feira (14) com o mercado de olho nos dados econômicos ao redor do mundo.

Por Matheus Spiess

14 ago 2025, 09:25

Atualizado em 14 ago 2025, 09:25

mercado ibovespa ações bolsa b3

Imagem: iStock.com/primeimages

O dia começa sob o foco renovado dos investidores nos dados de inflação norte-americanos, com a divulgação, nesta quinta-feira, do PPI (Índice de Preços ao Produtor) de julho — indicador que, em meio às expectativas de cortes de juros pelo Federal Reserve a partir de setembro, ganha peso adicional no direcionamento das apostas de mercado. O PPI reflete apenas a produção doméstica, sem capturar diretamente o impacto das tarifas comerciais recentemente impostas, mas seus efeitos podem aparecer de forma indireta: seja pelo repasse do encarecimento de insumos importados ao longo da cadeia produtiva, seja por empresas locais aproveitando a tarifação sobre concorrentes externos para promover reajustes estratégicos de preços. O cenário global também traz uma agenda carregada, com a divulgação dos PIBs do Reino Unido, da Zona do Euro e, de noite, do Japão, além de números de varejo e indústria da China, todos capazes de influenciar o desenho da política monetária.

Nos mercados, o pregão asiático encerrou majoritariamente em baixa. Já na Europa, o movimento é de ganhos moderados nesta manhã, em compasso com a assimilação de resultados corporativos e indicadores econômicos, entre eles o PIB britânico, que avançou 0,3% no segundo trimestre — desaceleração frente aos 0,7% do trimestre anterior, mas que pode abrir maior espaço para cortes de juros. Também vimos desaceleração no crescimento do PIB da Zona do Euro, de 0,6% para 0,1% no segundo trimestre. Nesse cenário, os futuros norte-americanos operam próximos à estabilidade, enquanto, entre as commodities, o petróleo avança à espera de possíveis avanços nas negociações entre EUA e Rússia, previstas para a reunião de amanhã.

· 00:51 — Hora de respirar fundo

No Brasil, o Ibovespa encerrou o pregão de ontem em queda, refletindo a reação negativa do mercado ao anúncio do chamado Plano Brasil Soberano, apresentado pelo governo como resposta às tarifas impostas pelos EUA. O pacote prevê, entre outras coisas, R$ 30 bilhões em linhas de crédito subsidiadas, lastreadas pelo Fundo Garantidor de Exportações. Embora o valor não seja elevado a ponto de comprometer o orçamento em grande escala, a decisão de excluir R$ 9,5 bilhões da meta fiscal incomodou — e por motivos consistentes. Primeiro, porque amplia o já excessivo rol de exceções ao arcabouço; segundo, por recorrer novamente a instrumentos parafiscais (já vimos esse filme antes); e terceiro, pelo risco de que a medida, vendida como temporária, se prolongue além do previsto. Aliás, se tudo passa a ser tratado como exceção, as próprias bandas de tolerância da meta fiscal dentro do arcabouço perdem sentido. Vale lembrar que elas existem justamente para absorver imprevistos desse tipo, e sua inutilização esvazia ainda mais a relevância do resultado primário num cenário em que o déficit nominal ronda 8% do PIB — mais pressão sobre os juros.

Para completar, as vendas no varejo de junho vieram muito abaixo das expectativas, somando-se a revisões negativas para maio e reforçando o sinal de desaceleração da economia. Esse quadro abre espaço para cortes da Selic ainda neste ano, mas também acende o alerta para um risco de arrefecimento excessivo da atividade — ainda não é meu cenário-base, mas esse risco não pode ser ignorado. Tal como nos EUA, a linha que separa uma desaceleração saudável de uma contração desorganizada é tênue. O mercado, por sua vez, já reage com fechamento expressivo da curva de juros futuros, antecipando o início de um ciclo de flexibilização monetária.

No radar corporativo, o destaque é o Banco do Brasil (BBAS3), que divulga balanço após o fechamento e pode gerar alguma volatilidade pontual, mas, no quadro mais amplo, o que realmente pesa são as questões fiscal e comercial. Sobre o segundo, a retórica agressiva e antiamericana do governo — já acompanhada de retaliações, como nova rodada de suspensão de vistos de autoridades brasileiras — alimenta o temor de uma escalada tarifária. O investidor prefere, e o mercado premia, a pacificação e a descompressão desse conflito, mas o movimento recente aponta na direção contrária.

· 01:45 — Novos recordes

Os índices S&P 500 e Nasdaq renovaram máximas históricas, sustentados pelo aumento das apostas de que o Federal Reserve possa iniciar cortes de juros já em setembro — expectativa que, apesar de crescente, vem sendo moderada pelos discursos mais cautelosos de seus dirigentes (hoje teremos mais falas de autoridades monetárias). O Dow Jones, por sua vez, avançou 1%, aproximando-se do recorde registrado em dezembro de 2024. Nesse contexto, ganha relevância o dado de inflação ao produtor (PPI) de julho, que será divulgado hoje e deve mostrar alta anual de 2,4% e mensal de 0,2%, com núcleo em 2,9%. O indicador também ajudará a medir o impacto das tarifas comerciais: empresas americanas absorveram até junho cerca de 64% desses custos, mas tendem a repassar parcela muito maior nos próximos meses.

No campo corporativo, a temporada de resultados do 2T25 segue bem. Com quase 90% das empresas do S&P 500 já tendo divulgado seus números, mais de 70% superaram as estimativas de lucro e quase 80% as de receita. O destaque ficou para as gigantes de tecnologia, as chamadas “7 Magníficas”, impulsionando revisões positivas nas projeções de resultados para 2025 e 2026 — o investimento em capital (Capex), especialmente voltado para inteligência artificial e data centers, cresceu 24% na comparação anual, evidenciando a velocidade da corrida pela IA. Assim, embora tenhamos novas máximas, há fundamentos que justificam esse movimento.

· 02:37 — Problemas com a inflação

O Secretário do Tesouro, Scott Bessent, voltou a pressionar o Federal Reserve para adotar um corte mais ousado na taxa de juros — de 50 pontos-base — na reunião de setembro. Apesar do apelo, os mercados futuros mantêm uma postura reticente: a expectativa predominante segue sendo por um ajuste mais modesto, de 25 pontos-base. Segundo a ferramenta FedWatch da CME, a probabilidade de um corte maior permanece ínfima, em apenas 6,2%. O desfecho dependerá, em grande medida, dos números do mercado de trabalho de agosto, que serão divulgados em 5 de setembro. Uma deterioração expressiva — com eventual perda líquida de postos de trabalho, revisões negativas nos dados anteriores e avanço da taxa de desemprego de 4,2% para 4,4% — poderia abrir espaço para uma ação mais agressiva. Ainda assim, o cenário-base segue sendo de um corte moderado, preservando a cautela do Fed.

Isso porque a autoridade monetária segue vigilante quanto à inflação, sobretudo após o núcleo acelerar em julho e projetar tendência de alta nos próximos meses, impulsionada pelo efeito defasado das tarifas comerciais. Embora haja sinais de arrefecimento na atividade laboral, o mercado de trabalho ainda é classificado como robusto, o que restringe a margem para cortes expressivos sem colocar em risco a credibilidade do Fed no combate à inflação acima da meta de 2%. Nesse contexto, mesmo que o PPI de julho ofereça algum respaldo para uma redução em setembro, não há qualquer garantia de que novos cortes só sejam implementados em outubro.

· 03:26 — O risco de estagflação

Ainda persiste, entre analistas e investidores, o receio de que a economia americana caminhe para um quadro de estagflação — uma combinação nociva de inflação persistente com crescimento econômico anêmico — à medida que os impactos das tarifas comerciais começam a se materializar. Tal cenário restringiria consideravelmente a margem de manobra do Federal Reserve para reduzir juros, mesmo diante de sinais recentes de enfraquecimento da atividade. A situação evoca paralelos incômodos com o impasse enfrentado pelo governo Jimmy Carter no final dos anos 1970, agora agravada por um fator adicional: a desvalorização histórica do dólar, que acumula queda de 8% frente a uma cesta de moedas comparáveis. 

O ponto central de preocupação está no risco de que o repasse dos custos mais altos, decorrentes das tarifas, volte a pressionar os índices de preços. A percepção dos consumidores já reflete essa ameaça: segundo pesquisa do Federal Reserve de Nova York, as expectativas de inflação para os próximos 12 meses avançaram de 3,0% em junho para 3,1% em julho. Ainda que haja avaliações ligeiramente mais otimistas sobre o mercado de trabalho, o volume de pedidos contínuos de seguro-desemprego atingiu o nível mais elevado desde novembro de 2021, sinalizando fragilidades. Ao mesmo tempo, dados recentes confirmam que os preços dos produtos mais expostos às tarifas começaram a subir, configurando um risco concreto de que a economia entre em um ciclo de inflação em paralelo à perda de dinamismo. Algo para prestarmos atenção.

· 04:12 — E por falar em mercado de trabalho…

O mercado de trabalho norte-americano apresenta sinais de arrefecimento, mas estudos recentes indicam que a inteligência artificial, ao menos por enquanto, não é a força motriz por trás dessa desaceleração. De acordo com o Economic Innovation Group, um think tank especializado, não há evidências concretas de que a IA esteja impactando de forma relevante o nível de emprego, nem mesmo entre recém-formados — segmento frequentemente citado como o mais suscetível à substituição tecnológica. Estudos conduzidos por pesquisadores de Yale corroboram essas conclusões, reforçando que, até o momento, não há sinais de que a adoção da IA esteja provocando mudanças expressivas nos indicadores do mercado de trabalho.

Ainda assim, existem sinais específicos que merecem acompanhamento. Grandes corporações, como a Microsoft, vêm promovendo cortes de pessoal enquanto intensificam o uso da IA, e diversas startups têm conseguido expandir receitas operando com estruturas enxutas. Há evidências preliminares de que vagas para profissionais em início de carreira, em setores mais expostos à IA, estão diminuindo em um ritmo mais acelerado que em áreas menos suscetíveis — embora a limitação das amostras torne prematura qualquer conclusão definitiva. É cedo para mensurar o impacto real dessa tecnologia, lembrando que a economia americana está sujeita a múltiplos fatores de transformação simultânea. A ausência de efeitos nos números agregados não garante que eles não venham a surgir, tornando prudente a observação atenta das tendências nos próximos trimestres. Em breve, podemos ter novidades…

· 05:09 — Um pequeno giro pela temporada de resultados

À medida que nos aproximamos do fim da temporada de resultados do segundo trimestre de 2025 no Brasil, considero oportuno revisitar alguns nomes que vêm figurando em nossas recomendações desde o final de 2023. De fato, não vivenciamos, por aqui, uma safra tão vibrante quanto a observada nos Estados Unidos — algo compreensível diante do atual patamar de juros domésticos, que limita o ímpeto para grandes surpresas positivas. Ainda assim, não se tratou de um período irrelevante: muitas companhias demonstraram uma resiliência admirável frente a um ambiente macroeconômico exigente, enquanto outras conseguiram ir além e surpreender positivamente o consenso de mercado.

A Eletrobras (ELET6), por exemplo…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.