Investimentos

Dado de inflação ao consumidor nos EUA, escalada tarifária de Trump, Ibovespa em baixa e mais: veja os destaques desta terça (15)

O Ibovespa teve ontem seu sexto pregão consecutivo de queda, refletindo mais uma rodada de aversão ao risco

Por Matheus Spiess

15 jul 2025, 10:01 - atualizado em 17 jul 2025, 16:12

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Imagem: iStock

A agenda internacional desta terça-feira traz como protagonista o dado de inflação ao consumidor nos Estados Unidos — uma peça-chave para calibrar as apostas em torno de cortes de juros no fim do ano. Quanto mais benigno o indicador, maior o alívio nos ativos de risco. Mas há um novo (velho) ruído atravessando o radar dos mercados: a escalada tarifária promovida por Donald Trump. A reedição do protecionismo joga incerteza sobre o ritmo da atividade e sobre o comportamento da inflação futura, podendo atrasar a retomada do ciclo de flexibilização monetária. Por ora, os investidores seguem operando sob o pressuposto de que a implementação efetiva das tarifas será postergada, como já ocorreu em outras ocasiões. Mas o problema está justamente aí: a imprevisibilidade das decisões da atual Casa Branca.

Em paralelo, os mercados começam a absorver a nova temporada de balanços corporativos nos EUA, com os grandes bancos abrindo os trabalhos nesta manhã. Por enquanto, os futuros de ações em Nova York ensaiam alta moderada, enquanto as bolsas europeias andam de lado — em compasso de espera, à medida que a União Europeia finaliza uma lista de potenciais produtos americanos que podem ser alvo de retaliações comerciais, caso a guerra tarifária avance sem um acordo antes de agosto.

Na Ásia, a China reportou crescimento de 5,2% no segundo trimestre — uma desaceleração na margem em relação ao primeiro trimestre, mas ligeiramente acima do consenso. Ainda assim, o petróleo opera em queda, pressionado pela sinalização de Trump de que deve aplicar novas sanções à Rússia dentro de um prazo apertado.

No Brasil, o dia é mais esvaziado em termos de indicadores, mas politicamente sensível. No Supremo Tribunal Federal, ocorre a audiência de reconciliação sobre o IOF (todo mundo finge que quer paz). Já no front comercial, o Comitê interministerial montado pelo governo se reúne com representantes do setor privado para definir as propostas de negociação frente à tarifa de 50% imposta pelos EUA.

· 00:57 — Ensaio de conciliação: Brasília finge se abraçar enquanto o mercado observa

O Ibovespa teve ontem seu sexto pregão consecutivo de queda, refletindo mais uma rodada de aversão ao risco. O gatilho imediato foi a retórica inflamada de Donald Trump, que voltou a mirar parceiros comerciais com novas ameaças tarifárias — desta vez, incluindo o Brasil em sua vitrine de inimigos escolhidos. A cereja do bolo foi o recuo de 0,7% do IBC-Br em maio, dado que veio bem pior do que o consenso e acendeu o alerta para uma desaceleração mais visível da atividade econômica. Já se acumula um conjunto de sinais que indicam perda de tração no crescimento, algo que, em teoria, reforçaria o argumento por cortes de juros ainda este ano. Mas a realidade é mais emaranhada: entre o desajuste fiscal e a instabilidade externa, a margem de manobra do Banco Central segue apertada — e, portanto, a expectativa de flexibilização monetária mais agressiva continua sendo mais desejo que cenário-base.

No centro das atenções hoje está o início da rodada de reuniões do governo com empresários e representantes dos setores atingidos pelas tarifas de Trump. O comitê, liderado por Geraldo Alckmin (vice-presidente e MDIC), inclui também Rui Costa (Casa Civil), Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Fernando Haddad (Fazenda) — uma espécie de esquadrão que tenta, agora, desenhar uma proposta de resposta. Já circulam, nos bastidores, algumas sugestões: um pedido de adiamento de 60 a 90 dias para a entrada em vigor das tarifas (previstas para 1º de agosto), a negociação de uma alíquota reduzida (de 30%, por exemplo) e a criação de cotas de exportação para produtos como laranja e café. A ideia é simples: ganhar tempo e postergar o impacto.

O humor do mercado local é ruim, mas não completamente desmoronado. Parte disso se explica pela leitura majoritária de que o impacto direto das tarifas sobre a economia brasileira é limitado, dado a modesta representatividade das exportações brasileiras para os EUA em relação ao PIB. Ainda assim, alguns setores sentirão — e rápido. Há relatos de movimentações logísticas já em curso, numa tentativa de antecipar o pior. A linha vermelha está clara: enquanto o governo brasileiro não escalar a crise com retaliações baseadas na regra de reciprocidade (por ora apenas uma ameaça retórica), o estrago permanece sob controle. Caso contrário, a aversão ao risco tende a se intensificar — com dólar mais alto, inflação pressionada e, por tabela, mais dificuldades para cortar juros. O Planalto sabe disso. E, por mais que goste de narrativas épicas, não deve jogar gasolina no incêndio que mal começou a ser contido. Até porque a Casa Branca costuma recuar de blefes tarifários, e há margem para uma composição com o Brasil. Em outras palavras, não é o ideal, mas tampouco um desastre completo.

Do lado político, o cenário segue desarticulado — e, nesse momento, é a oposição que mais atrapalha a si própria. Após uma reação errática inicial, vimos tentativas de alinhamento dos governadores, mas a divisão entre alas mais radicais e setores moderados da direita continua evidente. Enquanto isso, Eduardo Bolsonaro cogita abrir mão do mandato para permanecer nos EUA, aprofundando o isolamento político do próprio pai. O timing, claro, não poderia ser pior: no fim da noite de ontem, a PGR pediu a condenação de Jair Bolsonaro por cinco crimes. Como venho dizendo, o maior risco para a alternância de poder em 2026 não é a força de Lula — é a incompetência da oposição em construir uma candidatura viável, coerente e palatável ao centro.

No curto prazo, Lula até ganha um respiro: posa de vítima da ingerência americana, apela ao nacionalismo difuso e tenta colar nos ombros da oposição a responsabilidade pela crise. Mas esse capital político é de curto prazo e volátil. A crise comercial tende a dificultar ainda mais a articulação no Congresso. E se o câmbio disparar, a inflação voltará — com tudo o que isso representa para a popularidade do governo. A soberba recente do Planalto, aliás, já transparece: a audiência de conciliação sobre o IOF deve ser hoje esvaziada, com ausência confirmada de Hugo Motta e provável de Davi Alcolumbre. Haddad também não consta na agenda. A avaliação do governo é de que a maré virou. Erro grosseiro. A tentativa de manutenção do decreto do IOF escancara um governo que, mesmo sob trégua momentânea, continua perdido politicamente.

Na Câmara, busca-se uma saída intermediária: manter o aumento de alíquota apenas para operações já tributadas e excluir da cobrança instrumentos como VGBL e risco sacado. A confusão política, porém, só torna o impasse fiscal ainda mais agudo. E, com isso, trava a política monetária. Sem um plano crível para o ajuste fiscal antes de 2026, a solução segue dependendo de uma mudança de rota. O problema é que Lula não parece disposto — nem preparado — para liderar esse movimento. E a oposição, distraída com suas guerras internas, desperdiça tempo precioso. No final das contas, quem perde é o Brasil, que continua correndo a corrida com o pé amarrado.

· 01:46 — Entre a temporada de resultados e a inflação

Os mercados americanos começaram a semana em ritmo preguiçoso — mas, curiosamente, essa inércia acabou sendo interpretada como uma boa notícia. Em meio ao noticiário ralo típico do verão no Hemisfério Norte, as ações de tecnologia voltaram a flertar com as máximas históricas ontem, mostrando que, quando o barulho político e tarifário dá uma trégua, o apetite por risco retoma seu curso. As tarifas, claro, seguem rondando o cenário como uma sombra incômoda, mas a segunda-feira foi de relativa calmaria nesse front. O mercado parece ter entrado em modo de espera calculada, à espreita da temporada de resultados do segundo trimestre, que começa para valer nesta terça-feira com os números de pesos-pesados do setor financeiro: JPMorgan, Wells Fargo, BlackRock e Citigroup. Na sequência, ao longo da semana, vêm outros nomes de peso como Johnson & Johnson, Netflix e American Express.

Apesar do susto tarifário de abril, o sentimento predominante é de otimismo. A expectativa é que os resultados venham sólidos o suficiente para sustentar os níveis elevados de valuation, sobretudo se os acordos comerciais em curso forem fechados em termos menos draconianos que o inicialmente anunciado. Ainda assim, vale calibrar o entusiasmo: as projeções apontam para um crescimento modesto de 2,5% nos lucros das empresas do S&P 500 no segundo trimestre — ritmo mais lento desde meados de 2023. Para o ano fechado, a estimativa de crescimento de lucro recuou de 9,4% em abril para os atuais 7,1%. Em outras palavras: a barra está baixa. O mercado está pronto para comemorar qualquer desempenho apenas razoável — o que, convenhamos, diz muito sobre o clima de complacência que impera.

Além dos balanços, outro ponto de atenção nesta semana será o índice de preços ao consumidor (CPI) de junho. Este dado pode oferecer o primeiro indício concreto de como as novas tarifas — ou mesmo a mera ameaça de sua implementação — estão se refletindo sobre a inflação. O número será observado com lupa: qualquer sinal de aceleração de preços num momento em que o Federal Reserve ainda hesita em cortar juros pode embaralhar ainda mais o xadrez da política monetária.

· 02:35 — Tarifas sobre os russos

Em declaração feita ontem, o presidente Donald Trump anunciou que imporá uma “tarifa secundária” de 100% a qualquer país que mantenha relações comerciais com a Rússia, caso Moscou não apresente um acordo de cessar-fogo em até 50 dias. A medida pretende pressionar diretamente Vladimir Putin a encerrar a guerra na Ucrânia. 

Paralelamente, Trump anunciou um acordo de venda de equipamentos militares de empresas americanas para países europeus aliados, que, por sua vez, destinarão o material diretamente à Ucrânia. Do ponto de vista da narrativa doméstica, a medida preserva a imagem de força e liderança internacional, sem ferir a promessa de não “desperdiçar recursos americanos em guerras de terceiros”.

Mais intrigante, porém, é a guinada no tom em relação a Vladimir Putin. Trump, que no passado exibiu deferência pouco disfarçada ao presidente russo, agora se diz “decepcionado” por ele ainda não ter selado um acordo de paz. A mudança sugere uma tentativa de reposicionamento político, tentando se descolar, ao menos retoricamente, da imagem do Kremlin. Ainda que não se trate de um rompimento completo, o gesto tem valor simbólico: é um sinal de que a Casa Branca está disposta a endurecer o jogo — mesmo que ainda não esteja disposta a bancá-lo.

· 03:23 — Economia de trincheira: os próximos passos dos russos

À primeira vista, a resiliência da economia russa diante das sanções ocidentais impostas após a invasão da Ucrânia parece até impressionante. Em 2024, o PIB do país avançou em ritmo mais acelerado que o de qualquer membro do G7 — um feito que, superficialmente, poderia ser interpretado como uma vitória contra as restrições do Ocidente. A Europa, de fato, praticamente zerou sua dependência de petróleo e gás russos, mas o apetite voraz de China e Índia por esses mesmos recursos acabou garantindo à Rússia uma linha de receita relativamente estável, facilitada por uma frota paralela de petroleiros que opera à margem das sanções internacionais. 

O comércio de energia sobreviveu. A ilusão de normalidade também. Mas basta arranhar essa superfície para que a verdade apareça. A economia russa não se recuperou: ela se militarizou. O crescimento recente tem pouco a ver com produtividade, inovação ou avanço tecnológico. Ele é, essencialmente, fruto de um Estado viciado em guerra, movido por gastos militares crescentes que sustentam uma campanha militar marcada por estagnação e desgaste. Hoje, cerca de 40% de todo o orçamento do governo está comprometido com a defesa. Economia de trincheira.

O custo dessa escolha já começa a se impor. A inflação russa segue em alta, pressionada pelo descontrole fiscal e pelo excesso de liquidez direcionada à máquina de guerra. Para conter a escalada dos preços, o banco central foi forçado a empurrar os juros para um recorde de 21% ao ano — uma taxa que não apenas encarece drasticamente o crédito corporativo, como também desestimula investimentos produtivos e mina qualquer esperança de crescimento sustentável no médio prazo. 

Nada disso, contudo, parece abalar o cálculo estratégico de Vladimir Putin. Todos os indícios sugerem que o Kremlin não só descarta qualquer cessar-fogo razoável como aposta numa escalada gradual do conflito, sustentado por uma economia cada vez mais refém da guerra. Enquanto isso, China e Índia — tidas como parceiras alternativas — seguem comprando energia russa com ágio, conscientes de que Moscou perdeu poder de barganha com a perda dos clientes europeus. A relação é funcional, mas assimétrica: quem dita o preço, agora, são os compradores.

A dependência histórica das exportações de commodities — petróleo, gás, metais e minerais — permitiu ao país negligenciar por décadas os investimentos cruciais nas indústrias digitais e de inovação. Em vez de um ecossistema tecnológico moderno, a Rússia mantém uma estrutura econômica analógica, calcada na extração de recursos naturais e na ameaça nuclear. Temos um colosso geográfico preso a um modelo econômico jurássico. O mais preocupante? Não há qualquer sinal de inflexão no horizonte. O Kremlin segue dobrando a aposta numa guerra sem fim, enquanto o restante do mundo avança — ou, ao menos, tenta. Nesse cenário, a Rússia não apenas se isola geopoliticamente: ela se condena à irrelevância econômica.

· 04:12 — O sucesso argentino

Na Argentina, os sinais de desinflação são cada vez mais robustos — e surpreendentes até para os mais otimistas. A inflação de junho desacelerou para 1,6%, levemente acima do dado de maio (1,5%), mas bem abaixo do esperado. No acumulado de 12 meses até junho, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) caiu para 39,4%, ante 43,5% em maio. Para se ter perspectiva, no mesmo período do ano passado, a inflação semestral era de devastadores 79,8%. Em 2025, esse acumulado está em 15,1%. Trata-se, sem exagero, de um processo de desinflação notavelmente bem-sucedido — e, até aqui, conduzido sem rodeios, por meio de um ajuste ortodoxo clássico, algo raro na história recente da América Latina.

E engana-se quem ainda repete o mantra de que “eles ainda estão em recessão”. A travessia inicial foi dura, como seria qualquer ajuste profundo, mas a economia argentina já começa a se mover. Em abril de 2025, o país registrou crescimento de 1,9% na atividade econômica em relação a março, segundo o EMAE (Estimador Mensal da Atividade Econômica), divulgado pelo Indec. Na comparação com abril de 2024, a alta é expressiva: 7,7%. O crescimento é puxado por setores sensíveis e relevantes, como comércio, indústria, construção civil e intermediação financeira — justamente os pilares de uma retomada estrutural mais crível (diferente do crescimento atual brasileiro, insustentável a longo prazo).

Outro indicador importante é o da pobreza. A projeção para o primeiro semestre de 2025 aponta uma taxa de 31,6%, com intervalo de confiança de 95% entre 30,1% e 33,1%. Ainda é alto, claro. Mas basta lembrar que esse número já ultrapassou os 50% em momentos recentes — e ninguém precisa de lupa para entender o que isso significa em termos sociais. A trajetória é de melhora, mesmo que lenta. E ela não caiu do céu.

Historicamente, a Argentina tem servido como um espelho do que não fazer — um laboratório caótico que, com frequência, oferecia ao Brasil uma amostra antecipada de erros populistas que poderíamos (ou deveríamos) evitar. Agora, ironicamente, o espelho devolve uma imagem mais promissora que a nossa. O sucesso inicial de Javier Milei, por mais barulhento e controverso que seja o estilo, mostra que é possível colher frutos de decisões impopulares, desde que estejam no rumo certo. E, sobretudo, que há vida política possível fora da armadilha do populismo latino-americano — esse mesmo que vem nos custando décadas de crescimento medíocre por aqui.

Os números da Argentina hoje animam até os economistas ortodoxos — e me incluo entre eles. O país fez o que precisava ser feito. A pergunta incômoda é: e nós? Teremos coragem de seguir esse caminho nas eleições do ano que vem? Ou nos renderemos, mais uma vez, às promessas fáceis, embaladas na velha retórica da gastança disfarçada de compaixão? Resta saber se saberemos escolher.

· 05:09 — Atualizações sobre terras, produtividade e projetos de irrigação

A SLC Agrícola (SLCE3) divulgou atualizações relevantes que reforçam sua resiliência operacional, mesmo em um momento de preços deprimidos para os grãos. A produtividade da safra apresentou melhora em relação às estimativas anteriores, com destaque para o avanço no algodão de 2ª safra (+9,6%) e no milho (+7,8%). A soja permaneceu estável, e a queda no algodão de 1ª safra foi compensada pelos demais ganhos. De olho no futuro, a companhia anunciou um robusto plano de expansão da área irrigada, que passará dos atuais 16 mil hectares para mais de 53 mil nos próximos anos, reduzindo a dependência do clima e aumentando a previsibilidade da produção.

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Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.