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O cenário internacional ganhou mais um capítulo digno de novela: justo quando parecia haver uma trégua no front sino-americano — com o aceno de Trump a Xi Jinping — o presidente americano mirou sua artilharia em seu ex-aliado, Elon Musk. A ruptura pública entre dois dos personagens mais influentes do mundo, em grande parte por conta do pacote tributário de Trump, não passou despercebida pelos mercados. As ações da Tesla sentiram o baque, arrastando consigo o setor de tecnologia.
Em meio a essa briga, o dado mais relevante do dia é o payroll de maio nos EUA. A expectativa é de desaceleração na geração de empregos — e, se o número vier ainda mais fraco, pode reforçar as apostas de um corte de juros já em julho pelo Federal Reserve.
Ontem (5), como já conversei com vocês, o Banco Central Europeu reduziu sua taxa de depósito em 25 pontos-base, para 2,00%. A surpresa, no entanto, veio na coletiva de Christine Lagarde: ao invés de sinalizar um ciclo mais amplo de cortes, a presidente preferiu esfriar os ânimos, ainda que uma nova redução em julho continue no radar. Ela fala novamente hoje (6), o que pode ajudar a calibrar melhor as expectativas.
O ponto é que, em um cenário em que o BCE começa a cortar e o payroll decepciona, o Fed ganha mais espaço para também flexibilizar sua política — ainda que de forma tímida, com apenas um corte no final do segundo semestre. E isso, claro, abriria caminho para o Banco Central brasileiro voltar a discutir uma redução da Selic entre o fim deste ano e o início de 2026. Enquanto isso, as bolsas asiáticas encerraram o pregão com direções mistas, refletindo a cautela dos investidores em meio ao impasse nas negociações comerciais entre EUA e China. Os futuros em Wall Street tentam se recuperar nesta manhã, após a queda provocada pela guerra de vaidades entre Musk e Trump. Na Europa, o dia amanhece com viés levemente positivo.
· 00:54 — Lentidão
No Brasil, o Ibovespa encerrou o pregão de ontem (5) em queda, alinhado ao clima tenso dos mercados globais e ao fraco desempenho das bolsas americanas — contaminadas pela briga pública entre Elon Musk e o presidente Donald Trump. Por aqui, seguimos aguardando a formalização do pacote de medidas para substituir o aumento do IOF.
Como já discutimos anteriormente, o humor do mercado é mais de desconfiança do que de entusiasmo. E há motivos para isso: o que se ventila como solução está longe de atacar o cerne da disfuncionalidade fiscal brasileira — as amarras constitucionais que travam e perpetuam gastos obrigatórios — e mais perto de ser um puxadinho fiscal caprichado. A Fazenda está otimista, acenando com a possibilidade de fechar o pacote já no próprio domingo (8) ou, ao menos, deixar os trilhos prontos. Saberemos, então, o que esperar para 2025 (medidas de curto prazo) e para 2026 em diante (intervenções levemente mais estruturais, embora tímidas diante da gravidade do quadro fiscal).
A lentidão do governo, já observada na postergação do pacote de contenção de crescimento dos gastos públicos no fim do ano passado, abre espaço para desidratações e retrocessos. O problema não é apenas técnico: Lula, mesmo sem ser um opositor declarado ao ajuste, continua fiel à sua tradição arrecadatória (vide Lula 1 e 2), avesso a cortes de gastos — e já não demonstra a mesma disposição política, nem conta mais com a equipe que o sustentava nos tempos áureos. Num cenário de popularidade escorregadia — como revelou mais uma pesquisa ontem, apontando empate técnico com cinco adversários num eventual segundo turno —, comprar uma briga estrutural parece improvável, ainda que inevitável para o país a longo prazo. O tempo político pode não estar a favor, mas a realidade fiscal não oferece alternativas.
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· 01:45 — O mercado de trabalho
Nos EUA, enquanto dois dos homens mais poderosos do planeta protagonizam um divórcio litigioso em praça pública, os investidores voltam suas atenções para o que realmente importa: o relatório de payroll desta sexta-feira. A expectativa é que o Departamento de Estatísticas do Trabalho traga uma leitura mais clara sobre a saúde do mercado de trabalho em meio à instabilidade causada pela escalada tarifária.
As projeções apontam para a criação de cerca de 130 mil empregos em maio, número inferior aos 177 mil registrados em abril, mas ainda considerado consistente com um mercado de trabalho que resiste. A taxa de desemprego, por sua vez, deve seguir estável em 4,2%, patamar onde já se encontra desde março, e que, vale lembrar, pouco se altera desde maio do ano passado. Ainda assim, a inflação voltou a ocupar o centro do palco, e os dados do payroll podem agora funcionar mais como um termômetro de estabilidade do que como um gatilho decisivo para política monetária.
Caso o mercado de trabalho apenas perca fôlego de forma moderada, o Federal Reserve dificilmente sentirá pressa em reverter a atual postura de cautela. O FOMC se reúne nos dias 17 e 18 de junho, devendo manter os juros inalterados. O grande debate agora é se ainda haverá espaço para cortes adicionais de juros nos EUA ao longo do segundo semestre ou apenas em 2025. Creio que sim, mas só o tempo dirá.
· 02:39 — De abraços no palco à troca de farpas online
Com Trump liderando a base política e Musk controlando o capital privado, a aproximação entre os dois moldou os contornos da última eleição americana — foi uma aliança improvável, porém decisiva, que remodelou o tabuleiro político dos Estados Unidos. Mas como toda sociedade forjada em conveniência, não demorou para o verniz rachar. Agora, o que antes era uma dobradinha estratégica virou um duelo de egos.
Desde que abandonou o Departamento de Eficiência Governamental, Musk vem desferindo ataques ao projeto de lei de gastos dos republicanos, criticando abertamente a farra fiscal embutida no texto. Em resposta, Trump não economizou na retórica: afirmou nesta manhã que Musk estaria “ressentido” porque o projeto elimina o subsídio de US$ 7.500 para a compra de carros elétricos — um golpe direto na Tesla. Para piorar, o presidente insinuou a possibilidade de romper os contratos federais com as empresas de Musk, numa clara ameaça de retaliação econômica.
Musk, por sua vez, revidou: disse que Trump deveria ser novamente alvo de impeachment e que sua eleição só foi possível graças ao apoio financeiro que ele mesmo ofereceu. Ainda que a troca de farpas tenha perdido força, o estrago político já está feito. Não é apenas Musk que está preocupado: o megaprojeto fiscal adiciona cerca de US$ 2,4 trilhões ao déficit, empurrando a dívida pública americana para perigosos US$ 40 trilhões. Uma conta salgada que cedo ou tarde terá que ser paga.
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· 03:23 — Um boa conversa
O presidente Trump afirmou ter conversado com o presidente chinês, Xi Jinping — o primeiro diálogo direto entre os dois líderes desde janeiro. Segundo o republicano, o contato serviu para reabrir os canais de negociação comercial e deve ser seguido por um encontro presencial em breve. Um dos pontos centrais da conversa, segundo Trump, teria sido o acesso aos chamados metais de terras raras — uma família de 17 elementos essenciais à fabricação de produtos estratégicos, de veículos elétricos a sistemas de defesa. Desde abril, a China suspendeu as exportações desses materiais aos EUA como forma de retaliação às tarifas impostas por Washington.
Fora dos holofotes, o controle sobre as terras raras tornou-se uma alavanca de poder geopolítico e comercial para Pequim — e um novo ponto de atrito relevante nas tensões sino-americanas. Apesar da trégua ensaiada no mês passado, em que se prometia a reversão gradual das tarifas cruzadas, os desentendimentos persistem, sobretudo sobre a regulamentação de exportações estratégicas. A China mantém um processo extremamente rigoroso de autorização para envio de terras raras, ao passo que os EUA dobraram a aposta, elevando tarifas sobre aço e alumínio para 50%. O impacto já começa a se refletir na cadeia automotiva: fornecedores alertam para gargalos sérios na produção de peças críticas, com potencial de paralisar fábricas.
A ironia histórica não passa despercebida. Foi a própria China, nos anos 1990, que deliberadamente derrubou os preços internacionais de terras raras, forçando o fechamento de competidores globais e assumindo, quase sem resistência, 90% da capacidade mundial. Nos EUA, tentativas de reverter essa dependência esbarraram em obstáculos ambientais e regulatórios. Agora, a reconstrução de uma cadeia produtiva doméstica no setor deve levar até 10 anos. O tema ganhou tamanho peso que foi até mencionado em discussões envolvendo a Ucrânia e o interesse de Trump pela Groenlândia. É mais um episódio que escancara a fragilidade diante de uma China.
· 04:12 — Devendo dinheiro
E por falar em fragilidade diante da China, 2025 será um ano emblemático para dezenas de países pobres. As nações mais vulneráveis do planeta deverão desembolsar um total recorde de US$ 22 bilhões apenas em pagamentos de dívida para Pequim. O peso vem, em grande parte, da Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI, na sigla em inglês), o ambicioso programa chinês de infraestrutura lançado em 2013, que já canalizou mais de US$ 1 trilhão em empréstimos para cerca de 150 países.
Vendido como um gesto de parceria sul-sul e desenvolvimento mútuo, o BRI serviu, na prática, como uma espécie de rede financeira de influência geopolítica. Muitos governos, especialmente em países com gargalos de infraestrutura crônicos, saudaram os empréstimos como solução milagrosa. Mas o que parecia generosidade asiática se revelou, na visão de diversos analistas, uma sofisticada armadilha de dívida: contratos opacos, cláusulas leoninas e prazos curtos acabam deixando esses países sem margem de manobra. Quando não pagam, pagam com soberania — seja entregando ativos estratégicos, seja cedendo espaço político a interesses chineses.
O resultado é um tipo de dependência mais sutil, mas não menos corrosiva. Em vez de armas ou tropas, a influência se projeta por meio de planilhas e vencimentos. A ascensão da China ao posto de maior credor do Sul Global não foi um acidente — foi estratégia. E a conta, agora, chegou. Mais do que um problema de caixa, trata-se de uma questão de autonomia nacional. A lição para investidores é clara: a política monetária global não é o único vetor a acompanhar — a política externa de Pequim, via dívida, também molda riscos, oportunidades e a geopolítica da próxima década.
· 05:01 — Fornecendo IA
Depois de aparecer neste espaço por sua sede energética para alimentar data centers, a Meta volta aos holofotes por um motivo mais previsível, mas nem por isso menos impactante: ela quer redesenhar o futuro da publicidade digital com inteligência artificial. Até o fim de 2025, a companhia pretende oferecer ferramentas de IA generativa que permitirão que anunciantes criem campanhas do zero apenas com a imagem de um produto. Sim, apenas isso. A IA cuidaria do restante: texto, vídeos, segmentação e até a adaptação estética dos anúncios para cada plataforma.
É um passo além do que já está disponível hoje, em que marcas podem apenas ajustar peças publicitárias pré-existentes. A ambição agora é…