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Os mercados abriram a semana em tom de espera, em meio à escassez de indicadores econômicos relevantes e à expectativa pelo discurso de Jerome Powell no Simpósio de Jackson Hole, marcado para sexta-feira. No noticiário corporativo, os holofotes se voltaram para os resultados das grandes varejistas americanas, antes e depois do pregão. Além disso, investidores seguem atentos ao desenrolar das negociações de paz na Ucrânia após a reunião em Washington entre Donald Trump, Volodymyr Zelensky e lideranças europeias — encontro que trouxe algum alívio no tom diplomático, mas sem definições concretas. Em paralelo, cresce a expectativa pela ata do Federal Reserve, a ser divulgada amanhã (20), que deve acrescentar novos elementos ao debate sobre política monetária, especialmente diante da pressão por cortes de juros em um cenário marcado pelos efeitos das tarifas e pelas incertezas políticas.
No ambiente internacional, a Ásia encerrou a sessão em leve queda, refletindo tanto a prudência típica que antecede Jackson Hole quanto a maior atenção aos desdobramentos geopolíticos — entre eles, rumores de um possível encontro entre Putin e Zelensky com mediação de Trump. Já a Europa abriu em alta, amparada pelo tom relativamente construtivo das conversas em Washington, ainda que um cessar-fogo continue distante, sobretudo após a intensificação dos ataques russos com drones e mísseis durante a madrugada. Nesse cenário, a volatilidade permanece como pano de fundo dominante, com investidores obrigados a acompanhar, em paralelo, as sinalizações do Fed e o desdobramento das tensões no tabuleiro geopolítico.
· 00:55 — Sem sinais de avanço
No Brasil, a semana teve início sob a influência combinada da valorização do dólar e do tom conservador adotado por um diretor do Banco Central, fatores que acabaram neutralizando qualquer expectativa de alívio nos juros, mesmo diante da divulgação de um IBC-Br mais fraco do que o projetado. O indicador reforçou a percepção de desaceleração da atividade, já que os números ficaram aquém das estimativas do mercado. Para os próximos meses, ainda que estímulos fiscais possam fornecer algum fôlego, a perspectiva é de crescimento mais moderado. Esse diagnóstico se reflete também nas projeções de inflação: o Boletim Focus trouxe nova revisão para baixo, com a expectativa para 2025 ficando, pela primeira vez no ano, abaixo de 5%. O quadro abre espaço para cortes de juros, possivelmente ainda em 2025, mas sua efetivação dependerá de um conjunto de variáveis — da evolução da atividade e da inflação no Brasil e nos EUA, da condução da política monetária pelo Federal Reserve e, sobretudo, da disciplina fiscal doméstica (sem surpresas negativas, como é costumeiro) e da ausência de novos atritos diplomático-comerciais com Washington.
No campo político, entretanto, o ambiente permanece conturbado. O Departamento de Estado americano voltou a mirar o ministro Alexandre de Moraes, classificando-o como “tóxico” para companhias e indivíduos que buscam acesso ao mercado dos EUA. A declaração foi uma resposta à manifestação do ministro da Justiça, Flávio Dino, que enfatizou que atos e legislações estrangeiras não têm efeito automático no Brasil — posicionamento interpretado como um entrave à aplicação da Lei Magnitsky contra Moraes. Paralelamente, o Itamaraty apresentou defesa formal na investigação aberta pelo Escritório do Representante de Comércio dos EUA, fundamentada na Seção 301. O documento buscou rebater as acusações da Casa Branca e abrir espaço para negociação, embora, até agora, não haja sinais de um diálogo consistente. O impasse revela um dilema maior: enquanto os países avançam em debates estratégicos sobre transição energética, segurança alimentar e infraestrutura, o Brasil segue preso a disputas políticas estéreis, desperdiçando energia em embates que travam a produtividade e reforçam práticas assistencialistas. Nesse contexto, a eleição de 2026 assume caráter decisivo para os mercados, com potencial de redefinir não apenas a orientação da política econômica, mas também o papel do país no cenário global.
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· 01:41 — As varejistas
Nos Estados Unidos, o pregão de ontem (18) foi marcado por baixa volatilidade, em linha com o clima típico da segunda metade de agosto, quando investidores costumam adotar postura mais cautelosa à espera de eventos relevantes no horizonte imediato. Os principais índices praticamente não se moveram. No radar de hoje, ganham destaque os resultados de grandes varejistas, como Walmart, Target e Home Depot, que devem oferecer sinais importantes sobre a resiliência do consumidor americano e o impacto das tarifas mais altas sobre as margens de lucro do setor. Paralelamente, cresce a expectativa em torno do Simpósio de Jackson Hole, onde o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, discursará na sexta-feira (22). Embora os preços de mercado já indiquem cortes de juros a partir de setembro, há o risco de Powell adotar um tom mais duro, reforçando a cautela do Fed diante de pressões inflacionárias.
No curto prazo, a política monetária e as disputas políticas internas tendem a dominar o noticiário americano. O discurso da vice-presidente do Fed, Michelle Bowman, previsto para hoje (19), atrai especial atenção por sua defesa de cortes imediatos nas taxas e pela especulação crescente de que ele possa suceder Powell na presidência da instituição. Amanhã (20), será a vez da ata do FOMC, que deve acrescentar novos elementos ao debate sobre o rumo dos juros. Em segundo plano, mas com implicações relevantes, o mercado de trabalho americano começa a mostrar sinais de desgaste: após um período de estabilidade em níveis saudáveis desde o final de 2023, a criação de vagas se concentra cada vez mais em setores como saúde, governo e educação, enquanto outras áreas já dão indícios de estagnação ou retração. Esse enfraquecimento estrutural do emprego amplia o risco de deterioração nos próximos trimestres e aumenta a pressão sobre as escolhas de política monetária do Federal Reserve.
· 02:36 — Estatismo?
A Intel, que há alguns anos vem perdendo protagonismo no setor de semicondutores para rivais como Nvidia e TSMC, recebeu nesta semana dois sinais de confiança que podem reposicioná-la no tabuleiro global da tecnologia. O primeiro veio do SoftBank, que surpreendeu ao anunciar a compra de US$ 2 bilhões em ações da companhia, adquirindo cerca de 2% de participação e incluindo a fabricante americana em seu portfólio estratégico voltado à inteligência artificial. O segundo movimento partiu de Washington: o governo Trump estaria avaliando adquirir até 10% da empresa — um gesto que transformaria os Estados Unidos em um de seus maiores acionistas e reforçaria a visão da Intel como ativo estratégico para a segurança nacional.
Esse eventual investimento estatal ocorreria por meio da conversão dos subsídios já concedidos pela Lei de Chips — que destinou US$ 10,9 bilhões à Intel — em participação acionária. Pelos preços atuais de mercado, uma fatia de 10% equivaleria a aproximadamente US$ 10,5 bilhões, praticamente o mesmo montante recebido em verbas públicas. Embora ainda não haja definição sobre o tamanho da participação nem garantia de que o plano avançará, a sinalização é clara: a combinação entre o aporte privado do SoftBank e a possibilidade de entrada direta do governo americano traduz uma tentativa explícita de recolocar a Intel no centro da estratégia dos EUA na corrida por semicondutores e inteligência artificial, em um momento em que tecnologia, geopolítica e poder econômico se entrelaçam cada vez mais.
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· 03:29 — Cessar-fogo, mas de outro conflito
No Oriente Médio, o Hamas anunciou ter aceitado uma proposta de cessar-fogo mediada por Catar e Egito, gesto que reacendeu as expectativas de um avanço concreto nas negociações para encerrar a guerra em Gaza. O plano prevê uma trégua de 60 dias, durante a qual o grupo se comprometeria a libertar metade dos reféns ainda vivos em cativeiro desde o ataque de outubro de 2023, em troca da soltura de prisioneiros palestinos e de uma retirada parcial das tropas israelenses.
Apesar do movimento, Israel ainda não apresentou resposta oficial. Seja como for, a proposta pode configurar um primeiro passo na direção de um acordo mais amplo capaz de encerrar quase dois anos de conflito. Se implementada, a trégua poderia reduzir tensões regionais e, por extensão, atenuar riscos no cenário global.
· 04:12 — Encontrou europeu na Casa Branca
Donald Trump voltou a se projetar como articulador na arena internacional. Depois de receber Volodymyr Zelensky e líderes europeus na Casa Branca, o presidente americano fez uma ligação a Vladimir Putin propondo uma cúpula entre os chefes de Estado da Rússia e da Ucrânia, a ser seguida por uma reunião trilateral com participação direta de Washington. O encontro com os europeus terminou com o compromisso de Trump em fornecer garantias de segurança a Kiev, deixando a questão territorial — a mais sensível — para negociações futuras. Do ponto de vista ucraniano, tratou-se do encontro mais construtivo até agora com o presidente americano, visto como um avanço diplomático relevante, embora os mercados tenham reagido com prudência diante das incertezas sobre sua concretização.
Apesar do gesto, não há clareza sobre a real disposição de Moscou em negociar. Parceiros europeus mantêm reservas, temendo que Trump pressione Zelensky a aceitar concessões territoriais. Enquanto as tratativas ganhavam espaço no campo diplomático, o cenário militar permanecia inalterado: a Rússia intensificou ataques que atingiram civis, enquanto a Ucrânia retaliou destruindo oleodutos estratégicos — movimento que chegou a impulsionar o petróleo em mais de 1%, antes de devolver parte da alta na manhã seguinte. Paralelamente, avançam informações sobre negociações bilionárias entre Washington e Kiev para o fornecimento de armamentos e a produção conjunta de drones, um lembrete de que, mesmo sob o discurso de paz, a guerra continua determinando interesses estratégicos e econômicos de alcance global.
· 05:18 — Um tema de outro planeta
O presidente Donald Trump assinou um novo decreto voltado ao setor aeroespacial, com o objetivo de flexibilizar a regulação sobre voos espaciais comerciais — uma antiga reivindicação das empresas do segmento, que há anos pressionam por menos entraves burocráticos. A medida busca ampliar a competitividade do mercado americano de lançamentos e permitir a expansão de atividades espaciais ao longo da próxima década, com horizonte até 2030. Entre as determinações, está a orientação para que o secretário de Transportes acelere ou até dispense revisões ambientais em pedidos de licenças de lançamento e reentrada, além de revisar normas vistas como ultrapassadas ou excessivamente restritivas. O decreto também estabelece a análise de legislações estaduais que possam estar dificultando a criação e a operação de portos espaciais — infraestrutura considerada essencial para o avanço da indústria.
A decisão foi bem recebida pelo…