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Com Ibovespa acima de 140 mil pontos e mau humor nos mercados internacionais, o que esperar nesta quarta-feira (21)?

Enquanto o índice de ações brasileiro alcança novas altas, as bolsas internacionais amargam. Leia mais.

Por Matheus Spiess

21 maio 2025, 09:08 - atualizado em 21 maio 2025, 09:08

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Imagem: iStock.com/MF3d

Os mercados internacionais amanhecem sob uma atmosfera mais carregada, marcada pela elevação da aversão ao risco. As esperanças de algum avanço diplomático no conflito entre Rússia e Ucrânia evaporaram, mesmo após o telefonema de duas horas entre Trump e Putin, que terminou sem qualquer sinal concreto de cessar-fogo. Ao mesmo tempo, o Reino Unido entregou uma inflação mais teimosa do que o previsto, alimentando apostas de que os juros por lá ainda podem permanecer elevados por mais tempo. Resultado: as bolsas europeias recuam nesta manhã.

Do lado asiático, o sentimento foi igualmente nebuloso. A exceção ficou com a China, que ainda se beneficia do corte de juros promovido pelo banco central local — uma tentativa de reanimar a economia real. No entanto, o resto do continente refletiu um cenário mais preocupante: o Japão reportou em abril o menor crescimento das exportações em sete meses, com queda relevante na demanda externa por carros, aço e navios, agravada pelo recrudescimento das barreiras comerciais.

Já os Estados Unidos seguem presos à digestão de resultados corporativos mistos. O desempenho decepcionante do Walmart (WALM34) reavivou o temor de que o consumo das famílias — o verdadeiro motor da economia americana — esteja finalmente perdendo fôlego. Os futuros das bolsas operam no vermelho, à espera de novos balanços do setor de varejo e atentos às falas de membros do Fed, que devem calibrar as apostas sobre a trajetória da política monetária nas próximas semanas.

No Brasil, o contraste permanece — e segue jogando a favor. A despeito do barulho externo, os ativos locais continuam em alta, impulsionados por uma combinação de fluxo estrangeiro persistente, ambiente de juros domésticos no pico e um sentimento crescente de que, entre os emergentes, o Brasil virou “porto seguro por exclusão”. A alta do petróleo nesta manhã adiciona mais um combustível ao rali — notícias de que Israel pode estar se preparando para atacar instalações nucleares iranianas voltaram a colocar o risco geopolítico na mesa, o que empurra a cotação do Brent para cima.

· 00:54 — Rali com ressalvas. Mas ainda assim, rali!

O Ibovespa finalmente ultrapassou os 140 mil pontos — um marco simbólico que reforça a força do rali brasileiro, mesmo num dia em que dólar e juros subiram, em tese contrariando a lógica pró-risco. Mas o que tem sustentado esse avanço é o que de fato importa: o fluxo estrangeiro segue firme, abastecido por uma rotação regional que continua beneficiando o Brasil. O número já passa dos R$ 20 bilhões em 2025, reflexo de uma tese que temos defendido há meses: em um mundo caótico, o Brasil virou uma alternativa viável entre os emergentes descontados, quase por exclusão.

Essa percepção ganhou respaldo formal ontem (20). O Morgan Stanley elevou sua recomendação para o mercado brasileiro, apontando como vetores positivos a perspectiva de mudança na política econômica a partir de 2027, o fim do ciclo de alta da Selic e valuations ainda deprimidos. Estimou Ibovespa em 189 mil pontos até meados de 2026. No mesmo compasso, o Safra projetou 170 mil pontos em 12 meses. Os gringos, finalmente, estão chegando à mesma conclusão que já antecipamos aqui.

Mas sejamos claros: o caminho até esse destino não será linear, tampouco tranquilo. No curto prazo, as incertezas fiscais seguem rondando o ambiente doméstico. O ministro Haddad entregou ao presidente Lula um novo pacote de medidas fiscais — mas o conteúdo ainda não foi detalhado. Uma das ideias em discussão é antecipar o reembolso aos aposentados lesados pelo escândalo do INSS, numa tentativa de conter o desgaste político. O problema é a mesma pergunta de sempre: com que recursos?

A essa altura, os sinais de deterioração na popularidade presidencial já são visíveis. Ontem, Lula foi vaiado em evento público em Brasília — sintomático. A resposta do governo parece vir no mesmo tom de sempre: mais estímulos direcionados, mais subsídios mal calibrados, e mais crédito para consumo. Entre as medidas ventiladas, estão a isenção total da conta de luz para milhões de famílias, novo Vale Gás, financiamento facilitado para microempreendedores e reforma de moradias. Tudo embalado em retórica social, mas com impacto fiscal difícil de sustentar.

E como sempre acontece em medidas desse tipo, o cobertor é curto: a conta da energia “gratuita” para uns será repassada a outros, sob a forma de aumentos nas tarifas. O governo aposta que isso sustentará alguma popularidade de curto prazo, mesmo que artificial. Mas há um limite para esse tipo de improviso, sobretudo num país com quase metade da população adulta inadimplente e dívidas médias acima de R$ 1.500. A sensação de déjà vu com a Nova Matriz Econômica é inevitável.

Do ponto de vista político, o tabuleiro também começa a se mexer. O Planalto lida com novos atritos internos — a mais recente envolvendo a primeira-dama Janja e o ministro Rui Costa, após uma fala vazada em jantar com as autoridades chinesas. Enquanto isso, a oposição articula discretamente a candidatura de Tarcísio de Freitas para 2026. O governador já começa a admitir que toparia disputar a presidência — desde que com a bênção de Bolsonaro, visto como peça-chave para consolidar a direita.

Tarcísio desponta como um nome competitivo, com trânsito no centro e aceitação no mercado. Não à toa, sua eventual candidatura entra no radar dos investidores estrangeiros que buscam replicar, aqui, o efeito Milei observado na Argentina. A comparação pode parecer exagerada, mas ajuda a explicar o crescente entusiasmo com os ativos locais: diante do caos global e fim da tese do excepcionalismo americano, o Brasil, por contraste, começa a parecer um lugar relativamente atraente.

O pano de fundo, no entanto, permanece desafiador. A bomba fiscal de 2027 continua armada. O arcabouço fiscal impõe um limite duro: com despesas obrigatórias crescendo acima da inflação, as discricionárias serão comprimidas até se tornarem negativas — uma impossibilidade lógica. Ou o país ajusta bem as suas contas, ou terá de conviver com cortes drásticos em serviços essenciais e investimentos públicos abaixo do piso constitucional. A conta chega. No fim, o mercado continua apostando na virada do pêndulo político em 2026. Se isso se confirmar e vier acompanhado de um ajuste fiscal sério, o cenário será construtivo e favorável aos ativos de risco. 

· 01:42 — Problemas no horizonte

Nos EUA, o fôlego do mercado parece ter encontrado seu limite. O pregão de terça-feira (20) foi marcado por uma trajetória consistentemente negativa das ações, com o S&P 500 passando o dia todo no vermelho e aprofundando as perdas à tarde, antes de uma tentativa tímida de recuperação nos minutos finais. O setor de tecnologia, motor recente do rali, sofreu correções generalizadas. Nem mesmo a excentricidade de Elon Musk foi suficiente para alterar o humor do mercado: as ações da Tesla até ensaiaram um alívio, após o bilionário afirmar que pretende reduzir sua atuação no campo político — um gesto que, para muitos, soa mais como desejo do que compromisso.

A realidade é que os investidores aguardam a resolução da novela fiscal. O foco agora é o ambicioso pacote orçamentário de Donald Trump, que segue em discussão no Congresso. Os líderes republicanos da Câmara tentam garantir votos para levar o projeto ao plenário ainda hoje, após uma rodada de conversas a portas fechadas entre Trump e os parlamentares na noite de ontem. O objetivo? Convencer os resistentes de que vale a pena embarcar no trem trumpista que agora carrega um orçamento expansionista de quase US$ 4 trilhões em aumento de teto de dívida.

O desafio, como sempre, é aritmético: Mike Johnson, atual presidente da Câmara, só pode se dar ao luxo de perder três votos dentro de sua própria bancada republicana. A tensão é palpável. E o mercado sabe disso. A insegurança política volta a se infiltrar nos preços dos ativos, à medida que o risco de paralisação fiscal ou de um novo impasse se materializa. O ambiente, portanto, combina incerteza política com um mercado que já vinha esticado — ingredientes perfeitos para uma realização. 

· 02:37 — Quando o Federal Reserve cortará os juros

Nos Estados Unidos, o mercado de trabalho ainda mostra resiliência em 2025, mas a inflação — ao menos nas métricas gerais — vem cedendo. Mesmo assim, o Federal Reserve segue irredutível: ainda não há espaço para cortes nos juros. A preocupação agora migra de volta para as tarifas do presidente Trump, que começam a contaminar os preços e devem pesar mais claramente nos próximos meses.

O relatório mais recente do índice de preços ao produtor (IPP) já traz sinais de que o impacto tarifário está passando pelas engrenagens da economia, ainda que de forma sutil por ora. O alerta soou de vez com o Walmart, que, durante sua teleconferência de resultados, chamou atenção para os riscos nos custos repassados ao consumidor.

E os consumidores já começam a sentir. A última pesquisa de sentimento da Universidade de Michigan mostrou que as expectativas de inflação para um e cinco anos voltaram a subir. Esse tipo de percepção tem peso considerável nas decisões do Fed. Ou seja, mesmo com o arrefecimento da inflação cheia, o ambiente de preços segue contaminado por incertezas. A política tarifária, somada à desconfiança inflacionária, limita qualquer margem de manobra do Fed no curto prazo. Cortar juros agora, diante disso tudo, seria um risco que o comitê não parece disposto a correr.

· 03:21 — Avanços genéticos

Um avanço notável acaba de marcar a história da medicina: o primeiro uso de uma terapia genética personalizada com tecnologia CRISPR para tratar um bebê com CPS1, uma doença rara e fatal do metabolismo hepático. Tradicionalmente, esses casos são manejados com dieta restrita, medicamentos paliativos e, nos melhores cenários, transplante de fígado — que exige tempo e doadores escassos. Desta vez, optou-se por um protocolo inédito, com edição genética via nanopartículas lipídicas.

Os primeiros resultados são promissores: queda nos níveis de amônia no sangue e melhor resposta à proteína da dieta. Ainda que o custo de uma terapia personalizada como essa seja impraticável hoje, o caminho está aberto. À medida que a inteligência artificial se integra à biotecnologia, os processos se tornam mais ágeis, padronizáveis e acessíveis. A medicina está diante de uma revolução silenciosa, e os investidores atentos sabem que disrupções como essa não apenas salvam vidas — também criam oportunidades. O futuro da saúde será genético, digital e, inevitavelmente, escalável.

· 04:15 — Novos aliados no Oriente

Autoridades paquistanesas estiveram em Pequim no início da semana para uma rodada de conversas estratégicas com representantes chineses. Em pauta, a crescente tensão no sul da Ásia e suas implicações para a paz regional. O timing da visita não é coincidência: o encontro ocorre logo após o episódio de confronto entre Paquistão e Índia — um embate nada trivial, no qual Islamabad recorreu a armamento fornecido por Pequim. A mensagem, ainda que não dita em voz alta, é clara: o tabuleiro geopolítico da Ásia está sendo reorganizado, e a China se posiciona como peça central.

Paralelamente, Paquistão, China e Afeganistão vêm discutindo uma possível cooperação trilateral em segurança — uma movimentação que, se ganhar corpo, poderia redesenhar o equilíbrio de forças na região. Todos os três países fazem fronteira direta ou indireta com a Índia, e uma aliança reforçada entre eles não passaria despercebida. Para aumentar a pressão, o Paquistão anunciou que o cessar-fogo com a Índia expirou no último domingo, acendendo o sinal amarelo para uma escalada militar. Ainda é cedo para cravar um “novo eixo oriental”, mas o ensaio está em andamento — um lembrete de que o mundo multipolar já deixou de ser uma hipótese.

· 05:09 — Respondendo às tensões

E por falar em Oriente, o petróleo subiu após informações da inteligência americana indicarem que Israel estaria preparando um possível ataque às instalações nucleares do Irã. Ainda não há confirmação de que uma decisão final foi tomada pelos líderes israelenses, mas o simples fato da movimentação ser levada a público já diz muito. A escalada ocorreu logo após o Reino Unido suspender as negociações comerciais com Israel, em protesto contra a ofensiva em Gaza. E para não ficar de fora, a União Europeia também anunciou que está revisando seu acordo comercial com o país.

O tabuleiro geopolítico está em movimento — e, como de costume, a região volta a criar instabilidade. Nesse ambiente de tensão…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.