Mercado em 5 minutos

Payroll de maio e briga entre Trump e Elon Musk devem balançar bolsas globais nesta sexta-feira (6); veja destaques

O foco do mercado nesta sexta-feira (6) está sobre os dados de emprego dos EUA, o payroll. Confira.

Por Matheus Spiess

06 jun 2025, 09:45 - atualizado em 06 jun 2025, 09:45

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Imagem: iStock/ metamorworks

O cenário internacional ganhou mais um capítulo digno de novela: justo quando parecia haver uma trégua no front sino-americano — com o aceno de Trump a Xi Jinping — o presidente americano mirou sua artilharia em seu ex-aliado, Elon Musk. A ruptura pública entre dois dos personagens mais influentes do mundo, em grande parte por conta do pacote tributário de Trump, não passou despercebida pelos mercados. As ações da Tesla sentiram o baque, arrastando consigo o setor de tecnologia.

Em meio a essa briga, o dado mais relevante do dia é o payroll de maio nos EUA. A expectativa é de desaceleração na geração de empregos — e, se o número vier ainda mais fraco, pode reforçar as apostas de um corte de juros já em julho pelo Federal Reserve.

Ontem (5), como já conversei com vocês, o Banco Central Europeu reduziu sua taxa de depósito em 25 pontos-base, para 2,00%. A surpresa, no entanto, veio na coletiva de Christine Lagarde: ao invés de sinalizar um ciclo mais amplo de cortes, a presidente preferiu esfriar os ânimos, ainda que uma nova redução em julho continue no radar. Ela fala novamente hoje (6), o que pode ajudar a calibrar melhor as expectativas.

O ponto é que, em um cenário em que o BCE começa a cortar e o payroll decepciona, o Fed ganha mais espaço para também flexibilizar sua política — ainda que de forma tímida, com apenas um corte no final do segundo semestre. E isso, claro, abriria caminho para o Banco Central brasileiro voltar a discutir uma redução da Selic entre o fim deste ano e o início de 2026. Enquanto isso, as bolsas asiáticas encerraram o pregão com direções mistas, refletindo a cautela dos investidores em meio ao impasse nas negociações comerciais entre EUA e China. Os futuros em Wall Street tentam se recuperar nesta manhã, após a queda provocada pela guerra de vaidades entre Musk e Trump. Na Europa, o dia amanhece com viés levemente positivo.

· 00:54 — Lentidão

No Brasil, o Ibovespa encerrou o pregão de ontem (5) em queda, alinhado ao clima tenso dos mercados globais e ao fraco desempenho das bolsas americanas — contaminadas pela briga pública entre Elon Musk e o presidente Donald Trump. Por aqui, seguimos aguardando a formalização do pacote de medidas para substituir o aumento do IOF.

Como já discutimos anteriormente, o humor do mercado é mais de desconfiança do que de entusiasmo. E há motivos para isso: o que se ventila como solução está longe de atacar o cerne da disfuncionalidade fiscal brasileira — as amarras constitucionais que travam e perpetuam gastos obrigatórios — e mais perto de ser um puxadinho fiscal caprichado. A Fazenda está otimista, acenando com a possibilidade de fechar o pacote já no próprio domingo (8) ou, ao menos, deixar os trilhos prontos. Saberemos, então, o que esperar para 2025 (medidas de curto prazo) e para 2026 em diante (intervenções levemente mais estruturais, embora tímidas diante da gravidade do quadro fiscal).

A lentidão do governo, já observada na postergação do pacote de contenção de crescimento dos gastos públicos no fim do ano passado, abre espaço para desidratações e retrocessos. O problema não é apenas técnico: Lula, mesmo sem ser um opositor declarado ao ajuste, continua fiel à sua tradição arrecadatória (vide Lula 1 e 2), avesso a cortes de gastos — e já não demonstra a mesma disposição política, nem conta mais com a equipe que o sustentava nos tempos áureos. Num cenário de popularidade escorregadia — como revelou mais uma pesquisa ontem, apontando empate técnico com cinco adversários num eventual segundo turno —, comprar uma briga estrutural parece improvável, ainda que inevitável para o país a longo prazo. O tempo político pode não estar a favor, mas a realidade fiscal não oferece alternativas.

· 01:45 — O mercado de trabalho

Nos EUA, enquanto dois dos homens mais poderosos do planeta protagonizam um divórcio litigioso em praça pública, os investidores voltam suas atenções para o que realmente importa: o relatório de payroll desta sexta-feira. A expectativa é que o Departamento de Estatísticas do Trabalho traga uma leitura mais clara sobre a saúde do mercado de trabalho em meio à instabilidade causada pela escalada tarifária.

As projeções apontam para a criação de cerca de 130 mil empregos em maio, número inferior aos 177 mil registrados em abril, mas ainda considerado consistente com um mercado de trabalho que resiste. A taxa de desemprego, por sua vez, deve seguir estável em 4,2%, patamar onde já se encontra desde março, e que, vale lembrar, pouco se altera desde maio do ano passado. Ainda assim, a inflação voltou a ocupar o centro do palco, e os dados do payroll podem agora funcionar mais como um termômetro de estabilidade do que como um gatilho decisivo para política monetária.

Caso o mercado de trabalho apenas perca fôlego de forma moderada, o Federal Reserve dificilmente sentirá pressa em reverter a atual postura de cautela. O FOMC se reúne nos dias 17 e 18 de junho, devendo manter os juros inalterados. O grande debate agora é se ainda haverá espaço para cortes adicionais de juros nos EUA ao longo do segundo semestre ou apenas em 2025. Creio que sim, mas só o tempo dirá.

· 02:39 — De abraços no palco à troca de farpas online

Com Trump liderando a base política e Musk controlando o capital privado, a aproximação entre os dois moldou os contornos da última eleição americana — foi uma aliança improvável, porém decisiva, que remodelou o tabuleiro político dos Estados Unidos. Mas como toda sociedade forjada em conveniência, não demorou para o verniz rachar. Agora, o que antes era uma dobradinha estratégica virou um duelo de egos.

Desde que abandonou o Departamento de Eficiência Governamental, Musk vem desferindo ataques ao projeto de lei de gastos dos republicanos, criticando abertamente a farra fiscal embutida no texto. Em resposta, Trump não economizou na retórica: afirmou nesta manhã que Musk estaria “ressentido” porque o projeto elimina o subsídio de US$ 7.500 para a compra de carros elétricos — um golpe direto na Tesla. Para piorar, o presidente insinuou a possibilidade de romper os contratos federais com as empresas de Musk, numa clara ameaça de retaliação econômica.

Musk, por sua vez, revidou: disse que Trump deveria ser novamente alvo de impeachment e que sua eleição só foi possível graças ao apoio financeiro que ele mesmo ofereceu. Ainda que a troca de farpas tenha perdido força, o estrago político já está feito. Não é apenas Musk que está preocupado: o megaprojeto fiscal adiciona cerca de US$ 2,4 trilhões ao déficit, empurrando a dívida pública americana para perigosos US$ 40 trilhões. Uma conta salgada que cedo ou tarde terá que ser paga.

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· 03:23 — Um boa conversa

O presidente Trump afirmou ter conversado com o presidente chinês, Xi Jinping — o primeiro diálogo direto entre os dois líderes desde janeiro. Segundo o republicano, o contato serviu para reabrir os canais de negociação comercial e deve ser seguido por um encontro presencial em breve. Um dos pontos centrais da conversa, segundo Trump, teria sido o acesso aos chamados metais de terras raras — uma família de 17 elementos essenciais à fabricação de produtos estratégicos, de veículos elétricos a sistemas de defesa. Desde abril, a China suspendeu as exportações desses materiais aos EUA como forma de retaliação às tarifas impostas por Washington. 

Fora dos holofotes, o controle sobre as terras raras tornou-se uma alavanca de poder geopolítico e comercial para Pequim — e um novo ponto de atrito relevante nas tensões sino-americanas. Apesar da trégua ensaiada no mês passado, em que se prometia a reversão gradual das tarifas cruzadas, os desentendimentos persistem, sobretudo sobre a regulamentação de exportações estratégicas. A China mantém um processo extremamente rigoroso de autorização para envio de terras raras, ao passo que os EUA dobraram a aposta, elevando tarifas sobre aço e alumínio para 50%. O impacto já começa a se refletir na cadeia automotiva: fornecedores alertam para gargalos sérios na produção de peças críticas, com potencial de paralisar fábricas.

A ironia histórica não passa despercebida. Foi a própria China, nos anos 1990, que deliberadamente derrubou os preços internacionais de terras raras, forçando o fechamento de competidores globais e assumindo, quase sem resistência, 90% da capacidade mundial. Nos EUA, tentativas de reverter essa dependência esbarraram em obstáculos ambientais e regulatórios. Agora, a reconstrução de uma cadeia produtiva doméstica no setor deve levar até 10 anos. O tema ganhou tamanho peso que foi até mencionado em discussões envolvendo a Ucrânia e o interesse de Trump pela Groenlândia. É mais um episódio que escancara a fragilidade diante de uma China.

· 04:12 — Devendo dinheiro

E por falar em fragilidade diante da China, 2025 será um ano emblemático para dezenas de países pobres. As nações mais vulneráveis do planeta deverão desembolsar um total recorde de US$ 22 bilhões apenas em pagamentos de dívida para Pequim. O peso vem, em grande parte, da Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI, na sigla em inglês), o ambicioso programa chinês de infraestrutura lançado em 2013, que já canalizou mais de US$ 1 trilhão em empréstimos para cerca de 150 países.

Vendido como um gesto de parceria sul-sul e desenvolvimento mútuo, o BRI serviu, na prática, como uma espécie de rede financeira de influência geopolítica. Muitos governos, especialmente em países com gargalos de infraestrutura crônicos, saudaram os empréstimos como solução milagrosa. Mas o que parecia generosidade asiática se revelou, na visão de diversos analistas, uma sofisticada armadilha de dívida: contratos opacos, cláusulas leoninas e prazos curtos acabam deixando esses países sem margem de manobra. Quando não pagam, pagam com soberania — seja entregando ativos estratégicos, seja cedendo espaço político a interesses chineses.

O resultado é um tipo de dependência mais sutil, mas não menos corrosiva. Em vez de armas ou tropas, a influência se projeta por meio de planilhas e vencimentos. A ascensão da China ao posto de maior credor do Sul Global não foi um acidente — foi estratégia. E a conta, agora, chegou. Mais do que um problema de caixa, trata-se de uma questão de autonomia nacional. A lição para investidores é clara: a política monetária global não é o único vetor a acompanhar — a política externa de Pequim, via dívida, também molda riscos, oportunidades e a geopolítica da próxima década.

· 05:01 — Fornecendo IA

Depois de aparecer neste espaço por sua sede energética para alimentar data centers, a Meta volta aos holofotes por um motivo mais previsível, mas nem por isso menos impactante: ela quer redesenhar o futuro da publicidade digital com inteligência artificial. Até o fim de 2025, a companhia pretende oferecer ferramentas de IA generativa que permitirão que anunciantes criem campanhas do zero apenas com a imagem de um produto. Sim, apenas isso. A IA cuidaria do restante: texto, vídeos, segmentação e até a adaptação estética dos anúncios para cada plataforma.

É um passo além do que já está disponível hoje, em que marcas podem apenas ajustar peças publicitárias pré-existentes. A ambição agora é…

Sobre o autor

Matheus Spiess

Estudou finanças na University of Regina, no Canadá, tendo concluído lá parte de sua graduação em economia. Pós-graduado em finanças pelo Insper. Trabalhou em duas das maiores casas de análise de investimento do Brasil, além de ter feito parte da equipe de modelagem financeira de uma boutique voltada para fusões e aquisições. Trabalha hoje no time de analistas da Empiricus, sendo responsável, entre outras coisas, por análises macroeconômicas e políticas, além de cobrir estratégias de alocação. É analista com certificação CNPI.