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A semana começa com mais uma onda global de aversão ao risco, impulsionada – para variar – pelo caos comercial instaurado pelas tarifas de Donald Trump. O próprio presidente dos EUA não fez questão de aliviar o pessimismo e admitiu que uma recessão no curto prazo está longe de ser descartada. Resultado? Bolsas europeias em queda nesta manhã, futuros americanos no vermelho e um dia de perdas na Ásia.
Na China, a deflação registrada em fevereiro adiciona um novo ingrediente à incerteza global. O recuo nos preços foi impulsionado principalmente pela queda dos alimentos e dos serviços ligados ao turismo, efeito colateral do Ano Novo Lunar ter ocorrido mais cedo. Para o mercado, a leitura é clara: há espaço para mais estímulos do governo.
A agenda da semana promete manter o nível de tensão elevado. O grande evento será a divulgação do índice de inflação ao consumidor dos EUA na quarta-feira (12) – mesmo dia em que teremos a leitura da inflação brasileira de fevereiro. Como sempre, o dado será um termômetro importante para calibrar expectativas sobre cortes de juros.
· 00:52 — Não se engane pelo PIB de 2024
No Brasil, a semana será carregada de dados econômicos que podem trazer mais clareza sobre a real necessidade de juros adicionais para conter a inflação entre 2024 e 2025. Além do IPCA na quarta-feira (120, teremos indicadores da indústria, comércio e serviços, todos podendo apontar para o mesmo diagnóstico: a economia já desacelera, mas a inflação continua a assombrar. O PIB do quarto trimestre, por exemplo, veio abaixo do esperado, evidenciando um crescimento de 3,4% no acumulado do ano que, à primeira vista, parece robusto, mas que, na prática, se revelou insustentável e de baixa qualidade. O motor do consumo das famílias já dá sinais de exaustão, e o setor de serviços desacelera – reflexos claros do esgotamento do modelo lulopetista baseado em transferências de renda e reajuste do salário mínimo. Lula, como já disse antes, não sabe governar com pouco dinheiro. Seu modelo de gestão só funciona quando a maré econômica está favorável e há espaço no orçamento. E como os ventos mudaram, a aposta óbvia do governo é dobrar a dose de populismo para 2026.
Temo pela obsessão do presidente pela isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 mensais, um excelente exemplo da sanha populista. A proposta simplesmente não se sustenta sem uma compensação fiscal — que, mesmo se for aprovada, pode não ser suficiente para equilibrar a conta. O governo, que já desperdiçou inúmeras oportunidades de construir consensos em torno de reformas estruturais essenciais para o país, agora parece querer acelerar sua guinada à esquerda em uma tentativa desesperada de recuperar sua base histórica de apoio. O problema é que a estratégia não vem funcionando: os índices de aprovação de Lula seguem em queda e já atingem suas piores marcas em três mandatos. O governo parece cada vez mais encurralado pela própria falta de visão de longo prazo. Enquanto isso, a economia avança inexoravelmente rumo a um ajuste em 2025. O cenário ideal exigiria uma liderança política com coragem e discernimento para corrigir o curso da política econômica, que, por ora, segue na trajetória errada. Só teremos isso em 2027.
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· 01:46 — Levemente mais fraco do que o esperado
Nos EUA, os números do mercado de trabalho vieram ligeiramente abaixo das expectativas. A economia gerou 151 mil empregos em fevereiro, enquanto se projetava 160 mil novas vagas. A taxa de desemprego, por sua vez, subiu de 4% para 4,1%. Apesar do desvio marginal, o ritmo de contratações segue estável o suficiente para acalmar os investidores, que ainda enxergam um mercado de trabalho resiliente.
A grande questão agora é quando – e em que intensidade – começaremos a sentir o impacto dos cortes promovidos pelo Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), sob a gestão de Elon Musk. Por ora, os dados de fevereiro apontam para uma redução de 10 mil empregos no setor federal, mas essa queda foi mais do que compensada pelas contratações em níveis estadual e municipal, resultando em um aumento líquido de 11 mil postos de trabalho no funcionalismo público. Os cortes mais profundos devem aparecer nos números de março e abril, mas é bom lembrar que os funcionários federais representam menos de 2% da força de trabalho total.
O verdadeiro risco reside em um ajuste fiscal abrupto, com cortes acelerados de gastos públicos que podem atingir contratantes do governo, organizações sem fins lucrativos e, por tabela, o consumo agregado. Em um momento em que a economia já dá sinais de desaceleração, a chance de um efeito dominó capaz de precipitar uma recessão não pode ser descartada — o próprio presidente Trump entende como possível.
· 02:33 — Driblando
Falando em Donald Trump, o jogo tarifário segue a todo vapor – e, desta vez, o Brasil pode ser afetado. O governo tenta, nos últimos instantes, reverter a taxação sobre o aço e alumínio, prevista para entrar em vigor na quarta-feira (12). Na semana passada, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, buscou costurar um acordo com o representante comercial dos EUA, Jamieson Greer, enquanto o vice-presidente Geraldo Alckmin negociou diretamente com Howard Lutnick, secretário de Comércio.
O Brasil tem bons argumentos na mesa. A corrente de comércio entre os dois países gira em torno de US$ 80 bilhões, com um superávit de aproximadamente US$ 200 milhões a favor dos americanos. Além disso, dos dez produtos mais importados pelo Brasil dos EUA, oito já entram sem qualquer taxação (ainda que a tarifa média brasileira sobre produtos americanos seja elevada). A estratégia do governo brasileiro é tentar replicar o acordo de 2018, que garantiu ao país uma cota de exportação isenta de tarifas. O problema? Trump não é exatamente um entusiasta de concessões. Com sua abordagem transacional e imprevisível, as chances de sucesso da diplomacia brasileira são incertas. Resta aguardar os próximos capítulos dessa novela tarifária.
· 03:29 — Uma nova chance para os liberais
A disputa pela liderança do Partido Liberal do Canadá chegou ao fim no domingo, após uma campanha relâmpago de dois meses, marcada pelo impacto do retorno de Donald Trump ao poder nos EUA. Como amplamente previsto, o ex-presidente do Banco do Canadá e do Banco da Inglaterra, Mark Carney, saiu vitorioso, assumindo o lugar de Justin Trudeau, que deixa o governo após nove anos de um mandato desgastado.
Agora, a grande questão: essa troca de liderança será suficiente para evitar uma derrota para os conservadores? Minha aposta é que não, mas ao menos evita um desastre para o partido. A passagem de Carney por instituições financeiras globais o posiciona como uma alternativa mais moderada e palatável ao eleitorado de centro, diferenciando-se do legado de Trudeau. Isso pode lhe render fôlego inicial, mas dificilmente reverterá o desgaste estrutural dos liberais. O povo quer mudança…
A eleição deve ocorrer até outubro, mas há especulações de que Carney pode antecipar o pleito, tentando capitalizar o momento de renovação antes que os conservadores consolidem ainda mais sua vantagem. Se os liberais perderem, será mais um exemplo do pêndulo político girando contra governos progressistas — um fenômeno que já vem se desenhando em várias democracias ocidentais.
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· 04:11 — Se mobilizando
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, reuniu em Londres uma tropa de choque da política europeia, incluindo líderes da França, Itália, Alemanha e outros países do bloco, além do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky e do primeiro-ministro canadense Justin Trudeau (este último já com um pé fora do poder). O objetivo? Elaborar um plano europeu para tentar resolver a guerra na Ucrânia alternativos ao dos EUA. A diplomacia de última hora veio logo após a desastrosa reunião entre Zelensky, Trump e JD Vance na Casa Branca, que terminou em bate-boca e na expulsão da delegação ucraniana do Salão Oval. Diante desse vexame, os europeus decidiram agir.
Mas o que foi efetivamente acordado? Além de um empréstimo de US$ 2,84 bilhões, Starmer prometeu US$ 2,07 bilhões em financiamento de exportação para que a Ucrânia compre mais de 5 mil mísseis de defesa aérea — todos fabricados em Belfast, garantindo empregos para o setor de defesa britânico. Nada é de graça. Os líderes também concordaram em formar uma “coalizão dos dispostos” para arquitetar um plano de paz que possa fazer frente a Trump, além de estruturar uma força multinacional de manutenção da paz, composta por tropas do Reino Unido, França e outras nações que serão anunciadas individualmente. O momento é crítico para os europeus. Como bem pontuou Ian Bremmer, da Eurasia Group, eles agora se sentem encurralados por duas ameaças simultâneas: de um lado, os russos, que representam um risco direto à segurança do continente; do outro, os EUA de Trump, que abandonaram qualquer compromisso com os pilares da segurança coletiva. A mensagem é clara: a Europa precisa se reorganizar — e rápido.
· 05:08 — Temos que ter isso nas carteiras
Como é possível observar, a Europa chegou a um ponto de inflexão inevitável. Por décadas, o continente viveu sob a confortável ilusão de que sua segurança era uma preocupação terceirizada aos Estados Unidos. Enquanto Washington bancava a defesa do Ocidente, os europeus colhiam os benefícios de um longo período de paz e prosperidade sem precisar abrir tanto a carteira para a sua própria segurança. Esse arranjo funcionou – até agora. Sob a administração de Donald Trump, ficou claro que os EUA não são mais o fiador incondicional da estabilidade europeia…