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Investimentos

Nvidia (NVDC34) divulga resultado acima das expectativas, mas guidance sem grandes surpresas; como o mercado deve reagir nesta quinta-feira (28)?

Novos problemas na Venezuela, software de IA da Apple e consumo de energia em alta. Confira os destaques.

Por Matheus Spiess

28 ago 2025, 09:41

Atualizado em 28 ago 2025, 09:41

Nvidia NVDC34

Imagem: iStock.com/JasonDoiy

Nos mercados internacionais, o grande destaque ficou para Nova York, onde todas as atenções se voltaram aos resultados da Nvidia — a primeira companhia a ultrapassar a marca de US$ 4 trilhões em valor de mercado e hoje responsável por cerca de 8% do S&P 500. Os números referentes ao trimestre encerrado em julho superaram parte das preocupações iniciais, mas também trouxeram sinais de moderação. A receita da divisão de data centers, núcleo estratégico ligado à inteligência artificial, ficou aquém das expectativas, e as projeções da companhia sugeriram um crescimento menos acelerado daqui para frente. Após anos de expansão quase exponencial, a percepção entre investidores é de que a Nvidia segue como peça central da revolução da IA, ainda que paire a dúvida sobre a sustentabilidade de um ritmo tão vigoroso.

A China, nesse contexto, segue sendo um fator de risco importante. A Nvidia não registrou vendas de chips H20 no último trimestre e já prevê nova retração nos pedidos, em meio às restrições comerciais impostas por Donald Trump, que obrigam a empresa a repassar 15% da receita obtida no país ao governo americano — um arranjo inédito para os padrões dos EUA. A própria companhia estima que essa limitação já reduziu em aproximadamente US$ 10,5 bilhões sua receita anual potencial, enquanto Pequim vem desencorajando empresas locais a adquirir seus produtos por razões de segurança. Ainda assim, investidores enxergam espaço para ganhos adicionais caso as negociações comerciais avancem: um destravamento parcial poderia liberar até US$ 5 bilhões em vendas adicionais, percepção que ajuda a conter quedas mais expressivas no papel, mesmo após recuo de 3,1% no after-market de ontem.

O balanço da Nvidia marcou o encerramento da temporada de resultados das chamadas “Magnificent Seven” e foi acompanhado de perto como termômetro não apenas para a saúde da empresa, mas para todo o setor de tecnologia. Paralelamente, hoje, outros indicadores relevantes dividem a atenção dos mercados, como a segunda leitura do PIB americano do segundo trimestre e a ata mais recente do Banco Central Europeu. Na Ásia e na Europa, os pregões também refletiram essa combinação de fatores e terminaram sem direção única. Entre os europeus, em Paris, o destaque positivo ficou para a Pernod Ricard, que reportou resultados acima do esperado — ajudou a aliviar as tensões políticas francesas, que seguem sob os holofotes.

· 00:56 — Juros recuam, pesquisas oscilam: sinais de uma nova fase

No Brasil, o Ibovespa voltou ontem ao maior patamar desde o anúncio das tarifas impostas pelos EUA no mês passado. Com a recuperação até os 139 mil pontos — nível mais alto desde 8 de julho —, é possível identificar certo descolamento do desempenho local em relação ao ambiente externo, ainda que os vetores que sustentam essa alta sigam atrelados a forças globais. Em particular, destacam-se a trajetória de queda dos juros nas economias centrais, sobretudo nos EUA, e a consequente fraqueza do dólar em escala mundial — reflexo não apenas da expectativa de cortes monetários, mas também do aumento das rupturas institucionais.

Internamente, as atenções se concentram agora no quadro fiscal, com grande expectativa pela apresentação do Orçamento de 2026, prevista para amanhã. Ao mesmo tempo, crescem as incertezas em torno da reforma do IR, especialmente diante da proposta de isenção para rendas até R$ 5 mil, que pode avançar sem as devidas medidas compensatórias. Vale insistir: a discussão de uma reforma da tributação sobre a renda é legítima e necessária, mas o formato atual mais se assemelha a um arranjo improvisado de viés eleitoral do que a um desenho estrutural. Se mal conduzida, a medida tende a se tornar uma bomba fiscal adicional para um governo já pressionado por gastos crescentes, baixa capacidade de articulação e ausência de um arcabouço orçamentário crível. O presidente da Câmara, Hugo Motta, reafirmou seu compromisso com a neutralidade da reforma, mas eventuais surpresas negativas teriam forte impacto sobre os ativos de risco. Afinal, o desequilíbrio fiscal segue sendo o grande limitador do potencial de corte da Selic e foi ele que nos trouxe ao patamar atual de juros.

Na agenda de indicadores, temos hoje a divulgação do IGP-M de julho e do resultado primário do governo central para o mesmo mês. Ontem, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, manteve um discurso com viés hawkish, mas sinalizou certa abertura dovish ao reconhecer que a convergência da inflação para a meta está em curso, ainda que de maneira gradual. O cenário-base permanece: caso não ocorram surpresas negativas no front fiscal ou na frente diplomático-comercial com os EUA, e se a trajetória de queda de juros nos EUA se confirmar ao lado de dados locais compatíveis (com inflação convergindo e atividade arrefecendo), há espaço para cortes na Selic em 2025, possivelmente já em dezembro. Essa visão ganha respaldo em números recentes: o Caged apontou desaceleração na criação líquida de empregos, de 166,6 mil em junho para 129 mil em julho (abaixo da projeção de 135 mil), e os dados de crédito do BC mostraram desaceleração na originação e alta da inadimplência — ambos indicadores que reforçam o argumento de afrouxamento monetário à frente.

No campo político, o debate em torno das eleições de 2026 começa a se tornar mais relevante para a precificação dos ativos. A pesquisa Atlas divulgada hoje mostrou queda na popularidade do presidente Lula em agosto, indicando que o impulso obtido com a disputa comercial contra o presidente Donald Trump teve efeito limitado e de curto prazo, conforme já antecipado. Em um cenário de segundo turno hipotético, Lula aparece atrás do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, por 48,4% a 46,6%. O peso do governador se reflete ainda na pesquisa da Paraná Pesquisas realizada no estado de São Paulo, onde ele aparece com ampla vantagem sobre Lula: 50,4% a 37,6% — diferença de 12,8 pontos percentuais. Esse resultado chama atenção, não apenas por São Paulo ser o maior colégio eleitoral do país e centro econômico relevante, mas também porque indica desempenho superior ao de Jair Bolsonaro em 2022 no estado. Se replicado em outros redutos de centro-direita, como Paraná e Santa Catarina, esse movimento poderia alterar de forma decisiva a correlação de forças nacionais. Embora ainda falte mais de um ano para a eleição presidencial, os próximos trimestres — em especial até o início de 2026 — devem trazer definições cruciais para o rumo político e, consequentemente, para o humor dos mercados locais.

· 01:41 — Entre chips e juros: o mercado tenta ajustar a dieta

A Nvidia, maior integrante do grupo das chamadas “Sete Magníficas”, divulgou seus resultados em meio a uma expectativa que dominava os mercados globais. Com valor de mercado superior a US$ 4 trilhões — cifra que a coloca acima de muitas economias inteiras e maior do que o valor somado das bolsas da Alemanha ou da França —, a companhia consolidou-se como o grande ícone da revolução da inteligência artificial. Os números divulgados superaram o consenso em receita e lucro, mas a projeção para o próximo trimestre veio apenas em linha com as expectativas, o que frustrou parte dos investidores, acostumados a surpresas sistematicamente positivas. A reação imediata foi de queda no papel após o pregão, ainda que a Nvidia acumule alta superior a 30% no ano e represente cerca de 8% do índice S&P 500, servindo como um verdadeiro termômetro para medir o apetite global por ativos ligados à IA.

A dimensão da empresa impressiona: sozinha, a Nvidia já equivale a 3,6% do PIB global, número que reforça não apenas sua magnitude, mas também sua influência sobre o humor dos mercados. Com valuations tão esticados, qualquer sinal de crescimento mais moderado tende a pesar no sentimento de curto prazo. Ainda assim, é possível destacar que, historicamente, as correções de preço da ação têm se revelado pontos de entrada interessantes para investidores de longo prazo. O desempenho da companhia, aliás, transborda para o mercado mais amplo, tornando-se referência direta para a leitura sobre o ciclo de investimentos em tecnologia.

Enquanto isso, investidores também acompanham atentamente a divulgação de balanços de outras companhias relevantes — como Best Buy, Dollar General e Gap — e de dados macroeconômicos que podem mexer com as expectativas de política monetária nos EUA. Entre eles, destacam-se a segunda leitura do PIB americano do segundo trimestre e os pedidos semanais de seguro-desemprego, ambos vistos como guias importantes para avaliar a resiliência da economia. Em um cenário em que o mercado calibra não apenas a força da inteligência artificial, mas também a trajetória dos juros, a Nvidia segue no centro da cena, influenciando a percepção de risco e ditando, em grande medida, o tom da próxima etapa do ciclo de mercado.

· 02:37 — A demanda energética

O avanço da inteligência artificial tem provocado uma explosão na demanda por energia, desencadeando um movimento inesperado de renascimento da energia nuclear nos EUA. Como a construção de novas usinas envolve prazos longos, custos elevados e, muitas vezes, resistência local, diversas companhias optaram por reativar reatores antigos — ativos que, até pouco tempo atrás, eram vistos como financeiramente inviáveis, mas que agora se transformaram em potenciais geradores de lucro. Empresas como NextEra Energy, Constellation Energy e Holtec International já anunciaram planos de retomada de operações em instalações desativadas, aproveitando os subsídios federais ao setor e a possibilidade de firmar contratos bilaterais com gigantes de tecnologia, como Microsoft e Amazon, interessadas em assegurar fornecimento estável de energia para seus data centers voltados à IA.

Paralelamente às reativações, surgem também novas iniciativas que reforçam o caráter inovador do setor. Startups como a Oklo trabalham no desenvolvimento de pequenos reatores modulares (SMRs), projetados para operar a partir de resíduos nucleares e com necessidade de reabastecimento apenas a cada década — um modelo disruptivo que já conta com apoio do Departamento de Energia dos EUA. A companhia planeja inaugurar sua primeira usina comercial em 2027, em Idaho, e estuda também reciclar combustível nuclear usado para a produção de radioisótopos, com aplicações de alto valor em áreas como diagnóstico por imagem e tratamentos oncológicos.

Assim, em um cenário no qual antigas usinas ganham nova relevância para sustentar o consumo energético da revolução da IA, o setor nuclear norte-americano se reposiciona estrategicamente. Ele deixa de ser visto como um resquício caro do passado e passa a ocupar papel de protagonista em um novo ciclo de inovação, infraestrutura e segurança energética, combinando reatores revitalizados com tecnologias emergentes que podem redefinir a matriz elétrica nos próximos anos.

· 03:28 — Lançamento no radar

O lançamento do novo software de inteligência artificial da Apple não conseguiu, até aqui, despertar entusiasmo significativo entre os investidores. Ao mesmo tempo, cresce a expectativa dos usuários do iPhone por uma versão atualizada da Siri, que a empresa promete tornar mais personalizada já em 2025. A Apple estaria em negociações com o Google para utilizar o modelo Gemini como base da reformulação de sua assistente virtual. A possível parceria, no entanto, é vista com reservas: associar-se ao Google poderia fragilizar a imagem da Apple, tradicionalmente construída sobre os pilares de segurança e privacidade de dados — um dos diferenciais da marca. O dilema é claro: a preservação de suas rígidas políticas de privacidade, que protegem os consumidores, acaba dificultando o treinamento de modelos de linguagem mais avançados, deixando a companhia diante da escolha entre manter sua identidade histórica ou competir de forma mais agressiva no mercado.

É possível, no entanto, interpretar a situação com menor preocupação. Isso porque a base de usuários da Apple segue notavelmente fiel e não apresenta sinais de abandonar o ecossistema da empresa, mesmo com a defasagem da Siri em relação a concorrentes diretos. Ainda assim, o debate sobre a estratégia futura permanece em aberto. A solução mais eficiente seria a aquisição de uma plataforma de IA já consolidada, o que permitiria à Apple preservar seu compromisso com a privacidade dos usuários e, ao mesmo tempo, acelerar sua inserção no setor. Não por acaso, surgiram rumores de que a companhia teria avaliado a compra da startup Perplexity, sinalizando que movimentos estratégicos de maior envergadura podem ser necessários para que a Apple mantenha protagonismo na corrida global da inteligência artificial.

· 04:22 — Problemas na Venezuela

O cenário geopolítico latino-americano voltou a ganhar destaque após a decisão de Donald Trump de enviar uma frota militar ao Caribe. Na costa da Venezuela, contratorpedeiros americanos agora dividem espaço com petroleiros da Chevron carregados de petróleo rumo aos EUA — uma cena que ilustra de forma quase paradoxal a própria contradição da política de Washington: punir Caracas pelo suposto envolvimento com o narcotráfico enquanto, simultaneamente, garante a continuidade do fluxo energético vindo do país. A escalada de tensões se intensificou após as eleições contestadas de julho de 2024, nas quais, apesar de sinais claros de vitória da oposição, Nicolás Maduro permaneceu no poder. Sem instrumentos institucionais capazes de reverter o quadro, a oposição reforçou sua aposta na pressão externa. Nesse movimento, lideranças como María Corina Machado e o senador Marco Rubio buscam associar o regime ao “Cartel dos Sóis” e ao grupo criminoso Tren de Aragua, narrativa que embasou a decisão de Trump de classificar formalmente o cartel como organização terrorista e dobrar a recompensa pela captura de Maduro para US$ 50 milhões — cifra superior à oferecida no passado pela cabeça de Osama bin Laden.

Embora o governo americano tente enquadrar a Venezuela como um narcoestado — argumento sustentado por estimativas da “Transparencia Venezuela”, que calculam que atividades ilícitas possam responder por até 16% do PIB e que cerca de 25% da cocaína mundial transite pelo país — especialistas ressaltam que a expressão “Cartel dos Sóis” não descreve uma estrutura criminosa hierárquica, mas sim uma teia difusa de redes de corrupção e tráfico, facilitadas pela erosão institucional. A presença militar dos EUA, com mais de 4 mil soldados, navios de guerra, submarinos e aeronaves de reconhecimento, tem servido mais como instrumento de pressão e dissuasão do que como prenúncio de uma intervenção direta. Apesar do barulho político e militar, o fator que sustenta um delicado equilíbrio é o petróleo. Mesmo sob sanções, a Chevron mantém exportações de petróleo venezuelano para os EUA, em volume que movimenta aproximadamente US$ 4 bilhões por ano e fornece ao regime de Maduro o fôlego necessário para resistir às pressões externas. Esse paradoxo — sanções severas, acompanhadas da continuidade comercial — reflete os dilemas estratégicos da Casa Branca: conter o regime sem comprometer o abastecimento energético.

O maior risco, no entanto, está em um eventual colapso desordenado do governo Maduro. Uma provável queda sem coordenação entre oposição democrática e instituições de Estado pode gerar um vácuo de poder rapidamente ocupado por forças radicais ou mesmo por uma junta militar improvisada (o que vier depois pode ser pior). Nesse cenário, longe de consolidar uma transição institucional, a região poderia enfrentar um novo ciclo de instabilidade, com reflexos diretos sobre os mercados locais e aumento da percepção de risco para investidores expostos à América Latina.

· 05:03 — Nvidia alimenta o apetite

Como já destaquei anteriormente, a Nvidia apresentou resultados robustos no segundo trimestre, superando as expectativas com uma receita de US$ 46,7 bilhões e lucro líquido superior a US$ 26 bilhões, avanço de 56% em relação ao ano anterior. O lucro por ação atingiu US$ 1,05, colocando a companhia entre as três mais lucrativas do S&P 500. Apesar da performance impressionante, a reação do mercado foi de cautela: as ações recuaram cerca de 4% após a divulgação, refletindo sinais de desaceleração justamente em sua principal divisão — a de data centers, responsável por 88% das vendas totais. Essa unidade faturou US$ 41,1 bilhões no trimestre, crescimento expressivo, mas ligeiramente abaixo da projeção de analistas (US$ 41,3 bilhões), o que levantou dúvidas sobre a sustentabilidade do ritmo explosivo da inteligência artificial.

Outros segmentos, contudo…

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.