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‘Pausa’ no rali do Ibovespa, digestão dos resultados da Eletrobras (ELET6) e mais: veja os destaques do mercado nesta quinta (15)

Mais, os resultados trimestrais do Banco do Brasil (BBAS3) devem ecoar no mercado brasileiro. Confira.

Por Matheus Spiess

15 maio 2025, 09:32 - atualizado em 15 maio 2025, 09:32

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Imagem: iStock.com/primeimages

A recente recuperação dos mercados, embora bem-vinda, teve um efeito colateral clássico: esticou os valuations e comprometeu, no curto prazo, parte do fôlego técnico. Em outras palavras, a alta recente foi boa demais, rápida demais — e agora o mercado parece estar pedindo uma pausa. Esse padrão já se insinua em outras regiões, como na Ásia, onde o rali impulsionado pelo acordo comercial entre Estados Unidos e China começa a perder tração. O entusiasmo inicial deu lugar à realidade: a perspectiva mais ampla para os lucros corporativos e para o crescimento econômico segue praticamente inalterada — ou seja, o pano de fundo estrutural continua exigindo cautela.

Na China, a prudência ganhou mais um motivo após a divulgação de um dado preocupante: os novos empréstimos bancários caíram, em abril, para a mínima em 20 anos. Além disso, como não existe almoço grátis, a trégua comercial teve como contrapartida uma elevação nas taxas de juros americanas, com a curva precificando menos cortes adiante. Ou seja, o alívio veio acompanhado de um aperto financeiro, o que reduz o apetite por ativos mais sensíveis, como os de países emergentes.

Na agenda macro, seguimos com a digestão dos dados do PIB da Zona do Euro no primeiro trimestre, enquanto os olhos do mercado se voltam para as vendas no varejo e a inflação ao produtor nos EUA — dois indicadores cruciais para calibrar as apostas em cortes de juros pelo Fed. No Brasil, a expectativa também gira em torno da possibilidade de o Copom encerrar o ciclo de alta da Selic. Nesse contexto, os dados de vendas no varejo brasileiro ganharão peso adicional. A temporada de resultados continua a todo vapor, e investidores aguardam hoje uma fala de Jerome Powell, que pode trazer novas pistas sobre os próximos passos do banco central americano.

Entre as commodities, o petróleo recua quase 4%, refletindo especulações sobre um possível acordo nuclear entre EUA e Irã, anunciado por Trump. A expectativa de maior oferta no mercado internacional pressiona os preços — um movimento que, historicamente, tende a ser negativo para o Ibovespa e para o real, pela correlação direta com o setor de petróleo e o fluxo cambial vinculado a exportações.

· 00:57 — Geladeira?

No Brasil, o dia promete ser de digestão pesada — e o primeiro prato já foi servido ontem à noite, com a divulgação do resultado da Eletrobras (ELET6). A companhia reportou prejuízo, o que, naturalmente, azedou o humor do mercado. As ADRs da empresa já recuaram no after-hours em Nova York, movimento que se estende no pré-mercado desta manhã. A expectativa é de que o papel sofra pressão ao longo do dia, arrastando consigo o sentimento para parte do setor elétrico. Mas a Eletrobras (ELET6) não é o único nome no radar. Ainda hoje, teremos a divulgação de outros resultados importantes, como o do Banco do Brasil (BBAS3), cuja leitura pode contaminar o desempenho de todo o setor bancário listado — com grande peso no índice. Também são aguardados os números dos frigoríficos. Essas entregas, entretanto, só devem impactar o mercado efetivamente amanhã, já que seus balanços serão publicados após o fechamento.

Até lá, o investidor se equilibra entre a expectativa e a ansiedade. No front macroeconômico, os dados de varejo ganham protagonismo. A divulgação ocorre na esteira do resultado modesto, mas positivo, do volume de serviços em março, divulgado ontem. Com o mercado de trabalho ainda aquecido e a renda em alta, espera-se um número razoável — mas nada que mude o rumo da política monetária. Afinal, como já dissemos por aqui, o ciclo de aperto da Selic chegou ao fim. Na pior das hipóteses, ainda caberia um ajuste residual de 25 pontos-base, mais simbólico do que efetivo, o que apenas reforça a leitura de que o próximo debate do Copom deverá ser um corte — e é essa antecipação que tem animado os mercados locais recentemente.

O problema é que, enquanto o técnico aponta para alívio, o político segue como ruído persistente. O presidente da Câmara, Hugo Motta — que recentemente até chegou a adotar um discurso mais austero em relação ao fiscal — já ensaia recuos, sinalizando uma possível desidratação na compensação da isenção do IR. Isso num momento em que começam a circular rumores sobre o futuro de Fernando Haddad. O ministro da Fazenda, que sequer foi na viagem presidencial à China, estaria cogitando se afastar do cargo em 2026 para disputar algum cargo eletivo. A possibilidade de candidatura à Presidência é, curiosamente, a que menos incomoda o mercado: ele seria visto como um concorrente fraco, o que favoreceria a tese de alternância de poder e a chance de um candidato mais reformista, pró-mercado e fiscalista assumir a dianteira. O cenário que realmente gera apreensão é outro: Haddad concorrendo ao governo de São Paulo ou ao Senado. Nesse caso, seria o próprio presidente Lula retirando o guardião do cofre antes do ciclo eleitoral — e esse tipo de gesto o mercado conhece bem.

Se esse roteiro se confirmar, o risco é claro: mais populismo fiscal no horizonte, com a máquina pública operando em ritmo de campanha. E todos sabemos como essa história termina (nova pressão numa curva de juros já estressada). O investidor, nesse momento, precisa monitorar mais do que planilhas — precisa interpretar sinais. E, infelizmente, os que vêm de Brasília ainda não são os mais promissores.

· 01:41 — A recuperação tem sido robusta, mas apresenta sinais de cansaço

Nos Estados Unidos, a euforia que se seguiu ao colapso das tarifas “recíprocas” de abril começa a dar sinais de fadiga. Após uma impressionante recuperação de 22% a partir das mínimas intradiárias do mês passado, o S&P 500 avançou apenas 0,1% na última quarta-feira (14) — uma pausa quase simbólica diante da intensidade do rali recente.

O dia foi morno para a maioria dos setores, com exceção do de sempre: as gigantes de tecnologia voltaram a brilhar, lideradas pelo entusiasmo em torno da inteligência artificial. Como em um déjà vu, empresas como Super Micro Computer, AMD e Nvidia estiveram entre os destaques de performance no S&P 500, impulsionadas, desta vez, por declarações vindas da Arábia Saudita sobre novos investimentos no setor. 

Como consequência, o Nasdaq emendou sua sexta alta consecutiva, e o S&P 500 engatou o terceiro dia no azul — mostrando que, embora o fôlego esteja mais curto, a força das big techs ainda é suficiente para manter o mercado em pé. Já o Dow Jones, mais ligado à economia tradicional, recuou pelo segundo pregão seguido, reforçando a divisão crescente entre o mundo velho e o novo da economia americana.

O mercado agora entra em modo vigilância. Hoje, os holofotes se voltam para dois dados de peso: o índice de preços ao produtor (PPI) e as vendas no varejo — ambos com potencial de redefinir as apostas sobre o próximo passo do Federal Reserve. Para completar, o presidente do Fed, Jerome Powell, também sobe ao palco e poderá fornecer novas pistas sobre a direção da política monetária. 

· 02:35 — Retomando o lugar no pódio

O valor de mercado da Tesla (TSLA34) voltou a ultrapassar a marca de US$ 1 trilhão — pela primeira vez desde fevereiro — impulsionado não por avanços tecnológicos ou novos recordes de entrega, mas por diplomacia comercial. A trégua de 90 dias entre EUA e China, que suspendeu a maior parte das tarifas entre os dois países, caiu como música para os ouvidos de Elon Musk. Afinal, a China responde por 22% da receita da empresa e abriga a fábrica mais produtiva da montadora. O alívio geopolítico, somado à expectativa do lançamento do serviço de táxis autônomos em Austin, Texas, previsto para junho, voltou a colocar as ações da Tesla no centro das atenções.

Mas quem realmente roubou a cena foi a Nvidia (NVDC34). A gigante dos chips atingiu um valor de mercado de US$ 3,3 trilhões e ultrapassou, mais uma vez, a Apple (AAPL34), tornando-se a empresa mais valiosa do planeta. O motivo? Um novo acordo para fornecer semicondutores à Humain, startup saudita de inteligência artificial, como parte de um projeto ambicioso de data centers financiado por Riad. A AMD também surfou a mesma onda: fechou um contrato de US$ 10 bilhões com a mesma Humain e viu seu valor de mercado voltar a flertar com a marca de US$ 200 bilhões. Fora do universo tech, a Novo Nordisk fechou um acordo de US$ 2,2 bilhões com a americana Septerna para desenvolver pílulas contra obesidade e diabetes — arcando sozinha com os custos de pesquisa e desenvolvimento. Em resumo: a semana não foi apenas de robôs e algoritmos; as big pharma também tiveram seu momento.

Diante desse pano de fundo, os mercados americanos voltaram a operar em patamares de valuation elevados, deixando para trás o “desconto” (em muitas aspas) técnico pós-correção de abril — que, diga-se, nunca passou de uma pausa para respirar, e não de um real subpreço estrutural. Na Europa, a história também mudou de tom. As ações do velho continente já são negociadas acima da mediana dos últimos 20 anos, o que enfraquece a tese de barganha. É verdade que, em termos relativos, mercados fora dos EUA ainda apresentam desconto frente aos pares americanos — mas, quando comparados às suas próprias médias históricas, já não estão exatamente baratos. A boa notícia? Com a inflação na Europa cedendo gradualmente, os múltiplos encontram espaço para respirar — ao menos em teoria. A questão agora é se esse alívio inflacionário será capaz de sustentar valuations esticados por mais tempo.

· 03:26 — Avanços na Ásia

Em mais um gesto rumo à trégua comercial com os EUA, a China anunciou a suspensão, por 90 dias, das restrições de exportação impostas a 28 entidades americanas, além de remover 17 empresas da sua lista de “não confiáveis”. A medida, embora temporária, sinaliza mais um afrouxamento das tensões sino-americanas.

Enquanto isso, do lado ocidental do tabuleiro, o presidente Donald Trump voltou a pressionar a Apple para que interrompa a transferência de produção da China para a Índia, país que se tornou peça-chave no plano de diversificação fabril da empresa. O recado foi claro: o desejo da Apple de reduzir a dependência da China não é exatamente bem-visto por Washington. Para apimentar ainda mais o contexto, Trump afirmou que a Índia teria se oferecido para cortar tarifas sobre produtos americanos, numa tentativa de selar acordos comerciais mais amplos com os EUA — o que, somado aos recentes pactos no Oriente Médio, sugere que a Casa Branca tenta acelerar sua ofensiva diplomática-econômica para recuperar a credibilidade perdida.

Mas, como o mercado aprendeu a duras penas, acenos de boa vontade nem sempre se traduzem em fluxo de capital. Apesar da sequência de boas notícias, investidores seguem cautelosos. O alívio nas negociações tarifárias foi bem recebido, sim, mas ainda parece insuficiente para desencadear uma corrida generalizada para ativos chineses. O motivo? A incerteza sobre um acordo final permanece alta — e, pior, há o receio de que Pequim use a trégua para retirar o pé dos estímulos.

· 04:12 — Um petróleo mais fraco?

O petróleo voltou a escorregar nesta manhã, devolvendo os ganhos recentes em mais um episódio da novela geopolítica que dita o humor das commodities. Durante sua passagem por Doha, no Catar, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, declarou que um acordo nuclear com o Irã estaria “próximo de ser fechado”. A fala, como de costume, foi vaga nos detalhes e enfática no impacto: se as negociações realmente avançarem, o levantamento das sanções econômicas contra Teerã poderá abrir espaço para um aumento expressivo na oferta global de petróleo. Segundo estimativas, caso o Irã aceite interromper o enriquecimento de urânio — condição central para qualquer trégua —, suas exportações de petróleo bruto poderiam subir em até 1 milhão de barris por dia. Para um mercado que já vinha se equilibrando sobre fundamentos frágeis, essa perspectiva adiciona mais pressão sobre os preços.

O movimento de queda já havia começado na véspera, após a divulgação de uma alta inesperada nos estoques semanais de petróleo nos EUA, que veio justamente na contramão do relativo bom humor gerado pelo relatório da Opep+. Apesar de não ser catastrófico, o relatório tampouco acalmou os ânimos: o cartel manteve suas projeções para a demanda global em 2025 e 2026, após ter cortado as estimativas no mês anterior, justificando a decisão com base em uma economia mundial que segue crescendo de forma constante, mesmo diante das turbulências tarifárias. Na prática, porém, o que temos visto é uma tendência clara de devolução de preços — e a promessa de mais petróleo iraniano no mercado só reforça essa dinâmica. 

· 05:08 — Obstinado

O chanceler alemão, Friedrich Merz, tem um objetivo nada modesto: construir o exército convencional mais poderoso da Europa — uma resposta direta ao avanço da ameaça russa e, ao que tudo indica, uma demanda velada (ou nem tão velada assim) dos parceiros internacionais. No caso dos Estados Unidos, a expectativa virou quase exigência formal…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.