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Investimentos

Ibovespa: Mercado aguarda com expectativas o desenrolar das negociações de paz na Ucrânia e o Simpósio de Jackson Hole; veja os destaques desta terça-feira (19)

Veja os principais destaques do mercado financeiro nesta semana.

Por Matheus Spiess

19 ago 2025, 09:18

Atualizado em 19 ago 2025, 09:18

mercado ibovespa ações bolsa b3

Imagem: iStock.com/primeimages

Os mercados abriram a semana em tom de espera, em meio à escassez de indicadores econômicos relevantes e à expectativa pelo discurso de Jerome Powell no Simpósio de Jackson Hole, marcado para sexta-feira. No noticiário corporativo, os holofotes se voltaram para os resultados das grandes varejistas americanas, antes e depois do pregão. Além disso, investidores seguem atentos ao desenrolar das negociações de paz na Ucrânia após a reunião em Washington entre Donald Trump, Volodymyr Zelensky e lideranças europeias — encontro que trouxe algum alívio no tom diplomático, mas sem definições concretas. Em paralelo, cresce a expectativa pela ata do Federal Reserve, a ser divulgada amanhã (20), que deve acrescentar novos elementos ao debate sobre política monetária, especialmente diante da pressão por cortes de juros em um cenário marcado pelos efeitos das tarifas e pelas incertezas políticas.

No ambiente internacional, a Ásia encerrou a sessão em leve queda, refletindo tanto a prudência típica que antecede Jackson Hole quanto a maior atenção aos desdobramentos geopolíticos — entre eles, rumores de um possível encontro entre Putin e Zelensky com mediação de Trump. Já a Europa abriu em alta, amparada pelo tom relativamente construtivo das conversas em Washington, ainda que um cessar-fogo continue distante, sobretudo após a intensificação dos ataques russos com drones e mísseis durante a madrugada. Nesse cenário, a volatilidade permanece como pano de fundo dominante, com investidores obrigados a acompanhar, em paralelo, as sinalizações do Fed e o desdobramento das tensões no tabuleiro geopolítico.

· 00:55 — Sem sinais de avanço

No Brasil, a semana teve início sob a influência combinada da valorização do dólar e do tom conservador adotado por um diretor do Banco Central, fatores que acabaram neutralizando qualquer expectativa de alívio nos juros, mesmo diante da divulgação de um IBC-Br mais fraco do que o projetado. O indicador reforçou a percepção de desaceleração da atividade, já que os números ficaram aquém das estimativas do mercado. Para os próximos meses, ainda que estímulos fiscais possam fornecer algum fôlego, a perspectiva é de crescimento mais moderado. Esse diagnóstico se reflete também nas projeções de inflação: o Boletim Focus trouxe nova revisão para baixo, com a expectativa para 2025 ficando, pela primeira vez no ano, abaixo de 5%. O quadro abre espaço para cortes de juros, possivelmente ainda em 2025, mas sua efetivação dependerá de um conjunto de variáveis — da evolução da atividade e da inflação no Brasil e nos EUA, da condução da política monetária pelo Federal Reserve e, sobretudo, da disciplina fiscal doméstica (sem surpresas negativas, como é costumeiro) e da ausência de novos atritos diplomático-comerciais com Washington.

No campo político, entretanto, o ambiente permanece conturbado. O Departamento de Estado americano voltou a mirar o ministro Alexandre de Moraes, classificando-o como “tóxico” para companhias e indivíduos que buscam acesso ao mercado dos EUA. A declaração foi uma resposta à manifestação do ministro da Justiça, Flávio Dino, que enfatizou que atos e legislações estrangeiras não têm efeito automático no Brasil — posicionamento interpretado como um entrave à aplicação da Lei Magnitsky contra Moraes. Paralelamente, o Itamaraty apresentou defesa formal na investigação aberta pelo Escritório do Representante de Comércio dos EUA, fundamentada na Seção 301. O documento buscou rebater as acusações da Casa Branca e abrir espaço para negociação, embora, até agora, não haja sinais de um diálogo consistente. O impasse revela um dilema maior: enquanto os países avançam em debates estratégicos sobre transição energética, segurança alimentar e infraestrutura, o Brasil segue preso a disputas políticas estéreis, desperdiçando energia em embates que travam a produtividade e reforçam práticas assistencialistas. Nesse contexto, a eleição de 2026 assume caráter decisivo para os mercados, com potencial de redefinir não apenas a orientação da política econômica, mas também o papel do país no cenário global.

· 01:41 — As varejistas

Nos Estados Unidos, o pregão de ontem (18) foi marcado por baixa volatilidade, em linha com o clima típico da segunda metade de agosto, quando investidores costumam adotar postura mais cautelosa à espera de eventos relevantes no horizonte imediato. Os principais índices praticamente não se moveram. No radar de hoje, ganham destaque os resultados de grandes varejistas, como Walmart, Target e Home Depot, que devem oferecer sinais importantes sobre a resiliência do consumidor americano e o impacto das tarifas mais altas sobre as margens de lucro do setor. Paralelamente, cresce a expectativa em torno do Simpósio de Jackson Hole, onde o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, discursará na sexta-feira (22). Embora os preços de mercado já indiquem cortes de juros a partir de setembro, há o risco de Powell adotar um tom mais duro, reforçando a cautela do Fed diante de pressões inflacionárias.

No curto prazo, a política monetária e as disputas políticas internas tendem a dominar o noticiário americano. O discurso da vice-presidente do Fed, Michelle Bowman, previsto para hoje (19), atrai especial atenção por sua defesa de cortes imediatos nas taxas e pela especulação crescente de que ele possa suceder Powell na presidência da instituição. Amanhã (20), será a vez da ata do FOMC, que deve acrescentar novos elementos ao debate sobre o rumo dos juros. Em segundo plano, mas com implicações relevantes, o mercado de trabalho americano começa a mostrar sinais de desgaste: após um período de estabilidade em níveis saudáveis desde o final de 2023, a criação de vagas se concentra cada vez mais em setores como saúde, governo e educação, enquanto outras áreas já dão indícios de estagnação ou retração. Esse enfraquecimento estrutural do emprego amplia o risco de deterioração nos próximos trimestres e aumenta a pressão sobre as escolhas de política monetária do Federal Reserve.

· 02:36 — Estatismo?

A Intel, que há alguns anos vem perdendo protagonismo no setor de semicondutores para rivais como Nvidia e TSMC, recebeu nesta semana dois sinais de confiança que podem reposicioná-la no tabuleiro global da tecnologia. O primeiro veio do SoftBank, que surpreendeu ao anunciar a compra de US$ 2 bilhões em ações da companhia, adquirindo cerca de 2% de participação e incluindo a fabricante americana em seu portfólio estratégico voltado à inteligência artificial. O segundo movimento partiu de Washington: o governo Trump estaria avaliando adquirir até 10% da empresa — um gesto que transformaria os Estados Unidos em um de seus maiores acionistas e reforçaria a visão da Intel como ativo estratégico para a segurança nacional.

Esse eventual investimento estatal ocorreria por meio da conversão dos subsídios já concedidos pela Lei de Chips — que destinou US$ 10,9 bilhões à Intel — em participação acionária. Pelos preços atuais de mercado, uma fatia de 10% equivaleria a aproximadamente US$ 10,5 bilhões, praticamente o mesmo montante recebido em verbas públicas. Embora ainda não haja definição sobre o tamanho da participação nem garantia de que o plano avançará, a sinalização é clara: a combinação entre o aporte privado do SoftBank e a possibilidade de entrada direta do governo americano traduz uma tentativa explícita de recolocar a Intel no centro da estratégia dos EUA na corrida por semicondutores e inteligência artificial, em um momento em que tecnologia, geopolítica e poder econômico se entrelaçam cada vez mais.

· 03:29 — Cessar-fogo, mas de outro conflito

No Oriente Médio, o Hamas anunciou ter aceitado uma proposta de cessar-fogo mediada por Catar e Egito, gesto que reacendeu as expectativas de um avanço concreto nas negociações para encerrar a guerra em Gaza. O plano prevê uma trégua de 60 dias, durante a qual o grupo se comprometeria a libertar metade dos reféns ainda vivos em cativeiro desde o ataque de outubro de 2023, em troca da soltura de prisioneiros palestinos e de uma retirada parcial das tropas israelenses.

Apesar do movimento, Israel ainda não apresentou resposta oficial. Seja como for, a proposta pode configurar um primeiro passo na direção de um acordo mais amplo capaz de encerrar quase dois anos de conflito. Se implementada, a trégua poderia reduzir tensões regionais e, por extensão, atenuar riscos no cenário global.

· 04:12 — Encontrou europeu na Casa Branca

Donald Trump voltou a se projetar como articulador na arena internacional. Depois de receber Volodymyr Zelensky e líderes europeus na Casa Branca, o presidente americano fez uma ligação a Vladimir Putin propondo uma cúpula entre os chefes de Estado da Rússia e da Ucrânia, a ser seguida por uma reunião trilateral com participação direta de Washington. O encontro com os europeus terminou com o compromisso de Trump em fornecer garantias de segurança a Kiev, deixando a questão territorial — a mais sensível — para negociações futuras. Do ponto de vista ucraniano, tratou-se do encontro mais construtivo até agora com o presidente americano, visto como um avanço diplomático relevante, embora os mercados tenham reagido com prudência diante das incertezas sobre sua concretização.

Apesar do gesto, não há clareza sobre a real disposição de Moscou em negociar. Parceiros europeus mantêm reservas, temendo que Trump pressione Zelensky a aceitar concessões territoriais. Enquanto as tratativas ganhavam espaço no campo diplomático, o cenário militar permanecia inalterado: a Rússia intensificou ataques que atingiram civis, enquanto a Ucrânia retaliou destruindo oleodutos estratégicos — movimento que chegou a impulsionar o petróleo em mais de 1%, antes de devolver parte da alta na manhã seguinte. Paralelamente, avançam informações sobre negociações bilionárias entre Washington e Kiev para o fornecimento de armamentos e a produção conjunta de drones, um lembrete de que, mesmo sob o discurso de paz, a guerra continua determinando interesses estratégicos e econômicos de alcance global.

· 05:18 — Um tema de outro planeta

O presidente Donald Trump assinou um novo decreto voltado ao setor aeroespacial, com o objetivo de flexibilizar a regulação sobre voos espaciais comerciais — uma antiga reivindicação das empresas do segmento, que há anos pressionam por menos entraves burocráticos. A medida busca ampliar a competitividade do mercado americano de lançamentos e permitir a expansão de atividades espaciais ao longo da próxima década, com horizonte até 2030. Entre as determinações, está a orientação para que o secretário de Transportes acelere ou até dispense revisões ambientais em pedidos de licenças de lançamento e reentrada, além de revisar normas vistas como ultrapassadas ou excessivamente restritivas. O decreto também estabelece a análise de legislações estaduais que possam estar dificultando a criação e a operação de portos espaciais — infraestrutura considerada essencial para o avanço da indústria.

A decisão foi bem recebida pelo…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.