Imagem: iStock/ @asbe
A semana passada foi encerrada sob o peso de uma correção expressiva nos mercados brasileiros, desencadeada pela sinalização de que Flávio Bolsonaro seria o pré-candidato à Presidência apoiado por seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Na leitura predominante dos investidores, o movimento reduziu a probabilidade de vitória de uma candidatura de centro-direita com perfil mais claramente “pró-mercado”, como vinha sendo associado ao nome de Tarcísio de Freitas. Esse redesenho das expectativas aumentou a aversão ao risco e devolveu volatilidade aos ativos domésticos. Ainda assim, é importante destacar que o processo eleitoral está longe de uma definição final, e qualquer leitura definitiva neste momento seria precipitada. A reação da última sexta, contudo, já ofereceu uma amostra clara de como será 2026.
Fora isso, a atenção se concentra na chamada “Super Quarta”, quando ocorrem as decisões de política monetária do Federal Reserve e do Copom. Nos EUA, as apostas seguem inclinadas para um novo corte de 25 pontos-base, com quase 90% de probabilidade atribuída pelo mercado, ainda que o comitê esteja dividido e acompanhe de perto dados adicionais do mercado de trabalho, como o relatório JOLTS. Por aqui, um tom menos duro por parte do Banco Central pode ajudar o humor do mercado. No exterior, as bolsas europeias operam próximas da estabilidade à espera do Fed, enquanto a Ásia encerrou majoritariamente em alta. Já o petróleo recua, refletindo tanto o temor de excesso de oferta quanto as incertezas geopolíticas associadas à guerra na Ucrânia, que segue sem avanço concreto em direção a um cessar-fogo.
· 00:54 — Um suposto blefe com algumas nuances
No Brasil, há algum espaço para que o pregão de hoje represente uma tentativa de recuperação após o tombo de sexta-feira, quando o Ibovespa despencou -4,53% e encerrou aos 157 mil pontos, acumulando uma perda superior a 7 mil pontos em um único dia. No exterior, o ETF EWZ chegou a ensaiar alta no pré-mercado de Nova York nesta manhã, sinalizando algum alívio técnico. O movimento de aversão a risco da sexta-feira foi deflagrado após o senador Flávio Bolsonaro afirmar publicamente que foi escolhido pelo pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, como pré-candidato à Presidência em 2026. A reação negativa do mercado decorre do entendimento de que uma eventual candidatura de Flávio é percebida como significativamente mais fraca do que a de outros nomes vistos como mais viáveis e competitivos, em especial o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Flávio carrega uma rejeição elevada, tanto pelo desgaste associado ao bolsonarismo quanto pela frustração do eleitorado de centro, que via na possibilidade de um nome alternativo uma chance de ruptura com a polarização atual. Esse quadro, na leitura dos investidores, aumenta a probabilidade de continuidade do lulopetismo e reduz a chance de alternância de política econômica em 2027 — alternância esta considerada essencial para uma agenda mais reformista.
O movimento desorganizado da família Bolsonaro, que aparenta priorizar a preservação da própria liderança no campo da direita em detrimento da construção de um projeto eleitoral mais competitivo, acaba, na prática, favorecendo o presidente Lula. Mais uma vez, a oposição atua como agente involuntário de fortalecimento do governo: antes, com Eduardo Bolsonaro e os ruídos envolvendo tarifas e sanções dos Estados Unidos; agora, com Flávio, dificultando a organização do campo oposicionista. É verdade que ainda há bastante tempo até as eleições e o próprio Flávio já admitiu publicamente que pode desistir da candidatura caso “paguem o preço dele”, assumindo de forma explícita uma lógica de chantagem política que já havia sido ensaiada anteriormente por seu irmão. Esse “preço” seria a soltura do ex-presidente Bolsonaro — algo que, na prática, não deve ocorrer. Uma eventual anistia, caso avance no Congresso, tenderia a ser restrita, possivelmente por meio de uma dosimetria, e mesmo assim sem garantia de libertação do ex-presidente. A reação do mercado na sexta-feira sugere, desde já, que a candidatura de Flávio nasce politicamente frágil. Ainda assim, o mais provável é que essa narrativa seja sustentada possivelmente até o final de março ou início de abril, quando se chega ao prazo de desincompatibilização.
Alguns cenários se desenham a partir desse movimento. Um deles é que a família tenha percebido a perda contínua de capital político ao longo dos últimos meses — perda essa acelerada com a prisão de Bolsonaro — justamente no momento em que a constelação de forças da direita começava a gravitar de maneira mais natural em torno de Tarcísio. A pré-candidatura de Flávio, nesse contexto, pode ser interpretada como uma tentativa atrapalhada de recuperar protagonismo e permanecer sob os holofotes. Como a anistia nos termos desejados não deve prosperar e a soltura do ex-presidente parece improvável, um dos objetivos estratégicos pode ser, na verdade, a negociação de uma posição de vice-presidência no futuro, associada a um eventual indulto presidencial em 2027, ainda que a inelegibilidade seja mantida — ao menos garantindo a liberdade do patriarca. Nessa leitura, a candidatura de Flávio funcionaria como instrumento para “blindar” o nome de Tarcísio até março, mas ao custo de desorganizar a oposição, que teria pouco tempo para se estruturar a partir de abril. Ainda há margem temporal para esse jogo: restam pouco menos de dez meses até as eleições.
O cenário alternativo é bastante desfavorável à família Bolsonaro. Se insistirem na candidatura de Flávio até o fim, entregam uma vantagem substancial ao lulopetismo, condenam politicamente tanto o pai quanto o próprio Flávio — que, em 2027, ficaria exposto sem foro privilegiado — e permitem que o bolsonarismo, já bem mais enfraquecido do que em 2018 e 2022, continue perdendo relevância por mais quatro anos. Em outro desdobramento, uma candidatura paralela de um nome como Ratinho Jr., por exemplo, pode ganhar tração justamente por apresentar rejeição menor que a de Flávio, criando um cenário ainda mais adverso para a família, em que um candidato sem vínculos diretos com o clã poderia se viabilizar eleitoralmente. Seja como for, o cenário que hoje parece mais plausível é o de manutenção dessa narrativa até março, com eventual transferência do bastão para Tarcísio, a depender das condições.
Apesar de toda essa turbulência no campo político, a chance de uma inflexão mais reformista no pêndulo político em 2026 ainda não está descartada, mesmo diante dos movimentos da família Bolsonaro. Antes disso, segue vivo também o pilar do corte de juros, com a possibilidade de uma flexibilização no tom do Banco Central já nesta semana, o que, se confirmado, tende a ser um fator de suporte adicional para os ativos.
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· 01:45 — O corte de dezembro vem aí
A inflação dos Estados Unidos, medida pelo índice de gastos com consumo pessoal (PCE), registrou alta de 2,8% em setembro na comparação anual, exatamente dentro do que previa o consenso do mercado. O núcleo do indicador, que exclui itens mais voláteis como alimentos e energia, também marcou 2,8%, com leve desaceleração em relação a agosto — um sinal sutil, mas relevante, de arrefecimento das pressões inflacionárias.
Esse conjunto de dados reforça a leitura de que o Federal Reserve ganhou algum espaço para voltar suas atenções ao mercado de trabalho, que vem exibindo sinais de enfraquecimento, e praticamente consolida a expectativa de um novo corte de 25 pontos-base na taxa de juros na reunião de quarta-feira. Ainda assim, como a inflação permanece acima da meta de 2%, o banco central tende a adotar um discurso cauteloso, evitando compromissos antecipados com novos cortes ao longo de 2026 e buscando equilibrar o risco inflacionário com a desaceleração da atividade.
· 02:31 — Nome cada vez mais forte
Kevin Hassett vem se consolidando como o nome mais forte para assumir a presidência do Federal Reserve ao fim do mandato de Jerome Powell, em maio, em uma indicação que deve partir diretamente de Donald Trump. Atual conselheiro econômico da Casa Branca e percebido como um aliado fiel do presidente, Hassett tem um histórico de defesa de tarifas comerciais, trata a inflação como um desafio gerenciável e se mostra favorável a um ritmo mais acelerado de cortes de juros. Para parte do mercado, sua eventual nomeação é recebida com certa dose de tranquilidade justamente por abrir espaço a uma condução mais flexível da política monetária. Ao mesmo tempo, porém, ela reacende debates sensíveis sobre a independência do Fed, pilar central da credibilidade da autoridade monetária americana. Esse ceticismo é alimentado também por episódios do passado, como previsões equivocadas sobre o mercado acionário e sobre a própria dinâmica da pandemia, fatores que reforçam a postura cautelosa de investidores globais e de outros bancos centrais.
Embora sua inclinação a juros mais baixos seja clara, o alinhamento político explícito pode se transformar em um obstáculo prático dentro do próprio Fed, que opera por consenso entre seus membros. Diferentemente de um quadro técnico oriundo da instituição — como é o caso de Christopher Waller e Kevin Warsh —, Hassett pode encontrar maior resistência para conduzir cortes caso eles não estejam rigidamente amparados pelos dados econômicos. Além disso, uma flexibilização excessiva, além do que os fundamentos justificam, tende a elevar as expectativas de inflação e pressionar as taxas de juros de longo prazo, com impacto potencialmente adverso sobre a atividade. Nesse contexto, Powell deve atravessar seus últimos meses no comando do Fed empenhado em preservar o principal ativo da instituição: a confiança de que suas decisões seguem ancoradas em evidências econômicas, e não em política barata.
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· 03:27 — Acordo de bilhões
A Netflix anunciou um grande acordo para adquirir os negócios de estúdio e streaming da Warner Bros. Discovery por aproximadamente US$ 83 bilhões, já incluídas as dívidas da companhia, superando propostas concorrentes apresentadas por grupos como Paramount e Comcast. Se a operação receber o aval dos reguladores, a Netflix passará a reunir sob o mesmo guarda-chuva alguns dos ativos mais valiosos da indústria do entretenimento, como o tradicional estúdio Warner, a HBO, a plataforma HBO Max e franquias de peso global, entre elas Harry Potter, Batman, Game of Thrones e Friends. Apesar do simbolismo e do potencial estratégico da transação, a reação inicial do mercado foi de cautela: as ações da Netflix recuaram cerca de 6%, enquanto os papéis da Warner não alcançaram plenamente o valor implícito da oferta, refletindo o ceticismo dos investidores quanto à efetiva concretização do negócio.
O principal obstáculo agora está no campo regulatório. O presidente dos EUA, Donald Trump, manifestou publicamente preocupações de natureza antitruste, ao afirmar que a participação de mercado da empresa resultante da fusão pode representar um problema concorrencial. Esse posicionamento reforçou a percepção de que a operação enfrentará uma análise longa e rigorosa tanto pelo Departamento de Justiça norte-americano quanto por autoridades regulatórias na Europa. Após as declarações de Trump, as apostas de mercado sobre a chance de conclusão do negócio até 2026 sofreram uma queda expressiva. Caso venha a ser aprovado, o acordo tem potencial para redesenhar profundamente Hollywood, ao concentrar ainda mais poder nas mãos da Netflix no mercado global de entretenimento. Se, por outro lado, for barrado, a operação poderá entrar para a história como um dos exemplos mais emblemáticos recentes de bloqueio regulatório a uma megafusão no setor de mídia.
· 04:13 — Diretrizes para 2026
A China chega a 2026 com uma diretriz estratégica: fazer da demanda doméstica o principal motor de crescimento. O movimento ocorre após o país ter acumulado um superávit comercial superior a US$ 1 trilhão nos onze meses até novembro — um colchão externo que ajudou a sustentar a atividade em meio à fraqueza do consumo interno. Ainda assim, a liderança de Xi Jinping deixou claro, por meio do Politburo, que a dependência excessiva das exportações passou a ser vista como um desequilíbrio estrutural a ser corrigido. Não por acaso, a agenda de estímulo ao mercado interno ganhou protagonismo, enquanto a prevenção de riscos ligados às dívidas de governos locais, ao setor imobiliário e ao sistema financeiro foi rebaixada na lista de prioridades, sinalizando uma guinada mais pró-crescimento após anos de aperto regulatório.
Esse reposicionamento acontece em um ambiente externo paradoxalmente favorável às exportações chinesas, apesar do cenário global ainda marcado por tensões comerciais e incertezas geopolíticas. O desempenho robusto do setor externo é explicado por uma combinação de fatores: boa demanda fora dos Estados Unidos, possível redirecionamento de fluxos para contornar tarifas, ausência de substitutos competitivos para diversos produtos chineses e crescimento real da renda em várias economias fora do eixo americano. Ao mesmo tempo, esse excesso de exportações pressiona parceiros comerciais e intensifica a necessidade de reequilibrar o modelo de crescimento. No mercado, as ações chinesas responderam de forma positiva, superando seus pares regionais, apoiadas tanto pela força do comércio exterior quanto pelas novas sinalizações do governo para atrair capital ao mercado acionário.
· 05:09 — Sentimento positivo
O mercado de ações americano deve iniciar 2026 com um sentimento amplamente positivo, com a maior parte das principais instituições financeiras projetando novas altas para o S&P 500. Esse otimismo está ancorado em dois vetores centrais: a continuidade do forte ciclo de investimentos em inteligência artificial e a expectativa de um ambiente de política monetária progressivamente mais favorável. Casas como Deutsche Bank e Morgan Stanley enxergam espaço para um crescimento robusto dos lucros corporativos ao longo de 2026, combinado à manutenção de múltiplos elevados — cenário que seria reforçado por eventuais cortes de juros promovidos pelo Federal Reserve. Na mesma direção caminham …