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A euforia inicial gerada pelo resultado da Nvidia se dissipou rapidamente, abrindo espaço para uma reversão expressiva no apetite por risco. O S&P 500 encerrou o pregão com a maior virada intradiária desde o auge das tensões tarifárias de abril, em meio ao ressurgimento das preocupações com valuations elevados das big techs e com a capacidade de o ciclo de investimentos em inteligência artificial se sustentar no ambiente atual.
Esse ajuste de humor ocorreu em paralelo ao acúmulo de novos focos de tensão: sanções americanas que podem reter quase 48 milhões de barris de petróleo russo no mar, um plano de paz para a Ucrânia visto como excessivamente vantajoso para Moscou e um receio crescente de que o Federal Reserve tenha menos espaço para cortes de juros no curto prazo.
Mesmo com o guidance da Nvidia oferecendo algum alívio imediato ao setor de IA, a volatilidade se espalhou rapidamente para a Ásia e para a Europa, levando o MSCI Ásia-Pacífico à pior semana desde abril e pressionando especialmente empresas de tecnologia e defesa nos mercados europeus.
No meio desse ambiente carregado, uma notícia positiva para o Brasil ajudou a aliviar parte das tensões locais: Trump decidiu zerar a tarifa adicional de 40% sobre mais de 200 produtos brasileiros, o que deveria animar o mercado por aqui.
Ainda assim, esse ambiente de nervosismo foi reforçado por fatores adicionais no eixo global. No Japão, o governo aprovou o maior pacote fiscal desde a pandemia e o Banco do Japão sinalizou a possibilidade de elevar juros, enquanto o petróleo manteve trajetória de queda diante das iniciativas americanas para acelerar negociações de paz entre Rússia e Ucrânia — movimento que amplia a expectativa de maior oferta futura.
Com o dólar se fortalecendo e as apostas de cortes de juros nos EUA recuando, o investidor encontra um cenário de cautela elevada, valuations mais exigentes e sensibilidade acentuada a qualquer dado ou evento que sugira desaceleração.
· 00:58 — Tarifas no chão: Brasil ganha fôlego no comércio exterior
O feriado trouxe um alívio pontual para o Brasil, com a decisão de Donald Trump de zerar a tarifa adicional de 40% sobre mais de 200 produtos nacionais. Apesar da relevância da medida — que amplia para cerca de mil o número de itens isentos, incluindo café, carne bovina, frutas e castanhas, com efeito retroativo e reembolso das tarifas já pagas — a reação dos ativos locais foi tímida: o EWZ subiu apenas marginalmente no after-hours, após queda no pregão regular.
Esse movimento ocorre em um contexto já pressionado, com o Ibovespa acumulando a terceira sessão consecutiva de baixa, influenciado pela divisão explícita na ata do Fed sobre o ritmo de cortes de juros, enquanto o dólar voltou a ganhar força, alinhado ao ambiente externo.
Mesmo com esse respiro no front comercial, o governo enfrenta novos focos de tensão política. Lula oficializou a indicação de Jorge Messias ao STF, contrariando o preferido de Davi Alcolumbre e elevando a fricção com o Senado justamente no momento em que o Planalto tenta alterar trechos sensíveis da Lei Antifacção.
O movimento abre espaço para dificuldades na aprovação do indicado e reduz a margem de negociação do governo para reverter partes da lei, considerada uma vitória da oposição. A isso se somou um incêndio em um dos pavilhões da COP, em Belém — controlado rapidamente, mas suficiente para reforçar críticas da própria ONU à infraestrutura. As atividades serão retomadas hoje, mas o episódio adiciona ruído a um momento em que as COPs tradicionalmente concentram avanços decisivos nas negociações finais.
No campo fiscal, o alerta permanece ligado. A divulgação do Relatório Bimestral de Receitas e Despesas ocorre sob a advertência da IFI de que o deteriorado resultado primário das estatais pode levar ao descumprimento formal da meta fiscal, seja pela necessidade de aportes adicionais do governo, seja pelo risco de reenquadramento dessas empresas como dependentes do Tesouro, o que traria seu custeio para dentro do orçamento.
A chamada “bomba fiscal”, porém, segue empurrada para 2027, após as eleições, numa evidência de que o governo evitou enfrentar agora uma reforma estrutural capaz de corrigir de forma duradoura o desequilíbrio das contas públicas.
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· 01:45 — Segurando as pontas
A Nvidia apresentou mais um conjunto de resultados excepcional e voltou a impulsionar o entusiasmo em torno da inteligência artificial, superando com folga as estimativas de lucro e receita. As vendas de data centers vieram muito acima do esperado e o guidance para o próximo trimestre também surpreendeu positivamente, ajudando a esfriar o debate sobre uma possível bolha no setor.
Porém, a euforia inicial durou pouco: mesmo com números tão robustos, o mercado americano virou para queda ontem, pressionado por valuations já esticados, um ambiente macro incerto e o peso desproporcional que a própria Nvidia exerce sobre os principais índices.
Agora, o foco migra da performance da Nvidia para a capacidade de seus clientes sustentarem investimentos bilionários em um cenário de juros ainda elevados. Grande parte da confiança nesse ciclo dependia da expectativa de novos cortes pelo Federal Reserve, mas a ata da última reunião expôs um comitê dividido e com sinais de maior preferência por uma pausa em dezembro.
A ausência dos dados de emprego de outubro, atrasados pelo shutdown, complica ainda mais a leitura da economia: o payroll de setembro, divulgado ontem, trouxe criação de vagas acima do esperado, mas também desemprego na máxima de quatro anos — um quadro ambíguo que dá argumentos tanto para manutenção quanto para redução da taxa em dezembro.
Nesse contexto, a reação dos mercados foi imediata: apesar do desempenho excepcional da Nvidia, Nasdaq e S&P 500 devolveram ganhos e encerraram o pregão em forte queda, evidenciando o nervosismo crescente quanto à capacidade de a IA converter investimento em lucratividade no ritmo necessário para justificar as avaliações atuais.
Com juros indefinidos, indicadores econômicos incompletos e expectativas já elevadas, o mercado permanece muito sensível a qualquer sinal de desaceleração no ciclo de IA. Assim, o Fed se torna o elemento-chave do curto prazo: o adiamento dos cortes tende a reacender temores de bolha e manter a volatilidade elevada, enquanto um corte inesperado poderia reativar o apetite por risco.
· 02:31 — Escanteando a bolha
A Nvidia ajudou a esfriar o debate sobre uma possível bolha de inteligência artificial ao entregar um resultado amplamente superior ao esperado e confirmar que a demanda por chips de IA segue extraordinariamente robusta. A companhia reportou receita de US$ 57 bilhões no terceiro trimestre — excedendo com ampla margem as projeções — enquanto a divisão de data centers atingiu US$ 51,2 bilhões, impulsionada pela rápida expansão do uso de IA em diversos setores da economia.
Jensen Huang, CEO da empresa, destacou que as GPUs continuam “esgotadas” e que as vendas da nova geração de chips Blackwell estão “fora de controle”. O guidance para o próximo trimestre, com ponto médio de US$ 65 bilhões, voltou a superar as expectativas do mercado e levou as ações a subirem cerca de 5% no after-market, oferecendo um alívio bem-vindo após semanas de correção acentuada no setor de tecnologia.
Essa melhora no humor ocorre em um ambiente ainda carregado de incertezas: o setor vinha pressionado por realizações expressivas, apostas de baixa de investidores como Michael Burry e temores de que uma eventual redução nos investimentos das big techs pudesse desencadear efeitos negativos em toda a cadeia de IA.
O desempenho da Nvidia, somado ao peso desproporcional da chamada Magnificent Seven — responsável por três quartos dos ganhos do S&P 500 desde 2022 — reforça o papel central da inteligência artificial no ciclo atual. Ainda assim, questões estruturais permanecem no radar: o volume recorde de compras de GPUs não responde sozinho ao debate sobre o retorno efetivo desses investimentos ao longo do tempo.
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· 03:27 — O varejo americano
Os resultados divulgados por algumas das maiores varejistas americanas — entre elas Walmart, Home Depot, Lowe’s e Target — vieram em um momento de escassez de dados oficiais e ajudaram a montar um quadro mais claro sobre o comportamento do consumidor. O desempenho, no entanto, foi heterogêneo: Walmart entregou números acima do esperado e elevou seu guidance, ao passo que Home Depot e Target tiveram de revisar estimativas para baixo após um terceiro trimestre mais fraco.
O conjunto dos balanços indica que o consumidor americano segue ativo, mas adotando uma postura mais prudente, priorizando preços melhores e maior relação custo-benefício — especialmente entre as famílias de menor renda. Dentro desse cenário, empresas com propostas de valor robustas e foco em itens essenciais, como Walmart, têm se destacado, enquanto segmentos discricionários de maior tíquete permanecem sob pressão em meio à preocupação crescente com o “affordability”.
· 04:12 — Proposta de paz?
A proposta de paz para o Leste Europeu recentemente colocada à mesa pelos EUA reacendeu tensões diplomáticas ao exigir de Kiev concessões consideradas amplas demais e claramente favoráveis a Moscou.
O documento, apresentado como uma “estrutura inicial”, prevê a entrega de territórios adicionais no Donbass, a redução substancial das Forças Armadas ucranianas, a proibição de tropas estrangeiras e de armamentos de longo alcance no país, além do reconhecimento oficial da língua russa e da Igreja Ortodoxa Russa.
Em contrapartida, a Ucrânia receberia apenas garantias de segurança limitadas. Para diplomatas europeus, o plano se assemelha mais a um caderno de reivindicações do Kremlin do que a um caminho factível de encerramento do conflito. A situação política interna de Volodymyr Zelensky adiciona complexidade, reduzindo sua margem para aceitar ou rejeitar termos tão sensíveis.
Entre os parceiros europeus, cresce a apreensão com a possibilidade de um acordo ser costurado sem apoio real de Kiev. Para muitos, só há espaço para avanços diplomáticos quando Putin se vê sob pressão, o que impulsiona parte das capitais da UE a defender novas rodadas de sanções — sobretudo contra petroleiros russos — como forma de conter o alcance de Moscou e travar progressos militares adicionais.
Embora medidas econômicas mais severas já estejam reduzindo a influência russa em regiões como os Bálcãs, ainda é incerto se essa estratégia será suficiente para alterar a guerra que caminha para completar quatro anos sem perspectiva de desfecho.
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· 05:06 — Revitalizando o otimismo em torno da inteligência artificial
A Nvidia apresentou mais um conjunto de resultados robustos e novamente superou as expectativas do mercado, reacendendo o entusiasmo em torno da inteligência artificial. A companhia registrou lucro ajustado de US$ 1,30 por ação — superando o consenso de US$ 1,26 — e uma receita de US$ 57 bilhões, acima das projeções. A reação foi imediata: as ações subiram tanto durante o pregão quanto no after-market.
Para o trimestre atual, a empresa projeta um ponto médio de US$ 65 bilhões em receita, reforçando a leitura de que a demanda por computação em IA segue extraordinariamente forte. Jensen Huang, CEO da companhia, destacou que as vendas da linha Blackwell estão “altíssimas” e que a procura por capacidade computacional continua crescendo de forma acelerada, tanto em treinamento quanto em inferência.
Huang descreveu o momento atual como um “ciclo virtuoso da IA”, no qual empresas de vários setores ampliam o uso da tecnologia, impulsionando simultaneamente a demanda por hardware, software e serviços associados. A CFO Colette Kress complementou essa visão ao ressaltar a longa vida útil das GPUs da Nvidia — como as A100, que seguem operando em plena capacidade seis anos após o lançamento.
Esse ponto responde às críticas recentes sobre depreciação e custo total de propriedade, levantadas por investidores como Michael Burry. Segundo Kress, a arquitetura CUDA permite que os clientes extraiam valor dos chips por muito mais tempo, fortalecendo a vantagem competitiva e justificando o elevado investimento em seus aceleradores.
A divisão de data centers continua sendo o epicentro do crescimento…