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Israel desencadeia maior ataque aéreo contra o Irã nesta sexta-feira (13); petróleo e ouro avançam

Irã promete retaliação após ataque de Isarel; o conflito altera o eixo de risco dos mercados globais.

Por Matheus Spiess

13 jun 2025, 09:39 - atualizado em 13 jun 2025, 09:39

mercados globais

Israel desencadeou, nesta sexta-feira (13), o maior ataque aéreo contra o Irã desde a guerra Irã-Iraque nos anos 1980 — um movimento que não apenas escalou o conflito entre os dois países, como também alterou o eixo de risco dos mercados globais. Foram mais de 200 aviões de guerra atingindo cerca de 100 alvos estratégicos espalhados por todo o território iraniano, com consequências letais: alguns dos principais oficiais militares foram mortos, assim como cientistas nucleares de alto escalão — além de muitas outras mortes ainda não contabilizadas. Em resposta, na madrugada, mais de 100 drones iranianos foram lançados contra o território israelense.

Como não poderia deixar de ser, o Irã prometeu retaliação, incluindo ameaças diretas aos Estados Unidos. Washington, por sua vez, correu para afirmar que não teve envolvimento direto na operação — o Secretário de Estado Marco Rubio fez malabarismos verbais para descolar os EUA da ofensiva. O distanciamento, no entanto, pouco convence: Trump já havia declarado sua descrença na possibilidade de um acordo nuclear com Teerã, o que ajudou a compor o pano de fundo da crise.

O impacto no mercado foi imediato. O petróleo tipo Brent saltou para além dos US$ 75, refletindo o temor generalizado de interrupções no fornecimento global de energia e a possibilidade de um conflito regional se transformar em uma guerra de proporções mais amplas. Os EUA haviam ordenado a evacuação de parte de seus funcionários no Oriente Médio na véspera do ataque — sinal claro de que sabiam que algo viria. As bolsas asiáticas despencaram durante a madrugada, os futuros em Nova York e Europa abriram em queda, e o fluxo para ativos de segurança disparou. A guerra pode ainda não ser em escala global, mas já escutamos os rufar distante dos tambores.

· 00:54 — Sexta-feira 13: o confronto inevitável entre Israel e Irã

Israel iniciou uma operação militar de grande envergadura contra instalações nucleares e bases de mísseis balísticos do Irã, numa ofensiva cujo objetivo declarado foi frear — ou ao menos dificultar — o avanço iraniano rumo à obtenção de uma arma nuclear. A ação marcou uma ruptura clara em relação aos confrontos anteriores: se antes os ataques e contra-ataques entre os dois países, como os de abril e outubro de 2024, eram apresentados como medidas de retaliação pontual, com escopo limitado e caráter dissuasório, agora o que se viu foi uma ofensiva preventiva e deliberadamente agressiva. Não se tratou de enviar uma mensagem simbólica. Tratou-se de iniciar, já no primeiro disparo, a degradação física de uma infraestrutura estratégica iraniana — o que pode ser apenas o início de uma campanha militar prolongada.

O Irã possui atualmente mais de 400 kg de urânio enriquecido a 60% de U-235 — uma concentração perigosamente próxima ao nível armamentista. O anúncio feito por Teerã de que usaria centrífugas mais avançadas em uma nova instalação “segura” acendeu o alerta máximo. Boa parte dessas instalações estão protegidas em locais subterrâneos que desafiam até mesmo a força das armas avançadas americanas — o que torna o ataque israelense ainda mais ousado. Mas, ao atingir diretamente a cúpula do comando iraniano, a vulnerabilidade ficou clara: o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, Mohammad Bagheri, e o comandante da Guarda Revolucionária Islâmica, Hossein Salami foram mortos nos ataques ao lado de pelo menos seis cientistas nucleares de alto escalão. Foi um golpe cirúrgico na espinha dorsal da defesa iraniana.

As consequências políticas e militares são previsíveis — e perigosas. O próprio Khamenei prometeu vingança, e a possibilidade de qualquer reaproximação diplomática entre EUA e Irã, mesmo que tênue, evaporou no ar. A navegação pelo Mar Vermelho, que já vinha sendo ameaçada pelos rebeldes houthis financiados por Teerã, deve permanecer comprometida. E, com isso, a ideia de uma normalização no fluxo logístico do comércio global de energia também sai de cena. A reação imediata veio na forma de uma salva de drones iranianos disparados contra Israel, todos interceptados com sucesso. Ainda assim, a escala e a surpresa dos ataques israelenses não estavam no radar dos mercados. Vários países da região fecharam seus espaços aéreos, e operadores alertam para os riscos nas rotas vitais do comércio de petróleo — especialmente no Estreito de Ormuz, onde transita cerca de 25% de todo o petróleo mundial, e no Mar Vermelho, passagem crucial para os navios que cruzam o Canal de Suez. Uma escalada mais aguda pode facilmente travar essas rotas.

A consequência mais imediata foi a disparada do petróleo, que agora dificilmente voltará à faixa abaixo de US$ 60 por barril. O risco, cada vez mais real, é de que choques sustentados nos preços da energia levem a um cenário de estagflação: inflação persistentemente alta combinada a uma desaceleração do crescimento econômico. O petróleo, vale lembrar, afeta diretamente as expectativas inflacionárias dos consumidores, especialmente por meio de alimentos e combustíveis. E num ambiente de inflação pressionada, juros elevados e incerteza geopolítica, o apetite ao risco dos investidores naturalmente se retrai. No curto prazo, o mercado deve operar sob o peso da tensão. E, no médio, há o risco adicional da imposição de sanções mais duras contra o Irã — o que, somado à possibilidade de ataques à infraestrutura energética da região, tende a manter os preços elevados e o clima instável. A guerra voltou ao centro do tabuleiro, e os mercados sentiram o baque.

· 01:47 — A sanha arrecadatória veste terno novo, mas segue a mesma

Enquanto o mundo absorvia as reverberações da crise geopolítica no Oriente Médio, o Brasil produziu seu próprio terremoto — político e fiscal. Ontem (12), o governo sofreu reveses importantes no Congresso, que deixaram ainda mais evidentes os limites da estratégia adotada até aqui: arrecadar mais sem cortar nada. A recusa explícita do Legislativo em aprovar aumentos de impostos sem contrapartidas de contenção de gastos sinaliza que a sociedade — por meio de seus representantes — atingiu o ponto de saturação. O recado pode até parecer técnico, mas é profundamente político: em 2026, a escolha será entre manter o impasse ou ajustar a casa a partir de 2027.

O episódio mais emblemático veio do presidente da Câmara, Hugo Motta, que, para desespero de Lula e Haddad, decidiu pautar já na próxima segunda-feira a urgência de um Projeto de Decreto Legislativo (PDL) que visa derrubar o novo pacote do IOF. A manobra, vista nos bastidores como um gesto articulado por Arthur Lira, expõe o isolamento da equipe econômica e a deterioração da base de apoio. Em vez de apoio, Haddad colhe resistências — inclusive dentro do próprio governo, onde alas inteiras parecem se dedicar a sabotar o ministro de forma sistemática e silenciosa.

O resultado é um novo e confuso impasse fiscal, em que ninguém sabe ao certo o que está valendo. Além da arrecadação sugerida via Medida Provisória — que já comentei ontem —, Haddad tenta fechar as contas com receitas extraordinárias: dividendos excepcionais das estatais, estimados em R$ 10 bilhões, e a venda de petróleo de áreas do pré-sal ainda não contratadas. A simples menção a esses dividendos foi suficiente para animar o mercado: as ações da Petrobras puxaram o Ibovespa no pregão de hoje (13) e podem manter o ritmo, caso o petróleo siga firme lá fora — ainda que o pano de fundo continue sendo de cautela generalizada e aversão ao risco por conta da guerra.

Na seara das “promessas fiscais”, sobra esperança e falta substância. A redução das isenções tributárias, que somam R$ 800 bilhões, pode render até 10% desse total — mas exige articulação e coragem política que parecem faltar. As demais medidas do ajuste são, na prática, cosméticas. Iniciativas como perícia médica online no INSS, a inclusão do Pé-de-Meia no piso da Educação e a contenção do acesso ao Seguro Defeso devem gerar, na melhor das hipóteses, R$ 2 bilhões em 2025 e R$ 5 bilhões em 2026. É quase simbólico. As medidas realmente estruturais ficam para “depois”.

Enquanto isso, os indicadores de aprovação do governo seguem deteriorando. O Datafolha mostrou ontem que a reprovação de Lula subiu de 38% para 40% desde abril. Já o Ipsos/Ipec apontou alta na avaliação “ruim” de 41% para 43% desde março. Em paralelo, o governo perdeu a relatoria da LDO de 2026 — mais um sinal de enfraquecimento institucional que alimenta o debate sobre um possível realinhamento do pêndulo político em 2026. E isso anima parte do mercado, naturalmente.

Com os dados de inflação vindo melhores do que o esperado e a fraqueza da atividade econômica se confirmando — como demonstrado pelos números fracos do varejo e, possivelmente, também pelos serviços, que serão divulgados hoje —, aumentam as apostas de que o ciclo de aperto monetário esteja no fim. Talvez nem seja necessário o ajuste residual de 25 pontos-base na semana que vem. Assim, o debate sobre corte de juros e a retomada de uma agenda pró-mercado começa a ganhar corpo. Ou seja, em meio à turbulência internacional, os ativos locais podem encontrar alguma sustentação.

· 02:33 — Corte de juros

Nos EUA, o dólar teve um desempenho fraco: caiu para o menor nível em mais de três anos, mesmo diante de um ambiente que, em teoria, deveria sustentá-lo. Tensão crescente no Oriente Médio e avanços nas negociações comerciais com a China — tudo isso, tradicionalmente, seria combustível para a moeda americana. Mas não foi.

A fraqueza do dólar é, na prática, um reflexo do desalinhamento entre narrativa e realidade. Mesmo com a retórica de um suposto “acordo” com a China, a moeda não conseguiu se firmar — sinal de que o mercado enxerga mais um movimento tático de negociação do que uma virada estrutural na guerra comercial. O dólar continua sendo um termômetro confiável do apetite por risco, e sua apatia recente revela um certo ceticismo em relação à sustentabilidade das promessas políticas dos EUA e da China.

No radar de hoje, o índice de Sentimento do Consumidor da Universidade de Michigan para junho pode oferecer alguma nuance adicional. É verdade que o indicador carrega viés — tanto ideológico quanto geracional — dependendo de quem responde. Ainda assim, não deixa de ser relevante, especialmente após os dados desta semana mostrarem desaceleração nos preços ao consumidor e ao produtor. Se essa tendência se confirmar, abre-se espaço para cortes de juros pelo Federal Reserve no segundo semestre, o que ajuda a explicar, em parte, o enfraquecimento do dólar. Um alívio para ativos de risco — e uma sutil, mas poderosa, inversão de ventos no tabuleiro global.

· 03:29 — Novas frentes tarifárias

Mesmo com os acenos diplomáticos à China — que prometeu revisar seus controles de exportação até o início de agosto —, a Casa Branca continua a pavimentar um caminho de tensão comercial em outras frentes. Donald Trump, fiel à sua cartilha protecionista, voltou a sinalizar um possível aumento nas tarifas sobre automóveis importados, que atualmente estão em 25%. A justificativa? A mesma já usada para o aço: proteção da indústria nacional. E, ao contrário das chamadas tarifas “recíprocas”, essas medidas setoriais ainda não enfrentaram contestação judicial.

Como se não bastasse, o presidente decidiu dobrar a aposta: a partir de 23 de junho, eletrodomésticos e outros produtos classificados como “derivados do aço” — como geladeiras, fogões e afins — estarão sujeitos a uma tarifa de 50%. O pacote é pesado. E se for mesmo implementado sem suavizações, pode provocar um baque nos mercados globais, reacendendo temores de uma nova rodada de guerra comercial.

O ponto central é este: mesmo que Trump recue pontualmente ou reescreva parte do script, o enredo da incerteza tende a ser o fio condutor de seu mandato. A previsibilidade, que sempre foi um ativo valioso para os mercados, continuará sendo sistematicamente desidratada em nome de uma retórica protecionista. E é dentro desse novo normal errático que o investidor terá de navegar.

· 04:12 — Tragédia aérea

Um Boeing 787 Dreamliner, operado pela Air India, caiu logo após decolar de Ahmedabad rumo a Londres, explodindo em uma bola de fogo e deixando 241 mortos entre os 242 ocupantes. O episódio, além de devastador, entra para a história como o mais grave envolvendo o avião mais avançado da Boeing desde seu lançamento.

As ações da Boeing (BOEI34) despencaram no pré-mercado, com o acidente reacendendo uma sombra que a companhia ainda não conseguiu dissipar: a da insegurança sistêmica em seus modelos comerciais. Investigadores já iniciaram a análise dos destroços do voo AI171, em busca de respostas. Embora o 787 jamais tivesse se envolvido em um acidente fatal até então, a aeronave já era alvo de alertas internos. No ano passado, um ex-funcionário denunciou falhas estruturais no modelo e foi demitido pouco depois. Paralelamente, companhias aéreas relataram falhas recorrentes nos motores do Dreamliner, adiando ou cancelando voos por precaução (péssimo sinal).

Isso porque, menos de duas semanas atrás, a Boeing fechava um acordo de US$ 1,1 bilhão para evitar um processo criminal por sua responsabilidade em dois acidentes fatais com o 737 Max. A imagem da fabricante, já desgastada por uma sequência de escândalos, agora se vê novamente na berlinda. O caso ainda está sendo investigado, mas para os investidores, o veredito já começou a se formar: confiança é um ativo que, uma vez perdido, custa caro demais para ser reconstruído.

· 05:01 — Ainda bem que temos nossas proteções

O avanço de um conflito internacional de grandes proporções — como o que assistimos agora entre Israel e Irã — serve como lembrete brutal da importância de termos proteções sólidas em nossas carteiras. Em momentos assim, quando a história volta a se movimentar com sons de botas e fumaça no horizonte, não é possível ignorar a necessidade de blindagem patrimonial. Já tratamos aqui da ideia de um “Kit Geopolítico”, um conjunto de estratégias para resistir a choques exógenos severos, composto por ativos de resiliência e segurança — e que agora volta a fazer sentido…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.