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O mercado financeiro volta suas atenções para a última Super Quarta de 2025, marcada por decisões de política monetária que caminham em direções distintas no Brasil e nos Estados Unidos. Nos EUA, o Federal Reserve deve anunciar um corte de 0,25 ponto percentual, levando a taxa básica para a faixa de 3,50% a 3,75%, em uma decisão que tende a ser bastante dividida dentro do Comitê. No Brasil, o Copom deve manter a Selic em 15%. Mais do que as decisões em si, o foco dos investidores recai sobre os comunicados e, especialmente, sobre as declarações de Jerome Powell, que poderão oferecer pistas sobre a condução da política monetária ao longo de 2026.
Nesta manhã, em ritmo de cautela, os futuros americanos se mantêm próximos da estabilidade, as bolsas europeias recuam de forma moderada, depois de um desempenho misto na Ásia, refletindo o clima de espera. Na China, o setor imobiliário registrou forte alta após novas indicações de apoio político e avanços nas negociações da dívida da Vanke, enquanto os indicadores de inflação continuam apontando para um ambiente de preços contidos. Outras notícias do dia incluem o maior investimento da história da Microsoft na Ásia — aporte de US$ 17,5 bilhões em infraestrutura na Índia — e o aumento das tensões geopolíticas envolvendo o mercado de semicondutores, após novos desdobramentos nas negociações entre EUA, Nvidia e China.
· 00:51 — Qual será o tom adotado?
No mercado doméstico, o Ibovespa encerrou o pregão de ontem em leve queda, abaixo dos 158 mil pontos, ainda marcado pelas incertezas associadas ao cenário eleitoral de 2026. No campo macro, tivemos hoje pela manhã a divulgação do IPCA de novembro, que acelerou para cerca de 0,18% no mês, levemente abaixo das expectativas. No acumulado em 12 meses, a inflação recuou para 4,46%, ante 4,68% no mês anterior, sinalizando um processo gradual de normalização dos preços. Ainda assim, embora exista a possibilidade de um corte de 25 pontos-base na Selic já em janeiro, o Banco Central deve manter a taxa em 15% na reunião atual, sem sinalizar de forma clara o início do ciclo de cortes, preservando um tom hawkish no comunicado. Esse posicionamento reflete um ambiente ainda bastante sensível a riscos políticos, à sazonalidade cambial em dezembro e, sobretudo, às persistentes fragilidades fiscais.
Devemos observar, no entanto, uma comunicação mais fortemente ancorada nos dados, o que não elimina completamente a chance de início do ciclo de afrouxamento monetário em janeiro (bom sinal). A política monetária segue produzindo seus efeitos de maneira lenta e gradual, com sinais claros de moderação da atividade — como o PIB fraco no terceiro trimestre e a desaceleração do consumo das famílias e do setor de serviços. Por outro lado, o mercado de trabalho ainda permanece aquecido e as expectativas de inflação continuam acima do centro da meta, fatores que justificam a postura conservadora da autoridade monetária. Além disso, desde a sexta-feira passada, ficou ainda mais evidente o quanto os ativos locais seguem sensíveis ao noticiário político. A redução da percepção de chance de uma mudança relevante na política econômica a partir das eleições de 2026 voltou a pressionar a curva de juros.
Como já destacamos em outras ocasiões, os juros seguem em patamares elevados, sobretudo, por conta da fragilidade fiscal, que obriga o Banco Central a atuar de forma ainda mais restritiva — na prática, na ausência de uma âncora fiscal sólida, a âncora monetária precisa “valer por dois”. Isso significa que o espaço para cortes de juros ao longo de 2026 estará fortemente condicionado à perspectiva fiscal para 2027, que, por sua vez, será diretamente influenciada pelo desfecho do processo eleitoral. Essa sensibilidade ficou clara mais uma vez com a repercussão, na sexta-feira, da notícia envolvendo a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à Presidência, que pressionou imediatamente a curva de juros. Nesse ambiente, qualquer erro de comunicação ou condução por parte do Banco Central tende a ter um custo elevado — o que cria um incentivo adicional para a manutenção de uma postura cautelosa e conservadora.
No campo político, a aprovação, na Câmara dos Deputados, do chamado PL da Dosimetria — que reduz as penas dos condenados pelos atos de 8 de janeiro e beneficia diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro — foi interpretada pelo mercado como um possível aceno político capaz de estimular uma eventual retirada de Flávio Bolsonaro da disputa presidencial. Embora o presidente Lula deva vetar o projeto e o Congresso, posteriormente, tenha espaço para derrubar esse veto, ainda existindo margem para judicialização no Supremo Tribunal Federal, o “preço” que Flávio Bolsonaro atribuiu à sua candidatura no último fim de semana começou a ser testado.
Todo esse processo tende a se arrastar por um período prolongado, o que permite que Flávio continue testando sua pré-candidatura nos próximos meses, mesmo sendo, de forma bastante clara, menos competitivo eleitoralmente do que nomes como o do governador Tarcísio de Freitas. Ao mesmo tempo, uma anistia ampla, como a defendida pela família Bolsonaro, ou mesmo uma eventual soltura do ex-presidente, não se mostram viáveis dentro do atual arcabouço institucional, o que levou os parlamentares a articular essa alternativa intermediária por meio da Dosimetria. Nesse percurso, ainda existe a possibilidade de que, em um segundo momento, Flávio acabe desistindo da pré-candidatura e a direita se una em torno de um nome mais competitivo, como Tarcísio, que aparece com baixos índices de rejeição nas pesquisas. Até lá, porém, o caminho até as eleições tende a ser tudo menos tranquilo.
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· 01:42 — O corte de dezembro finalmente chegou
Nos EUA, o mercado financeiro acompanha com elevada expectativa a decisão final de juros do Federal Reserve, com as apostas majoritárias apontando para uma probabilidade superior a 90% de um corte de 25 pontos-base, o que levaria a taxa básica para a faixa entre 3,5% e 3,75%. Essa expectativa ganhou força nas últimas semanas após declarações mais moderadas de membros relevantes do banco central e, sobretudo, diante de sinais de enfraquecimento no mercado de trabalho. O conjunto de projeções econômicas que será divulgado junto com a decisão deve indicar apenas mais um corte ao longo de 2026 e outro em 2027, sem alterações relevantes no restante do cenário macro.
Nesse contexto, o presidente do Fed, Jerome Powell, tende a adotar um tom mais cauteloso em sua comunicação, enfatizando que novas reduções de juros dependerão de uma deterioração mais clara da atividade, especialmente no mercado de trabalho. A entrevista coletiva que ocorre após a decisão, tradicionalmente, costuma ser um dos principais gatilhos de volatilidade nos ativos globais. Em paralelo, aumenta também a incerteza de natureza política em torno da sucessão de Powell na presidência do Fed a partir de 2026, com Donald Trump avaliando hoje possíveis nomes para o cargo — Kevin Hasset (diretor do Conselho Econômico Nacional dos Estados Unidos) tem ganhado favoritismo, mas eu não descartaria o nome de Kevin Warsh (ex-membro do Conselho de Governadores do Federal Reserve).
· 02:34 — Limites de expansão
O ritmo acelerado de expansão da inteligência artificial pode acabar encontrando seu principal limite não na escassez de semicondutores, mas na disponibilidade de energia elétrica. As grandes empresas de tecnologia planejam construir uma infraestrutura de data centers equivalente a cerca de 44 gigawatts de capacidade, enquanto a oferta adicional de energia prevista para os próximos três anos gira em torno de apenas 25 gigawatts — um descompasso relevante que já se desenha no horizonte.
Mesmo com apoio político, a dificuldade de expandir rapidamente a geração de energia transforma a eletricidade no principal gargalo da expansão da IA. Nesse ambiente, o governo passa a lidar com um verdadeiro “trilema”: incentivar o crescimento da inteligência artificial, priorizar combustíveis fósseis em detrimento das fontes renováveis e, ao mesmo tempo, evitar que as tarifas de energia subam para as famílias. Na prática, a combinação dessas escolhas tende a gerar pressões crescentes sobre os preços da eletricidade para a população.
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· 03:28 — Balões?
A Lituânia vem enfrentando uma situação atípica, porém carregada de implicações geopolíticas relevantes: uma sucessão de balões enviados a partir da Bielorrússia — alguns deles transportando cigarros contrabandeados — cruzou o espaço aéreo do país, obrigando inclusive o fechamento temporário de seu principal aeroporto. Diante da gravidade do episódio, o governo decretou estado de emergência e passou a classificar oficialmente essas ações como parte de uma estratégia de “guerra híbrida” conduzida pela Bielorrússia em alinhamento com a Rússia.
O caso expõe, de forma clara, a vulnerabilidade estrutural dos países bálticos que, embora integrem a OTAN, enxergam sua percepção de segurança se tornar mais incerta diante do retorno de Donald Trump à Casa Branca e do risco de que um eventual acordo de paz na Ucrânia acabe fortalecendo Moscou. Nesse contexto, Estônia, Letônia e Lituânia vêm acelerando investimentos e iniciativas para reforçar tanto suas defesas físicas quanto sua resiliência social e econômica, com o objetivo simultâneo de se preparar para cenários adversos e, sobretudo, desestimular qualquer avanço em direção a um conflito aberto.
· 04:15 — Acelerou
A inflação ao consumidor na China apresentou aceleração em novembro, alcançando alta anual de 0,7%, acima dos 0,2% registrados em outubro e em linha com as expectativas do mercado. Esse avanço foi impulsionado, principalmente, pelo encarecimento dos preços dos alimentos. Ainda assim, o quadro geral da economia segue marcado por pressões deflacionárias relevantes: os preços ao produtor aprofundaram a queda, com recuo de 2,2% no PPI — resultado pior do que o projetado e que marca o 38º mês consecutivo de deflação no setor industrial. Em conjunto, os dados sinalizam que a demanda interna permanece fraca, apesar da melhora pontual do CPI, refletindo os impactos persistentes da crise no setor imobiliário e do ritmo moderado do consumo. A reação dos mercados reforçou essa leitura: os rendimentos dos títulos públicos recuaram e as bolsas permaneceram pressionadas, diante da ausência de sinais mais contundentes de estímulo por parte das autoridades.
· 05:09 — Saindo de cena
Warren Buffett deixará o cargo de CEO da Berkshire Hathaway ainda este ano, permanecendo exclusivamente como presidente do conselho de administração. A sucessão está definida: a partir de 1º de janeiro, Greg Abel — atual vice-presidente da companhia e responsável pelas operações não ligadas ao segmento de seguros — assumirá oficialmente a posição de CEO. Esse movimento ocorre em meio a um processo mais amplo de reorganização interna. Todd Combs, um dos principais executivos responsáveis pelos investimentos da Berkshire e atual CEO da Geico, também deixará o conglomerado para assumir uma nova posição no JPMorgan. Além disso, o atual diretor financeiro, Marc Hamburg, dará início ao seu processo de transição para a aposentadoria.
A nova estrutura administrativa traz mudanças relevantes no…