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IBC-Br de março, China suspende licença de 51 frigoríficos brasileiros e Moody’s rebaixa nota de crédito dos EUA; veja os destaques do dia

Veja os principais destaques econômicos do Brasil e internacional nesta semana.

Por Matheus Spiess

19 maio 2025, 09:29 - atualizado em 19 maio 2025, 09:29

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Imagem: iStock/ Edson Souza

A semana passada foi marcada pela continuidade da recuperação dos ativos nos Estados Unidos, com as bolsas retomando os níveis anteriores ao dia 2 de abril. A tensão em torno da guerra comercial deu lugar a um breve alívio, com os investidores reagindo positivamente à sinalização de trégua entre EUA e China. No front inflacionário, os dados divulgados nos EUA mostraram uma leve desaceleração das pressões de preços.

Uma boa notícia, claro, mas que ainda não permite cravar que o impacto das tarifas foi totalmente precificado — muito menos descartado. Diante desse pano de fundo ainda indefinido, o Federal Reserve continua indicando que o melhor curso de ação é manter os juros estáveis, aguardando maior clareza. Justo…

Agora, cresce o risco de o debate fiscal vir à tona com mais força. O mercado começa a digerir a decisão da Moody’s de rebaixar a nota de crédito dos EUA, removendo o último “Aaa” restante entre as grandes agências de classificação. A dúvida já ronda os mercados globais: os EUA deixaram de ser referência fiscal há tempos — mas então, quem sobra para ocupar esse lugar? Ao mesmo tempo, os dados vindos da China, mostraram que a produção industrial se manteve mais resiliente do que se esperava, mesmo sob o peso das tarifas americanas — mais um lembrete de que os efeitos das medidas de Trump podem ser menos assimétricos do que se imaginava. Apesar disso, os mercados abriram a semana com um tom mais defensivo, por conta do fiscal.

· 00:51 — Alternativas para o Brasil

Por aqui, seguimos nos beneficiando do pano de fundo internacional, ainda que algumas nuvens tenham voltado a se formar — como a retomada da alta nos juros longos dos EUA e o barulho fiscal doméstico, que insiste em reaparecer sempre que o mercado começa a respirar. Apesar disso, a bolsa brasileira continua como um dos destaques positivos do ano, amparada por uma temporada de resultados corporativos majoritariamente sólida — como veremos adiante. E vale reforçar: mesmo com a recente valorização, os múltiplos seguem atrativos, indicando que ainda há espaço para apreciação. O problema, como de costume, é o caminho. Porque, por mais que o destino final possa ser promissor, a estrada promete ser tudo, menos tranquila.

No curto prazo, o mercado local concentra as atenções no relatório bimestral de receitas e despesas que será divulgado na quinta-feira (22), conforme o calendário. A expectativa é de um bloqueio orçamentário de ao menos R$ 10 bilhões — qualquer valor inferior a esse tende a aumentar a percepção de risco fiscal. O ponto mais sensível é que, para atingir a banda inferior do arcabouço fiscal (déficit de 0,25% do PIB), ainda assim seriam necessários R$ 15 bilhões. Ou seja, a conta não fecha.

Como se não bastasse o desafio técnico, há o agravante político. O escândalo envolvendo descontos indevidos em aposentadorias do INSS — já com mais de 1,5 milhão de pedidos de reembolso — aprofundou a crise de governabilidade. A instalação de uma CPMI já parece inevitável, criando um novo centro de instabilidade no Congresso. Se há um alento, é o de que isso tende a congelar o avanço de pautas mais polêmicas de um governo já fragilizado. A parte preocupante é que, acuado, o Planalto pode ser tentado a dobrar a aposta em medidas populistas e fiscalmente irresponsáveis, piorando o longo prazo em nome de algum alívio imediato.

Apesar disso, seguimos acreditando que há uma janela real para o Brasil assumir um novo ciclo de valorização, alinhado ao otimismo renovado com mercados emergentes nas principais casas de análise e bancos internacionais. Mas isso dependerá, inevitavelmente, de uma âncora fiscal crível — e, convenhamos, é difícil enxergar isso se materializando antes de 2027, a depender dos resultados da próxima eleição. Até lá, o cenário permanece promissor, porém volátil, e exigirá parcimônia, diversificação e sangue-frio por parte dos investidores. Por ora, na agenda econômica, o destaque do dia é o IBC-Br indicador de atividade que, mesmo relevante, deve fazer pouco para mudar a percepção de que o ciclo de aperto monetário está, enfim, encerrado.

· 01:42 — Gripe?

A China suspendeu a habilitação de 51 frigoríficos brasileiros de carne de frango, após a confirmação de um caso de gripe aviária no Rio Grande do Sul. O estado decretou emergência zoossanitária por 60 dias e já iniciou medidas de contenção no final de semana, com protocolos para controlar a disseminação do vírus. A decisão de Pequim impacta diretamente gigantes do setor, como JBS e BRF, que devem sentir o baque no curto prazo — afinal, a China é o principal destino das exportações brasileiras de frango, responsável por cerca de 13% do total embarcado pelo país.

O governo brasileiro tenta, agora, convencer os chineses a limitar a suspensão apenas à região afetada, evitando uma restrição generalizada. Mas não será uma conversa simples. Além da China, outros mercados também fecharam as portas por ora, incluindo União Europeia, Canadá, Argentina, Chile, Uruguai, México, Coreia do Sul e África do Sul — uma lista respeitável, que eleva o risco de impacto direto. O Ministério da Agricultura estima perdas mensais de até US$ 200 milhões em exportações de frango e derivados, caso as restrições se mantenham nos moldes atuais.

Apesar do choque inicial, o cenário ainda não parece fora de controle. O embargo, embora amplo, decorre de cláusulas contratuais automáticas e pode ser flexibilizado, conforme evoluam as negociações diplomáticas e a efetividade das ações sanitárias locais. O setor brasileiro é experiente no trato com crises sanitárias e tem capacidade operacional para reagir com rapidez, reforçando protocolos e delimitando zonas de risco. Em outras palavras: o problema é sério, mas está longe de ser terminal.

· 02:36 — Os rumos a partir daqui

Nos Estados Unidos, o humor do consumidor anda em queda livre. Segundo a última leitura do índice de confiança da Universidade de Michigan, divulgada na sexta-feira (16), os americanos estão mais pessimistas com a economia do que em praticamente qualquer outro momento dos últimos três anos. O dado de maio registrou a segunda pior marca desde 1978. O curioso é que, embora a sensação de mal-estar econômico tenha se aprofundado, o consumo continua resistente — pelo menos por enquanto.

A nova rodada de medidas comerciais da Casa Branca parece estar minando as expectativas do consumidor médio, ainda que tenhamos visto recuos. Cresce o temor de que os preços voltem a acelerar com força nos próximos meses, à medida que os aumentos de custo decorrentes das tarifas comecem a ser repassados. Soma-se a isso uma preocupação crescente com o mercado de trabalho e a percepção de que o espaço para crescimento real da renda está se estreitando. Ou seja: mesmo com os últimos dados de inflação ao consumidor e ao produtor vindo mais comportados, a incerteza sobre o futuro está ganhando peso suficiente para frear o otimismo.

A consequência pode ser um aperto gradual nos gastos, o que tende a afetar o desempenho da atividade no segundo semestre. E não para por aí. No front fiscal, os holofotes se voltam para o projeto orçamentário de Donald Trump, que enfrenta dificuldades no Congresso. O ambiente se complica ainda mais com o rebaixamento da nota de crédito dos EUA por parte de uma das principais agências, o que reacende a velha discussão sobre a sustentabilidade do déficit americano — um tema que o mercado sempre tratou com certo desdém, mas que agora parece difícil de ignorar.

· 03:23 — Do Aaa ao “Ai, ai, ai”: a lenta e dolorosa morte da disciplina fiscal americana

Após a Moody’s Ratings retirar a nota máxima de crédito dos Estados Unidos, os mercados abriram a semana reagindo como se o inevitável finalmente tivesse sido formalizado: os juros dos Treasuries de 30 anos ultrapassaram os 5%, sinal claro de que os investidores estão cada vez mais desconfortáveis com o acúmulo de dívidas e o desdobramento da guerra comercial. A decisão da agência não foi propriamente uma surpresa — como muitos gostam de lembrar, agências de rating costumam agir como retrovisor da história, não como farol. Ainda assim, o rebaixamento reforça e legitima uma percepção que já estava se cristalizando entre os investidores: a dívida pública americana entrou numa trajetória preocupante — e aparentemente sem freios.

Para colocar em perspectiva, o déficit orçamentário federal já se aproxima dos US$ 2 trilhões por ano, o que equivale a mais de 6% do PIB. E o novo plano orçamentário do governo Trump, que mal saiu da Comissão da Câmara na segunda tentativa, parece disposto a dobrar a aposta: a proposta prevê cortes de impostos combinados com um aumento do teto da dívida em nada menos que US$ 4 trilhões. O resultado? Um salto potencial de até US$ 5,2 trilhões na dívida total e um déficit anual que pode bater 7,8% do PIB — tudo isso com um Congresso profundamente dividido e incapaz de formular um consenso minimamente funcional. Nesse ritmo, não é exagero dizer que o rebaixamento da Moody’s pode ter sido apenas o primeiro degrau dessa escada.

Aliás, vale lembrar: a Moody’s foi a última das três grandes agências a manter o triplo A dos EUA. A S&P fez seu corte em 2011, durante o governo do Obama, e a Fitch seguiu em 2023, durante o governo de Biden — e agora, enfim, o jogo virou também para a mais conservadora delas. O problema, claro, não é apenas simbólico. Com uma dívida já orbitando os US$ 37 trilhões e sem qualquer sinal de ajuste estrutural à vista, a deterioração pode acelerar. E quanto mais a confiança no crédito soberano americano for corroída, mais cara será a rolagem dessa dívida — gerando um efeito bola de neve que nenhum discurso de “excepcionalismo americano” será capaz de conter.

· 04:19 — Alguns sinais políticos dignos de nota

Como venho pontuando em diferentes ocasiões desde o ano passado, a tese política central que norteia boa parte dos movimentos recentes ao redor do mundo continua sendo a rejeição ao incumbente e a consequente migração do pêndulo político para posições mais reformistas e pró-mercado. Embora tenhamos observado algumas exceções recentes em regimes parlamentaristas como Canadá e Austrália, esses casos carregam especificidades institucionais e contextuais que não invalidam a direção geral do diagnóstico. A tese continua válida — e ganhando novos exemplos.

Em Portugal, por exemplo, o primeiro-ministro Luís Montenegro saiu vitorioso das eleições, mantendo-se na liderança mesmo após meses de turbulência política. Vale lembrar que este foi o segundo pleito em pouco tempo, reflexo de um cenário local conturbado, e a manutenção do poder já indica a consolidação do deslocamento político iniciado em 2024. Do outro lado do Atlântico, na Argentina, Milei teve mais uma demonstração de força ao derrotar tanto os peronistas quanto os macristas nas eleições locais de Buenos Aires. É a consolidação de uma nova maioria, com uma agenda reformista cada vez mais legitimada — inclusive por meio de vitórias locais nas últimas semanas. Não se trata de um caso isolado, mas de um movimento coordenado.

Na mesma linha, o presidente boliviano Luis Arce anunciou que não buscará a reeleição, diante de baixos índices de aprovação — mais um sintoma da rejeição crescente a governos incumbentes na América Latina. O mesmo padrão poderá se repetir em países como Chile e Colômbia, onde presidentes atuais enfrentam erosão de popularidade, além, é claro, do próprio Brasil, que entra na contagem regressiva para 2026 com um governo cada vez mais pressionado por escândalos, desalinhamentos internos e, principalmente, pela insustentabilidade fiscal.

Em suma, o roteiro que se desenha segue coerente com o que temos observado: o mercado continua precificando, ainda que com a habitual dose de cautela, a possibilidade concreta de um novo ciclo político a partir de 2027 — mais comprometido com responsabilidade fiscal, reformas e reconstrução institucional. Ainda há muito a ser percorrido até lá, com ruído no meio do caminho, mas a direção geral parece intacta.

· 05:05 — Uma temporada respeitável

A temporada de resultados do primeiro trimestre de 2025 caminha para o encerramento no Brasil. Até aqui, o balanço geral é positivo: mesmo diante de um cenário macroeconômico exigente — juros altos, incertezas fiscais e ruído político — as principais companhias listadas entregaram números sólidos, com mensagens construtivas e sinais de resiliência operacional. A despeito de uma trajetória cíclica nada trivial, a fotografia do trimestre mostra …

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.