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O dia começa sob o foco renovado dos investidores nos dados de inflação norte-americanos, com a divulgação, nesta quinta-feira, do PPI (Índice de Preços ao Produtor) de julho — indicador que, em meio às expectativas de cortes de juros pelo Federal Reserve a partir de setembro, ganha peso adicional no direcionamento das apostas de mercado. O PPI reflete apenas a produção doméstica, sem capturar diretamente o impacto das tarifas comerciais recentemente impostas, mas seus efeitos podem aparecer de forma indireta: seja pelo repasse do encarecimento de insumos importados ao longo da cadeia produtiva, seja por empresas locais aproveitando a tarifação sobre concorrentes externos para promover reajustes estratégicos de preços. O cenário global também traz uma agenda carregada, com a divulgação dos PIBs do Reino Unido, da Zona do Euro e, de noite, do Japão, além de números de varejo e indústria da China, todos capazes de influenciar o desenho da política monetária.
Nos mercados, o pregão asiático encerrou majoritariamente em baixa. Já na Europa, o movimento é de ganhos moderados nesta manhã, em compasso com a assimilação de resultados corporativos e indicadores econômicos, entre eles o PIB britânico, que avançou 0,3% no segundo trimestre — desaceleração frente aos 0,7% do trimestre anterior, mas que pode abrir maior espaço para cortes de juros. Também vimos desaceleração no crescimento do PIB da Zona do Euro, de 0,6% para 0,1% no segundo trimestre. Nesse cenário, os futuros norte-americanos operam próximos à estabilidade, enquanto, entre as commodities, o petróleo avança à espera de possíveis avanços nas negociações entre EUA e Rússia, previstas para a reunião de amanhã.
· 00:51 — Hora de respirar fundo
No Brasil, o Ibovespa encerrou o pregão de ontem em queda, refletindo a reação negativa do mercado ao anúncio do chamado Plano Brasil Soberano, apresentado pelo governo como resposta às tarifas impostas pelos EUA. O pacote prevê, entre outras coisas, R$ 30 bilhões em linhas de crédito subsidiadas, lastreadas pelo Fundo Garantidor de Exportações. Embora o valor não seja elevado a ponto de comprometer o orçamento em grande escala, a decisão de excluir R$ 9,5 bilhões da meta fiscal incomodou — e por motivos consistentes. Primeiro, porque amplia o já excessivo rol de exceções ao arcabouço; segundo, por recorrer novamente a instrumentos parafiscais (já vimos esse filme antes); e terceiro, pelo risco de que a medida, vendida como temporária, se prolongue além do previsto. Aliás, se tudo passa a ser tratado como exceção, as próprias bandas de tolerância da meta fiscal dentro do arcabouço perdem sentido. Vale lembrar que elas existem justamente para absorver imprevistos desse tipo, e sua inutilização esvazia ainda mais a relevância do resultado primário num cenário em que o déficit nominal ronda 8% do PIB — mais pressão sobre os juros.
Para completar, as vendas no varejo de junho vieram muito abaixo das expectativas, somando-se a revisões negativas para maio e reforçando o sinal de desaceleração da economia. Esse quadro abre espaço para cortes da Selic ainda neste ano, mas também acende o alerta para um risco de arrefecimento excessivo da atividade — ainda não é meu cenário-base, mas esse risco não pode ser ignorado. Tal como nos EUA, a linha que separa uma desaceleração saudável de uma contração desorganizada é tênue. O mercado, por sua vez, já reage com fechamento expressivo da curva de juros futuros, antecipando o início de um ciclo de flexibilização monetária.
No radar corporativo, o destaque é o Banco do Brasil (BBAS3), que divulga balanço após o fechamento e pode gerar alguma volatilidade pontual, mas, no quadro mais amplo, o que realmente pesa são as questões fiscal e comercial. Sobre o segundo, a retórica agressiva e antiamericana do governo — já acompanhada de retaliações, como nova rodada de suspensão de vistos de autoridades brasileiras — alimenta o temor de uma escalada tarifária. O investidor prefere, e o mercado premia, a pacificação e a descompressão desse conflito, mas o movimento recente aponta na direção contrária.
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· 01:45 — Novos recordes
Os índices S&P 500 e Nasdaq renovaram máximas históricas, sustentados pelo aumento das apostas de que o Federal Reserve possa iniciar cortes de juros já em setembro — expectativa que, apesar de crescente, vem sendo moderada pelos discursos mais cautelosos de seus dirigentes (hoje teremos mais falas de autoridades monetárias). O Dow Jones, por sua vez, avançou 1%, aproximando-se do recorde registrado em dezembro de 2024. Nesse contexto, ganha relevância o dado de inflação ao produtor (PPI) de julho, que será divulgado hoje e deve mostrar alta anual de 2,4% e mensal de 0,2%, com núcleo em 2,9%. O indicador também ajudará a medir o impacto das tarifas comerciais: empresas americanas absorveram até junho cerca de 64% desses custos, mas tendem a repassar parcela muito maior nos próximos meses.
No campo corporativo, a temporada de resultados do 2T25 segue bem. Com quase 90% das empresas do S&P 500 já tendo divulgado seus números, mais de 70% superaram as estimativas de lucro e quase 80% as de receita. O destaque ficou para as gigantes de tecnologia, as chamadas “7 Magníficas”, impulsionando revisões positivas nas projeções de resultados para 2025 e 2026 — o investimento em capital (Capex), especialmente voltado para inteligência artificial e data centers, cresceu 24% na comparação anual, evidenciando a velocidade da corrida pela IA. Assim, embora tenhamos novas máximas, há fundamentos que justificam esse movimento.
· 02:37 — Problemas com a inflação
O Secretário do Tesouro, Scott Bessent, voltou a pressionar o Federal Reserve para adotar um corte mais ousado na taxa de juros — de 50 pontos-base — na reunião de setembro. Apesar do apelo, os mercados futuros mantêm uma postura reticente: a expectativa predominante segue sendo por um ajuste mais modesto, de 25 pontos-base. Segundo a ferramenta FedWatch da CME, a probabilidade de um corte maior permanece ínfima, em apenas 6,2%. O desfecho dependerá, em grande medida, dos números do mercado de trabalho de agosto, que serão divulgados em 5 de setembro. Uma deterioração expressiva — com eventual perda líquida de postos de trabalho, revisões negativas nos dados anteriores e avanço da taxa de desemprego de 4,2% para 4,4% — poderia abrir espaço para uma ação mais agressiva. Ainda assim, o cenário-base segue sendo de um corte moderado, preservando a cautela do Fed.
Isso porque a autoridade monetária segue vigilante quanto à inflação, sobretudo após o núcleo acelerar em julho e projetar tendência de alta nos próximos meses, impulsionada pelo efeito defasado das tarifas comerciais. Embora haja sinais de arrefecimento na atividade laboral, o mercado de trabalho ainda é classificado como robusto, o que restringe a margem para cortes expressivos sem colocar em risco a credibilidade do Fed no combate à inflação acima da meta de 2%. Nesse contexto, mesmo que o PPI de julho ofereça algum respaldo para uma redução em setembro, não há qualquer garantia de que novos cortes só sejam implementados em outubro.
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· 03:26 — O risco de estagflação
Ainda persiste, entre analistas e investidores, o receio de que a economia americana caminhe para um quadro de estagflação — uma combinação nociva de inflação persistente com crescimento econômico anêmico — à medida que os impactos das tarifas comerciais começam a se materializar. Tal cenário restringiria consideravelmente a margem de manobra do Federal Reserve para reduzir juros, mesmo diante de sinais recentes de enfraquecimento da atividade. A situação evoca paralelos incômodos com o impasse enfrentado pelo governo Jimmy Carter no final dos anos 1970, agora agravada por um fator adicional: a desvalorização histórica do dólar, que acumula queda de 8% frente a uma cesta de moedas comparáveis.
O ponto central de preocupação está no risco de que o repasse dos custos mais altos, decorrentes das tarifas, volte a pressionar os índices de preços. A percepção dos consumidores já reflete essa ameaça: segundo pesquisa do Federal Reserve de Nova York, as expectativas de inflação para os próximos 12 meses avançaram de 3,0% em junho para 3,1% em julho. Ainda que haja avaliações ligeiramente mais otimistas sobre o mercado de trabalho, o volume de pedidos contínuos de seguro-desemprego atingiu o nível mais elevado desde novembro de 2021, sinalizando fragilidades. Ao mesmo tempo, dados recentes confirmam que os preços dos produtos mais expostos às tarifas começaram a subir, configurando um risco concreto de que a economia entre em um ciclo de inflação em paralelo à perda de dinamismo. Algo para prestarmos atenção.
· 04:12 — E por falar em mercado de trabalho…
O mercado de trabalho norte-americano apresenta sinais de arrefecimento, mas estudos recentes indicam que a inteligência artificial, ao menos por enquanto, não é a força motriz por trás dessa desaceleração. De acordo com o Economic Innovation Group, um think tank especializado, não há evidências concretas de que a IA esteja impactando de forma relevante o nível de emprego, nem mesmo entre recém-formados — segmento frequentemente citado como o mais suscetível à substituição tecnológica. Estudos conduzidos por pesquisadores de Yale corroboram essas conclusões, reforçando que, até o momento, não há sinais de que a adoção da IA esteja provocando mudanças expressivas nos indicadores do mercado de trabalho.
Ainda assim, existem sinais específicos que merecem acompanhamento. Grandes corporações, como a Microsoft, vêm promovendo cortes de pessoal enquanto intensificam o uso da IA, e diversas startups têm conseguido expandir receitas operando com estruturas enxutas. Há evidências preliminares de que vagas para profissionais em início de carreira, em setores mais expostos à IA, estão diminuindo em um ritmo mais acelerado que em áreas menos suscetíveis — embora a limitação das amostras torne prematura qualquer conclusão definitiva. É cedo para mensurar o impacto real dessa tecnologia, lembrando que a economia americana está sujeita a múltiplos fatores de transformação simultânea. A ausência de efeitos nos números agregados não garante que eles não venham a surgir, tornando prudente a observação atenta das tendências nos próximos trimestres. Em breve, podemos ter novidades…
· 05:09 — Um pequeno giro pela temporada de resultados
À medida que nos aproximamos do fim da temporada de resultados do segundo trimestre de 2025 no Brasil, considero oportuno revisitar alguns nomes que vêm figurando em nossas recomendações desde o final de 2023. De fato, não vivenciamos, por aqui, uma safra tão vibrante quanto a observada nos Estados Unidos — algo compreensível diante do atual patamar de juros domésticos, que limita o ímpeto para grandes surpresas positivas. Ainda assim, não se tratou de um período irrelevante: muitas companhias demonstraram uma resiliência admirável frente a um ambiente macroeconômico exigente, enquanto outras conseguiram ir além e surpreender positivamente o consenso de mercado.
A Eletrobras (ELET6), por exemplo…