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Bolsas globais operam de olho em mais uma rodada de negociações tarifárias entre EUA e Pequim nesta segunda-feira (9); veja os destaques

Começamos mais uma semana de olho nas negociações tarifárias internacinais enquanto o Brasil patina para fechar o Orçamento anual.

Por Matheus Spiess

09 jun 2025, 09:56 - atualizado em 09 jun 2025, 09:56

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Imagem: iStock/ Hankimage9

A semana passada foi encerrada sob o peso de um velho conhecido: o ceticismo do investidor doméstico diante da capacidade — e da disposição — do governo em entregar um ajuste fiscal crível. A expectativa girava em torno da reunião entre o ministro Fernando Haddad e as lideranças do Congresso, marcada para debater alternativas ao aumento do IOF.

O desfecho, infelizmente, seguiu o roteiro que antecipamos por aqui: mais uma rodada de soluções fáceis pela via arrecadatória, enquanto qualquer tentativa minimamente séria de repensar a estrutura dos gastos públicos foi, mais uma vez, escanteada — ou pior, ignorada. O embate entre Executivo e Legislativo revelou-se menos uma negociação e mais um teatro de concessões assimétricas. De um lado, o governo tenta salvar as metas fiscais com mais receita. Do outro, o Congresso cede apenas onde lhe convém, blindando áreas sensíveis e transferindo a conta para o contribuinte. Faltou convicção e força política. E como previmos, o tempo tratou de validar nossa desconfiança: em vez de avanço estrutural, tivemos um puxadinho fiscal com fachada de responsabilidade, mas alicerces frágeis.

Lá fora, a agenda também segue carregada. Os olhos se voltam para Londres, onde representantes de China e EUA iniciam novas tratativas comerciais em meio à escalada protecionista. A tensão geopolítica ganha contornos adicionais com a briga pública entre Donald Trump e Elon Musk, dois dos personagens mais influentes — e voláteis — do momento. A rusga entre os bilionários, somada ao pacote orçamentário polêmico que Trump tenta emplacar no Congresso, elevou a temperatura política em Washington. Nas ruas americanas, o fim de semana foi marcado por protestos em Los Angeles contra o presidente Trump.

Enquanto isso, na Ásia, os mercados fecharam em alta, sustentados pela expectativa positiva com as negociações, ainda que os dados da balança comercial chinesa de maio tenham revelado sinais claros de fraqueza, com desaceleração das exportações e queda das importações. Na Europa, o dia começou no vermelho — por lá, a cautela ainda comanda o pregão.

· 00:53 — A sanha arrecadatória

No Brasil, como já havíamos antecipado na semana passada, o mercado reagiu com a parcimônia típica de quem já se acostumou a esperar pouco — e receber ainda menos. A possibilidade de o governo apresentar uma medida estrutural como alternativa ao aumento do IOF até chegou a circular, mas encontrou de imediato o velho ceticismo de um investidor que aprendeu, na marra, a não se entusiasmar com balões de ensaio.

A provável desistência da equipe econômica no reajuste do IOF escancara uma realidade: o espaço político e institucional para aventuras heterodoxas está cada vez mais estreito. A despeito do recuo, porém, o plano B não foge ao padrão: foca apenas no aumento de arrecadação, deixando o ajuste estrutural para depois. A saída será uma Medida Provisória, que deve regulamentar a tributação de produtos hoje isentos, como as Letras de Crédito Imobiliário (LCI) e do Agronegócio (LCA), com uma alíquota promocional de 5%. A justificativa oficial é “corrigir distorções”; na prática, é fechar a conta de 2025 no tapa.

Outro item acordado na reunião foi o enfrentamento do volume obsceno de gastos tributários, que já alcançam a marca de R$ 800 bilhões por ano. A promessa — vaga, é claro — é cortar ao menos 10%. Além disso, haverá aumento da CSLL para instituições financeiras, equalizando a alíquota em 15% ou até 20%, pondo fim ao “privilégio” dos 9% atuais. As casas de apostas, ou “bets”, também sentirão o peso: terão carga tributária elevada. Com o abandono do aumento IOF, porém, a arrecadação potencial caiu para cerca de um terço da previsão inicial.

E quanto às reformas de verdade? Silêncio absoluto. Escanteio da reforma da Previdência dos militares e dos supersalários do funcionalismo. Nem uma palavra sobre o BPC ou a desvinculação de gastos obrigatórios com saúde e educação — alguns dos elefantes na sala. Mais uma vez, qualquer tentativa de reequilibrar o Orçamento de forma estrutural foi empurrada para 2027, como se até lá o país pudesse seguir à base de gambiarras fiscais e ajustes cosméticos. A sanha arrecadatória do governo segue firme, enquanto o Estado, este sim, permanece intocado.

· 01:47 — Um espaço para corte…

Nos EUA, os holofotes da semana se voltam para os dados de inflação, que devem servir como termômetro decisivo para as próximas movimentações do Federal Reserve. Ao fundo, segue o burburinho corporativo, com a temporada de resultados trazendo nomes como GameStop, a queridinha dos fóruns de Reddit; Oracle, símbolo da velha guarda do software em nuvem; e Adobe, a dona do Photoshop e, agora, aspirante a protagonista na corrida da IA. Além disso, a Apple dará início hoje (9) à aguardada WWDC 2025 — sua Conferência Mundial de Desenvolvedores —, evento que costuma capturar não só a atenção de entusiastas de tecnologia, mas também a expectativa de investidores por pistas sobre os rumos da gigante. 

Enquanto isso, o mercado ainda digere os dados do payroll divulgados na última sexta-feira. Os EUA criaram 139 mil empregos em maio — número inferior aos 147 mil de abril (revisados para cima), mas ainda acima da expectativa de 130 mil. Em outras palavras: não foi um espetáculo, mas também não foi um fracasso. O suficiente para animar os mercados, ainda que comedidamente. A combinação entre uma economia resiliente e a percepção de que os cortes de juros virão, sim, mas tarde e em doses homeopáticas, levou os yields dos Treasuries a subir. O corte de juros em 2025 continua no radar — só não espere que ele venha sem resistência.

· 02:36 — Encontro nada amoroso em Londres

Os negociadores de EUA e China voltam à mesa hoje (9), em Londres, para a segunda rodada das negociações tarifárias — um novo capítulo em uma novela comercial que nunca termina. Pequim afirma ter autorizado algumas exportações de terras raras, tentando acenar com boa vontade. Mas o verdadeiro objetivo da delegação chinesa é outro: pressionar por uma flexibilização nos rígidos controles que os EUA impuseram ao setor de semicondutores — o calcanhar de Aquiles da indústria chinesa.

A urgência de Pequim tem justificativa. As exportações chinesas para os Estados Unidos despencaram 34,4% em maio, na maior queda desde 2020. Um tombo dessa magnitude fala mais alto do que qualquer declaração diplomática. Do lado americano, quem comanda o jogo são pesos pesados: Scott Bessent, Secretário do Tesouro; Howard Lutnick, do Comércio; e Jamieson Greer, Representante Comercial. Do lado chinês, o vice-premiê He Lifeng conduz as tratativas.

Vale lembrar que a última rodada dessas conversas — também marcada por tensões — acabou surpreendendo o mercado com uma trégua temporária. Foi o suficiente, na ocasião, para injetar algum alívio nos ativos. Agora, o mercado acompanha atento, com menos fé: os protagonistas são os mesmos, mas o custo do impasse só aumenta.

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· 03:21 — A corda bamba de Netanyahu

A já combalida coalizão governista de Israel mergulha em mais uma crise — e, desta vez, com cheiro de colapso. Os partidos ultraortodoxos, pilares do governo Netanyahu, decidiram abandonar o barco após o avanço de propostas que visam revisar a regra histórica de isenção do alistamento militar obrigatório para estudantes ultraortodoxos, vigente desde a fundação do Estado de Israel. O estopim, porém, apenas coroou um desgaste que já vinha se acumulando. A gestão de Benjamin Netanyahu vem se fragmentando progressivamente, encurralada entre a polarização interna, o crescente descontentamento popular e as pressões institucionais. 

Agora, com o racha oficializado, a expectativa é que a coalizão não resista. O partido de oposição, de centro, já apresentou uma moção para dissolver o Knesset, o parlamento israelense, e a votação — prevista para quarta-feira (11) — tem tudo para ser aprovada, abrindo caminho para eleições gerais já em novembro. Sem uma solução legislativa que reacomode os interesses dos religiosos, o retorno dos partidos ultraortodoxos à base parece improvável.

O impasse institucional traz consigo implicações geopolíticas importantes. Com um governo enfraquecido ou interino, abre-se um vácuo de comando em um momento delicado para a segurança nacional israelense. A nova ofensiva militar em Gaza pode perder tração, e a já tensa relação com o Irã entra em zona de maior incerteza. Em suma, mais um foco de instabilidade que deve ser monitorado de perto pelos mercados globais — como se já faltassem riscos no tabuleiro internacional.

· 04:19 — Deflação

O grande destaque do noticiário internacional nas últimas horas veio da China. Os dados de inflação referentes a maio reforçam a persistência do ambiente deflacionário que tem dominado a segunda maior economia do mundo. O índice de preços ao consumidor (CPI) recuou 0,1% na comparação anual, enquanto o índice de preços ao produtor (PPI) tombou 3,3%, pressionado sobretudo pela queda nos preços de energia e pela fraqueza estrutural nos setores de construção e metais industriais. Houve uma leve melhora no núcleo da inflação, mas ainda insuficiente para alterar o diagnóstico: o quadro geral de preços segue deprimido, minando o crescimento nominal do PIB, comprimindo a renda das famílias e enfraquecendo a arrecadação fiscal.

O que agrava ainda mais a situação é que essa espiral deflacionária tem sido alimentada por uma intensa guerra de preços entre empresas locais, que prolonga a desinflação do consumo. Mesmo com estímulos pontuais e o aumento sazonal dos gastos durante os dois principais feriados nacionais, a demanda interna continua aquém do necessário para sustentar um processo de recuperação mais robusto. A fraqueza no consumo se soma à perda de dinamismo externo: as exportações, embora ainda positivas, cresceram apenas 4,8% em maio — uma desaceleração relevante frente aos 8,1% registrados no mês anterior — com destaque para o tombo nas remessas para os EUA, que sofreram sua pior queda em mais de cinco anos.

O superávit comercial, apesar disso, aumentou de US$ 96,1 bilhões em abril para US$ 103,2 bilhões em maio. Mas o dado, à primeira vista positivo, esconde uma fragilidade: o aumento veio não por força das exportações, mas pela contração das importações, que caíram 3,4%, aprofundando ainda mais a leitura negativa sobre a atividade doméstica. Em resumo, a China segue prisioneira de um ciclo vicioso em que preços em queda, consumo débil e dificuldades externas conspiram contra o crescimento. Para os mercados globais, o cenário exige cautela redobrada: quando a locomotiva da Ásia patina, a instabilidade tende a se espalhar.

· 05:04 — Descruzamento e interesse nuclear

Em linha com sua estratégia de simplificação societária e racionalização de portfólio, a Eletrobras (ELET6) anunciou nos últimos dias a conclusão de mais um passo relevante: o descruzamento de participações com a Copel. No movimento, a Eletrobras transferiu suas fatias minoritárias na Usina Hidrelétrica Mauá (49%) e na transmissora Mata de Santa Genebra (49,9%) para a Copel, que passou a deter integralmente os ativos. Em contrapartida…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.