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A semana passada foi encerrada com o pacote tarifário de Donald Trump plenamente em vigor, enquanto o governo brasileiro ainda não apresentou um plano de contingência para amparar as empresas afetadas — medida cuja divulgação foi adiada e agora é prometida para os próximos dias. A trégua comercial entre Estados Unidos e China expira amanhã (12), sem qualquer sinal concreto de prorrogação por mais 90 dias, ao mesmo tempo em que cresce a expectativa de um possível cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia, a ser eventualmente costurado no aguardado encontro entre Trump e Vladimir Putin, marcado para a sexta-feira no Alasca. Nesse ambiente, o radar dos investidores globais estará voltado para os dados de inflação ao consumidor e ao produtor dos EUA referentes a julho, que serão divulgados, respectivamente, na terça (12) e na quinta-feira (14), e que já podem trazer indícios do impacto inicial das novas tarifas sobre os preços.
No exterior, as bolsas asiáticas iniciaram a semana em alta generalizada, impulsionadas pela expectativa de indicadores econômicos relevantes e pela aproximação do prazo final para as negociações comerciais entre China e Estados Unidos. Na Europa, porém, o pregão começou de forma mista, refletindo a postura cautelosa diante das incertezas geopolíticas e comerciais. O encontro de sexta-feira (15) entre Trump e Putin será acompanhado com lupa, sobretudo após o presidente americano aventar a possibilidade de um cessar-fogo envolvendo troca de territórios — proposta rejeitada por Volodymyr Zelensky. No front corporativo europeu, o setor farmacêutico registrou avanços, enquanto o segmento de energia amargou perdas. O pano de fundo segue marcado por elevada volatilidade e um equilíbrio delicado entre o monitoramento de indicadores e a leitura das jogadas no tabuleiro diplomático global.
· 00:54 — Os fluxos podem continuar nos ajudando
No Brasil, a última sexta-feira foi marcada pela queda do Ibovespa, puxada principalmente pelo recuo das ações da Petrobras (PETR4). A estatal frustrou o mercado ao anunciar dividendos referentes ao segundo trimestre abaixo das projeções, como comentei, e informar, de quebra, a intenção de retomar a distribuição de GLP no varejo — decisão recebida com forte resistência, e por razões compreensíveis. Ainda assim, o episódio não foi suficiente para apagar o desempenho positivo acumulado na semana, período em que o principal índice de ações do país avançou 2,62%.
Vale aprofundarmos a análise sobre a sustentação dessa alta. Historicamente, quando a Selic atinge o ápice do ciclo de aperto monetário e inicia um movimento de queda, ocorre um redirecionamento gradual dos fluxos para a renda variável, conferindo suporte ao mercado acionário. Após um período de elevada volatilidade desde a pandemia, todos os sinais indicam que a taxa de juros doméstica já alcançou seu ponto mais elevado. Daqui em diante, a decisão de iniciar cortes dependerá de alguns fatores centrais, como a manutenção de uma inflação qualitativamente benigna, reancoragem das expectativas — ainda hoje desalinhadas — e arrefecimento mais consistente da atividade econômica. Com esses vetores se alinhando, as últimas semanas reforçaram a probabilidade de um ciclo mais construtivo para a bolsa brasileira. Além disso, como tenho reiterado, a trajetória do mercado local está cada vez mais condicionada ao pano de fundo global, que continua a desempenhar papel determinante nos preços locais.
Isso porque o ritmo dessa trajetória da Selic está atrelado ao calendário de cortes de juros nos EUA, ainda travado pela incerteza em torno da guerra comercial de Donald Trump. Se o impacto tarifário for limitado — e desde que não haja escalada contra o Brasil —, abre-se espaço para um corte na Selic já em dezembro, especialmente se o Federal Reserve iniciar sua própria flexibilização antes, possivelmente entre setembro e outubro. Por isso, os dados de inflação americana desta semana ganham relevância extra. No campo comercial, o plano de contingência contra o tarifaço deve ser apresentado até amanhã. Paralelamente, o ministro Fernando Haddad se reunirá na quarta-feira com Scott Bessent para tentar ampliar a lista de isenções — que deve incluir ao menos o café e, com alguma sorte, as carnes — e reduzir as tarifas punitivas.
No plano doméstico, a temporada de resultados corporativos segue no radar, acompanhada por variáveis políticas cada vez mais sensíveis. As eleições de 2026 começam a ganhar corpo, e as últimas pesquisas reforçam um quadro de polarização, fator que preocupa. O rali esperado para os próximos 12 a 18 meses dependerá não apenas da política monetária, mas também das expectativas eleitorais. O mercado procura um projeto reformista e fiscalmente responsável para assumir em 2027, capaz de viabilizar reformas estruturais. O atual governo já dá sinais de exaustão em sua capacidade de avançar nessa agenda, e o ambiente político tende a se deteriorar.
Nesse contexto, a configuração da próxima legislatura será crucial. Se a oposição ampliar sua presença no Congresso, avanços estruturais exigirão articulação política consistente. Parte relevante do potencial de valorização dos ativos está, portanto, ligada à capacidade de organização da oposição. Nesse sentido, alas do Centrão trabalham para alinhar-se ao ex-presidente Jair Bolsonaro, buscando definir um apoio até o fim deste ano ou, no mais tardar, no início do próximo. Em paralelo, o deputado Eduardo Bolsonaro deve manter conversas com interlocutores da Casa Branca nesta semana. O mais importante, para o mercado, é que não haja movimentos de escalada comercial — nem do governo federal, nem da oposição. Se o ambiente se mantiver em tom de pacificação, a tendência positiva da última semana pode se manter, reforçada pela expectativa de cortes de juros e pela gradual precificação de um rali eleitoral.
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· 01:46 — Novo recorde
Os mercados acionários americanos encerraram a semana passada em tom otimista, demonstrando uma resiliência notável diante do barulho político e econômico vindo de Washington. O Nasdaq avançou 1%, encerrando sua melhor semana desde o início de julho, enquanto o S&P 500 ficou a poucos pontos de renovar a máxima de um ano e registrou seu desempenho semanal mais robusto desde junho. O Dow Jones também acumulou ganhos expressivos, encurtando a distância para o recorde histórico de dezembro. Esse movimento de alta ocorreu apesar de um pano de fundo repleto de eventos potencialmente desestabilizadores — desde a divulgação de dados de emprego controversos, que culminaram na demissão do chefe do Bureau of Labor Statistics, até a indicação inesperada para o Conselho de Governadores do Federal Reserve e a implementação de tarifas contra a maioria dos parceiros comerciais dos EUA. A queda acentuada do índice de volatilidade VIX reforçou a leitura de que, pelo menos no curto prazo, prevalece um sentimento de confiança entre os investidores.
Entretanto, nem todos os sinais são de bonança irrestrita. Há quem alerte para uma concentração crescente dos ganhos em segmentos específicos — especialmente em ações de tecnologia, inteligência artificial, grandes companhias e setores industriais —, enquanto papéis defensivos e small caps seguem à margem. Esse viés seletivo levou o prêmio de valuation das empresas consideradas de “alta qualidade” a níveis historicamente extremos, o que, em episódios anteriores, limitou o potencial de valorização no horizonte de 12 meses. Nesse contexto, a atenção do mercado se volta agora para os dados de inflação ao consumidor e ao produtor que serão divulgados nesta semana, os quais poderão indicar melhor impacto das tarifas de Trump. A agenda corporativa, embora mais enxuta, traz novos resultados, incluindo nomes como Cisco, Deere e JD.com, capazes de influenciar o humor dos investidores.
· 02:35 — Um acordo diferenciado
Nvidia e AMD anunciaram um acordo sem precedentes com o governo dos Estados Unidos para viabilizar licenças de exportação de chips de inteligência artificial destinados ao mercado chinês. Pelo entendimento, cada companhia concordou em repassar 15% da receita obtida com modelos específicos ao governo americano — no caso da Nvidia, o acelerador H20; no da AMD, o chip MI308. Esses produtos foram desenvolvidos sob medida para contornar as restrições impostas em 2022 pela administração Biden, que proibiam a venda de semicondutores de última geração à China. Entretanto, em abril deste ano, as exportações foram novamente bloqueadas pelo presidente Donald Trump, num movimento que parecia definitivo. A liberação ocorreu apenas na semana passada, após negociações diretas que incluíram um encontro entre Trump e Jensen Huang, CEO da Nvidia.
A natureza do acerto chama atenção por inverter a lógica tradicional da política comercial americana. Em vez de restringir importações por meio de tarifas, Washington passa a participar diretamente da receita das exportações — um arranjo que pode gerar desconforto tanto no meio corporativo americano quanto em Pequim, por criar um precedente no qual o acesso ao mercado chinês fica condicionado a uma divisão de lucros com o governo dos EUA. A Nvidia declarou esperar que as regras de controle de exportação garantam a manutenção da competitividade americana na China e no cenário global. Mais do que uma negociação comercial, o episódio evidencia como os chips de IA deixaram de ser apenas componentes tecnológicos para se tornarem ativos estratégicos, no centro da disputa geopolítica e econômica que molda as relações de poder no século XXI, principalmente em meio a essa Nova Guerra Fria que vivemos.
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· 03:27 — Possível nova rodada de tensão geopolítica
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, obteve aprovação de seu gabinete de segurança para lançar uma nova ofensiva militar que inclui a tomada completa de Gaza — passo enquadrado em uma estratégia mais ampla para desmantelar o Hamas e resgatar os últimos reféns israelenses, após quase dois anos de hostilidades. Embora Israel já detenha controle sobre cerca de 75% da Faixa de Gaza, a decisão sinaliza uma escalada de proporções significativas, abrindo caminho para uma possível ocupação total do território — cenário não visto desde 2005.
Netanyahu rejeitou propostas alternativas apresentadas pelo alto comando militar, sustentando que não garantiriam nem a derrota do Hamas nem a devolução dos reféns. A nova etapa da operação prevê ofensivas não apenas contra a Cidade de Gaza, mas também contra os chamados “campos centrais” e a região de Muwasi. A medida gerou forte reação e promete abrir uma nova rodada de tensão. Em um cenário de alta volatilidade geopolítica, a ofensiva israelense reforça o risco de desdobramentos imprevisíveis no Oriente Médio (escalada regional), cuja repercussão pode transbordar rapidamente para os mercados globais, ampliando a sensibilidade a choques de oferta e a movimentos especulativos nos preços de energia.
· 04:13 — Encontro não amoroso
O presidente Donald Trump anunciou que se reunirá com Vladimir Putin nesta sexta-feira (15), no Alasca, para discutir um possível cessar-fogo na guerra na Ucrânia. O encontro está marcado para ocorrer justamente quando se aproxima o prazo imposto por Trump para que Moscou encerre a invasão, sob pena de ver seus principais parceiros comerciais alvo de severas tarifas secundárias. O anúncio veio na esteira de relatos da imprensa de que EUA e Rússia conduzem negociações discretas para tentar selar um acordo capaz de encerrar as hostilidades — com a controversa concessão de permitir à Rússia manter parte do território tomado desde o início do conflito.
A proposta, contudo, encontrou resistência imediata em Kiev. Em discurso firme, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky reiterou que os ucranianos não entregarão suas terras ao ocupante, rejeitando qualquer cessão territorial como parte de um eventual acordo. O desfecho dessas conversas será acompanhado de perto pelos investidores, dado o potencial de impacto sobre a geopolítica, os fluxos comerciais e, por consequência, a dinâmica dos mercados globais.
· 05:08 — Novo avanço institucional
O governo Trump vem promovendo uma guinada pró-criptomoedas que, como tenho observado há meses, carrega potencial para remodelar de forma estrutural o sistema financeiro dos Estados Unidos. Instituições bancárias que até pouco tempo eram proibidas de operar com empresas de ativos digitais agora recebem estímulos para ingressar nesse mercado, enquanto companhias antes pressionadas por reguladores começam a explorar sistemas de pagamento de uso cotidiano.
Esse reposicionamento ganhou força com dois marcos recentes…